quinta-feira, 27 de julho de 2023

PARTE ANTÔNIO OLÍMPIO E DEIXA SAUDADES

 

PARTE ANTÔNIO OLÍMPIO E DEIXA SAUDADES

Antônio Olímpio Rhem da Silva (foto Mary Melgaço)

Por Walmir Rosário*

Ilhéus amanheceu tristonha nesta quinta-feira (27) com a notícia da partida de Antônio Olímpio Rhem da Silva, ou simplesmente AO. E ele deixa saudosos os ilheenses de todos os recantos e níveis sociais. Para AO, a figura humana não tinha a distinção que porventura é feita de acordo com os costumes, credos, situação financeira ou cor da pele. Era do tipo que conhecia todos como gente.

O anúncio de sua partida para o Oriente Eterno gerou uma grande comoção em Ilhéus. Após uma queda, há dias ele se encontrava internado para tratamento no Hospital São José, porém não resistiu. Aos 91 anos, deixa a viúva Maria Amélia e os filhos Marcus Flávio e Luciano, além de netos. Também deixa órfã uma grande legião de amigos que construiu durante sua vida.

AO é (ou era) um itabunense adorado pelos ilheenses. Foi prefeito por duas vezes e deputado estadual. Em sua primeira eleição, desafiou o status quo da política, se elegeu prefeito e foi responsável pela transformação da cidade e dos distritos. Soube buscar os recursos necessários e realizou obras de infraestrutura importantes, muitas das quais responsáveis por mudanças no cartão postal da cidade.

Antônio Olímpio prefeito, se notabilizou por dar vez e voto a uma nova geração de políticos, deixando de lado o varejo e o compadrio para entregar aos ilheenses uma Ilhéus planejada. Pelo primeira vez a prefeitura subiu aos morros fora da campanha política, com investimentos estruturantes, os distritos ganharam acessibilidade e Ilhéus passou a executar uma política turística de apresentar sua história e personagens ao mundo.

Foi o prefeito que trabalhou junto à população, o que não era nenhuma novidade, pois sempre circulou com desenvoltura em todas as camadas sociais da sociedade. Com a simplicidade que visitava os gabinetes em Brasília e Salvador, passeava em todos os recantos de Ilhéus, constatando os reclames da população e fiscalizando a execução das obras realizadas pela prefeitura.

Sua intimidade com a população era tamanha, que logo cedo conversava com os pescadores do Pontal – bairro em que morava –, atendia as lideranças políticas, vereadores e o povão de Deus sem a menor cerimônia. Conhecia a todos e os tratava com respeito e intimidade, chamando-os pelos nomes, sobrenomes e apelidos, dedicando carinho e cobrando quando necessário.

Se era bem recebido nos salões da nobreza, AO também era fortemente abraçado pelos mais simples, aos quais tratava com brincadeiras e gozações. Não raro era visto batendo papo nas ruas ou na praça São João, no Pontal, comportamento que não é peculiar aos políticos. Se sentia confortável ao visitar os amigos da tarifa (entreposto de pescado), permanecendo para algumas partidas de dominó.

Pescador exímio e conceituado, ministrava aula de pesca aos pescadores, informando com segurança os melhores locais onde as diferentes espécies de peixes seriam mais facilmente encontradas. Mais a simples localização não bastava, e ele complementava com o tempo e o clima ideal em que eles estariam gordos, excelentes para o consumo e o tipo de captura mais adequado.

Advogado de conceito, servidor do Ministério do Trabalho, professor, secretário do Meio Ambiente, Presidente da Fundação Universidade do Mar e da Mata (Maramata), escritor, brindava os amigos com sua sabedoria e os “causos” contados com a verve que Deus lhe deu. Era do tipo que poderia perder o amigo, mas nunca a piada, como diz o ditado, só que não, conservava os dois.

