quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Rousseau e o contrato social

 

Rousseau e o contrato social

Para Rousseau, o homem nasceria bom, mas a sociedade o corromperia

Rousseau afirmava que a liberdade natural do homem, seu bem-estar e sua segurança seriam preservados através do contrato social.

"Jean Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante intelectual do século XVIII para se pensar na constituição de um Estado como organizador da sociedade civil assim como se conhece hoje. Para Rousseau, o homem nasceria bom, mas a sociedade o corromperia. Da mesma forma, o homem nasceria livre, mas por toda parte se encontraria acorrentado por fatores como sua própria vaidade, fruto da corrupção do coração. O indivíduo se tornaria escravo de suas necessidades e daqueles que o rodeiam, o que em certo sentido refere-se a uma preocupação constante com o mundo das aparências, do orgulho, da busca por reconhecimento e status. Mesmo assim, acreditava que seria possível se pensar numa sociedade ideal, tendo assim sua ideologia refletida na concepção da Revolução Francesa ao final do século XVIII.

A questão que se colocava era a seguinte: como preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar da vida em sociedade? Segundo Rousseau, isso seria possível através de um contrato social, por meio do qual prevaleceria a soberania da sociedade, a soberania política da vontade coletiva.

Rosseau percebeu que a busca pelo bem-estar seria o único móvel das ações humanas e, da mesma, em determinados momentos o interesse comum poderia fazer o indivíduo contar com a assistência de seus semelhantes. Por outro lado, em outros momentos, a concorrência faria com que todos desconfiassem de todos. Dessa forma, nesse contrato social seria preciso definir a questão da igualdade entre todos, do comprometimento entre todos. Se por um lado a vontade individual diria respeito à vontade particular, a vontade do cidadão (daquele que vive em sociedade e tem consciência disso) deveria ser coletiva, deveria haver um interesse no bem comum.

Este pensador acreditava que seria preciso instituir a justiça e a paz para submeter igualmente o poderoso e o fraco, buscando a concórdia eterna entre as pessoas que viviam em sociedade. Um ponto fundamental em sua obra está na afirmação de que a propriedade privada seria a origem da desigualdade entre os homens, sendo que alguns teriam usurpado outros. A origem da propriedade privada estaria ligada à formação da sociedade civil. O homem começa a ter uma preocupação com a aparência. Na vida em sociedade, ser e parecer tornam-se duas coisas distintas. Por isso, para Rousseau, o caos teria vindo pela desigualdade, pela destruição da piedade natural e da justiça, tornando os homens maus, o que colocaria a sociedade em estado de guerra. Na formação da sociedade civil, toda a piedade cai por terra, sendo que “desde o momento em que um homem teve necessidade do auxílio do outro, desde que se percebeu que seria útil a um só indivíduo contar com provisões para dois, desapareceu a igualdade, a propriedade se introduziu, o trabalho se tornou necessário” (WEFFORT, 2001, p. 207).

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Daí a importância do contrato social, pois os homens, depois de terem perdido sua liberdade natural (quando o coração ainda não havia corrompido, existindo uma piedade natural), necessitariam ganhar em troca a liberdade civil, sendo tal contrato um mecanismo para isso. O povo seria ao mesmo tempo parte ativa e passiva deste contrato, isto é, agente do processo de elaboração das leis e de cumprimento destas, compreendendo que obedecer a lei que se escreve para si mesmo seria um ato de liberdade.

Dessa maneira, tratar-se-ia de um pacto legítimo pautado na alienação total da vontade particular como condição de igualdade entre todos. Logo, a soberania do povo seria condição para sua libertação. Assim, soberano seria o povo e não o rei (este apenas funcionário do povo), fato que colocaria Rousseau numa posição contrária ao Poder Absolutista vigente na Europa de seu tempo. Ele fala da validade do papel do Estado, mas passa a apontar também possíveis riscos da sua instituição. O pensador avaliava que da mesma forma como um indivíduo poderia tentar fazer prevalecer sua vontade sobre a vontade coletiva, assim também o Estado poderia subjugar a vontade geral. Dessa forma, se o Estado tinha sua importância, ele não seria soberano por si só, mas suas ações deveriam ser dadas em nome da soberania do povo, fato que sugere uma valorização da democracia no pensamento de Rousseau.

Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas"

Veja mais sobre "Rousseau e o contrato social" em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/rousseau-contrato-social.htm

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Os labirintos de Jorge Luís Borges por Cyro de Mattos

 

Os labirintos de Jorge Luís Borges



Cyro de Mattos

costadocacau.blog.br/ - As metáforas de teor metafísico em Borges soam soberbas e nos deixam perplexos. Não é por acaso que no poema “Cambridge” afirma: “Somos nossa memória. Somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse montão de espelhos rotos.” Foi como também viu a nossa condição na vida o magistral poeta Fernando Pessoa, ao dizer que sonhar era saber essa ilusão nos reinos espectrais do tempo.

O é, o foi e o será perduram em Borges por entre inúmeros labirintos. Em Buenos Aires quando segue caminhando, sentindo nas esquinas o hoje tão lento e o ontem tão breve, nessas esquinas “sem por que nem quando”.  Perscruta assim, entre a alba e a noite, esta história universal, sem esperar que “o rigor desse caminho, que teimosamente se bifurca em outro, tenha fim.” Em “El Aleph”, a história que acompanhamos abre o caminho de um novo tipo de literatura, do fantástico, do enredo que vai sendo devorado pelos labirintos da imaginação. Assim posto em cena labiríntica o plano fictício e ao mesmo tempo real de “El Aleph”, o microcosmos dos alquimistas e dos cabalistas consiste em um dos pontos do espaço que contém todos os pontos. Aqui, o personagem encontra esse lugar onde se encontram, sem se confundirem, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos.

No conto “Pierre Menard, autor do Quixote”, Borges imagina a história do homem que não queria compor outro Quixote, não pretendia conceber uma transcrição do original nem se propunha a copiá-lo. Sua soberba ambição era escrever O Quixote, páginas que coincidissem, palavra por palavra, linha por linha, com as de Miguel de Cervantes. Em “O Jardim dos caminhos que se dividem”, ele traça uma extensa adivinha ou parábola com o tempo, sendo talvez este para a crítica dos contos mais ricos escritos por Borges. Trata-se de história que espanta e encanta, pela dualidade em que se encontram a morte e o tempo.  Somente no último parágrafo o leitor pode achar a chave dessa ficção na forma tortuosa em que é executada.

Em “O imortal”, o tema tratado agora é o da imortalidade dos homens. Borges foca a situação do homem que sempre procura fugir da morte, após

o nascimento. Basta estar vivo para morrer a cada instante, pensa o homem. Nessa história impressionante, exercida com linguagem enigmática, percorre-se os labirintos do tempo e do espaço na tentativa de encontrar a cidade dos imortais, que de tão distante só existe na imaginação humana. Essa cidade, com sua arquitetura pródiga em simetrias, ainda que localizada no centro de um deserto desconhecido, enquanto existir ninguém no mundo poderá ser corajoso e feliz.  É tão horrível que a sua presença confunde o passado e o futuro.

Borges a concebe, como

um amontoado de palavras complexas, um                           

corpo de tigre ou de touro, onde pulularam monstruosamente, conjugando-se e odiando-se, dentes, órgãos e cabeças, podem (talvez) ser imagens aproximadas.

Há quem afirme que o escritor só deve escrever sobre o que conhece, viu e viveu.  Essa maneira de postular o literário não se aplica a Jorge Luís Borges, o mais literário dos escritores, o que escreveu e imaginou o mundo como resultado do que leu e, logo depois que ficou cego em definitivo, enxergou como poucos seus caminhos metafísicos, sob o rigor do pensamento e da simetria. Tornou-se por isso mesmo um bruxo impressionante, que inventava com maestria enredos labirínticos e mitologias metafísicas, sem ter conhecido fisicamente a paisagem humana e a realidade objeto da sua escrita. E, assim, lendo e vendo com a alma, imaginando seus mundos criativos, num estilo sóbrio, passou a ser visto ele próprio como sinônimo de literatura, aquele que nos lega na poesia, no conto e no ensaio um universo fantástico, insólito e transcendente.

