quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A Cronica de Walmir Rosário direto de Canavieiras - 31/08/2023

 

A CARÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE

Campeonato Interbairros de Itabuna - Foto Pedro Augusto

Por Walmir Rosário*

Pouquíssimos municípios brasileiros podem se orgulhar de planejar e executar políticas públicas para o setor esportivo. Os programas, por si só não bastam: precisam ser eficientes e eficazes para contemplar uma população de jovens cada vez mais longe do direito consagrado no artigo 217 da Constituição Federal: "É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um…”.

E no quesito desporto não há como comparar o antes e o depois da chamada Constituição Cidadã. Desde antes os colégios públicos mais equipados conseguiam formar atletas nas diversas especialidades na disciplina educação física em suas quadras poliesportivas. Nada mais que isso. As prefeituras auxiliavam, quando muito, com um trator na abertura de um campinho nos muitos terrenos baldios existentes nos bairros.

Fora disso, a população se virava aproveitando a ausência do boom imobiliário. Era costume uma turma de garotos e homens formados pegar no pesado para dar forma a um campinho de pelada, ou babas, como queiram. Jogavam descalços, sem uniformes, como queriam e dava tempo. Era voltar da escola, colocar um calção, chegar ao campo e bater o par ou ímpar para escolher os times. Um jogava com camisas, outro com torso nu.

Mas o crescimento das cidades deu um basta na brincadeira dos meninos. Os bem mais aquinhoados financeiramente e que eram associados a clubes continuaram praticando o esporte, bem como os participantes dos times amadores. Os excluídos mudaram de esporte ou deixaram de praticá-los. Outra solução eram os campos que alugavam horário para as partidas.

Em Itabuna, lá pelo ano 1993, o desportista João Xavier – jogador e dirigente esportivo –, eleito vice-prefeito, tomou a incumbência de proporcionar à população os benefícios do esporte, como mandava a Constituição Cidadã. De pronto, escalou José Maria (Nininho, o Sputnik), ex-jogador profissional e ex-supervisor do Itabuna Esporte Clube para pilotar importante projeto desportivo.

De início implantaram diversas escolinhas esportivas nos bairros de Itabuna, cujos alunos participavam das atividades no contraturno da escola formal. Em pouquíssimo tempo, cerca de 700 crianças já se beneficiavam do projeto nos bairros, orientados por profissionais oriundos de diversas modalidades esportivas e supervisionados pelos profissionais de Educação Física do quadro da prefeitura.

E o sucesso do projeto ultrapassou limites e divisas geográficas, chegando em Brasília. De imediato, a então secretaria federal dos Esportes destacou um técnico para conhecer a ação. De cara, destinou R$ 600 mil (à época recursos consideráveis) para o desenvolvimento do projeto. Até hoje as escolinhas dos bairros Santa Inês, São Pedro, Daniel Gomes, Núcleo Habitacional da Ceplac e Ferradas não viram a cor do dinheiro.

Recentemente, o radialista e advogado Geraldo Borges Santos elaborou um projeto que poderia resgatar a formação de jovens nos diversos bairros da cidade. De acordo com o projeto, a prefeitura executaria as ações em parceria com as faculdades e universidades instaladas em Itabuna e empresas privadas. Para tanto, bastaria recuperar alguns equipamentos públicos esportivos, a exemplo de quadras e o complexo esportivo que reúne o Estádio Fernando Gomes e a Vila Olímpica professor Everaldo Cardoso.

Conclui-se, portanto, que a cidade tem uma estrutura básica de equipamentos públicos voltados para o esporte, grande contingente de jovens ávidos para envolvimento em atividades esportivas e de atletismo. Tudo isso aliado a uma população que gosta de esportes, com histórica tradição de sucesso, restando ao Executivo e Legislativo estabelecerem uma política pública que possa beneficiar a comunidade.

Obstinado, João Xavier apresenta e executa outro projeto esportivo de fôlego: o Campeonato Interbairros de Itabuna, considerado o maior certame do gênero no Brasil. De cunho social, mexia positivamente na educação dos jovens e adultos e na economia desses locais onde os jogos eram disputados. Fortalecia o comércio formal e informal nos dias dos jogos e autoestima da população, que se unia em torno de suas comunidades.

O Interbairros também atuou na mudança do comportamento das pessoas, que antes deixavam Itabuna aos domingos para curtir o lazer nas praias de Ilhéus, um verdadeiro êxodo de pessoas e recursos dispendidos nas viagens. Com a implantação do campeonato, os times jogavam nos campos de bairro e disputavam a final no Estádio Itabunão. Praticamente todos os jogos eram transmitidos pelas emissoras de rádio e com cobertura nas TVs locais. O domingo era, realmente, um dia de festa.

Em 28 julho de 2023 o Campeonato Interbairros de Itabuna completou 30 anos. Criado para se tornar uma fonte inesgotável do descobrimento de craques, que poderiam ter chances de jogar em grandes equipes profissionais do Brasil e do exterior, não possui o mesmo glamour. Apesar de estar em atividade, não chega a movimentar toda a comunidade dos bairros itabunenses. Quem sabe mereça um upgrade?

Por si só, o Campeonato Interbairros não forma atletas cidadãos, pois seu público-alvo é formado por jovens formados e adultos. Lembrando do ditado: É de menino que se torce o pepino”, os poderes executivo e legislativo deveriam ter maturidade suficiente para evoluir e privilegiar as políticas públicas e não as políticas de governo. Enquanto isso, os jovens ficam à mercê da sorte, enquanto a marginalidade campeia livremente.