Outra grande e excelente habilidade de AO era a gastronomia, notadamente em peixes e frutos do mar. Nesse mister, formou bons chefs nos cursos em que promovia na Maramata, entre os quais me incluo (sem o adjetivo acima citado). Poderia ser considerado um bom vivant, como todos os que valorizam os prazeres da vida, generoso, bem-humorado, de bem com a vida.

Tive a felicidade de conviver um bom tempo com Antônio Olímpio, momentos que jamais serão esquecidos. Nos nossos encontros, muitos deles profissionais, elaborei boas histórias, boa parte das quais contadas em reportagens administrativas, políticas e gastronômicas. E essa convivência se transformou em amizade, daquelas que ele sabia construir e conservar por toda a vida.

Pelo que conheço de AO como irmão, valoroso maçom, servidor público, professor e amigo, acredito que ele não gostaria de deixar triste os amigos, até pelas piadas que contava. Prefiro o sentimento da saudade, que o da tristeza; da lembrança dos momentos agradáveis, do que os maçudos; da espontaneidade, do que os críticos. AO estará fisicamente longe de nós, mas perto do coração.

Radialista, jornalista e advogado*

O ITABUNA EMPATA COM O BAHIA E VENCE O ÁRBITRO - A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras

 

O ITABUNA EMPATA COM O BAHIA E VENCE O ÁRBITRO

O excelentíssimo apito do árbitro de futebol

Profissionalizado em maio de 1967, o Itabuna Esporte Clube “herdou” praticamente todos os jogadores da Seleção Amadora de Itabuna, um timaço para torcedor nenhum botar defeito. Aos poucos, o time foi sendo mesclado com jogadores já profissionais, principalmente vindos dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, para a alegria dos torcedores do azulino.

Em 1970, o Itabuna Esporte Clube, então sob a presidência do advogado Gabriel Nunes, teve uma de suas melhores formações, tanto que fez sua mais brilhante campanha. Não se consagrou campeão baiano deste ano simplesmente pelas tramoias dos cartolas da Federação Baiana de Futebol, dominada pelos dirigentes do Bahia e Vitória, os maiores da capital.

O Itabuna terminou vice-campeão, numa das histórias mais tristes do futebol baiano, somente comparada aos fatos contados na ocupação do solo grapiúna nos idos de 1800 até o início de 1900. Os tempos eram outros e as pendências geralmente eram resolvidas de forma violenta, ao contrário dos usos e costumes dos dirigentes baianos, na “sabedoria” do futebol.

Se para se estabelecer nesta terra imperava a lei do mais forte, com os “coronéis” armando seus caxixes nos cartórios ou invasão das roças de cacau com a força dos jagunços, no futebol baiano não era diferente, mas era a influência política que dominava. Com todas as artes e manhas disponíveis no mundo da esperteza, algumas vezes agiam de forma dissimulada; outras nem tanto, eram na “carteirada”, mesmo.

Dentro de campo, os árbitros sempre davam aquela mãozinha – ou apitada – fundamental para manter o resultado conforme os gostos e desejos dos cartolas soteropolitanos. Dirigentes esses que poderiam ser comparados à realeza dos tempos do império, com todos os direitos e nenhum dever, a não ser o de conseguir resultados positivos para Bahia e Vitória, custe o que custar.

Um desses árbitros, que embora fosse batizado e registrado civilmente com o nome de um espiritualista indiano, nada fazia para repetir os gestos e ensinamentos do filósofo que seus pais quiseram homenagear. Ao contrário, as histórias e estórias são as mais antagônicas possíveis e inapropriadas para atividades esportivas, diriam hoje os politicamente corretos.

Esse mesmo árbitro passou a ser conhecido como uma espécie de carrasco dos times das cidades do interior – Itabuna, Ilhéus, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Alagoinhas e Jequié. Nem mesmo as equipes menores da capital escapavam da vingança maligna dos mandantes da Federação. E sabem qual era o pecado? Formar um time com condições de disputar – de igual para igual – o Campeonato Baiano.

