quinta-feira, 29 de junho de 2023

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras

 

NININHO SPUTNIK, O ARTILHEIRO DO PRIMEIRO INTERMUNICIPAL

Por Walmir Rosário*

José Maria Santos, o Nininho, nasceu em Macuco, hoje Buerarema. O primeiro apelido lhe foi dado por uma vizinha, que sempre reclamava quando ele mexia nos ninhos de suas galinhas no quintal. De tanto ele tocar nesses ninhos, essa senhora disse pra sua mãe: “Olha, o nome desse menino deveria ser Nininho, porque ele não aguenta ver um ninho de galinha que quer bulir”.

E naquela bucólica Macuco, Nininho levava uma vida tranquila, como qualquer garoto de sua época, estudando, brincando e jogando futebol. E foi justamente no futebol que ganhou seu segundo apelido: Sputnik, por ser um atacante ágil e habilidoso, como o primeiro satélite russo lançado ao espaço. E assim ele ficou conhecido no mundo futebolístico.

A casa de Nininho ficava em frente a um campinho, na cidade alta, onde jogava com os filhos de sêo Ildefonso Lins – Ernandi, Amail Lismar e Manuel Lins. E ali as pessoas da cidade baixa, viam os meninos jogar, e ele já se destacava. Aos 13 anos, Paulo Portela, diretor do Brasil Esporte Clube, o time forte da época, o colocava na reserva, e sempre o mandava para o jogo. Destacou-se no futebol.

Aos 17 anos, Nininho recebe a indicação do craque Santinho para o Fluminense de Itabuna. Em 1955 veio treinar no Flu itabunense, ano em que já participou do campeonato, mesmo ainda morando em Macuco. Na sua estreia pelo Fluminense marcou muitos gols e se destacou como um dos artilheiros ao lado de Santinho, Humberto César, Carrapeta, Brício, e outros craques.

José Maria Santos (Nininho)

E o centroavante Nininho, agora, Sputnik, se destacava pelos gols que fazia. Os zagueiros não dormiam direito quando sabiam que iriam marcá-lo no dia seguinte. Era rápido e abusado. Partia para cima dos zagueiros, fazendo o um-dois, tocando e recebendo na frente, até chegar na cara do goleiro. Aí ficava fácil marcar os gols e ser o artilheiro festejado.

E o menino franzino não tinha medo de gente grande. Driblava, marcava gols bonitos, do jeito que a torcida gostava. Craque e ainda por cima artilheiro de gols inesquecíveis. Reconhecido como um craque do futebol itabunense na década de 1950, Nininho ou Sputnik foi convocado para a brilhante Seleção Amadora de Itabuna.

E na seleção em 1955, 56, e 57, teve seu melhor desempenho. Em 57 foi quando a seleção realmente se entrosou e ganhou o primeiro Intermunicipal. Na verdade, foi o segundo título de Sputnik no ano, pois ganhara o Torneio Antônio Balbino meses antes. Em 57, foi o artilheiro do campeonato, jogando demais naquele certame. Foi aí que teve oportunidade de ir para o Rio de Janeiro.

Na verdade, em abril de 1957 Nininho teve a grande chance de sua vida, ao ser convocado para a Seleção de Itabuna, para a disputa do torneio Governador Antônio Balbino, do qual se sagrou campeã do certame. O torneio foi uma novidade e encheu de orgulho os itabunenses, pois era a primeira participação da Seleção de Itabuna em uma competição como essa, em Salvador, a capital baiana.

E foi tudo muito especial: se comemorava o aniversário do governador Antônio Balbino e a iluminação do Estádio da Fonte Nova. Festa nacional, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek, o ministro da Guerra, Marechal Henrique Lott, e o próprio governador homenageado. E a Seleção de Itabuna tomou conta da festa ao se sagrar campeã.

Em Salvador, na quinta-feira (4 de abril) Itabuna joga contra a Seleção de Feira de Santana, que saiu à frente no marcador, até que Nininho, o Sputnik marca o gol de empate. Decisão por pênaltis, na série de cinco pra cada time, batidos por um só jogador. Na primeira série, 5X5; na segunda, 5X5; na terceira, cinco gols de Santinho e quatro gols de Feira de Santana. Todos os pênaltis de Itabuna foram batidos por Santinho e o goleiro itabunense Carlito pegou um.