*Radialista, jornalista e advogado

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

A Cronoica de Walmir Rosário Direto de Canavieiras

 

MAURÍCIO DUARTE, UM ZAGUEIRO TÉCNICO E HABILIDOSO

Por Walmir Rosário*

Nem todos os meninos peladeiros conseguem tirar a sorte grande jogando os babas apenas nas praias ou nos campinhos de bairro. Muitos são levados para os times consagrados, nos quais aprendem a se especializar no futebol. Os que conseguem unir a habilidade individual às técnicas e táticas, teoricamente terão um futuro garantido e nome gravado entre os astros do futebol.

Por ironia do destino, um garoto peladeiro deixa sua cidade natal, Porto Velho, em Rondônia, e vai para o Rio de Janeiro, acompanhar sua mãe em tratamento médico. Era tudo que queria. Se já se encantava com o futebol jogado na cidade maravilhosa pelas ondas do rádio, agora se imaginava ser um daqueles craques que tanto assistia no rádio e na TV. Finalmente era chegada a hora e a vez do garoto Maurício Duarte.

E tudo se encaminhava conforme seus pensamentos. Em pouco tempo já disputava bola nas areias da praia de Copacabana com a desenvoltura de um atacante, atuando pelas equipes praianas do Radar e do Copa Leme. Mas queria o destino um futuro mais brilhante para a promessa de craque rondoniense. Foi descoberto pelo maior e mais excêntrico “olheiro” de futebol carioca, Antônio Franco de Oliveira, o Neném Prancha.

Botafoguense de quatro costados, Neném Prancha, considerado o maior dos filósofos do futebol, o levou para o seu time de coração, o Botafogo. Aos 12 anos o garoto se deslumbra com a plêiade de craques que ouvia e via jogar no rádio e na TV. Mais que isso, iria participar de uma peneira e, se aprovado, poderia ser um deles, afinal, tinha como padrinho Neném Prancha, o descobridor de Heleno de Freitas e Júnior “Capacete”.

Diante da enorme concorrência, lhe ocorreu uma estratégia de defesa que o fez sobreviver nos gramados de General Severiano. Assim que o treinador e antigo lateral-direito Joel Mendes dividia as promessas de atletas pelas posições que jogavam, Maurício Duarte se assombrou pela quantidade de atacantes e meios-campistas. Os pensamentos rodaram com extrema velocidade em sua cabeça e decidiu: a partir daquele momento seria zagueiro. E para jogar no Botafogo!

Lincoln (Goiás), disputa bola com Maurício (Vila Nova) 
E a sorte lhe sorriu, tanto assim que após ver de perto “os cobras” do Glorioso, a exemplo de Gérson, Fischer, Jairzinho, Brito, Manga, dentre outros craques, foi aprovado para a famosa Escolinha de Seu Neca, pela qual passaram as estrelas do Botafogo dos anos 1970, inclusive ele. Descoberto por Neném Prancha, agora teria a felicidade de aprender com seu Neca todas as técnicas e artimanhas do melhor futebol do mundo.

E o garoto magro de Porto Velho iniciou os treinamentos na Escolinha do Neca, no Botafogo, no subúrbio de Del Castilho. Era um sacrifício danado, pois pegava dois ônibus lotados para participar do treinamento coletivo às quartas e sextas-feiras. No restante da semana treinava em General Severiano. Se firmou como zagueiro e ganhou posição nas divisões de base, até que chegou o dia de ser incorporado ao time de cima.

Era o ano de 1970. E Maurício Duarte, aos 17 anos, teria a responsabilidade de substituir o zagueiro Brito, convocado para a Seleção Brasileira tricampeã do mundo. Jogaria a Taça Guanabara, posteriormente cancelada, e os jogos amistosos, o primeiro deles contra o Bangu, vencido pelo placar de 2X0. Junto com os profissionais, lembrava dia e noite os ensinamentos do seu Neca, essenciais para a sobrevivência nos gramados da vida.

Nos treinos do Botafogo marcava grandes jogadores de ataque. Certa feita, ao jogar na Gávea contra o Flamengo, ao tentar tirar a bola do craque Zico, que a adiantou com um toque, passou reto com o carrinho, numa jogada que terminou em gol. Aí ouviu do seu Neca: “Você não teria que ter dado o carrinho e sim cercado; acompanharia a jogada e ele não teria toda a tranquilidade. Lembre-se, zagueiro caído é jogador abatido”.

De outra feita, no Maracanã contra o Vasco, quando foi marcar Roberto Dinamite, ouviu outro ensinamento do seu Neca: “O zagueiro tem que ficar com um olho no peixe e outro no gato”. E era para observar a bola e Roberto Dinamite, que ficava de “migué”, na ponta-esquerda quando a bola vinha pela direita. E esse ensinamento lhe serviu para o resto da vida, tomando ou não deixando a bola chegar aos atacantes.

Do Botafogo, Maurício Duarte se transferiu para outros clubes brasileiros, nos quais experimentou a diversidade na realidade do futebol praticado nos quatro cantos deste país. E sua saída do Glorioso se deu por motivos internos. Quando chamado de volta pelo Departamento Amador, acreditou que seria um regresso e não atendeu ao pedido. Daí passou a treinar no “time da Ave Maria”, no finalzinho da tarde, com chances remotas.