A área do adversário era território proibido para os atacantes interioranos e os nanicos da capital. Chegar perto da pequena área…nem pensar: o árbitro acionava logo seu famoso apito para marcar impedimento ou uma falta do ataque. Já na defesa a situação era mais complicada e os zagueiros não podiam, sequer, chegar junto dos atacantes dos grandes times, que trilava o apito protetor, marcando penalidade máxima.

Num desses jogos entre o Itabuna e Bahia eis que a Federação Baiana de Futebol escala justamente o homônimo do indiano para a partida a ser realizada na Desportiva Itabunense. Descia do ônibus da Sulba ou avião e se dirigia ao Lord Hotel para descansar até o início da partida, sem falar com pessoa alguma, principalmente se fosse dirigente ou pessoa ligada ao Itabuna.

Para o desespero do árbitro, neste domingo, a equipe azulina estava “azeitada”, e seus jogadores com sede de vingança da última partida realizada com o Bahia, quando perderam por um magro 1 X 0, como sempre, com a ajuda deste mesmo juiz. Bola em jogo, as duas equipes se estudando e os jogadores, principalmente os do Itabuna, com receio de partir para uma jogada mais viril.

E essa indecisão já deixava o árbitro angustiado, pois, como acertado na capital, o Bahia precisava da vitória. Mas não tinha jeito e mesmo as quedas dos jogadores do time da capital eram em jogadas infantis, impossíveis de marcar o providencial pênalti, pois eram longe da grande área. Já no lado do ataque do Itabuna, em toda escapada era marcado o impedimento, uma “banheira”, como era conhecida essa penalidade.

O ataque do Itabuna não chegava à grande área, e caso um jogador azulino se atrevesse a ultrapassá-la o apito trilava, Devido a atitude indevida, mas decisiva do árbitro, o ataque do Bahia pecava nas finalizações, para desespero dos dirigentes. E essa agonia também era bastante visível nas transmissões das rádios da capital, cujos apresentadores e repórteres tentavam desqualificar o futebol jogado pelos interioranos.

Mas nessa tarde esportiva da velha Desportiva Itabunense não teve jogador ou cartola do Bahia ou da Federação que desse jeito. Muito menos o árbitro, diante do futebol impecável jogado dentro das quatro linhas. Sem ter como apitar o velho e famoso pênalti salvador da pátria, o conhecido árbitro foi obrigado a encerrar o jogo aos 50 minutos do segundo tempo.

Neste domingo nenhum dos dois times venceram, pois o placar não saiu do zero a zero. Ganhou o futebol baiano, numa tarde em que o esporte venceu o caxixe e o conluio entre os cartolas dos times da capital e da Federação. Nesse dia o suspeitíssimo árbitro foi derrotado pela prática do bom futebol, e o Itabuna Esporte Clube passou a ser visto com outros olhos pelos sabidórios do esporte.

*Radialista, jornalista e advogado


sexta-feira, 21 de julho de 2023

A Cronica de Walmir Rosário - A REINVENÇÃO DO RÁDIO É REAL

 

A REINVENÇÃO DO RÁDIO É REAL

Rádio, por anos a magia da comunicação

Por Walmir Rosário*

Desde que fui iniciado no rádio me acostumei a ouvir a derrocada desse meio de comunicação instantâneo, antes calcado no tripé: música, esporte e notícia. Com a chegada da TV, sua morte foi decretada solenemente, mas o rádio se recusou a morrer de morte matada. Fosse hoje, diríamos que a notícia circulante se tratava apenas de uma fake news e não deveria ser levada a sério, como não deve até hoje.

De lá pra cá, essas mentirinhas continuaram a ser ditas assim que anunciada uma nova tecnologia. E o rádio, sorrateiramente, continuou firme e forte, ampliando sua área de atuação e o tripé de sustentação de antes passou a implantar novos “pés”, e se encontra mais sólido que nunca. Por um tempo esteve segmentada, principalmente com a aquisição de emissoras pelas igrejas de várias denominações.

