Hélio Nunes da Silva nasceu na cidade de Aracaju capital sergipana, em
17 de abril de 1931. Filho de José Nunes da Silva e Júlia Canna Brasil e Silva,
foi casado com Valquíria Cardoso, teve três filhos: Neide Nunes Pinto,
professora; Layde Nunes Shanks, advogada, residente nos Estados Unidos e Célio
Nunes, jornalista e escritor.
Segundo a Sra. Jurema Barthone, ensaísta e professora universitária, com
especialização em literatura, na matéria para o caderno A Tarde Cultural de 20
de março de 1999, que nos possibilitou transcrever esta biografia, Hélio Nunes
foi um perseguido da “ditadura militar do Brasil” por ter participado de
movimentos políticos e estudantis, marcando sua posição de esquerda e tendo no
seu grupo, da época de estudante secundarista e lides intelectuais, figuras a
exemplo de José Rosa de Oliveira Neto, Fragmon Carlos Borges, Tertuliano
Azevedo, Jaime Araújo, Jorge Mesquita, Alberto Carvalho, Ezequiel Monteiro,
Renato Chagas, Núbia Marques e outros.
Fez parte do PCB e em 1952 para fugir da repressão policial veio morar
na Bahia passando por Cachoeira, São Félix e depois fixando residência em
Itabuna, centro da região cacaueira. Ai concluiu o curso de Contabilidade
local, destacando-se na liderança de movimentos nacionalistas, cultural e
trabalho jornalístico. Em 1962, fundou o Jornal de Notícias, após criar uma
gráfica, a Itagraf, que se notabilizou como ponto de encontro de intelectuais e
de movimentos. Editou livros de escritores da região. Destacou-se
particularmente na defesa dos humildes e perseguidos, especialmente das
crianças de rua, denominadas a época de “tranca-ruas”, interferindo para
soltura de vários deles das celas de presos comuns e enfrentando um processo
porque, acusou, através de manifesto, as classes dominantes “pela situação dos
meninos de rua”. Foi humilhado até o fim, sempre se sacrificando pela sua luta.
O golpe de 64 também valeu como um golpe físico e espiritual em Hélio
Nunes. Passou a ser perseguido e teve que vender a sua gráfica e jornal a preço
irrisório. Após resolver seus processos decorrentes do golpe de 64, fez
concurso para escrivão de cartório e foi aprovado, mas continuou perseguido,
sendo transferido para a cidade de Itororó, longe de sua mulher e dos seus
filhos.
Hélio, não suportando a distância da família, imposta pelos
perseguidores, entrou em profunda depressão, fumava demais, vindo a ser
fulminado por um infarto do miocárdio, em 1972, aos 42 anos de idade na cidade
em que laborava como oficial do Cartório do Crime.
“Pássaro do Amanhã”, seu único livro, foi lançado em 1962. Hélio Nunes
organizou e participou da coletânea Manhã Cinqüentenária e publicou poemas e
artigos em diversos jornais e revistas.
Foi incluído na antologia A Moderna poesia da Zona do Cacau, editada
pela Antares, São Paulo, organizada pelo poeta Telmo Padilha.
Aqui os títulos de algumas poesias de Hélio Nunes publicadas no caderno
A Tarde Cultural: “Partir”, “Ode a José Sampaio”, “Poema a meu filho”, “O Poeta
e o Menino” de julho de 1958, “Poema de Maio”, de maio de 1955, “A Bomba H”,
“Elevo”, de setembro de 1956 e “Do Amor”, escrita em março de 1957.
Hélio Nunes promoveu encontros culturais em Itabuna e Ilhéus, convidando
artistas e escritores do Sul, entre os quais Zora Seljan, Eneide, Osório Borba
e Jorge Amado, tendo este levado a Itabuna os escritores e filósofos franceses
Jean Paul-Sartre e Simone Beauvoir, que foram recepcionados por Hélio Nunes.
Seus autores preferidos, entre outros, foram: Maiakovski, Pablo Neruda,
Gabriel Garcia Márquez, Jorge Amado e Graciliano Ramos.
Hélio Nunes gostava e divulgava a criação do poeta sergipano José
Sampaio, poesia a qual, segundo alguns críticos, a sua obra está ligada à linha
da lírica de conotação social, simples e sem artifícios, apostando mais no
sentimento.
Hélio Nunes viveu pouco tempo como escrivão de cartório em Itororó, mas
nos seus últimos dias esteve ao lado da sua esposa, professora Valquíria e filhos.
Porém, este pouco tempo em que aqui viveu, foi o suficiente para que ele viesse
a construir boas amizades nesta sociedade que chorou copiosamente a sua morte.
Aqui ele ajudou a fundar dois jornais informativos mensais: “O Vinking” que
durou pouco tempo e logo fora fechado. Segundo informações, por determinação
judicial e “O Quinze” que também tivera vida efêmera, pelo mesmo motivo, após
sua breve circulação pelas bancas da cidade.
Hélio Nunes da Silva ainda é lembrado nos meios culturais e intelectuais
de Itororó, Itajuipe e Itabuna como homem de grande visão futurista. E, doravante, será
imortalizado como vulto indelével de Itororó…
* Miro Marques é escritor, historiador e radialista