Emprestado ao Remo, do Pará, Maurício não foi muito feliz, pois teve uma distensão na virilha. Em seguida se transforma num operário da bola e joga no Santo Antônio e Rio Branco, ambos no Espírito Santo, Flamengo do Piauí, Vila Nova de Goiás, Galícia, Olaria e Itabuna. Nesses times atuou com e contra grandes craques do futebol brasileiro, muitas das vezes sem receber salários em dia, dentre outras adversidades.

No Itabuna Esporte Clube, o último time por qual jogou, Maurício Duarte se identifica bastante com a diretoria e a cidade. E por aqui constrói família, faz um curso de formação em técnico de futebol, trabalha na AABB, dirige as seleções de Itajuípe, Itabuna e Buerarema. Certificou-se em Radialismo, atuou como comentarista em emissoras de rádio e Maurício Duarte se torna um verdadeiro cidadão grapiúna.

*Radialista, jornalista e advogado.


NOVO LIVRO DE WALMIR ROSÁRIO NA AMAZON

 

NOVO LIVRO DE WALMIR ROSÁRIO NA AMAZON

Os grandes craques que vi jogar – nos estádios e campos de futebol de Itabuna e Canavieiras é o mais novo livro do radialista e jornalista Walmir Rosário. Editado pela Ojuobá Projetos de Comunicação, ele traça o perfil dos craques “das antigas” que tinham verdadeiro domínio da bola. Em cada crônica o autor expressa o verdadeiro sentimento desses jogadores amadores ao jogar por suas esquipes e a seleção de sua cidade.

Bastava envergar o manto sagrado para que esses craques se superassem das deficiências dos antiquados treinamentos físicos e táticos das equipes do interior e entrassem em campo com a finalidade de ganhar o jogo. E com essa sequência de vitórias chegavam os tão sonhados títulos nos campeonatos municipais e intermunicipais, façanha conseguida pela Seleção de Itabuna ao conquistar o hexacampeonato baiano intermunicipal.

E essa brilhante conquista teve como protagonistas praticamente os mesmos jogadores, entre os anos 1957 e 1965, com um intervalo de três anos sem a disputa do campeonato – 1958, 1959 e 1960 –, retomado em 1961 até 1965. E a base dessa seleção eram os clubes amadores itabunenses Janízaros, Fluminense, Grêmio, Flamengo, Botafogo, Bahia e Corinthians, verdadeiras fábricas de craques.

Em Os grandes craques que vi jogar, o autor também aborda a transição do futebol amador para o profissional, com a criação do Itabuna Esporte Clube, conhecido com o slogan Meu Time de Fé. E o Itabuna brilhou no campeonato baiano de profissionais, com equipes competitivas, no início, formadas pelos craques amadores, mais tarde mesclada com profissionais vindos do sul do país.

E o foco principal é mostrar a trajetória de cada um desses craques, como iniciaram e foram descobertos nos campinhos de baba (pelada) e seguiram carreira amadora, muitos deles chegando ao profissionalismo. E o espetáculo rolava solto aos domingos no velho campo da Desportiva, em Itabuna, para a satisfação dos torcedores que enchiam o estádio para torcer pelos seus times.

E a paixão pelo futebol era tamanha que em Itabuna surgiu o primeiro Colégio de Futebol Grapiúna, criada pelo vascaíno Demosthenes Propício de Carvalho, cirurgião dentista que influenciou na formação de caráter e na arte de jogar futebol dos futuros craques. Dessa escolinha saíram grandes jogadores amadores e profissionais, a exemplo de Perivaldo, que atuou em grandes clubes e até na Seleção Brasileira.

Algumas crônicas são dedicadas a fatos pitoresco do futebol do interior, como o dia em que o Botafogo itabunense entrou em campo no segundo tempo sem o goleiro Romualdo Cunha, que ficou no vestiário tirando um cochilo. Somente após 15 minutos sua ausência é notada por um torcedor. Esse era o mesmo Botafogo dos meios campistas Pedrinha e Mundeco, considerados superiores a Pelé e Coutinho, quando o assunto era a tabelinha.

Em outras crônicas o leitor conhecerá dois dos grandes craques que se formaram em Canavieiras, no sul da Bahia: Bené (Canavieira, sem o s final) e Boinha Cavaquinho, que jogaram um futebol de gente grande. Canavieira passou pelo Botafogo Carioca nos tempos de Garricha, Didi, Nílton Santos, além de outras equipes. Já Boinha Cavaquinho era centroavante goleador, jogava bem nas 11 posições do gol à ponta-esquerda.

O livro Os grandes craques que vi jogar – nos estádios e campos de futebol de Itabuna e Canavieiras foi editado pela Ojuobá Projetos de Comunicação, com design gráfico, editoração e capa de Tasso Filho e Vitória Giovanini, e está disponível em eBook Kindle, na Amazon, http://tiny.cc/bc5avz


sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras

 

O FAIR PLAY E A ÉTICA NA POLÍTICA BRASILEIRA

Rui Costa e Fernando Gomes, "amigos desde criancinhas"

Por Walmir Rosário*

Para acalmar os ânimos mais exaltados, de logo deixo evidenciado que não vou fulanizar qualquer um dos eleitos ou derrotados nas últimas eleições por esse Brasil afora. O que pretendo é apenas e tão somente, pelo que consigo vislumbrar, é demonstrar que o antigo comportamento dos eleitores foi transferido para os políticos. Se antes as pelejas entre os políticos se davam apenas nos discursos, nos microfones, agora vão às vias de fato.