A literatura esteve sempre na sua alma, soube isso desde o início, como um destino a cumprir. Aos seis anos comunicou à família que queria ser escritor. O menino fora muito cedo iniciado na leitura pela mãe, criatura adorável, que o incentivava a viver intelectualmente no mundo das letras. Na biblioteca do pai havia descoberto os livros, esse mundo fantástico das histórias fabulosas onde iria passar a vida toda. Em idade precoce começou a redigir os primeiros textos, um conto ao modo de Cervantes e um ensaio sobre mitologia clássica.

Foi no ano em que começou a Primeira Guerra Mundial que a família de Borges viajou para a Europa. Em Genebra faz os estudos superiores, na

Espanha participa de saraus e publica poemas em revistas espanholas. Quando regressa a Buenos Aires, encontra uma cidade diferente, que o encanta e o inspira para escrever os seus textos labirínticos, de temas metafísicos. Condenado à cegueira, que vinha gradualmente afetando-o, desde a infância, não viu nela nada de especialmente patético ou dramático. Submeteu-se a oito operações e, nesse ocaso gradativo, ficou cego desde os fins de 1950 para a leitura e a escrita.  Nessa oportunidade havia escrito o “Poema das Dádivas” e já era diretor da Biblioteca Nacional. Comentou então da esplêndida ironia que Deus reservou para ele, concedendo-lhe oitocentos mil livros e a escuridão.

Condenado à cegueira por herança paterna, o poeta e prosador que especulou sobre “o livro dos livros”, observando que não sabe se existe ou se é sonhado por Deus, lança-nos, em labirintos poéticos arquitetados de luzes e sombras, histórias fabulosas com galerias de espelhos onde ele explora o tema da dupla identidade. Jorge Luís Borges é o “fazedor” de outra dimensão da literatura, enredada no imprevisível, distante do previsível operado pelos realistas com os elementos da exterioridade circunstante, em que os dados da objetividade são transpostos para o texto, dando ao ficcionista uma feição de copiador literário.

É um fazedor de literatura no melhor sentido, com textos extremamente criativos na direção de contos maravilhosos, ditados pelo pensamento e com uma imaginação prodigiosa. Falou-nos de um homem, “que se propõe fazer uma pintura do universo. Depois de muitos anos, cobriu uma parede nua com imagens de navios, torres, cavalos, armas e homens, só para descobrir, no momento de sua morte, que desenhara um retrato de seu próprio rosto.”

Labiríntica, como nesse personagem, é a natureza da literatura de Jorge Luís Borges, alimentada e respirada em todos os livros que havia lido. Ele sempre viu a literatura como forma de conhecimento do mundo, fundamental como o amanhecer. Se não resolve os problemas cruciais da vida, como certa vez declarou, só com ela e sua linguagem que salva é que podemos atravessar o nosso lado noturno e alcançar o dia.

Por tantas qualidades excepcionais de um fino e instigante ficcionista, não se pode deixar de considerar o que, no final do longo artigo “Uma História do Conto”, dosado com humor, importantes sinalizações sobre o

gênero e seus melhores autores, o escritor Guilhermo Cabrera Infante acentua a respeito dos contos excepcionais de Jorge Luís Borges:

 Foi Borges quem disse de Quevedo que não era um escritor, mas uma literatura. Com maior justiça se pode dizer o mesmo de Borges. Ele sozinho, em sua remota Buenos Aires, que depois dele sempre está perto, aqui ao lado, virando a página, Borges sozinho fez do conto toda uma literatura e até mais, uma teoria literária. Não preciso citar nenhum título, pois vocês conhecem todos. Mas são contos não para ler, e sim para reler, recordar, memorizar e sempre nos assombrar. Não só com sua cultura e seu humor, mas também com sua arte narrativa.
Leituras Sugeridas 

FERREIRA, Serafim. Jorge Luís Borges, coletânea, Editorial Presença, Lisboa, 1965.