Quem manteve a segmentação pura e simples deu com os burros n’água e foi obrigado a promover uma profunda mudança. Os segmentos católicos e protestantes não eram capazes de manter uma estrutura vibrante sem os comunicadores; apenas locutores de programas religiosos não bastavam. Daí que hoje algumas delas promovem debates ecumênicos com representantes de várias religiões, espíritas, ateus e que mais valham.

Fora desses horários, os comunicadores disputam a audiência com muita inteligência, buscando a cumplicidade dos ouvintes. E a MPB, o samba, o romantismo, o rock estão presentes em suas programações na mesma intensidade dos programas de autoajuda, de apoio às donas de casa, do apoio providencial aos motoristas nas grande cidades, ao homem do campo pelas manhãs, e aos notívagos, madrugadores, boêmios ou no batente.

Eu entrei no rádio por acaso, ao participar da equipe do seminário nos programas religiosos transmitidos pela Rádio Sociedade de Feira de Santana, lá pelos idos de 1963. Algum tempo depois – 1965 –, em Itabuna, o empresário Carlito Barreto compra a Rádio Clube e doa aos frades capuchinhos. E quem vem dirigir a emissora é justamente Frei Hermenegildo de Castorano, ex-diretor da emissora coirmã em Feira de Santana.

E mais uma vez lá vai eu em direção ao rádio, inicialmente na programação religiosa, depois em outras atividades como a mesa de som, técnica em transmissão externa, locução, e por aí afora. Por um tempo me dediquei à atividade e outros tantos fora dela. Volta e meia retornava, na redação, reportagem, apresentação, e convivi com várias “feras” da comunicação e em diversos horários, inclusive nas madrugadas.

No programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora, produzido e apresentado pela Ceplac, estive no comando por anos e presenciei o que era a verdadeira interação com os ouvintes da cidade e, principalmente da área rural. Em determinados momentos chegamos a receber uma montanha de cartas, mais de 600 delas entregues nos diversos escritórios da Ceplac na cidades irradiadas. Muitas quais escritas por pessoas de pouca ou quase nenhuma alfabetização.

Só quem trabalhou na reportagem sabe a dificuldade de passar um flash ao vivo da rua quando ainda não existia entre nós o aparelho de telefonia celular. Era preciso disputar uma fila num orelhão e introduzir diversas fichas metálicas para que a ligação não caísse, fosse cortada, enquanto passava a informação. Do contrário, bastava ter a cara de pau de pedir para usar o telefone fixo em uma casa comercial ou residencial.

Sem esses auxílios providenciais, só após chegar à emissora algum tempo depois com a fita gravada. Para isso teria que contar com a sorte e não tomar o furo de outra emissora. De vez em quando um ouvinte ligava passando a informação e torcíamos que não fosse um trote. Não posso falar em gravar uma entrevista sem comentar o tamanho e o peso dos jurássicos gravadores e suas fitas cassetes que cismavam não gravar em momentos importantes.

Outra atividade radiofônica que sempre gostei de trabalhar era o horário gratuito nas campanhas eleitorais. Somente quem milita nesse segmento sabe da importância do rádio numa eleição. Numa oportunidade, fui convidado a coordenar a campanha de rádio de um candidato em Itabuna. E a missão que recebi do coordenador geral de comunicação da campanha, jornalista Sérgio Gomes, foi a de produzir um programa totalmente independente da veiculada na televisão.

Contratamos um excelente comunicador, Paulo Vicente, na edição de áudio, Luiz Barroso (meu operador por anos), eu na direção, redação e locução de editoriais, e contamos com a participação de uma dupla pra lá de especial: os radialistas Paulo Leonardo e Florentina Jerimum, estes na apresentação de humor. Nesta editoria eu escrevia apenas um roteiro e os dois se encarregavam de finalizá-lo na gravação, sem qualquer texto prévio.