E suas excelências não economizavam os empolados adjetivos encarregados de desacreditar os feitos políticos do colega parlamentar. Fora disso, eram unha e carne, como se diz, no tratamento no cafezinho, no recôndito dos gabinetes, ou nos famosos restaurantes, locais onde se decidiam mais que o plenário. É que havia o chamado espírito esportivo, o jogo limpo, ou o fair play, como queria o ilustre Barão de Coubertin.

Lembro-me bem de certos políticos que eram conhecidos pela sua violência verborrágica, capaz de inebriar seus cabos eleitorais e seguidores, quando das promessas de fazer e acontecer para derrotar, desmoralizar o adversário. Claro que do outro lado a massa ficava enfurecida e volta e meia quando se encontravam numa acirrada campanha eleitoral o resultado era a contagem de feridos nos hospitais e farmácias.

Após 31 de março de 1964, os políticos se reuniram em apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), e essa difícil acomodação era feita em sublegendas. Se a convivência aberta ao público não era boa entre os membros das duas agremiações, internamente a convivência, às vezes, nunca foi assim tão salutar. Odiavam-se e toleravam-se como mandam as regras sociais.

Nessa época um fato inusitado foi registrado na Câmara de Itabuna, em que um único – se não me engano – vereador emedebista foi eleito presidente do legislativo, embora a maioria esmagadora era filiada à Arena. Os parlamentares municipais arenistas distribuídos nas sublegendas 1, 2 e 3 não conseguiram separar suas divergências partidárias e preferiram eleger Raimundo Lima, um comunista abrigado no MDB.

Não posso esquecer a disputa nos comícios, principalmente os frequentados por Fernando Gomes, candidato da oposição, emedebista oriundo do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e os arenistas vindos da União Democrática Nacional (UDN), do Partido Social Democrático (PSD), dentre outros. Em cima dos palanques eram promessas de brigas e mortes caso se encontrassem. Cada qual mais valente que outro.

Os discursos encantavam a multidão, principalmente por desafiar os poderosos, os militares da revolução de 64. E a plateia vibrava, se sentia representada, por um salvador Davi contra o perverso gigante Golas. No outro palanque, as promessas eram basicamente a mesma, e os seguidores de cada lado não viam a hora do juízo final, quando seriam cumpridas as promessas solenemente feitas nos palanques.

Pois bem, em Itabuna a oposição se muda de vez para a prefeitura com a eleição de José Oduque, com Fernando Gomes tomando assento na Secretaria da Administração, à época uma das mais poderosas. Destemido, Fernando Gomes se elege prefeito e a política fica, ainda mais acirrada. Eram os arenistas no Governo Federal e da Bahia e os emedebistas em Itabuna, sempre reclamando do tratamento recebido a pão e água.

Com isso, a cada obra feita, a cada carro comprado, junto com a logomarca da prefeitura vinha a inscrição em letras maiores: “Adquirido com recursos próprios”. E era preciso industrializar Itabuna a todo o custo. E nos jantares na casa Calixtinho Midlej se reuniam Antônio Carlos Magalhães e Fernando Gomes – políticos considerados impetuosos – para tratar dos interesses de Itabuna entre copos de whisky, taças de vinho e pratos de pitus.

No seu jeitão em se fazer parecer grosseiro para ganhar a confiança e o voto do eleitor, Fernando Gomes, àquela época dizia com muita propriedade: “Não tenho inimigos na política, só adversários”. Na campanha pela criação do Estado de Santa Cruz, Fernando Gomes enfrentou toda a máquina do Estado da Bahia, liderada por Antônio Carlos Magalhães, num massacre sem precedentes.

Pouco tempo depois, o Toninho Malvadeza se transforma em Toninho Ternura e Fernando Gomes era o convidado pra lá de especial no palanque de ACM. As farpas trocadas foram esquecidas com uma rapidez impressionante pelos seguidores dos dois políticos, que agora trocavam juras de amor eterno e muitos votos nas urnas. E o receio das fragorosas derrotas se transformaram em expressivas vitórias.

A partir desse expressivo acordo, as obras chegavam a Itabuna com mais frequência e nunca mais foi vista a expressão adquirido ou construído com recursos próprios nas placas dos feitos e veículos municipais. Já com assento garantido nas hostes carlistas, Fernando Gomes continuou conversando com todos os segmentos políticos, até mesmo com os ferrenhos adversários.

Fernando Gomes também foi um adversário contumaz do Partido dos Trabalhadores (PT). Quando perdeu a eleição para Geraldo Simões, no dia seguinte em entrevista de rádio avisou aos eleitos que preparassem a equipe de transição (a primeira de Itabuna). E para desgosto dos petistas itabunenses, fez acordos com os governadores Jaques Wagner e Rui Costa, dos quais passou a ser “amicíssimo desde criancinha”.

Como ele bem dizia: Não tenho inimigos, mas adversários políticos.