No sábado – 6 de abril –, Itabuna disputa a final contra a Seleção de Alagoinhas e vence pelo placar de 2X0, gols do capitão Zequinha Carmo. E aí foi aquela sensação maravilhosa, de ganhar o primeiro torneio. E os jogadores foram condecorados com medalhas pelo presidente da República, o governador do Estado e pelo ministro da Guerra, que entregou a medalha a Nininho.

E a seleção campeã chega a Itabuna num avião da Real e é recebida por uma multidão no aeroporto Tertuliano Guedes de Pinho. Nininho e seus colegas foram tratados como heróis, com o comércio fechado em homenagem à seleção vitoriosa. Na praça Adami, palanque e muitos discursos. Os jogadores se sentiam queridos pelos torcedores. Uma vitória inesquecível para Nininho.

O reconhecimento financeiro pela vitória chegava em forma de presentes, oferecidos pelos dirigentes, já que como amadores não recebiam salários. Aos atletas eram oferecidos empregos, para que pudessem conciliar a prática do esporte com o trabalho. No segundo semestre de 1957, A seleção de Itabuna participa e vence o Campeonato Intermunicipal Amador da Bahia. É campeã!

Nininho recebe várias propostas de emprego para continuar em Itabuna, mas pretendia jogar fora: O sonho do Sputnik era jogar e brilhar no Maracanã. E foi!

*Radialista, jornalista e advogado


segunda-feira, 26 de junho de 2023

Reajustes das mensalidades deixam estudantes sem opção

 Reajustes das mensalidades deixam estudantes sem opção




UNE defende mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil

Os recentes reajustes das mensalidades do ensino superior podem deixar vários estudantes de fora da faculdade, por não terem condições de pagar, de acordo com estudo feito pela Quero Educação. O levantamento mostra que enquanto os futuros alunos buscam mensalidades de cerca de R$ 500, a média cobrada pelas instituições é R$ 722. Isso faz com que 68% daqueles que estão em busca de uma formação superior não encontrem opções viáveis.

O levantamento foi realizado a partir das buscas feitas na plataforma Quero Bolsa, um dos braços da Quero Educação. Pela plataforma, estudantes podem obter bolsas de estudos de 5% a 80% de desconto em instituições privadas. Hoje, as bolsas ofertadas cobrem, de acordo com a Quero, 10% das matrículas nas faculdades. Mais de 1,3 mil instituições ofertam bolsas de estudo pela plataforma.

Segundo a Quero Educação, no início deste ano as maiores instituições do mercado praticavam, na plataforma, um preço médio nas mensalidades de R$ 530, enquanto os alunos buscavam cursos com preço médio de R$ 526. Ao longo do ano, em meio à queda no poder de compra, os estudantes passaram a buscar graduações presenciais com um preço médio de R$ 495, enquanto o valor médio das mensalidades ofertadas na plataforma foi elevado para R$ 722, representando um aumento de 45% em relação a faixa buscada pelos alunos.

Se antes as instituições atendiam a 63% dos estudantes que buscavam vagas, agora essa porcentagem caiu para 32%. “Não houve aumento do poder de compra dos alunos, eles não podem pagar esse preço. É isso que a gente vem alertando. Está ficando muita gente de fora. E o fato é que as instituições não vão conseguir encher as suas salas”, alerta o diretor da Quero Educação, Marcelo Lima.

Para Lima os descontos nas mensalidades e as bolsas de estudos são mais vantajosas que os financiamentos, pois podem garantir a formação dos alunos sem que eles fiquem endividados quando deixam a universidade. “É uma grande oportunidade para as faculdades que quiserem trabalhar nesse mercado num preço mais acessível para os alunos. É uma oportunidade para elas encherem suas salas, porque é muito melhor ter uma sala cheia de alunos pagando R$ 500 do que ter uma sala pela metade, conseguindo captar aqueles alunos que estão dispostos a pagar R$ 720”.

Reajustes necessários

Entidades representativas do ensino superior reconhecem a dificuldade dos estudantes em pagar as mensalidades, mas ressaltam que os reajustes são necessários, uma vez que muitas das instituições, durante a pandemia, não aumentaram as mensalidades. “O preço é formado com base no custo. Houve, pela inflação, aumento real de custos nas universidades, aumento de luz, aluguel, correção de salários”, argumenta o diretor presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Celso Niskier. De acordo com ele, cerca da metade das vagas ofertadas pelas instituições não são preenchidas.