JOSEF, Bela. História da literatura hispano-americana, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1971.

CERQUEIRA, Dorine. América América: amostragem da ficção hispano atual, Editus, editora da UESC, Ilhéus, 2011.

BORGES, Jorge Luís. Entrevista em A história é amarela, coletânea, Editora Abril, São Paulo, 2017.

INFANTE, Guilhermo Cabrera. Uma história do conto, “Folha de São Paulo”, 30 de dezembro de 2001.

domingo, 27 de novembro de 2022

Poesia para Nayara num dia de domingo

Poesia para Nayara num dia de domingo

Emolduro os marulhos que vem dos seus lábios,

Ás vezes imperceptíveis, quando vago a ermo pelas

Estradas que nunca deixam você voltar.

Agito-me permanente nas águas do rio,  

Movimento incessante de correntezas vagas, curtas e poucas,

Às vezes tempestuosas, embrionária, dos seus

Lábios estratosféricos, que você  se redimensionou

Para caber em mim, singrando misteriosos, desejos

Esotéricos, poesias, que acende o meu desejo de ser

Ainda que tardiamente, ser seu.

Agora o asfalto etéreo, que me eleva espiritualmente;

Sublime, elevado para dedicar "músicas e poesias” para ti.

Poetisa que és que clama pelo arrebatamento do meu corpo

Imperecível, não em agonia, do jeito que só a sua

Beleza me fará traduzir em si, os raios do sol,

O tempo dos ventos, em calmaria que me fará singrar para

O seu Amor, vastidão que poetizaremos.

Em versos olharemos o espelho de um novo dia, quiçá

Uma nova poesia.

Afinal, o domingo ainda não terminou.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

A Cronica de Walmir Rosário, Direto de Paraty

 

EM PARATY, NADA DE BRONZE, SÓ PRATA E OURO

Paraty, a Meca do turismo sul fluminense

Por Walmir Rosário*

Não sei o porquê das “cargas d’água”, ou besteiras, como queiram, mas o certo é que passei quase 19 anos longe de Paraty. Nos tempos de hoje, nem tão distantes, haja vista a modernidade dos meios de comunicação, que nos mantêm informados de quase tudo que se passa, mesmos em lugares distantes. Ao chegar e rever os amigos é que percebi o pecado cometido em manter saudades quando poderia festejar o presente, in loco.

Não me interpretem mal com minhas atitudes ao chegar em Paraty, mas o que fiz foi apenas para matar anos de saudades. Assim que pisei no solo paratiense, fiz questão de pedir ao cunhado Luiz Manoel que desse uma passada no supermercado mais próximo para adquirir um litro da mais legítima cachaça Coqueiro. Era mais que preciso matar a saudade de tantos anos de separação. Tenho convicção que comecei com o pé direito.

Após um período de programação caseira, chegou a hora de reconhecer a Paraty atual, bem diferente daquela em que conheci num passado cinquentenário, ou na mais recente visita que completa 19 anos. Para tanto, contei com o valioso auxílio de Paulo Vidal, colega radialista e velho amigo de 50 anos, numa tournée etílica de dar inveja até nos abancarmos no Bar do Lapa, nosso antigo escritório na praia do Pontal. E foi pra valer.

Hoje temos duas cidades. A antiga, histórica, onde vivi, casei, nasceu meu filho Júnior; a nova que foi se alastrando pelos arredores, substituindo os mangues e áreas rurais por grandes e prósperos bairros, onde mora a maioria dos mais novos. Na antiga, os velhos casarões cederam ao apelo turístico e as residências deram lugar ao comércio, os restaurantes que exibem em seus cardápios as cozinhas local e internacional.

Um desses endereços era nosso velho conhecido por ter abrigado – nos velhos tempos – um ponto de apoio noturno, a Palhoça, para se tornar Restaurante da Matriz, até receber o atual e sugestivo nome de Alambique Antônio Melo, pilotado pelo casal Antônio Carlos (Neguinho) e Áurea. Ele, engenheiro eletrônico que se fez administrador; ela, após anos de magistério, se torna, por conhecimento e estudo, dedicada e criativa chefe de cozinha.

