sexta-feira, 29 de abril de 2022

VIVALDO MONCORVO, A ALMA DO ITABUNA E DOS POLÍTICOS

 

VIVALDO MONCORVO, A ALMA DO ITABUNA E DOS POLÍTICOS

Vivaldo Moncorvo numa festa com políticos

Por Walmir Rosário*

Figura folclórica já incorporada a Itabuna e região cacaueira, o radiotelegrafista Vivaldo Moncorvo, nascido em 10 de março de 1925, em Senhor do Bonfim (Bahia), veio para substituir um colega em férias na agência dos Correios e Telégrafos, aqui desembarcando no dia 28 de julho de 1958 (dia da Cidade). Gostou da festa e não saiu mais. Tornou-se um itabunense por adoção.

Esportista convicto, Moncorvo sempre participou ativamente dos jogos de futebol, principalmente quando o assunto era a Seleção Amadora de Itabuna, hexacampeã intermunicipal. Com a fundação do Itabuna Esporte Clube e sua entrada no profissionalismo, Moncorvo torna-se ainda mais famoso ao chefiar a charanga que embalava a equipe azul e branca.

Não há em Itabuna e região um político ou desportista que não conheça Vivaldo Moncorvo, cuja fama ultrapassa as fronteiras regionais e foi citado em vários jornais de circulação nacional e até no estrangeiro ao entregar um trombone ao seu amigo Antônio Carlos Magalhães, durante um evento em Ilhéus. Foi a glória. Passou a ser amigo de todas as horas de ACM.

Na verdade, sua amizade com ACM teve início em 1955, ainda na cidade de Bonfim, quando atendeu a um pedido de Ângelo Magalhães, tesoureiro dos Correios, para que desse uma ajudazinha na campanha do irmão. Em 1966, Moncorvo e ACM voltam a se encontrar, desta vez em Itabuna, durante a campanha para deputado federal. Estava selada uma amizade para o resto da vida, inclusive com Luiz Eduardo Magalhães.

Sempre que muitos políticos importantes solicitavam a Moncorvo uma “mãozinha” quando havia um assunto a tratar com ACM, ele nunca deixou um seu pedido sem atender. O primeiro e talvez o mais importante deles se deu ainda durante a construção do estádio Luiz Viana Filho, em 1973, durante a administração do prefeito Simão Fitermann, diante da dificuldade em receber os recursos necessários para concluir a primeira fase das arquibancadas do estádio.

Diante do pedido, Moncorvo embarca num ônibus da Sulba com a missão de conseguir junto ao Secretário do Bem-Estar Social, Bernardo Spector, 250 mil (ou milhões de cruzeiros, dinheiro da época). Missão cumprida. Finalmente Armando Andrade pode concluir a obra. Moncorvo, homenageado, plantou o último pé de grama do estádio Luiz Viana Filho, na data histórica de 9 de abril de 1973.

A amizade de Moncorvo e ACM ficou ainda mais consolidada após a acachapante derrota para Waldir Pires, em 1986. Nesse período, ACM ainda curtia sua grande derrota na Ilha de Itaparica, e somente recebia os seus seguidores mais fiéis, a exemplo do cantor, compositor e comerciante do Mercado Modelo, Chocolate da Bahia, também derrotado nas urnas como candidato a deputado federal. Grande entendedor do clamor das ruas, Chocolate pressentiu que o governo de Waldir Pires não iria a lugar nenhum e iniciou a composição de umas músicas de campanha para o retorno triunfal de ACM.

Ao ir à Ilha de Itaparica mostrar as composições, foi rechaçado pelo político, que não acreditava mais no seu retorno à vida pública. Indisposição essa que foi desfeita seis meses depois, quando ACM mandou chamar Chocolate para gravar a música “Você se lembra de mim”. Coube a Moncorvo e sua charanga a primazia de tocá-la numa das primeiras viagens feitas por ACM ao interior.

Além da música “Você se lembra de mim” também foram gravadas “A Bahia vai bem”, “A vitória que a Bahia quer”, entre outras tocadas pela brava charanga de Moncorvo, inclusive em Salvador. Na capital, a cada aniversário de ACM, Moncorvo lá estava presente com sua charanga em frente ao apartamento, devidamente despachada por Manuel Leal e com a incumbência de acordar o “chefe” no dia 4 de setembro com uma grande alvorada. E o repertório ainda incluía “Amigo” de Roberto Carlos.

Em 6 de janeiro de 1981, no auditório do antes glorioso Conselho Nacional dos Produtores de Cacau (CNPC), ACM discursava se dizendo um homem realizado, pois nada lhe faltava, já que tinha ocupado todos os grandes cargos públicos, no que foi retrucado em voz alta pelo amigo Moncorvo:

– Falta, sim, chefe, ser presidente da República – gritou.