Segundo o diretor executivo do Semesp, que também representa as mantenedoras de ensino superior do Brasil, Rodrigo Capelato, cerca de 30% a 35% dos estudantes têm atualmente algum desconto ou bolsa. “Em 2023, houve pequena recuperação do setor, mas sempre com muito desconto, precisando ajustar valores porque o poder aquisitivo ainda está muito baixo e as famílias estão muito endividadas”, disse.

Capelato ressalta que não é possível oferecer descontos a todos os estudantes. “O valor médio das mensalidades é R$ 800 a R$ 1,5 mil. Senão, não pagamos os custos, principalmente no ensino presencial”.

Ambos defendem o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) como forma de manter os alunos e garantir a formação, já que mesmo com bolsas, eles não têm condições de pagar até o final do curso. Atualmente, o setor privado concentra 77% das matrículas do ensino superior brasileiro, de acordo com o último Censo da Educação Superior. “A gente precisa de uma forma de ingressar via setor privado, senão não consegue dar cobertura. E a melhor forma é ampliar o financiamento estudantil”, defende Capelato.

“As pessoas que buscam ensino superior carecem de financiamento estudantil, um novo Fies até para retomar o caráter social que defendemos, como era da origem. No Brasil, se não tiver financiamento com esse caráter, vai ter mais gente precisando fazer curso superior e não conseguindo”, defende Niskier.

Qualidade

Para os estudantes, é importante que o ensino ofertado seja de qualidade, o que muitas vezes não tem ocorrido, de acordo com a coordenadora de Comunicação da União Nacional dos Estudantes (Une), Manuella Silva.

“A gente precisa, nesse momento, para além de garantir que estudantes tenham acesso ao ensino superior, garantir a qualidade do ensino superior. O que nós vemos é o lucro acima da qualidade”, disse.

Segundo Manuella, a UNE recebe reclamações de estudantes que acabam tendo aulas gravadas há muitos anos, já desatualizadas, que não tem laboratórios para práticas, entre outras reclamações.

Sobre os reajustes, a estudante ressalta que os aumentos estão recaindo não apenas para os estudantes que estão ingressando na universidade, mas para aqueles que já estão matriculados e que acabam não tendo condições para se manter estudando.

De acordo com Manuella, a UNE defende, além de um Fies que consiga assegurar que os estudantes concluam os cursos, uma garantia de emprego, para que possam, assim que formados, quitar suas dívidas com o programa.

“A gente defende o Fies, mas defende que ele consiga garantir o pleno emprego, para que os estudantes consigam ter acesso ao mercado de trabalho. O Fies é importante para garantir entrada na universidade, mas que seja um Fies que os estudantes consigam entrar, permanecer e concluir um curso com qualidade, que não o deixem pela metade”, defende.

Fies

Atualmente, o Fies está sendo discutido em um grupo de trabalho criado pelo Ministério da Educação. As discussões, em tese, terminam em setembro. A Portaria 390, que oficializou o grupo de trabalho, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 8 de março, com a finalidade de promover estudos técnicos relacionados ao Fundo, como diagnósticos sobre a situação atual do Fies, a reavaliação do limite de financiamento e a desburocratização do programa.

Criado em 1999, o Fies oferece financiamento a estudantes de baixa renda em instituições particulares de ensino a condições mais favoráveis que as de mercado. O programa, que chegou a firmar, em 2014, mais de 732 mil contratos, sofreu, desde 2015, uma série de mudanças e enxugamentos. Em 2019, foram cerca de 67 mil ingressantes no ensino superior pelo Fies.

Um dos principais motivos para as mudanças nas regras do Fies, de acordo com gestões anteriores do Ministério da Educação, foi a alta inadimplência, ou seja, estudantes que contratam o financiamento e não quitam as dívidas após formados. O percentual de inadimplência registrado pelo programa chegou a atingir mais de 40%, de acordo com dados do ministério, de 2018.