Eduardo Melo, Walmir Rosário e Antônio Carlos Melo

No centro histórico de Paraty desembarcam diariamente milhares de turistas, procedentes de todos os recantos deste planeta. E vêm dispostos a conhecer a pequena cidade que abrigava o final da estrada real (caminho do ouro) vinda das Minas Gerais e porto por onde era embarcado o ouro brasileiro para Portugal. Com o fim do próspero garimpo, a cidade ficou esquecida por anos e preservou sua rica arquitetura colonial.

Encravada entre a praia e a serra da Bocaina, Paraty ficou por muitos anos longe das grandes rotas de transportes aéreo, terrestre e marítimo, até a construção da BR-101, no trecho compreendido entre o Rio de Janeiro e Santos, inaugurada em 1975. De lá pra cá, a cidade foi redescoberta e se tornou a Meca do turismo Sul Fluminense, ao lado de outras cidades litorâneas do estado do Rio e de São Paulo.

Entre as grandes tradições preservadas em Paraty a gastronomia, com base em frutos do mar, e a cachaça, com as melhores canas, se transformaram em carros-chefes do turismo na cidade. A cachaça foi cantada em prosa e verso, como na canção composta por Assis Valente e cantada por Carmem Miranda: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí, em vez de tomar chá com torradas ele bebeu paraty…”

Aos alambiques que sobreviveram por anos a fio se juntaram outros novos que produzem o destilado de cana conhecido como cachaça, pinga, marvada, maldita e são levadas como verdadeiros troféus pelos turistas. Fora da condição de turista, eu mesmo faço questão de ter sempre ao meu lado alguns litros das produzidas nas melhores safras, as mais trabalhadas e descansadas, para deleite em momentos de lazer (ou prazer?).

E como não poderia deixar de acontecer, voltei ao alambique da conceituada Coqueiro (tradição familiar desde 1803), do amigo Eduardo Melo e filhos, ciceroneado pelo não menos amigo, seu irmão Antônio Carlos (Neguinho). Revisitei as instalações durante a moagem das canas recém-chegadas, e passei em revista todos os processos da fabricação ao engarrafamento, chegando a degustá-las com muita paciência que requer o paladar.

Enfim, a cachaça destilando nas vasilhas

Confesso que não deixei por menos e fiz uma tournée pelos vários tonéis aço (as mais novas e simples), aos de madeira (carvalho, bálsamo, amendoim, canela, etc.) com as mais legítimas canas. Para economizar o tempo do leitor que deve estar “lambendo os beiços”, provei desde a prata ao ouro. Sim, isso mesmo, e não me perguntem pelo bronze, pois na Coqueiro essa palavra não existe no dicionário de cachaças.

E explico o porquê: Em parceria com uma universidade, as cachaças produzidas pela Coqueiro não contêm resíduos de cobre, bronze ou qualquer outro metal pesado, retirados durante o processo de destilação. Com isso, a palavra bronze serve apenas para denominar o terceiro lugar em algumas atividades desportivas, notadamente nas Olimpíadas.

E no alto da parede, observando tudo, uma foto do grande mago da alquimia da cachaça, Antônio Melo, pai de Eduardo e Antônio Carlos. Muito há, ainda, por visitar…

*Radialista, jornalista e advogado


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Mundo Músical mais uma vez de Luto Morrem os cantores e compositores Erasmo Carlos e o cubano Pablo Milanés

Mundo Músical mais uma vez de Luto Morrem os cantores e compositores Erasmo Carlos e  o cubano Pablo Milanés






Erasmo Carlos morreu ontem (22/11). O cantor e compositor havia sido internado ontem de manhã no Hospital Barra D’or, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, às pressas.

Erasmo Carlos tinha 81 anos e tratava, há alguns meses, uma síndrome edemigênica, que ocorre quando há um desequilíbrio bioquímico, dificultando a manutenção dos líquidos dentro dos vasos sanguíneos. Geralmente, esse enfermidade é causada por doenças cardíacas, renais ou dos próprios vasos.