*Radialista, jornalista e advogado

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A Cronica de Walmior Rosario - Direto de Canavieiras

 

PLÍNIO, UM GOLEIRO COM MUITO AMOR Á CAMISA

Plínio de Assis, goleiro da Seleção Amadora de Itabuna

Por Walmir Rosário*

Plínio Augusto Silva de Assis iniciou no futebol amador de Itabuna jogando pelo Flamengo, por insistência do amigo e comentarista de futebol Yedo Nogueira. De início não se entusiasmou pelo convite, pois torcia pelo Fluminense, no Rio de Janeiro e em Itabuna. Convite aceito, ganhou o futebol da cidade, pela excelente qualidade do goleiro, que fez uma carreira meteórica e chegou à titularidade do selecionado itabunense, em 1960.

Titular absoluto no Flamengo, no selecionado alvianil Plínio de Assis era o reserva imediato de Asclepíades, junto com Luiz Carlos. Em 1960, ano do cinquentenário de Itabuna, finalmente assume a titularidade da seleção. Por muitos anos é convocado para a brilhante seleção, muitas das vezes alternado com o goleiro Luiz Carlos, de acordo com a escolha da comissão técnica do selecionado.

De temperamento calmo, Plínio sequer se abalou com um tiroteio durante uma partida em Ilhéus, e teve a tranquilidade de orientar seus colegas em campo, enquanto a briga corria solta e os tiros pipocando na arquibancada. Se fora de campo o clima era tenso, entre os atletas das duas cidades a rivalidade exigia muito para manter o controle, mesmo os atletas se esforçando para um clima sadio durante a partida.

E Plínio não abria mão de se preparar físico e mentalmente para os jogos realizados entre as seleções de Itabuna e Ilhéus. E dentre os cuidados tomados, treinar bastante e dormir cedo para ter um desempenho à altura. Ele sabia que as cobranças de dirigentes e torcida eram maiores em relação ao goleiro, por existir as possibilidades de partidas melhores ou piores, daí estar sempre preparado.

Plínio, goleiro do Flamengo

Mesmo assim, Plínio não se abalava com os resultados negativos, por estar consciente de que se tratava de possíveis falhas por contingência da prática esportiva. Na mesma partida em que poderia sofrer algum frango, também existia a possibilidade de fechar o gol com defesas inesquecíveis, como na disputa do tricampeonato contra a Seleção de São Félix, em 1962, um dos grandes jogos em que participou.

Como não existiam àquela época grandes técnicos com táticas de jogo mais elaboradas, Plínio ouvia com atenção as orientações do cirurgião-dentista Carlito Galvão, Costa e Silva e Gil Nery, que montavam as estratégias da equipe. Fora de campo, os técnicos davam o recado, dentro, uma meia-dúzia de jogadores coordenavam o time como um todo, de acordo com os acontecimentos.

Uma lembrança permanente de Plínio era a atuação de Didi na Seleção Brasileira contra a Suécia, em 1958, quando o jogador, após sofrer um gol botou a bola debaixo do braço e se dirige até o meio de campo, pede calma aos colegas e renova os ânimos. Na seleção de Itabuna quem fazia esse trabalho eram Santinho, Tombinho e Abieser, além do próprio Plínio orientando os jogadores com sua visão privilegiada em campo.

E assim Plínio de Assis se manteve na Seleção de Itabuna até se sagrar tetracampeão, título inédito, ampliando em seguida para o Hexacampeonato Intermunicipal por anos seguidos. Era a época do amor à camisa, na qual os jogadores treinavam a partir das 5 da manhã, corriam pra casa para tomar café e se dirigirem para o trabalho. Era o sacrifício que compensava pelo amor e não pela remuneração profissional, como atualmente.

Mas o goleiro, além de bem preparado também tem que ter sorte. No campo da Desportiva, numa partida disputada contra a seleção de Muritiba, o atacante adversário cabeceou, Plínio foi vencido e levantou seu calcanhar como último recurso, conseguindo evitar o gol. Em outra partida, contra o Vasco da Gama, a Seleção de Itabuna perdia por 2X1. Delém estava com a bola na marca do pênalti e Plínio parte para a jogada. Delém chuta, a bola bate no seu peito e não entra.

E naquela época do futebol de craques a Seleção de Ilhéus era a maior adversária de Itabuna, até pela rivalidade criada entre as duas cidades, porém não se pode deixar de citar Muritiba, que fez um timaço e possuía grandes jogadores, a exemplo de Betinho, um grande goleiro. Estivessem ou não preparados, os jogadores da Seleção de Itabuna tinham que se superar nessas partidas.

Apesar do ditado de que não há favoritos num clássico, Plínio costumava dizer que existiam outros “ossos duros de roer”, a exemplo de Alagoinhas e Belmonte. E os jogos em Belmonte, então, eram famosos. E Plínio contava que certa feita, numa vitória importante, um político influente na cidade se postou no fundo do gol itabunense, com um revólver na mão, para evitar que as pedradas pudessem atingi-lo.

Mas após as partidas todas as diferenças eram superadas nas festas promovidas nos clubes dessas cidades. E no entender de Plínio, essa era a mística do futebol amador, paixão que não existe mais. E ele sempre dizia que o entusiasmo sequer mais existe até na Seleção Brasileira, quem sabe, pelo excesso de profissionalismo dos jogadores, tenha se transformado em apatia, o que não é bom para o esporte.

