segunda-feira, 30 de julho de 2012


ALAMBIQUE HOMENAGEIA OS 50 ANOS DO ABC DA NOITE

      
A Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopias, Etc. (ALAMBIQUE), prestou merecida homenagem ao ABC da Noite, que completa 50 anos de bons serviços etílicos, sob o comando do Caboclo Alencar.
Uma placa comemorativa ao cinqüentenário do ABC da Noite foi afixada na parede do bar, imortalizando esse momento especial na história da boemia itabunense.
Mais uma entre as tantas e merecidas homenagens ao Caboclo Alencar.

ITABUNA: O BECO É DO POVO COMO O ABC É DO CABOCLO

Faltou Beco e sobrou Fuxico na comemoração dos 50 anos do ABC da Noite. Centenas de abecezeiros lotaram o tradicional espaço da boêmia itabunense para dar um abraço no Caboclo Alencar e aproveitar a boca livre que só acontece a cada 50 anos, com direito a batidas, vinho, salgados e bolo de aniversário, tudo ´de grátis`.

A festa teve direito a placas comemorativas, discurso (só do Caboclo), exibição de um documentário sobre o ABC da Noite e muito fuxico, já que estamos em ano eleitoral e por lá passaram e conversaram animadamente juçaristas, azevedistas e vanistas. Todos, acima de preferencias políticas, futebolísticas e outros “íticas”, amigos de Alencar e fiéis às incomparáveis batidas do ABC da Noite.

Uma noite tão especial que o Caboclo, irredutível no horário de abertura de fechamento do ABC. Teve que fazer hora extra.

No final da festa, querendo espantar os abecezeiros que queriam esticar o ágape até altas horas, o Caboclo Alencar apareceu na rua com um fornido prato de salgadinhos e, mais Caboclo do que nunca,
perpetrou:

-Comam ai que sobrou e eu ia jogar fora mesmo… Valeu. Agora é esperar, sentado (ou melhor, em pé no balcão e bebendo uma batida de maracujá) pelos 100 anos do ABC.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os Brasas - Itajuipe -  décadas de 60/70
O poeta Hélio Nunes
 Manuel Leal, Helio Nunes e Jorge Amado

A poesia de Helio Nunes está a merecer uma reedição, que se justifica plenamente, não só por sua alta qualidade, mas também pela necessidade de resgata-la para o leitor de hoje uma poesia feita por um dos mais talentosos poetas da sua geração. Pássaro do Amanhã, único livro publicado, até hoje nos impressiona e caracteriza-se por seu timbre inconfundivelmente lírico, ao qual acrescenta também uma nota de sátira.
Nascido em Aracaju, a 17 de abril de 1931, Helio Nunes da Silva, filho de José Nunes da Silva (fiscal de rendas) e Júlia Canna Brasil e Silva (professora). Hélio estudou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense e desde cedo se dedicou ao jornalismo, tendo colaborado em alguns jornais de Aracaju e trabalhado em vários do interior da Bahia, Voz de Itabuna, Voz Operária, Diário da Tarde (Ilhéus), O Momento, O Paladino, onde passou os últimos anos de sua vida e exercia a função de Titular do Cartório dos Feitos Cíveis da Comarca de Itororó.
Em 1952, após longa trajetória de participação ativa em movimentos políticos e estudantis, Hélio marca sua posição de esquerda, tendo no seu grupo de estudante do curso secundarista alguns nomes como Núbia Marques, José Rosa de Oliveira Neto, Fragmon Carlos Borges, Tertuliano Azevedo. Fugindo da repressão policial foi para a Bahia, passando por Cachoeira e São Felix, fixou-se em Itabuna, centro da região cacaueira.
Após concluir o curso de contabilista, passou a lecionar na Escola Técnica de Contabilidade, destacando-se na liderança de movimentos culturais. Em 1962, após criar a Itagraf, que se notabilizou como ponto de intelectuais, editando livros de escritores da região, fundou o Jornal de Notícias, que circulou naquela cidade até março de 1964.
Membro de partido comunista, dedicou-se à causa revolucionária, que abraçou desde jovem. Após o Golpe de 64, foi perseguido pelos militares, sendo obrigado a vender a gráfica juntamente com o jornal e transferiu-se para o município de Itororó. Forçado a esconder-se para não ser preso - como aconteceu com o seu sogro, Clodoaldo Cardoso, que amargou cerca de cem dias de cadeia em Ilhéus - Hélio Nunes entregou-se à depressão. Segundo depoimento de sua companheira, Hélio morreu amargurado, solitário, pois havia renunciado a viver.
Em princípios de 1971, com a posse do novo Governo Estadual da Bahia, fora nomeado um outro titular para o Cartório de Itajuipe, o que o obrigou a retornar para a comarca de Itororó, de onde viera transferido. A nova remoção obrigou o poeta a deixar sua família em Itajuipe, local de nascimento de sua esposa, professora Valquiria Cardoso.
O clima repressivo e o afastamento dos familiares, o fez entrar em profunda depressão vindo a ser fulminado em Itororó (BA) por um infarto do miocárdio em 21 de janeiro de 1973, aos 42 anos, deixando a mulher Valquiria, cinco filhos e três irmãos, dentre eles o também jornalista e escritor sergipano, Célio Nunes. Seu sepultamento ocorreu na cidade de Itajuipe, onde viveu por muitos anos.
Pássaro do Amanhã (poemas), capa do artista plástico Santa Rosa, seu único livro autoral, foi publicado em 1962. Hélio Nunes organizou e participou da coletânea Manhã Cinqüentenária, 1961, e da antologia organizada por Telmo Padilha, A Moderna Poesia da Zona do Cacau, 1977, além de publicar poemas e artigos em diversos periódicos. Promoveu vários encontros de lançamentos em Ilhéus e Itabuna de escritores do sul do país, entre os quais Eneida, Zora Seljan, Jorge Amado, Osório Borba, Sosígenes Costa.
Apesar da militância política, Helio Nunes era um homem frágil, extremamente emotivo, um homem de coração aberto, exposto. Um poeta lírico de versos brancos, ingênuo, mais um sonhador do que ativista. A coletânea de poemas, Pássaro do Amanhã, escrita a maneira da lírica socialista das décadas de 40 e 50 em todo o mundo, tinha a mesma forma poética aos dos poetas e companheiro de partido, José Sampaio, Enoch Santiago Filho e Jacinta Passos, José Oliveira Falcon, Thiago de Mello, Moacir Felix e outros.
2 poemas de Hélio Nunes
Poema a meu filho

