sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras-Ba

 

PIX INTERLIGA BANCO CENTRAL AOS BOTECOS

Imagem sobre o PIX retirada do site do Banco Central

Por Walmir Rosário*

Se tem uns serviços prestados aos brasileiros que temos que tirar o chapéu são os bancários, mas somente em termos de avanço tecnológicos, que fiquem bem claro, para que eu não tenha problemas no futuro com bate-bocas inexplicáveis. Longe de mim perder tempo e gastar meus nervos com altercações que não levam a nada a não ser no desgaste físico e emocional com bobagens.

Dadas as devidas explicações, leio sempre que o Brasil – ou melhor, os bancos brasileiros – estão na vanguarda internacional quando o assunto é informática e segurança bancária na prestação de serviços aos clientes. Não poderia deixar de esclarecer, de pronto, que custam os olhos da cara – do cliente, é claro – para o gáudio dos riquíssimos banqueiros, sempre ávidos pelo nosso escasso dinheiro.

E aí, de forma desavisada, vem o Banco Central e cria o PIX, meio de transferência rápida, imediata, na mudança de titularidade dos nossos reais, desde que se encontrem dormitando nas contas bancárias. Melhor de tudo, de graça, sem as pesadas taxas e prazos decretados pelos bancos, sob a complacência do Banco Central, um aliado de todas as horas do sistema bancário, antes de sua autonomia.

E o PIX caiu em cheio no gosto do povo, apesar dos golpes aplicados pelos larápios cibernéticos. Uma ameaça aqui, outra acolá e o PIX seguiu seu caminho, mesmo a contragosto dos banqueiros, que não viam a hora de começar a cobrar pesadas taxas. Como o Banco Central não se amofinou, os banqueiros trataram logo de inventar serviços agregados ao PIX, oferendo dinheiro emprestado para quem não tinha a essencial provisão de fundo para a transferência.

Pela primeira vez os clientes aplicaram e encaixaram socos certeiros no queixo do sistema bancário. Se o pagador gostou do serviço, mais ainda os donos de estabelecimentos comerciais, que poderiam receber o pagamento sem destinar uma polpuda parte aos cartões, com a vantagem imediata de ter o resultado da venda creditado na sua conta bancária, ampliando o saldo bancário.

O PIX caminhou com suas próprias pernas (?) e podemos ver as plaquinhas de “aceitamos PIX” não só nos estabelecimentos comerciais, sejam qual o tamanho, mas e também nos empreendedores pelas diversas ruas e cruzamentos da cidade. Dando uma busca pela internet, consegui ver – até mesmo – pedintes exibindo suas placas de adesão ao serviço de transferência criado pelo Banco Central, com a finalidade de evitar a desculpa de “não tenho trocado”.

No mês passado, em Florianópolis, uma senhora de idade bastante avançada nos abordou no carro oferecendo uns docinhos, por três reais, cada. Agradecemos e recusamos a compra e ela não se deu por vencida: “Se não tem trocado, não tem problema, eu recebo pelo PIX”. Mas eis que chega nosso filho e partimos para outra avenida sem completarmos a relação de negócio com a empreendedora.

Não é comum eu circular por aí com dinheiro no bolso, a depender de onde vou e o que vou fazer. De acordo com minhas visitas, levo alguns trocados no bolso para o devido pagamento em dinheiro, reais em espécie. E um desses locais sempre foi o ABC da Noite, para minha satisfação e gozo das conceituadas batidas elaboradas pelo alquimista do Beco do Fuxico, Caboclo Alencar.

Como não tenho ido com frequência a Itabuna e, consequentemente, ao Beco do Fuxico, para o devido reconhecimento, preciso me atualizar, passando pelo Artigos para Beber e o ABC da Noite, para saber se José Eduardo e o Caboclo Alencar já aderiram ao PIX. Somente a título de lembrança, o Caboclo já frequentou escola de informática, em busca de conhecimentos cibernéticos. Daí para o PIX é um pulo.

Outra pesquisa que pretendia fazer – também in loco – seria na Confraria d’O Berimbau, onde o assunto ganhou destaque anos passados em relação aos cartões de crédito, isso, ainda, na administração de Neném de Argemiro e que ganhou destaque no jornal Tabu. De início, Neném não disse que sim nem que não, o que resultou numa assembleia, na qual nada ficou definida.

Com o fechamento d’O Berimbau, perdemos uma ótima fonte de pesquisa para saber da satisfação do cliente e do comerciante sobre o PIX como meio eficiente no pagamento de cachaças, cervejas e outras iguarias etílicas. Mesmo com minha pesquisa incompleta, poderei ter uma base da aceitação pelos donos de botequins, que hoje simplesmente deixaram de ouvir aquele sonoro aviso do cliente ao ir embora: “Some minha conta e tome no assento”.

Traduzindo: “Veja quanto devo e anote no caderno que pago depois, quando Deus mandar um bom tempo”. Com o PIX os cadernos de fiado vão deixando de existir e cairá por terra mais uma cultura popular. Dia desse cheguei num tradicional bar em Canavieiras e na hora de acertar a conta, o proprietário me apresentou uma folha de papel-ofício com um desenho chamado “QR code” e mandou que apontasse a câmera do celular para pagar com o competente PIX.