Naquela época, apesar de ainda ser uma cidade pequena, em número de habitantes, Itabuna possuía um campeonato amador de muita rivalidade, principalmente entre o Fluminense, Flamengo, Janízaros, Grêmio e o aguerrido Botafogo do bairro da Conceição. E Plínio ressaltava que uma partida de domingo na Desportiva era comentada a semana toda, antes e depois, despertando paixões nos noticiários das rádios e jornais, incentivando as discussões no trabalho, bares e praças.

E Plínio lembrava com emoção as partidas disputadas no velho campo da Desportiva, sempre lotada de torcedores. Talvez por isso, sempre lhe dava um friozinho na barriga quando entrava em campo. E para ele não era diferente se os adversários eram de Itabuna, Ilhéus, Salvador ou Rio de Janeiro. Eram jogos em que tinham que se superar das deficiências do preparo físico com um bom futebol. E era isso o que eles mais gostavam.

Plínio de Assis morreu em 16 de abril de 2019, em Salvador, onde morava e foi sepultado no cemitério do Campo Santo, em Itabuna, no dia 17.

*Radialista, jornalista e advogado

domingo, 6 de agosto de 2023

Ana Prestes em Itabuna

 alhos & bugalhos

Ana Prestes em Itabuna




Ana Prestes e o poeta Cláudio Luz


Ana Prestes com o poeta Cláudio Luz e o legendário Caboco Alencar

Itabuna recepcionou neste sábado (5) Ana Prestes, neta do lendário líder comunista Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança.

Na oportunidade, Ana Prestes participou de diversos eventos voltados para as mulheres de Itabuna e região.

Na ocasião Ana Prestes, fez uma passagem pelo ABC da Noite, no Beco do Fuxico, onde autografou livros de sua autoria, entre eles 100 Anos de Luta das Mulheres pelo Voto no Brasil, Argentina e Uruguai.

Quem é ANA PRESTES

Socióloga, mestre e doutora em Ciência Política. Pós-doutorado no Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP e doutoranda em História (UnB). Atua como analista internacional, youtuber da TV Grabois e pesquisadora da história da participação política das mulheres no Brasil. Autora do livro infantojuvenil Mirela e o Dia Internacional da Mulher (Lacre/Anita Garibaldi), coautora do livro infantojuvenil Minha Valente Avó (Quase Oito), autora e co-organizadora do livro Teoria das Relações Internacionais: contribuições marxistas (Contraponto/Anita Garibaldi), autora e organizadora do livro 100 Anos da Luta das Mulheres pelo Voto – Argentina, Brasil, Uruguai (Instituto E Se Fosse Você?). Militante do PCdoB desde os anos 90. Da direção nacional do partido desde 2009 e da direção no DF desde 2014. Neta do casal revolucionário Luiz Carlos e Maria Prestes.

 

Priskas Eras


Luis Carlos Prestes em familia

 

Pensamento do Dia


Charge do Dia

 


Publicação simultânea: correioitajuipense.blogspot.com – academiaalcooldeitajuipe.blogspot.com e correioitajuipensedenoticias.blogspot.com - Ponto final! *Redação o Bolso do Alfaiate.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Entrevista com Marcello Bedeschi, líder comunitário italiano, um dos iniciadores da JMJ na década de 1980 ao lado do Papa João Paulo II

 Entrevista com Marcello Bedeschi, líder comunitário italiano, um dos iniciadores da JMJ na década de 1980 ao lado do Papa João Paulo II


De 1 a 6 de agosto, centenas de milhares de jovens de todo o mundo estão reunidos na capital portuguesa, na presença do Papa Francisco, para a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa. Quase 40 anos depois de ter sido lançada por João Paulo II, a Jornada Mundial da Juventude continua sendo um dos eventos internacionais mais importantes, dando à Igreja Católica um perfil excepcionalmente alto no mundo e na mídia.

Marcello Bedeschi, um líder comunitário italiano, foi um dos iniciadores da JMJ na década de 1980 antes de se tornar presidente da Fundação “Youth Church Hope” de 1991 a 2021, que foi renomeada como “Fundação João Paulo II para a Juventude” após a morte do pontífice polonês em 2005. Ele relembra as origens e o desenvolvimento desses encontros.

Como seu relacionamento próximo com João Paulo II contribuiu para a criação da JMJ em 1984-85?

Conheci Karol Wojtyla nas décadas de 1960-70, quando ele ainda era arcebispo de Cracóvia, porque ele tinha um vínculo especial com meu bispo em Ancona, Carlo Maccari, que havia sido seu colega de trabalho durante o Concílio Vaticano II. Em suas conversas telefônicas, mas também quando meu bispo me enviava em missões à Polônia, eu sempre notava o grande interesse desse cardeal de Cracóvia em acompanhar os jovens. Ele sempre nos falava sobre os jovens, observando seu entusiasmo e sua alegria de estarem juntos. Ele organizou uma série de encontros na Polônia que, de certa forma, foram os primeiros passos para a JMJ. Isso representou uma visão da catolicidade como uma forma de nos relacionarmos uns com os outros como irmãos.

Quando se tornou papa, ele procurou desesperadamente uma oportunidade para colocar essa ideia em prática. No final do Ano Santo da Redenção, em 1983-84, nasceu a ideia de um encontro de reflexão e oração para os jovens em Roma, para que eles pudessem se encontrar com o Senhor. Foi assim que passei a fazer parte de um comitê de quatro pessoas para organizar esse encontro, em conjunto com o Pontifício Conselho para os Leigos, então presidido pelo cardeal italiano Opilio Rossi, que logo seria substituído pelo cardeal Eduardo Pironio, que desempenharia um papel decisivo no lançamento da JMJ.