Meu filho, chegarás na primavera:
Mil desculpas, não poderei oferecer-te
Aquele mundo alegre e humano que sonhei.

Meu filho, chegarás na primavera:
Quando adulto, não sê igual aos demais.
Tenhas o coração inquieto e a ternura de Valquira.

Meu filho, chegarás na primavera:
Ama e ama. Se te forçarem a odiar, odeia.
O Amor e o ódio têm suas grandezas.

Meu filho, chegarás na primavera:
Rosas e foguetes teleguiados também.
Vê nos povos, brancos e negros, teus irmãos.

Meu filho, chegarás na primavera:
Aos 18 anos lê estes versos, não são conselhos,
São desejos, devaneios de um pai sonhador...

Julho de 1959


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Não partirei!


Desejo de partir. Para onde - não sei.
De beber um copo de vinho
num porto qualquer. Ou não beber nada.
Olhar silencioso as gaivotas, o mar,
E os marinheiros no cais.

Desejo de partir. Para onde - não sei.
Folhear um jornal dentro de um avião
rumo a uma cidade que não conheço.
Andar por avenidas largas, ruas e praças.
Ser um desconhecido entre milhões.

Desejo de partir. Para onde - não sei.
Desejo chapliniano de ir pelos caminhos
na hora do alvorecer. Comer uma flor,
beber água numa fonte com as mãos em concha
e enxugar a boca nos punhos da camisa.

Desejo de partir. Para onde - não sei.
Não. Não partirei. Não partirei!
Trago um sonho para realizar com ela.
Trago esperanças maduras como frutos
e alguns versos novos para o povo.

Dezembro de 1956
(Transcrito do Blog. GilFrancisco = Membro do Instituto Histórioco e Geográfico de Sergipe)

Dez anos em doze.

Outro dia ouvíamos uma música francesa tocando na rádio que costumamos sintonizar. Ele me perguntou:

- Quem  cantando aí?

Alguns segundos viraram quase minutos:

- Eu sei... é... pera... é Charles Aznavour! Lembro que lá em casa tinha um disco dele. Mas por quê?

Rindo, ele me disse:

- Oxe, porque você tinha a obrigação de saber! Esse é 'clássico'!

Foi então que resolvemos inventar o teste (ou seria uma brincadeira?) que nomeamos “Responda ao Quiz-Trívia para saber se você vai ficar comigo”...

Ele: - Quem é João Gilberto?

Eu: - Você gosta de matar traça?

Ele: - Diga o nome de cinquenta cantoras brasileiras.

Eu: - Você gosta de fazer cafuné?

Ele: - Qual o nome do crítico musical mais chato do país?                                                

Eu: - Você gosta de Win Wenders?

Ele: - Gil ou Caetano?

Eu: - Você gosta de cerveja?

Ele: - Qual o nome da primeira música que tocou nas rádios?

Eu: - Você gosta de João Cabral de Melo Neto?

Ele: - Recite um poema de Waly Salomão.

Eu: - Você gosta de conversar?

Ele: - Quem é o principal parceiro de Michael Sullivans?

Eu: - Você gosta de Matisse?

Ele: - Quem compôs as Bachianas Brasileiras nº5?

Eu: - Você gosta mesmo de mim?

Diante de tantas referências, eu reviro diariamente o baú de tudo em mim, por onde eu fui e de onde eu vim.

Diante de minha simples-embora-complexa existência, ele só teve de responder que sim.

Já são dez anos em doze, entre encontros e desencontros. E a brincadeira (ou seria um teste?) nunca tem fim...

50 ANOS DO ABC DA NOITE. HAJA BATIDA, CABOCLO!

O Caboclo Alencar e uma de suas obras primas
Dia 27 de julho é dia de festa no Beco do Fuxico, reduto da boêmia itabunense. O bar ABC da Noite, do Caboclo Alencar, estará comemorando 50 anos de fundação, com direito a inauguração de uma placa, iniciativa do advogado Gabriel Nunes, “abecezeiro” das antigas.
A clientela do ABC da Noite é formada  por  bancários, jornalistas, literatos, médicos, comerciários, servidores públicos, professores, estudantes universitários, enfim, os apreciadores de um bom  papo e das batidas sem igual na galáxia, sob as bênçãos do Caboclo Alencar, nascido Alencar Pereira da Silva, em Sorocaba, interior de São Paulo, mas que mora em Itabuna desde os 3 anos de idade, portanto um legítimo grapiuna.
Como diriam os colunistas sociais de antanho, o ABC da Noite, berço da fundação da Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopias, Etc., a Alambique, será pequeno  para receber tantos amigos do Caboclo e, per supuesto, de suas batidas, entre elas a antológica batida de maracujá.
A bebemoração começa às 18 horas. - http://www.blogdothame.blog.br