O cargo lembrado por Moncorvo, por ironia do destino, foi ocupado por ACM (quando presidente do Senado, numa viagem de Fernando Henrique Cardoso ao exterior), sem nunca ter sido eleito como o maioral do executivo da República.

Vivaldo Moncorvo morreu em 26 de fevereiro de 2016, prestes a completar 91 anos.


terça-feira, 26 de abril de 2022

walmirrosario.blogspot.com

 

CEPLAC, UMA RELIGIÃO?


Luiz Ferreira da Silva*

Seu Luiz, como assim o chamávamos por ser mais velho, motorista da turma de solos (Pedologia), ao se aposentar – um dos primeiros – fez um gesto simbólico ao beijar o chão, antes de transpor os umbrais da sede da CEPLAC.

Provavelmente, baseou-se no Papa João Paulo II, que tinha o hábito de beijar o chão de um país tão logo pisasse, como uma maneira de expressar seu amor e respeito pelo país e o seu povo.

Esse gesto do modesto servidor expressava sua gratidão àquela Casa que o acolhera e ali se sentira feliz em prestar sus serviços, enviando provavelmente um recado aos que ficaram: - “CEPLAC, Escola, Lar, Provedora”.

É preciso entender como foi edificada essa Instituição para se mensurar o visgo em mão dupla: Instituição versus servidor. O sentimento via dever profissional; o comprometimento com o cacau; o respeito ao homem do campo; a bandeira da excelência.

Brandão, primeiro secretário-geral, implantou um tal de espírito de corpo, incutindo-nos uma filosofia de solidariedade e lealdade ao grupo, colocando a organização na mira do trabalho profícuo. Zé Haroldo, subsequente Diretor-Geral, cravou o decálogo profissional. Paulo Alvim, Diretor científico, trouxe o mote do aperfeiçoamento. E o colega, líder extensionista, Ubaldino Dantas Machado, movimentava sua turma, com a palavra parceiro, hoje em moda.

Vale a pena registrar a importância do Banco do Brasil neste contexto, cujos funcionários cedidos transportaram os princípios éticos e de proficiência profissional da sua organização de origem, tida como de excelência.

Também, de relevância, o produtor de cacau, financiador por muitos anos, através da taxa de retenção, recursos estes gerenciados com probidade, possibilitando o retorno de bens para toda região cacaueira.

Em 2017, mesmo distante, organizei com apoio de outros colegas de Salvador, um Encontro, oportunidade que homenageamos a CEPLAC com um livro. Foi tão profícuo, que repetimos a dose em 2018, com um tributo a José Haroldo, registrado em outro livro.

Muitos se fizeram presentes, deslocando-se de Ilhéus, Itabuna, Maceió, Belém, Brasília, não pelos meus olhos, mas pelo sentimento ceplaqueano, diferentemente, talvez, se fôssemos apenas colegas de uma instituição qualquer.

No ano que vem, 2023, 60 anos da fundação do CEPEC (Centro de Pesquisas do Cacau), oportunidade a um terceiro Encontro. Vale pensar com muito carinho!

Pelo exposto, concluo que a CEPLAC é uma RELIGIÃO; e os que se formaram nela, uma ruma, como diz o bom baiano, de ABENÇOADOS.

*Pesquisador aposentado (85 anos) e “sócio fundador” do CEPEC, 1963.


sexta-feira, 22 de abril de 2022

A PROEZA DO GUARANY CAMPEÃO COM TIME DE ITABUNA

 

A PROEZA DO GUARANY CAMPEÃO COM TIME DE ITABUNA

Carlos Botelho lembrou a proeza do Guarany

Por Walmir Rosário

Esta história que me proponha a narrar será novidade para um mundão de gente, mesmo os que são apaixonados pelo futebol baiano. O motivo é muito simples: muitos dos que terão acesso a esse escrito não tiveram a oportunidade de ver esses times nos gramados, sejam da capital soteropolitana ou de Itabuna, pois quando o caso aconteceu logo depois de encerrada a segunda guerra mundial. Nem eu ainda era vivo.

Imagine vocês um time médio da capital baiana pedir socorro a um coirmão de Itabuna para se sagrar campeão baiano. Sim, essa façanha realmente aconteceu e está registrada nas atas da vetusta Federação Bahiana de Futebol. Essa equipe era a Associação Desportiva Guarany, fundado em 12 de janeiro de 1920, mas que somente realizou essa proeza em 1946, após levar 10 jogadores da Associação Atlética de Itabuna.