Edição: Fernando Fraga
Agência Brasil


A Cronica de Walmir Rosário

 

A DIFÍCIL ARTE DE FAZER (A BOA) POLÍTICA

Ronald Kalid desiste de concorrer (Foto Laele)

Por Walmir Rosário*

Em Itabuna, o arquiteto Ronald Kalid afirma que não será candidato a cargo eletivo em 2024. Sequer está filiado a um partido político, situação esta que poderá ser mudada, embora jure de pés juntos ter o tempo passado e com ele o tal do cavalo selado. Mas o que teria feito Ronald mudar de ideia? Acredito eu, que pela tal da coerência, que ele sempre fez questão de manter ativa e altiva.

Parece uma blasfêmia, ou idiotice, sei lá, falarmos – pior ainda escrever – que um vivente com o juízo em perfeito estado agir nesses moldes, hoje tão em desacordo com os costumes desses tempos tecnológicos. Mas existem, poucos, é verdade, vivos e são, ouvindo e analisando tudo que vê à sua volta, discordando, em dissintonia, ou desacordando dos moldes atuais de fazer política.

Melhor seria dizer – para parecer mais claro – em campanha eleitoral permanente, embora a legislação não permita o uso dessa afirmação. Mas como nesse Brasil varonil sempre conseguimos um jeitinho pra tudo, podemos dizer, sem medo de errar, pré-campanha. Não sei se por soar mais bonito, ou simplesmente como uma figura de linguagem, recurso estilístico produzido para ficar bem na fita.

Pior, ainda, aos olhos dos aplicadores da lei, atentos aos deslizes dos políticos, mais ainda às denúncias dos adversários por infringir às nuances das leis e regulamentos eleitorais. Melhor dizer, pré-candidato, que está tudo bem. Atende muito bem nesses tempos em que o politicamente correto não admite esses cochilos e desce a marreta nos candidatos, “ops”, pré-candidatos.

Mas não acredito que somente essas questiúnculas tenham atemorizado Ronald Kalid, um frequentador assíduo do senadinho do Café Pomar e do Beco do Fuxico, com assento aos sábados na Fuxicaria itabunense. Com certeza, não. Me arrisco a dizer, sem ter perguntado o porquê da desistência, que os motivos são outros. Pra muito gente, quem sabe, o nosso político em questão preferiria manter sua fama de mal.

Não que Ronald trate alguém com descortesia, pelo contrário, mas por ser visto como possuidor inveterado de três atributos considerados terríveis numa campanha eleitoral, ou pré, como queiram. Ser sisudo, não cumprimentar desconhecidos no meio da rua, principalmente com as famosas risadinhas. Com esse péssimo costume (?) não passará, jamais, no difícil vestibular para trono do executivo.

É essencial que para o pretendente ao Centro Administrativo de Itabuna esteja sempre pronto para os tapinhas nas costas do futuros eleitores, melhor seria acompanhados dos beijinhos nos rostos das eleitoras, sempre acompanhadas das “incumpríveis” (será que existe essa palavra?) promessas em liberar rios de leite e ribanceiras de cuscuz, bem ao estilo costumeiro, pois é assim que a banda toca.

Basta um de nós perguntar a qualquer marqueteiro ou aos amigos da imprensa sobre esse terrível costume. Eles não deveriam concordar, mas quem iria contrariar uma tese vencedora a cada dois anos nas campanhas eleitorais brasileiras? Melhor ficar com a grande maioria, até porque fica mais fácil afirmar que a “voz do povo é a voz de Deus”, e estamos devidamente conversados.

Maus exemplos como esse deveriam ficar escanteados nesses tempos tão modernosos, que poderiam servir de baliza, mergulhando na consciência eleitoral de cada um. Mas que nada, melhor criar nossos mitos, de preferência santos com pés de barro, que podem ser quebrados depois com certa facilidade. Quem sabe ficaremos com mais poder de barganha caso haja qualquer necessidade de manutenção da governabilidade.

Não sei se por isso o Brasil seja o campeão da enorme população flutuante nos partidos políticos, que muda das agremiações de acordo com seus interesses e não com os estatutos partidários. Eles aprenderam que pouco importa para o povão a ideologia, o que vale é o agora, qual benefício poderá auferir. Políticos não são anjos e sequer têm vocação para santos, mas têm que ser vivos, sabidos ao extremo, pois os simplórios estão de fora.