Resultado, todos os dias eu era surpreendido nos bares, esquinas e demais locais públicos com as discussões dos quadros do programa e muitas das expressões viraram memes e bordões no boca a boca dos ouvintes e eleitores. Desta vez, o programa de rádio influenciou o programa de TV, que passou a abordar os temas apresentados no programa radiofônico do candidato, vencedor da eleição (não apenas e tão somente por isso).

Com a chegada da internet, mais uma vez o rádio foi jurado de morte. E o povo do rádio nem deu a mínima. Mais que depressa, tomou para si as facilidades dessa nova tecnologia e ampliou seu espectro social com as ferramentas da rede mundial de computadores. Na minha humilde concepção, com a internet, o rádio perdeu apenas seu glamour ao expor seus apresentadores nos canais das redes sociais, ganhando em intimidade.

O rádio continuará firme e forte, desde que não queiram inventar a roda quadrada.

*Radialista, jornalista e advogado


quinta-feira, 13 de julho de 2023

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras

 

OS SONHOS E OS VOOS DE NININHO, O SPUTNIK

Por Walmir Rosário*

Campeão pela Seleção de Itabuna no primeiro Intermunicipal vencido, Nininho, o Sputnik, sentiu necessidade de mostrar seu futebol em outras terras, se apresentar no Maracanã, o santuário do futebol. E aqui pra nós, qual jogador de futebol que nunca sonhou atuar no Gigante do Maracanã? Nem tinha medo com o tradicional friozinho na barriga no jogo de estreia. Era o começo de uma carreira, quase sempre bem-sucedida.

E José Maria Santos, o menino de Macuco, hoje Buerarema, só pensava nisso. Tanto foi assim que dispensou as honrarias dos cartolas, comerciantes e torcedores de Itabuna para aventurar a carreira no Rio de Janeiro. Quem sabe poderia aparecer no Canal 100, em todos os cinemas do Brasil, jogando por um grande clube do Rio de Janeiro ou São Paulo. A mudança valeria a pena e ele estava disposto a correr o risco.

Artilheiro com 11 gols marcados em sete jogos da Seleção de Itabuna campeã. Eleito em 1958 o atleta mais eficiente e disciplinado de Itabuna, Nininho ganhou uma passagem de ida e volta, além da hospedagem para 15 dias em hotel no Rio de Janeiro. Viajou acompanhado do colega Hildebrando, que ia visitar dona Guiomar, esposa de Didi do Botafogo, que é da região cacaueira. Nininho foi apresentado aos dois e se tornaram grandes amigos.


Finalmente, o craque Sputnik se foi. No Rio, fez teste no Fluminense, time em que jogava o conterrâneo Léo Briglia, e treinou muito bem. Aprovado, o técnico Pirilo queria inscrevê-lo como juvenil, mas não foi possível, pois já completara 20 anos. Como não tinha vaga no aspirante, completo com jogadores subidos dos juniores, nem mesmo a intervenção de Léo Briglia resolveu. A escolinha do Flu era uma fábrica de craques, o que sempre impedia o aproveitamento de novos valores. E o Sputnik era um deles.

Se não deu certo no Fluminense, ainda em 1958 Nininho decidiu dar uma passada no Botafogo para se submeter aos testes. Enquanto fazia o famoso vestibular no Glorioso, um treinador do Guarani de Divinópolis gostou de sua atuação e quis saber qual era situação do atleta. Informado que era livre e estava passando por testes, convidou o Sputnik para ir disputar o Campeonato pelo Guarani. Aceitou, de pronto.

Em janeiro de 1959, volta ao Rio de Janeiro para se submeter a novos testes no Botafogo, onde pretendia jogar ao lado do time dos grandes craques. Nesse período, foi levado para o Canto do Rio, em Niterói, e daí para o América, no qual se sagrou campeão carioca em 1960. Nesse ano, mesmo na reserva, foi o artilheiro dos aspirantes. Nessa época já tinha incorporado novo nome: Zé Maria.