Lembro bem de um depoimento concedido aos jornalistas José Adervan, Ramiro Aquino e este locutor que vos fala, Walmir Rosário, pelo ex-diretor do banco Econômico, Carlos Botelho, grande conhecedor de futebol baiano. Na entrevista, Botelho cita a década de 1940 como um dos períodos mais férteis do futebol itabunense, apesar da guerra, que convocou reservistas do Grêmio, Janízaros e Associação Atlética de Itabuna (AAI).

Botelho não deixou por menos e garantiu que a equipe da Associação Atlética foi o melhor time do interior baiano, naquela época dirigido por José Nunes de Aquino, Clóvis Nunes, Horácio Almeida, Domingos Almeida, lembrado com saudades pelos que o conheceram. Ele conta que era um time de decisão e acumulava campeonatos, apesar das equipes adversárias, como Grêmio Janízaros, Vasco da Gama, entre outros.

Time de elite, não se contentava, em todos os sentidos, de excelentes jogadores, era exigente a ponto de praticar alguma forma de racismo, vigente na época (à maneira do Fluminense do Rio), pois jogadores com tez mais escura não entravam no time. Basta ver um dos seus melhores elencos, formado por Balancê, Ventuíres e Aranha; Aloísio Smith, Valter Caetano e Anizinho; Tido, Galeão, Clóvis, Rosevaldo e Firmino, quase todos brancos.

Foi um custo contratar o primeiro homem de cor escura, o zagueiro Ruído, vindo de Jequié, o que provocou bastante celeuma. Com o passar dos anos, a Associação chegou a armar um time com jogadores negros, entre eles Balancê, Dircinho e Álvaro Barbeiro. Nesse período, destaca-se o atacante Pipio, um grande craque, que depois foi jogar no Bahia e, posteriormente no Pará, onde morreu.

Dessa mistura, na qual era permitida a presença de negros, a AAI se tornou talvez o maior time do interior baiano de todos os tempos, formado por Niraldo ou Mota, Bolívar e Bacamarte; Zecão, Amaral e Elvécio; Tombinho, Puruca, Juca Alfaiate, Tuta e Zezé. Era uma equipe invencível, que não se preocupava com os adversários, dada a qualidade de seus atletas. Entrava em campo para ganhar, só não se sabia qual o placar.

Embora a Associação Atlética de Itabuna, reinasse absoluta em campo, tinha, pelo menos, um adversário à altura. O Grêmio, que por volta de 1943 e 44, em plena Segunda Guerra, era outro grande time amador de Itabuna, classificando-se em segundo lugar, logo depois da Associação. A melhor formação do Grêmio, segundo Botelho, era: Babão; Sapateiro e Lameu; Zeferino, Noca e Colatina; Manchinha, Lubião, Juca, Macaquinho e Elísio. Observe-se que um futuro grande valor da AAI, Juca Alfaiate, nesse período, envergava a camisa do Grêmio.

A Associação Atlética Itabunense teve uma história gloriosa, o que é inegável até pelos adversários. Onde se tinha notícia de um grande jogador, a diretoria não media esforços para contratá-lo e assim formou a equipe mais temida do interior da Bahia. Faturou a maioria dos campeonatos de Itabuna, conquistando o título inédito de pentacampeão nos anos de 42 e 46, mesmo sem os 10 jogadores que foram para o Guarany.

E essa notícia chegou à capital baiana pelos dirigentes e jogadores das equipes soteropolitanas que vinham jogar partidas amistosas com os times das cidades do Sul da Bahia. Quando aqui chegavam davam de testa com a vencedora equipe da Associação, que não costumava a passar vergonha em campo, perdendo para um time qualquer que fosse, mesmo de Salvador.

E num jogo desses amistosos, a pequena, porém aguerrida equipe do Guarany se encantou com os atletas da Associação e vislumbraram a oportunidade de aparecer entre os grandes da capital. Com esse time da Associação era tiro e queda, não perderiam uma partida para seus rivais de Salvador. Quem sabe, ganhariam o campeonato baiano sem muito trabalho.

Esse feito foi o bastante para que os dirigentes do Guarani, de Salvador, contratassem 10 jogadores titulares da Associação. Entre os craques que deixaram a Associação estavam Bolívar, Bacamarte, Quiba, Elísio Peito de Pomba (o reserva de Juca Alfaiate), Elvécio, Tuta, além de outros quatro cujos nomes me falham a memória. Com esse timaço, o Guarani venceu o Campeonato Baiano de 1946, sua única conquista.

Foi o primeiro e único campeonato faturado, disputando a fase final numa melhor de três com o Ypiranga. Empatou a primeira por 2X2, vencendo a segunda por 1X0 e despachando o seu vice por 2X0 na terceira partida. Anos depois o Guarany abandona o futebol e nem mesmo sei se ainda existe. Mas que foi campeão baiano com os jogadores de Itabuna, ninguém há de duvidar.