Nascido na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, Erasmo Carlos cresceu cercado de elementos que, mais tarde, tornaram a sua identidade musical singular. 

Ainda adolescente, destacou sua personalidade no meio de de fãs do rock’n’roll e da bossa nova, que se reuniam no famoso Bar Divino, localizado na Rua do Matoso.

Ao longo da matéria, você verá quem é o cantor Erasmo Carlos, um pouco da sua carreira na música brasileira, algumas curiosidades sobre o artista e algumas de suas principais composições que não podem faltar na sua playlist. Continue a leitura!

Quem é Erasmo Carlos?

Erasmo Esteves era cantor, ator, compositor, músico, multi-instrumentista e escritor brasileiro. Você deve estar se perguntando quantos anos tinha Erasmo Carlos, pois bem, a idade de Erasmo Carlos é 81 anos.

Erasmo foi um dos maiores pioneiros do rock brasileiro e, durante os anos 60, fez parceria com o cantor e compositor Roberto Carlos, compondo várias músicas juntos, gravadas em seus discos de carreira solo.

A carreira de Erasmo Carlos na música brasileira

Junto com Roberto Carlos e Wanderléa, esteve efetivamente envolvido no projeto Jovem Guarda, onde foi apelidado de Tremendão, imitando a roupa e o estilo de seu ídolo, Elvis Presley.

O disco Erasmo Carlos e Os Tremendões já é um trabalho breve na carreira do artista. De 1969, este LP é uma interpretação muito original das canções do compositor da MPB.

Na década de 1970, Erasmo assinou com a Polygram. Os primeiros cinco anos da década apresentaram o Tremendão em um estilo bem diferente da Jovem Guarda. Influenciado pela cultura hippie, lançou Carlos, Erasmo, em 1971.

O disco abre com De Noite na Cama, que Caetano Veloso compôs especialmente para ele, e a polêmica Maria Joana.

O existencialismo continuou em seus outros LPs na década de 1970. No ano seguinte, em 1971, o cantor participou do filme Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora, de Roberto Farias.

Anos 80 e 90

Erasmo iniciou os anos 80 com um projeto ambicioso. O cantor convidou um projeto pioneiro no Brasil. São 12 músicas com algumas artistas como Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, Wanderléa e muito mais.

A faixa de abertura do álbum é uma das mais comentadas nas rádios: Sentado à Beira do Caminho, com a participação de Roberto Carlos.

No ano seguinte, o LP Mulher causou grande repercussão. O sucesso da mídia, com a continuação de Amar Pra Viver ou Morrer de Amor (1982), exigiu de Erasmo Carlos e seu sócio Roberto Carlos (no auge de seu sucesso) que ele deveria publicar de vez em quando um novo trabalho.

No ano de 1989, produziu o disco ao vivo Sou uma Criança, com a participação de Léo Jaime e a banda Kid Abelha e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, e lançado pelo selo SBK.

Na década de 1990, o trabalho de Erasmo Carlos apareceu na música Leap Year. Além de sempre contratar Roberto Carlos para sua música de álbum do ano, ele já lançou dois álbuns. Homem de Rua, lançado pela Sony Music em 1992 e outro grande disco é A Carta, em que Erasmo canta com Renato Russo.

Já em 1995, voltou a participar das comemorações dos 30 anos da Jovem Guarda com discos e shows. No ano seguinte, Erasmo Carlos gravou o disco É Preciso Saber Viver e regravou músicas de seu repertório. O destaque foi o dueto Do Fundo do Meu Coração com Adriana Calcanhotto.

Anos 2000

Em 2001, Erasmo lançou um novo álbum, que contou com um dueto com Marisa Monte, composto por eles e Carlinhos Brown. No ano seguinte, ele lançou seu primeiro DVD ao vivo, bem como um CD duplo.

