QUANTO MAIS SABEMOS, MAIS SOFREMOS
Um mergulho na filosofia
pessimista de Schopenhauer.*
'O pensamento de Arthur Schopenhauer sobre a relação entre inteligência e sofrimento está profundamente enraizado em sua filosofia pessimista, que ele desenvolveu em obras como "O Mundo como Vontade e Representação" (1818).
Ele acreditava que a vida
é dominada por uma força cega e irracional, a "vontade" - que
impulsiona todos os seres vivos a desejarem incessantemente, resultando em
frustração e sofrimento.
No contexto da frase
mencionada — "quanto mais claro é o conhecimento do homem, quanto mais
inteligente ele é, mais sofrimento ele tem" — Schopenhauer sugere que a
consciência e a inteligência são uma espécie de maldição. Quanto mais uma
pessoa entende a realidade, mais ela percebe as tragédias e absurdos da
existência humana.
Um resumo da visão de
Schopenhauer sobre sofrimento e consciência:
1. Ignorância como bênção:
Pessoas com menos inteligência tendem a viver focadas em necessidades imediatas
e prazeres simples, sem refletir profundamente sobre o sentido da vida ou sua
falta. Para Schopenhauer, essa ignorância os protege de sofrer tanto quanto
aqueles que analisam o mundo em profundidade.
2. O gênio como solitário:
O "gênio", ou a pessoa extremamente inteligente, sofre mais porque vê
além das ilusões que sustentam a maior parte da humanidade. Ele percebe a
transitoriedade da felicidade, a inevitabilidade da morte e a luta constante
pela sobrevivência. Esse entendimento pode levá-lo a um estado de alienação ou
melancolia.
3. A busca pela superação:
Schopenhauer acreditava que o sofrimento do ser humano pode ser minimizado, mas
não eliminado. Ele via a arte, especialmente a música, como um meio de
transcender temporariamente a "vontade" e alcançar um estado de
contemplação pura, onde o sofrimento é momentaneamente suspenso.
Influências filosóficas e
culturais no pensanento de Schopenhauer:
Schopenhauer foi
influenciado pelo budismo, hinduísmo e o pensamento kantiano. Ele reconhecia
semelhanças entre sua visão pessimista e o conceito budista de
"dukka" (sofrimento inerente à existência). Assim como o budismo
prega o desapego para aliviar o sofrimento, Schopenhauer defendia que a negação
da vontade de viver poderia libertar o indivíduo.
A relação entre inteligência
e sofrimento em Schopenhauer é uma das ideias mais impactantes de sua filosofia
pessimista. Ele acreditava que a vida é fundamentalmente sofrimento porque é
impulsionada pela "vontade", uma força irracional e incessante que
nos leva a desejar constantemente, sem nunca encontrar satisfação duradoura.
Schopenhauer argumentava
que quanto mais inteligente e consciente um indivíduo é, mais ele percebe a
realidade como ela realmente é: impermanente, cheia de conflitos e desprovida
de um sentido último. Essa consciência aumenta o sofrimento porque o indivíduo
percebe as ilusões que sustentam a maioria das pessoas, como a crença no
progresso humano ou em um propósito cósmico.
Por outro lado, aqueles
com menor capacidade intelectual vivem mais imersos no presente, distraídos por
prazeres e necessidades imediatas, sem refletir sobre a natureza trágica da
existência. Essa ignorância funciona como uma espécie de proteção psicológica.
A solidão do gênio e a
melancolia filosófica:
Os indivíduos mais
inteligentes, que Schopenhauer chama de "gênios", são particularmente
propensos à solidão e ao pessimismo. Eles têm dificuldade em se integrar à
sociedade, pois percebem sua superficialidade e hipocrisia. Além disso, sua
busca pelo conhecimento os leva a confrontar questões como a finitude da vida,
a falta de justiça cósmica e a inevitabilidade do sofrimento.
Muitos filósofos,
escritores e artistas que foram influenciados por Schopenhauer expressaram esse
sentimento em suas obras. Nietzsche, apesar de depois criticar Schopenhauer,
inicialmente compartilhou dessa visão pessimista. Dostoiévski, com seus
personagens atormentados, e Freud, com sua teoria do inconsciente, também
refletem essa ideia de que a consciência pode ser tanto um presente quanto uma
maldição.
Possíveis saídas para o
sofrimento:
Schopenhauer sugeria
alguns caminhos para minimizar o sofrimento:
1. Arte e Estética – A
contemplação da arte, especialmente da música, permite um momento de suspensão
do desejo e da dor. A arte nos transporta para um estado de percepção pura,
onde esquecemos momentaneamente a vontade e suas frustrações.
2. Compaixão e Ética –
Schopenhauer via a compaixão como uma forma de superar o egoísmo e aliviar o
sofrimento alheio. Essa perspectiva o aproximava do budismo, que também
valoriza a empatia como um caminho para a paz interior.
3. Negação da Vontade –
Inspirado por filosofias orientais, Schopenhauer sugeria que a renúncia aos
desejos poderia reduzir o sofrimento. Isso se assemelha ao conceito budista de
desapego e nirvana.
Schopenhauer hoje:
Hoje, a visão de
Schopenhauer pode ser vista sob diferentes perspectivas. A ideia de que a
inteligência traz sofrimento pode ser observada em pessoas altamente sensíveis,
que sentem mais profundamente as injustiças e absurdos da sociedade. Ao mesmo
tempo, sua filosofia nos lembra que a consciência também pode ser uma
ferramenta para a empatia, a criatividade e a busca por significado.
Embora o sofrimento seja
uma parte inevitável da existência, talvez a reflexão sobre ele possa nos
tornar mais humanos. Como Schopenhauer mostra, o desafio da inteligência é
encontrar maneiras de lidar com a dor sem se deixar consumir por ela.
Influência de Schopenhauer
sobre outros filósofos e intelectuais:
A filosofia de
Schopenhauer influenciou muitos pensadores e artistas, como Nietzsche (que
inicialmente o admirava), Freud (em sua teoria do inconsciente), Wagner (em sua
música) e escritores como Dostoiévski, Proust e Thomas Mann. Sua visão
pessimista encontrou eco em movimentos como o existencialismo e o niilismo, que
também exploram o sofrimento humano e o sentido da vida.'
* texto editado do
original assinado por Abdalla Adel Mohamed Ali Osman (FB)
** a imagem sugere um
encontro entre dois pessimistas: Schopenhauer e Nietzsche

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