E assim pouco importa o ontem, administrações passadas, capacidade de trabalho, conhecimento da administração pública. Bom mesmo é o agora, com os interesses pessoais antes dos coletivos. É o salvem-se quem puder, com o aval partidário, pois não participam do grande banquete os que não foram amplamente sufragados nas urnas eleitorais eletrônicas.

A mudança sempre é necessária, desde que para melhor. E aqui no nosso minúsculo debate, quem deveria mudar: Os partidos, cumprido sua ideologia e princípios elencados nos estatutos, entregando aos eleitores a mercadoria vendida; Ronald Kalid, cuja promessa é das mais simplórias, simplesmente garantindo um relacionamento saudável entre os poderes públicos e a iniciativa privada.

Pelo pouco que conheço das artes políticas, numa campanha se gasta muita saliva, sola de sapato e dinheiro, este precioso e doado pelos partidos coligados e alguns amigos, hoje de acordo com o processo legal. Mas aposto que não mudarão os partidos, os candidatos, com ou sem pré, e tampouco Ronald Kalid, que deve continuar pensando igualzinho. E tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes e adjacências.

*Radialista, jornalista e advogado


quinta-feira, 15 de junho de 2023

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Canavieiras

 

BEL, O CRAQUE DO PASSE MILIMETRADO

Itabuna de 1971. Em pé: Zé Lourinho, Americano, Raminho,
Perivaldo, Douglas Paulo Viana e Genival; Agachados:
Cipó, Santa Cruz, Élcio, Bel, Santana, e Jaci 

Por Walmir Rosário*

No futebol amador de Itabuna tivemos craques à mancheia, como diria nosso conterrâneo Castro Alves. Cada um na sua especialidade. Desde os goleiros que “abriam as asas” e fechava a área; os pequenos zagueiros e laterais que subiam mais que os grandes atacantes; os clássicos que não faziam faltas (à vista do árbitro); os meio campistas que desarmavam e construíam; os atacantes que faziam muitos gols.

Mas hoje vamos lembrar de um meio campista especial: Bel, batizado Abelardo Brandão Moreira, que iniciou sua carreira no futebol amador muito cedo, ainda meninão, isso pelos anos 1963, quando aportou de vez em Itabuna, vindo de Itajuípe. O garotão bom de bola encantava – também – pelo seu comportamento junto aos craques já estabelecidos. Era um boa praça, um menino com pinta de craque.

E exibia seu bom futebol nos campinhos de pelada de Itabuna, despertando a atenção dos futebolistas. Estudou e se diplomou na modalidade de futebol de salão, dominando, não só a bola, mas o jogo, para a alegria da torcida. Nem me lembro mais quantas vezes fomos campeões pelo Colégio Estadual de Itabuna, no qual estudávamos o ginásio. Antes de qualquer reclamação, aviso, de pronto, que eu era um jogador medíocre, mas estava lá.

E foi o futebol de salão (hoje Futsal) que deu régua e compasso a Bel, credenciando-o a brilhar nos campos de futebol de Itabuna e região, com toda a desenvoltura que Deus lhe deu. Não escolhia o melhor campo para jogar, mas tinha inteligência suficiente para superar as dificuldades dentro das quatro linhas (isso quando era marcado), se desviando dos buracos, da grama malcuidada e dos adversários.

No meio campo era um maestro, e foi assim por onde passou. No velho campo da Desportiva, não importando o time por qual jogava, estava ali cercado dos melhores craques de Itabuna. Exibia seu estilo com desenvoltura, aproveitando a força da juventude com a qualidade do futebol que sabia praticar. Incorporou seu estilo de jogo no pequeno campo de futebol de salão, adaptando-o ao campo oficial de futebol.

E Bel Jogava com precisão. Não sei em quem ele se espelhava, se no futebol exibido por Didi ou, quem sabe, Gérson o canhotinha de ouro, na casa sagrada do futebol brasileiro, o Maracanã. Não precisava correr em campo. Com elegância, fazia a bola circular em passes curtos ou longos, a depender do andamento do jogo e da posição de seus companheiros em campo, surpreendendo os adversários.

Embora não precisasse correr em campo, como um bom meio campista sabia se antecipar ao adversário para matar uma jogada e construir as condições necessárias para facilitar a entrada dos colegas atacantes e marcarem os gols. Muitas das vezes, ele mesmo se encarregava de estufar a rede adversária. Defendia, atacava, marcava gols, o que demonstrava sua capacidade de dominar os espaços no gramado.