No início de 2004, lançou a sua obra mais original: Santa Música, com 12 canções escritas apenas por Erasmo Carlos. Além da faixa-título, destaca-se a música Tim feita em homenagem a Tim Maia

Conheça as composições do cantor Erasmo Carlos

Depois de conhecer a carreira pela música brasileira e as curiosidades sobre o cantor Erasmo Carlos, conheça as músicas do compositor que não podem faltar na sua playlist:

1.     Mulher (Sexo Frágil);

2.    Gatinha Manhosa;

3.    Pega Na Mentira;

4.    Mesmo Que Seja Eu;

5.    Gente Aberta;

6.    Vem Quente Que Eu Estou Fervendo;

7.    Sementes do Amanhã;

8.    A Carta;

9.    Do Fundo do Meu Coração;

10. Minha Fama De Mau;

11.  Festa de Arromba;

12. Mais Um na Multidão (part. Marisa Monte);

13. Convite Para Nascer de Novo;

14. Filho Único;

15. Minha Superstar;

16. Coqueiro Verde;

17. Sou Uma Criança, Não Entendo Nada;

18. Panorama Ecológico;

19. É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo;

20.Cachaça Mecânica


Pablo Milanés morre aos 79 anos

 

Milanés estava internado em um hospital de Madri desde 12 de novembro, por 'infecções recorrentes', segundo sua assessoria. O lendário cantor e compositor cubano Pablo Milanés, um dos fundadores e expoentes mais destacados da Nueva Trova cubana, morreu aos 79 anos na madrugada desta terça-feira (22) - horário no Brasil - , em Madri, na Espanha, onde vivia.

Milanés estava internado em um hospital de Madri desde 12 de novembro, por "infecções recorrentes", segundo sua assessoria.

O cantor tinha um estado de saúde frágil e sofria, entre outras doenças, de um problema renal - recebeu um transplante de rim em 2014.

 

Vida e Obra

 

Pablo Milanés Começou a cantar em estações de rádio ainda quando era criança. Com seis anos passou a morar em Havana, onde continuou sua formação musical. No início da década de 1960, começou a compor a partir de múltiplas influências, tais como: a música tradicional cubana, a música norte-americana (principalmente o jazz) e a música brasileira. Participou de várias formações vocais, como o "Cuarteto del Rey", um grupo que adotava o estilo "negro spiritual", que interpretou suas primeiras canções em clubes de Havana.

Em 1965, compôs: "Mis veintidós años", que foi sua primeira composição com temática social.

Entre 1965 e o final de 1967, esteve detido em campos de trabalho forçado, dirigidos pelas Unidades Militares de Ajuda à Produção (Umap) na província de Camagüey, de onde fugiu e dirigiu-se para Havana, onde denunciou a injustiça que fora cometida, razão pela ficou preso durante dois meses na Fortaleza de La Cabaña.[2]

No início da década de 1970, começou a participar do "Grupo de Experimentação Sonora" (GES),[3] juntamente com importantes trovadores e músicos, dirigidos por Frederico Smith e Leo Brouwer.

Em 1974, gravou seu primeiro disco: "Versos Sencillos", no qual gravou versões musicalizadas por ele de poemas de José Martí.

Em 1975, gravou um disco com canções feitas a partir de 11 poemas de Nicolás Guillén.

Em 1976, gravou seu primeiro disco com composições próprias: "La vida no vale nada". Foi uma obra alinhada com os princípios da nova trova cubana e da Nueva Canción Latinoamericana, dentre as canções, merece destaque: "Yo pisaré las calles nuevamente", que clama pelo retorno da democracia ao Chile, após o Golpe Militar de 1973; e "Canción por la Unidad Latinoamericana".[4]

No início da década de 1980, lançou discos como: "Yo me quedo", "El Guerrero", "Comienzo y final de una verde mañana" e "Querido Pablo" (1985), sendo que esse último disco contou com participações de Víctor ManuelChico BuarqueMercedes Sosa e Luís Eduardo Aute.

Na década de 1990, lancou vários discos tais como:

·         "Identidad" (1990);

·         "Canto de la abuela" (1991);

·         "Orígenes" (1995); e

·         "Despertar" (1997).