*Radialista, jornalista e advogado


quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

FUTEBOL DE ITABUNA GANHA O CAMPO DA DESPORTIVA

 

FUTEBOL DE ITABUNA GANHA O CAMPO DA DESPORTIVA

Campo da Desportiva (acervo Fábio Silva)

Por Walmir Rosário*

Em 19 de agosto de 1930, com a fundação da Liga de Desportos de Itabuna (Lida), o futebol de Itabuna ganha novo fôlego com a organização de torneios e campeonatos. Com isso, surge um movimento incentivando a construção de num novo campo de futebol, abandonando o velho campinho em frente a igreja matriz. E os jogos passaram a ser realizados numa área de pastagens na fazenda de Berilo Guimarães (junto ao atual Jardim do Ó, início da avenida do Cinquentenário, onde funciona o Centro de Cultura).

E o improviso foi se tornando oficial. A primeira mudança foi cercar o campo com cordas e, posteriormente, fixadas as placas de zinco, nada condizente para a pujante Itabuna. Não tardou vingar uma ideia do cacauicultor e comerciante Nicodemos Barreto, de erguer um muro. E ele mesmo deu o pontapé inicial, doando os tijolos à direção da Lida. Com isso, viabilizou a construção de um campo de futebol. Em seguida, várias campanhas foram feitas pelos dirigentes da Lida, para concluir o campo da Desportiva.

Para a primeira inauguração, em 1937, foi convidado um grande clube de Salvador: o Galícia, tricampeão baiano, conhecido como “O Demolidor de Campeões”, que participou de três jogos em Itabuna. O Galícia deu um passeio, como se diz na gíria: ganhou o primeiro jogo de 6×0, e o segundo de 5×0. Para o terceiro, Itabuna se encheu de brios, reuniu a melhor seleção que pôde e, ainda assim, perdeu de 3 x 2.

E a Desportiva, apesar de ser uma área de esportes precária, era palco de grandes embates futebolísticos. Assistiam-se os jogos em pé, e alguns expectadores traziam de casa bancos e cadeiras para melhor se acomodaram. A arquibancada e a geral somente começaram a ser construídas em 1954, após uma campanha encetada pela Frente Itabunense de Ação Renovadora (Fiar), liderada por José Dantas de Andrade.

Finalmente, em 1956, as obras de melhoria do campo da Desportiva foram concluídas, após uma série de promoções, dentre elas, um torneio feminino de futebol para arrecadar fundos. E para reinaugurar o campo da Desportiva foi promovido um amistoso entre o Bahia e Flamengo (2X1), com a presença de um grande público, suficiente para lotar a nova praça desportiva de Itabuna.

E por décadas seguidas o Campo da Desportiva foi palco dos espetáculos futebolísticos de Itabuna, sediando os campeonatos locais de amadores, aspirantes, juvenis, torneios caixeirais, profissionais e espetáculos musicais, dentre outros tipos de eventos. Por ali jogaram Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama, América, Bonsucesso, Bahia, Vitória, que promoviam o espetáculo nos fins de semana do itabunense.

Os torcedores mais velhos ainda demonstram a saudade do velho campo da Desportiva, com suas memoráveis partidas aos sábados e domingos e recordam o futebol jogado pelos craques Juca Alfaiate, Clóvis Aquino, Puruca, Bacamarte, ou mais recentemente, Santinho, os irmãos Fernando, Carlos, Leto e Lua; Luiz Carlos, Plínio, Ivanildo, Betinho, Piaba, Ronaldo, Humberto, Abiezer, Serjão, Aílton; Valdemir Chicão, Tombinho, Bel, Zequinha Carmo, Santinho, Pinga, Gajé, Zé Reis, Florizel, dentre outros.

Se Itabuna era um celeiro de excelentes jogadores, tambéatuavam bons árbitros. Entre os que mais se destacaram no campo da Desportiva era um tipo folclórico chamado de Dr. Mirandinha. Pelos comentários, para se fazer respeitar durante os jogos, apitava com uma arma de fogo no bolso de trás. Outros grandes árbitros de Itabuna eram Augusto Lima Matos e Manoel do Carmo.
Criado em 1967, o Itabuna Esporte Clube ingressa no profissionalismo, aproveitando os jogadores dos clubes amadores, titulares e reservas da Seleção Amadora de Itabuna. E o velho campo da Desportiva continuou sendo o palco do futebol itabunense, com os atletas vencedores do penta e do hexacampeonato baiano de amadores. Aos poucos, o time foi sendo mesclado com jogadores trazidos do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Campo da Desportiva marcou a época de ouro do futebol itabunense, mas em 1972 os jogos passaram a ser disputados no Estádio Luiz Viana Filho (hoje Fernando Gomes), no bairro São Caetano. E o velho Campo da Desportiva resistiu bravamente até 1985, quando a área foi repassada ao Governo do Estado da Bahia, para a implantação do Centro de Cultura Adonias Filho, inaugurado em setembro de 1986.

De lá pra cá o futebol amador de Itabuna perdeu sua casa e passou a disputar seus jogos em campinhos de bairro. Já os torneios com a participação da prefeitura, no estádio municipal. Com isso, as equipes amadoras tradicionais foram sendo desmobilizadas, e embora novas surgissem, não tinham o brilho de antes. Com o fim do campo da Desportiva caiu no esquecimento de muitos a tradição futebolística vencedora de Itabuna.

*Radialista, jornalista e advogado