Emprestado ao Bonsucesso Futebol Clube para fazer uma excursão no exterior, atuou no Chile e Peru. Nessa viagem jogou o que sabia nos 15 jogos realizados, uma campanha invicta. No último jogo, contra o Sporting Cristal, do Peru, que já era campeão peruano antecipado, faltando três rodadas para o fim do certame, marcou o gol mais bonito de sua vida. Para ele foi a consagração como jogador profissional.

Em 1962 volta a São Paulo, desta vez para jogar na Prudentina. No ano seguinte, 1963, Sputnik, ou Zé Maria, joga um belo campeonato. Àquela época, a Prudentina era um time cheio de bons jogadores e ele consegue se destacar, embora a equipe tenha ido mal. Resultado: no final do ano todos os atletas foram dispensados. Nininho chegou a ser cotado para ir para o Peru, onde jogaria no Sporting Cristal, mas como não se concretizou, ele continua no Brasil e passa a jogar pelo Nacional.

Depois disso foi trabalhar na Rede Ferroviária Federal e continuou jogando por dois anos, e encerrou a carreira em 1967. Anos depois o craque volta para Itabuna. Deixa a Rede Ferroviária, um emprego federal e se instala em Itabuna. Convidado por Ramiro Aquino, José Adervan e João Xavier para supervisionar o Itabuna Esporte Clube, cumpriu a missão de fortalecer o profissionalismo no futebol itabunense.

Nininho preferia ser treinador, mas foi convencido a atuar na supervisão. E fez um excelente trabalho, dando uma nova cara à equipe profissional, àquela época ainda tratada com muito amadorismo no sul da Bahia. O Itabuna chega ao final do campeonato em uma boa colocação, resultado do trabalho implantado por ele e o treinador Roberto Pinto, mudando as características do futebol por aqui praticado.

Nessa época, Itabuna reunia bons jogadores, muitos deles valores regionais. Um em especial, vindo de Itarantim para fazer teste no Itabuna como quarto zagueiro. Era Zezito Carvalho. Assim que viram a baixa estatura dele, Nininho, Roberto Pinto e João Xavier sugeriram que fosse testado na lateral direita. Deu certo e o Zezito Carvalho passou a se chamar Tarantini, nome dado em homenagem ao jogador argentino e que fazia referência à sua cidade, Itarantim.

Nininho também fez um excelente trabalho com a juventude itabunense, quando convidado pelo amigo João Xavier, à época vice-prefeito e secretário de Esporte de Itabuna. A missão era implantar as escolinhas de futebol projetadas pela Prefeitura. E execução deu excelentes resultados, retirando meninos da rua para proporcioná-los uma vida melhor com a prática de esportes, notadamente o futebol.

O menino de Macuco, iniciado no Pindorama Futebol Clube, depois no Brasil Esporte Clube, o BEC, venceu no futebol e até hoje é reconhecido como bom exemplo por onde passou.

*Radialista, jornalista e advogado


quinta-feira, 6 de julho de 2023

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras

 

O CACAU EM ALTA, NOTÍCIA PARA POUCOS

A cultura do cacau já não contagia a sociedade regional

Por Walmir Rosário*

Ultimamente temos lido boas notícias para a cacauicultura brasileira, uma esperança para o Sul da Bahia. Entre elas a elevação do preço do cacau no mercado internacional, consequentemente, mais dinheiro no bolso do cacauicultor, embora o preço do dólar em relação ao real tenha sofrido leve queda. Mas os senhores podem ficar sossegados que não tratarei de economia, pois não possuo conhecimento suficiente para tal.

O que pretendo é deixar bem evidenciada a mudança ocorrida no Sul da Bahia – a região cacaueira –, em que uma notícia alvissareira em anos passados, sequer é tratada na mídia como simples informação. Caso o cidadão que não faça parte da cadeia produtiva do cacau não busque os veículos de comunicação especializados na matéria, a notícia continuará desconhecida. E olha que o cacau já foi nosso principal produto econômico.