O garoto Bel, Santinho e Tombinho, na
Seleção de Itabuna hexacampeã, em 1966
A competência demonstrada em campo foi essencial para sua convocação para a Seleção Amadora de Itabuna, a hexacampeã baiana que enchia os olhos dos expectadores e ouvintes das narrações esportivas da época. E passa a atuar naquele escrete de ouro, onde a concorrência de craques era a maior da Bahia. Entrava um e saia o outro sem que a qualidade do jogo sofresse qualquer alteração negativa.

Surpreendia-me os passes de longa distância encaminhados por Bel. Eram na medida exata, e quem o recebia não precisava se esforçar, esticar a perna ou dar um grande impulso para cabecear. Ele chegava na medida certa, bastava um maneio de cabeça, uma matada no peito, uma emendada com o pé para que chegasse ao seu destino: o gol adversário. Mesmo não entrando nos três paus, dava a sensação e o grito abafado de gol.

Até hoje nunca perguntei a Bel como ele aprendeu a despachar a bola com tanta elegância e fidalguia. Às vezes me dá a impressão que antes ou depois dos treinos ele saia com uma fita métrica medindo as distâncias e idealizando a potência dos passes. Precisão milimétrica disparada pela força das pernas e o jeito do pé, como vemos hoje com a tecnologia disponível aos mísseis teleguiados.

Com a criação do Itabuna Esporte Clube, em 1967, Bel foi um dos primeiros a se profissionalizar e mostrar seu futebol para novas plateias. Se antes jogava ao lado de craques feitos em casa, passou a conviver e atuar com jogadores vindos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes praças esportivas, o que lhe garantiu um maior conhecimento do futebol.

Em seguida, foi jogar em Ilhéus, atendendo a insistentes convites feitos por amigos. Na vizinha e rival cidade continuou jogando o seu futebol arte, encantando aos que ainda não o conheciam. Uma certa feita estava no Rio de Janeiro, quando se encontra com Pinga, seu colega de seleção e Itabuna profissional e vão a um teste no Botafogo carioca. No treino, marcam cinco gols, três de Pinga e dois de Bel, que resolveu voltar a Itabuna.

E todo o conhecimento de futebol adquirido nos campos por onde jogou foi transferido para a garotada, atendendo a um convite de João Xavier, diretor da AABB de Itabuna. Também jogou e treinou várias seleções de veteranos de Itabuna, exibindo-se para uma geração mais jovem, que não conheceu o futebol arte. Pra mim, Bel e outros craques deveriam mostrar aos de hoje, o futebol eficiente e elegante do passado.

*Radialista, jornalista e advogado


sexta-feira, 2 de junho de 2023

Direto de Canavieiras a Cronica de Walmir Rosário

 

O FUTEBOL ELEGANTE DE CARLOS RIELA

Fluminense de Itabuna. Em Pé: Luiz Carlos, Orlando
Anabizu, Valdemir Chicão, Amilton, Ronaldo Dantas e
Boquinha; agachados: Vanderlei (Teiú), Santinho, Jonga,
Carlos Riela e Fernando Riela.

Por Walmir Rosário*

Essa é a minha opinião, quem achar que estou errado, que me corrija, mas não acredito que terei vozes discordantes, só se o distinto não gostar, ou sequer já assistiu a uma partida do bom futebol. É preciso que o atleta, para ser considerado um craque completo, tenha mais do que os cinco sentidos, quem sabe seis ou sete, além de uma ou duas especialidades e muito gosto pela bola.

Pra começo de conversa, o craque em questão deve ter em boa conta os cinco sentidos humanos, como a boa visão: ver de onde o jogo vem e pra onde deve ir; audição: escutar tudo o que os jogadores do seu time e os adversários conversam; olfato: sentir no vento o cheiro da bola e dos adversários; paladar: um dos mais importantes, pois tem que comer a bola, encará-la como se fosse um delicioso prato de comida em frente a um esfomeado; e o tato: saber como vem a bola e dar o efeito necessário para desviá-la do concorrente.