Também nessa década, ajudou a criar uma fundação sem fins lucrativos para o desenvolvimento da cultura cubana, projeto que ajudou a dar visibilidade à obra de muitos artistas da Ilha. No final da década, foi gravado o disco: "Pablo Querido", que foi uma homenagem de outros artistas hispânicos e latino-americanos a Pablo Milanés, dentre eles: Joaquim SabinaFito PáezCaetano VelosoMilton Nascimento, "Los Van Van" e o grupo "Maná".

A partir de 2005, passou a atuar em parceria com músicos como: Chucho ValdésPancho CéspedesAndy Montañez e José Maria Vitier.

Em 2006, venceu o Prêmio Grammy de melhor cantor pelo disco: "Como un campo de maíz".

Em 2014, fui submetido a uma cirurgia de transplante de rim doado por sua esposa.[2]

Em 2015, recebeu um novo Prêmio Grammy pela "Excelência Musical";[5] e publicou seu 50º disco: "Renacimiento", no qual resgatou ritmos tradicionais de Cuba, como o guaguancó e o changüí, pouco habituais em seu repertório.[2]

Em março de 2017, foi lançada a coleção: "Pablo Milanés Discografía", composta por 50 títulos numerados e ordenados cronologicamente, que incluem 53 discos de áudio e 5 DVDs, com mais de 600 canções e 7 horas de vídeo. Cada disco vem acompanhado das letras das canções. A coleção vem acompanhada de um guia com 88 páginas, que resume toda a produção discográfica do artista, com introdução escrita por Marta Valdés. Ainda que volumosa, essa coleção não inclui canções especialmente compostas para trilhas sonoras de filmes de cinema, para a televisão, e com o Grupo de Experimentação de Sonora.[6]

Faleceu em Madrid, em 22 de novembro de 2022, em internamento hospitalar na sequência de doença hemato-oncológica.[7]

Críticas ao regime cubano

Em fevereiro de 2015, em entrevista concedida ao jornal El País (Espanha), defendeu um aprofundamento das reformas em Cuba. Por outro lado, declarou simpatia pelos ideais da Revolução Cubana e aos governos de: Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia) e José Mujica (Uruguai).[2]

Em outubro de 2015, em entrevista concedida a um canal de televisão da República Dominicana, fez críticas a falta de liberdades fundamentais em Cuba.[8]

Discografia

·         1973 - Versos sencillos de José Martí

·         1975 - Canta a Nicolás Guillén

·         1976 - La vida no vale nada

·         1977 - No me pidas

·         1979 - El guerrero

·         1979 - Aniversarios

·         1982 - Filin 1

·         1982 - Acto de fe

·         1983 - El pregón de las flores, com Lilia Vera

·         1983 - Años 1, com Luis Peña

·         1984 - Ao Vivo no Brasil

·         1985 - Linda y Leo

·         1985 - Comienzo y final de una verde mañana

·         1986 - Años 2, com Luis PeñaCotán

·         1987 - Buenos días América

·         1987 - Trovadores, com Armando Garzón

·         1988 - Proposiciones

·         1989 - Filin 2

·         1989 - Filin 3

·         1990 - Identidad

·         1991 - Canto de la abuela

·         1991 - Filin 4

·         1991 - Filin 5

·         1992 - Años 3, com Luis PeñaCotánCompay Segundo

·         1993 - Querido Pablo

·         1994 - Canta boleros en Tropicana

·         1994 - Evolución

·         1994 - Igual que ayer, com Caco Senante

·         1994 - Orígenes

·         1994 - Plegaria

·         1995 - Si yo volviera a nacer, com María FeliciaJosé María Vitier

·         1995 - En blanco y negro, com Víctor Manuel

·         1997 - Despertar

·         1998 - Vengo naciendo

·         2000 - Días de gloria

·         2000 - Live from New York City

·         2002 - Pablo Querido

·         2005 - Como un campo de maíz

·         2005 - Líneas paralelas, com Andy Montáñez

·         2007 - Mas allá de todo, com Chucho Valdés)

·         2008 - Regalo

·         2008 - Feeling 6

·         2008 - Raul y Pablo, com Raúl Torres)

·         2010 - Palacio Municipal de Congresos de Madrid (DVD com Chucho Valdés) – Fonte Wikipedia