Então, foi com base nesse primeiro encontro que o conceito da JMJ foi gradualmente tomando forma?

Esse primeiro encontro em 1984 atraiu jovens de 80 países, o que foi uma grande surpresa. João Paulo II aproveitou então a oportunidade do Ano Internacional da Juventude, proclamado pela ONU, para lançar a ideia de outro encontro, em 1985. Esse encontro, novamente em Roma, também funcionou muito bem. Isso levou João Paulo II a escrever uma carta formalizando a ideia da Jornada Mundial da Juventude, que se alternaria entre o nível diocesano e um encontro mundial, organizado a cada dois ou três anos. A primeira JMJ diocesana ocorreu em 1986, seguida pela primeira JMJ internacional em Buenos Aires, em 1987. João Paulo II supervisionou pessoalmente todo o projeto, incluindo todos os detalhes e símbolos, como o fato de confiar aos jovens a cruz da JMJ para que ela pudesse ser levada ao redor do mundo. Essa abordagem tomou forma concreta mesmo em lugares impensáveis, inclusive quando a cruz foi levada clandestinamente para além da Cortina de Ferro, em países comunistas. Lembro-me dessas viagens com grande intensidade.

Como foram escolhidas as primeiras cidades-sede?

Muitas Igrejas nacionais queriam sediar a JMJ. A nacionalidade argentina do cardeal Pironio levou à organização da JMJ em Buenos Aires, da qual o padre Jorge Mario Bergoglio participou como um simples padre jesuíta. Em 1989, a JMJ em Santiago de Compostela voltou a dar destaque à importância da peregrinação e da caminhada. Peregrinos de toda a Europa convergiram para a Espanha por uma grande variedade de meios. Esse movimento ajudou a popularizar a caminhada como um meio de encontrar Deus. O Papa queria que esses encontros ajudassem os católicos a refletir sobre as questões mais importantes ligadas à fé cristã. A JMJ também desenvolveu uma dimensão cultural, com exposições organizadas em colaboração com os Museus do Vaticano. Na JMJ de Colônia 2005, a exposição sobre a Face de Cristo foi como outra catequese em si, além dos ensinamentos oferecidos pelos bispos.

Durante a JMJ do Rio, o encontro do Papa Francisco com os povos indígenas da Amazônia na Nunciatura Apostólica ajudou a lançar sua reflexão sobre ecologia, o que levou à elaboração da encíclica Laudato Si’ e ao Sínodo sobre a Amazônia. A Fundação João Paulo II para a Juventude tem sido muito ativa na organização de oficinas sobre esses assuntos nas JMJs subsequentes em Cracóvia, Panamá e agora em Lisboa.

Os franceses têm boas lembranças da JMJ em Paris, em 1997. Ela foi um marco importante para muitos católicos, dando-lhes um novo ímpeto em uma época em que se sentiam fragmentados e uma minoria em uma sociedade secularizada. O evento de Paris marcou um ponto de virada na história desses encontros?

A análise da imprensa sobre a JMJ em Paris, tanto nos jornais católicos quanto nos “seculares”, mostra que esse evento foi fundamental. Ele demonstrou a capacidade dos jovens de se engajarem no diálogo e de trabalharem juntos para dar vida à mensagem cristã. Muitas lembranças de Paris em 1997 permanecem gravadas em minha mente. Lembro-me, por exemplo, que organizamos uma exposição sobre Jesus na Prefeitura de Paris. Isso provocou alguns protestos de ativistas seculares, mas as obras foram um grande sucesso. Também fiquei impressionado com um incidente durante a celebração de boas-vindas no Champ de Mars, em frente à Torre Eiffel: João Paulo II se queimou com os braços de sua poltrona de ferro, que estavam fervendo por causa do calor e da falta de sombra. Um soldado correu para o quartel da École Militaire, localizado logo atrás do pódio, para providenciar outra cadeira mais confortável para o Papa. João Paulo II ficou emocionado e se divertiu com esse gesto, e sempre me contava sobre isso!

A JMJ continuou após a morte de João Paulo II em 2005. O que você acha da maneira como seus sucessores investiram nesse legado?

Não há dúvida de que João Paulo II foi o primeiro a iniciá-la, mas ele também queria que a passagem do bastão acontecesse naturalmente. Por isso, a ideia foi retomada por Bento XVI e pelo Papa Francisco, que têm personalidades muito diferentes, mas que mostram uma verdadeira continuidade na forma como participam das JMJs. O relançamento da JMJ de Lisboa, após a pandemia de Covid-19, não era uma conclusão precipitada, mas foi gradualmente colocada de volta nos trilhos. Para a Itália, esperávamos a participação de 20.000 jovens: agora registramos 65.000. O mesmo fenômeno pode ser observado em todos os países europeus. Portanto, há um verdadeiro entusiasmo!