Atualmente, o cacau sequer aparece nas discussões presentes na sociedade, após a Ceplac ser internada na UTI, sem direito a boletim médico com informações sobre sua enfermidade e qual a reação ao tratamento. Ao que parece, entrou em estado vegetativo e não teve os aparelhos que a mantém nesse estado desligados por interesses outros desconhecidos do grande público.

É triste, porém real, que a instituição responsável pelo soerguimento da economia de uma imensa região receba o tratamento há muito dispensado. Uma antiga locução a designaria com absoluta realidade: “morrendo à míngua”. O que foi criado para ser um amplo hospital para a atividade cacaueira, num exemplo chulo, se transformou numa enfermaria na qual vemos, a cada dia, morrer os técnicos responsáveis pela sua sobrevivência.

Pecados foram cometidos e não há como escondê-los, o que não justificaria condenar a instituição a arder eternamente no fogo do inferno, com meu pedido de perdão a tamanha e estapafúrdia comparação. Se a instituição não mais se justifica, que seja extinta de uma vez e repasse suas obrigações e o que resta do pessoal a outras empresas estatais, inclusive suas instalações, abandonadas em dezenas de cidades, muitas delas ocupadas pela marginalidade.

Impossível acreditar que a Ceplac não soube se adequar aos novos tempos. Conversa fiada. Basta uma olhada nos seus antigos projetos e programas para constatar as propostas de mudanças, calcadas na diversificação das atividades econômicas regionais. O incentivo às cooperativas, à verticalização da cacauicultura com a produção do chocolate “caseiro”, isso após o melhoramento genético e o uso de práticas agrícolas adequadas.

E todas as iniciativas visaram consolidar o agrobusiness regional por meio da exploração vertical dos imóveis rurais com gestão empresarial, incentivando a produção, com qualidade e baixo custo, para competir num mercado cada vez mais globalizado. Também demonstrou que o importante não era produzir muito, e sim produzir dentro de padrões adequados e compatíveis como o tipo de atividade.

Antes e depois do nefasto ataque da vassoura de bruxa nos cacauais do Sul da Bahia a Ceplac trabalhava com afinco para abrir a mentalidade do cacauicultor, muitos dos quais se conscientizaram para a necessidade de evoluir. Os que entenderam passaram a mudar os métodos de produção, salvando suas galinhas dos ovos de ouro, com investimentos dentro das possibilidades individuais.

Outros, entretanto, sucumbiram, por motivos diversos cuja avaliação não cabe nesse escrito. A produção de cacau fino é hoje uma afortunada realidade, cujos preços são de fazer inveja, com ganhos muito acima dos publicados do cacau comum – dito superior – nas bolsas de Londres e Nova Iorque. Prêmios e honrarias são concedidas a nossos cacauicultores que embarcaram nesse nicho e navegam em mar de almirante.

Aos poucos, e a olhos vistos, conseguimos enxergar uma mudança benéfica no comportamento regional dos que acreditaram na cacauicultura como um excelente ramo de atividade. Aprenderam que precisam conviver amigavelmente com os fatores da natureza, especialmente os climáticos, para conseguir os resultados pretendidos na cultura, driblando ou se antecipando aos vários fatores adversos.

Pela experiência adquirida nos ensinamentos da Ceplac de outras instituições, os novos cacauicultores continuam enfrentando as adversidades climáticas, os baixos preços no mercado internacional, a infestação da vassoura de bruxa, os índices de endividamento, até mesmo a má vontade do mercado em importar cacau africano de qualidade duvidosa. Muitos ainda continuam nessa dependência, seja por imobilismo ou descrédito no que faz.

Os cacauicultores que passaram a ver o seu produto como chocolate, e não como simples commodity, estão bombando num mercado crescente, cujos consumidores estão ávidos pelas boas novidades. Uma dúvida que aflige a poucos é se a contribuição da Ceplac, mesmo com os poucos cientistas que restam não poderia acrescentar mais benefícios à atividade? Já imobilizada, como está, apenas gasta os recursos escassos da sociedade.

*Radialista, jornalista e advogado