Mas o meu craque, que passarei a descrevê-lo agora, tem muito mais que isso, ultrapassa a simples ciência pelos gramados, bem sofríveis ou ruins, à época, é verdade, e ele conseguia pelo tipo de arrepio de sua pele, dominar a jogada; com equilíbrio, dominava a bola; e com a intuição despachava a pelota para o companheiro que sabia se colocar na área e marcar o gol.

Pelo que já noticiei, passamos por oito sentidos em uma só jogada e poderíamos enunciar mais com a ajuda da ciência. Mas vamos ficar por aqui, não sem antes de anunciar outra qualidade maior deste meu craque: O DNA. Basta verificar o sobrenome dele para finalizar alguma discussão que por ventura surja, mas não creio. Eu estou me referindo a Carlos Riela, que com os irmãos Fernando, Leto e Lua proporcionavam o espetáculo no Campo da Desportiva Itabunense, ou qualquer campo adversário.

O meu craque era muito mais do que tudo isso que já disse e vou continuar dizendo. Acreditem os senhores, ele se diferenciava dos outros jogadores, pois entrava em campo trajando smoking, afinal as partidas pelas quais jogava pelo Flamengo, Fluminense, Seleção de Itabuna ou o Itabuna Esporte Clube eram festa de gala. Ao fim do jogo não estava amarrotado e nem perdia o vinco.

Na Seleção de Itabuna ingressou para disputar o Tetracampeonato Baiano de Amadores. Gostou tanto, que venceu e foi em busca do Pentacampeonato e Hexacampeonato, sem dó nem piedade dos famosos adversários. As famosas seleções de Ilhéus, São Félix, Feira de Santana, Santo Amaro e Alagoinhas participavam apenas para abrilhantar as vitórias da Seleção Itabunense.

E Carlos Riela se destacava na ponta-direita ou como volante, destruindo e armando jogadas que finalizavam no fundo do gol adversário, sem stress para ele, distribuindo o jogo tal e qual um comandante fazia com seus soldados numa guerra. Não estou errado, uma partida contra a seleção amadora de Itabuna era vista pelos adversários como mais uma batalha, geralmente perdida por eles.

Se entre os leitores desta crônica existem os de faixas etárias mais novas tenho provas a serem apresentadas, a exemplo do jogo decisivo do Hexacampeonato, contra a Seleção de Alagoinhas, vencida por Itabuna pelo placar de 1X0, gol de Pinga na casa do adversário. Tenho em minhas mãos a narração do jogo pelo radialista Geraldo Santos, em que 70% dos ataques de Alagoinhas eram desmanchados nos pés de Carlos Riela e convertidos em contra-ataques de Itabuna.

Se intenção eu tivesse poderia criar uma ingrisilha para saber quem teria sido mesmo o herói do Hexa: Pinga que marcou o magistral gol; Piaba, que recebeu um pontá pé no rosto e segurou bem a defesa; ou Carlos Riela, que comandou, magistralmente, o jogo, desmanchando ataques adversários e iniciando os contra-ataques da seleção itabunense. Melhor deixar quieto, pois os três foram grandes guerreiros.

Não sei ao certo a idade de Carlos Riela, que deve estar beirando a casa dos 80 anos. Como sempre, amável, afetuoso, educado, bastante apegado à família. Tanto é assim que, Astor, seu pai conseguiu reuni-los no Fluminense de Itabuna. De outra feita, no Itabuna Esporte Clube, seu Astor recomendou que se afastassem do time após um desentendimento entre Leto e Anselmo, este cunhado do técnico Velha. Sequer discutiram.

Na minha modesta opinião, Carlos Riela não era craque porque apenas gostava de futebol, mas por estar sempre atento ao desenrolar da partida e se adiantar às jogadas. Ele sabia utilizar os seus sentidos em benefício do seu time. Quando os irmãos jogavam juntos era uma covardia. O mesmo acontecia quando defendiam times diferentes, em que cada um deles fazia valer sua destreza, para o delírio da plateia do velho Campo da Desportiva.

Só para lembrar, àquela época os jogadores não tinham um time de assessores de comunicação, personal trainerpersonal styIe e outros profissionais que estão sempre prontos para afastá-lo dos torcedores. Jogavam à beira do gramado, separados apenas por uma tela de arame e podiam ser puxados pela camisa enquanto batiam uma falta ou uma lateral. Pouco se importavam, pois bom mesmo era jogar um futebol de craque.

*Radialista, jornalista e advogado.