Uma das coisas que mais me emociona são as vocações que nascem durante a JMJ: vocações para o sacerdócio, para a vida religiosa, para a vida familiar, para o trabalho… Para muitos jovens, mesmo em tempos de crise, a JMJ deu um impulso decisivo para sua vocação e direção. Os sacerdotes e os líderes dos movimentos católicos precisam estar cientes disso.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

MUDANÇA COMPORTAMENTAL ACELERADA NO ESPORTE

 

MUDANÇA COMPORTAMENTAL ACELERADA NO ESPORTE

A cada jogo botafoguenses quebram recorde de público

Por Walmir Rosário*

Gostaria que meu velho amigo Dudu Rocha, herdeiro de uma família forjada nas hostes da Estrela Solitária, ainda estivesse entre nós. Estaríamos dando boas gargalhadas dos torcedores de outros times de expressão nacional, especialmente dos flamenguistas, que nunca quiseram enxergar a superioridade do Botafogo e seus torcedores, quando o tema é torcer pelo Glorioso.

Mas, infelizmente, como dizem os mais experientes, nós não nos governamos quando o assunto é nossa existência física aqui na terra, Dudu Rocha se foi há pouco mais de um mês. Mesmo assim acompanhou parte da atual trajetória meteórica do Botafogo, como sempre estávamos acostumados a vê-lo em outras ocasiões, para o desespero dos torcedores de outros times, como sempre.

Até aqui nenhuma novidade, não fosse a insistência desses torcedores, certamente incentivados pelos flamenguistas, que resolveram incorporar a “Mãe Dinah”, ao enxergar um futuro incerto e não sabido. Caolhos, ou acometidos por cataratas e outras enfermidades que não permitem enxergar um palmo à frente do nariz, as nebulosas previsões caíram por terra uma a uma.

Dudu Rocha – bem como milhares de botafoguenses – deram boas gargalhadas com as fotos postadas nas redes sociais, em que animais – cavalos, elefantes e outros bichos – pousavam em cima de árvores, marquises e outros locais que não permitem suas descidas por próprios meios. Sim, eles comparavam a posição do Botafogo na tabela do Campeonato Brasileiro da série A, com a posição esdrúxula dos animais.

Na visão caolha ou nebulosa – quem sabe, jocosa –, o Botafogo apenas passava uns dias no andar de cima da tabela, sem méritos, quem sabe ocupando lugares dos seus times, que se mostraram e ainda se mostram ineficientes quando o tema é vencer partidas. A cada uma vitória do Glorioso, diziam e dizem ser questão de tempo, pois seus times voltariam a ocupar o andar de cima. Até de vascaínos ouvi essa heresia.

Em vez de me zangar com o besteirol, passei a dar o tratamento merecido: chamar os torcedores adversários para o debate, análise dos jogos. Não fui feliz neste intento. Para não perder os amigos, me engajei nas piadas, em muitas delas dando a resposta em tom de galhofa, como merecia. Também não obtive sucesso. E a cada dia de jogo os números do Botafogo se apresentavam mais robustos.

E, paulatinamente, fomos ganhando as partidas contra esses tais times. Na surra que aplicamos no Flamengo, apesar de contrariar a arbitragem, esperei o dia seguinte para dar o bom dia nas redes sociais. Insucesso total! Nenhum flamenguista deu o ar da graça, o que me preocupou significativamente. O que teria acontecido com eles? Alguma indisposição durante os comes e bebes no horário do futebol? Continuei sem resposta.

Foi daí que percebi que o buraco era mais em baixo. Se antes dizíamos “segue o líder”, o slogan passou a ser “segue o vice, já que o líder disparou”. Ainda não consegui entender o motivo do prolongado sumiço das postagens contrárias ao Botafogo nas redes sociais. Até mesmo os cronistas desportivos foram desmentidos um a um, pelos craques botafoguenses, sem dirigi-los uma só palavra, apenas marcando gols.

E aí foi que a porca torceu o rabo, com a iminente adesão e credibilidade dos nossos cronistas sobre a futebol jogado pelo Botafogo. O goleiro era um paredão, a zaga impenetrável, o meio campo inteligente e o ataque matador. Todos com lugares reservados na próxima convocação da Seleção Brasileira. Não for burrice do técnico interino, todos envergariam arenas afora a camisa amarelinha.

Sempre é bom reconhecer o erro e nisso nossos cronistas agiram bem, com raríssimas exceções. Se na mídia houve essa mudança, o mesmo não aconteceu junto aos torcedores, que passaram a evitar os botafoguenses. Por mais que eu tente, não encontro espaço para bater uma bolinha sobre os jogos do Campeonato Brasileiro, Série A, mesmo que reconheçam meus méritos para tal peleja.

Me sinto injustiçado, discriminado, e sequer posso reclamar legalmente, pois não há diploma legal que me ampare nos tribunais. Um pouco antes, nem bem chegava num boteco, e até mesmo em supermercados e outros locais públicos, era prontamente aclamado e com assento privilegiado à mesa para falar sobre o futebol. Eu e outros botafoguenses éramos chamados da “turma da kombi”. Hoje, nem desculpas pedem pelas constantes quebras de recordes no estádio Nílton Santos.

Eu entendo perfeitamente a contrariedade dos flamenguistas, afinal foram muitos anos de sofrimento com as acachapantes derrotas para o Botafogo, muitas deles homéricas e porque não dizer vergonhosas. Mas a vida passa, novos campeonatos virão e a alegria é um direito de qualquer torcedor. As decepções – como a do craque Zico – são passageiras e esperamos que não sejam motivadoras de futuras depressões, mesmo que esportivas.

Como manifestei, sigam o vice, pois o líder disparou.

I'm sorry!

*Radialista, jornalista e advogado