sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Cronica de Walmir Rosário

 

MORRE GAJÉ. ELE NÃO CONSEGUE DRIBLAR A BUROCRACIA

Gajé, o 2° agachado na seleção de Itabuna de 1962

 Por Walmir Rosário*

Antônio Everaldino Venâncio dos Passos (Gajé), o consagrado ex-jogador de futebol, não conseguiu driblar a burocracia estatal na regulação da saúde e morre no Hospital Geral de Ipiaú, nesta terça-feira, 27 de setembro de 2022. Seus 82 anos, completados em 19 de maio passado mereciam cuidados nefrológicos numa UTI, mas não conseguiu ser transferido, apesar da liminar expedida pela justiça. Deu o último suspiro às 12h30min.

Logo Gajé, que tanta alegria proporcionou aos torcedores dos times em que jogou, nas dezenas ou centenas de estádios em que atuou, deixa os fãs tristes, acabrunhados com o seu desaparecimento do nosso convívio. Não conseguiu vencer essa peleja contra a burocracia, como estava acostumado a fazer nos campos de futebol, driblando os adversários e marcando os gols. Ah, E como sabia fazê-los.

Quem é que não admirava aquele garoto com jeito de craque nos campos de babas de Ibicaraí, que encheu os olhos do conceituado alfaiate itajuipense Boca-rica? Na mesma semana já fazia parte do histórico time dos Alfaiates em Ibicaraí e, em seguida, no Flamengo do mesmo Boca-rica. Daí para Itabuna foi um pulo. Assim que o viu jogar, o craque Zequinha Carmo o levou para a cidade. E Gajé tinha apenas 15 anos.

Gajé, com o mascote no Independente 

Um ponta-direita nato, capaz de encher os olhos dos torcedores e atordoar seus adversários com os desconcertantes dribles à Mané Garrincha, como queriam atuar os jogadores daquela época farta de craques. Mas se o técnico tinha algum problema de escalação na linha de frente, bastava mexer na formação e colocar Gajé em outra posição que ele dava conta. Se centroavante, ainda melhor, fazia gols bonitos e necessários à vitória do seu time.

E a ação de Zequinha Carmo foi altamente positiva, não só para Gajé, que veio jogar, numa cidade maior, junto à crônica desportiva (rádios e jornais), mas sobretudo ao Flamengo de Itabuna, onde o craque brilhou por anos a fio. Em 1963 foi campeão ao lado de Luiz Carlos, Abiezer, Zé David, Leto, Péricles, Piaba, Maneca, Tertu, Tombinho, Luiz Carlos Segundo, dentre outros.

Convocado para a Seleção de Itabuna (amadora), por anos permaneceu na relação dos titulares do técnico Gil Nery. Gajé se destacou na conquista do tricampeonato em 1962. Naquele fabuloso time jogavam Chicão, Humberto, Ronaldo, Zé Davi, Fernando Riela, Leto, Lua, Carlos Riela, Santinho, Zé Reis, Itajaí, Abiezer, Caxinguelê, Tombinho, Ronaldo e os goleiros Plínio, Luiz Carlos e Betinho.

Mesmo com todo esse sucesso em Itabuna, é convencido a atuar em Ipiaú, onde adquiriu residência definitiva, saindo apenas por duas vezes para jogar no Leônico e no Bahia, com muito sucesso. Fã de Gajé, o poeta, escritor e jornalista José Américo acompanhou a trajetória do craque, de quem se tornou amigo e escreveu bastante sobre a carreira futebolística do jogador.

No currículo de Gajé estão assinalados mais de 300 gols marcados durante sua trajetória futebolística, 11 deles somente numa partida em Ipiaú. No Independente de Ipiaú, do qual se tornou o xodó da torcida, jogou pela segunda vez ao lado do incrível goleiro Betinho e ganhou os títulos de campeão nos anos 1965 e 66. E esse amor da torcida definiu a escolha de Ipiaú como sua cidade, tanto que lembrou dos tempos de Boca-rica e montou sua alfaiataria.

Mas quis o destino carregá-lo para Salvador para atuar no famoso “Moleque Travesso”, o Leônico, onde voltou a jogar com outro grande colega da Seleção de Itabuna, Zé Reis. Não deu outra, bagunçaram – no bom sentido – o futebol baiano e pela primeira vez o Leônico conseguiu o título de campeão baiano, o primeiro de Gajé como jogador profissional.

Mas o “Moleque Travesso” ainda era pouco para Gajé, que foi contratado pelo Bahia, marcando 24 gols nos dois anos em que atuou no tricolor baiano, um deles olímpico, contra o Internacional em Porto Alegre. Gajé também atuou no Fluminense de Feira de Santana e no Itabuna Esporte Clube. Pendurou as chuteiras do futebol profissional e retornou a Ipiaú.

Como Gajé sempre dizia que nasceu para fazer gols e brilhar, volta a atuar no futebol amador e em 1977 conquista mais um título pela Seleção de Ipiaú no Campeonato Intermunicipal baiano, contra a Seleção de São Félix. Portanto, bicampeão baiano com Ipiaú e outras tantas pela Seleção de Itabuna. Num texto sobre ele José Américo assinala: “Ao deixar o futebol, Gajé instalou uma granja e a cada frango que vendia lembrava dos goleiros que não conseguiam segurar seus fortes chutes”.

Por onde passou Gajé é até hoje lembrando pelos que o conheceram como pessoa e atleta exemplar. Dentro e fora de campo exerceu suas obrigações com responsabilidade, atenção e maestria. Conquistou muitos amigos durante sua vida, que por certo choram sua morte, uma perda irreparável. Completou o ciclo da vida e a partir daqui ficará apenas em nossa lembrança.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

R.I.P Leléu

 

MORRE LELÉU, FIGURA IRREVERENTE DO BECO DO FUXICO

Leléu deixa muitas saudades em Itabuna

 Por Walmir Rosário

Assim era Leléu: irreverente, contagiante, apaixonado pelo futebol e pelo Flamengo, das bebidas, do Carnaval. Esse comportamento não chamaria a atenção, não fosse pelo seu modo extravagante de viver a mil por hora. Menos quando estava sóbrio, ocasião em que se dedicava ao afazeres domésticos e o trabalho, com muita responsabilidade para quem cuidava das contas a pagar de outras pessoas.

De longe era fácil conhecer o seu estado físico e emocional. Se abstêmio, calmo, cumprimentando todos que passavam com muita distinção, conversando em voz baixa e pasta na mão para cumprir sua tarefa profissional. Foi por muito tempo o homem de confiança do ilustre advogado Victor Midlej, responsável pelo recebimento das contas e os pagamentos em banco, mesmo em tempos de internet.

Se chumbado, envernizado, o seu cumprimento era excêntrico, mirabolante. Assim que avistava um conhecido, um amigo, de longe gritava: “Olha aí que ruma de pesos mortos”. Destilava mais alguns impropérios do seu refinado vocabulário e contava a todos os motivos da euforia, que iria desde a vitória do Flamengo, até o mais simples motivo para uma comemoração em alto estilo.

Para tanto não importava a data, bastava não ter compromissos profissionais. E o seu local de chegada era sempre o Beco do Fuxico, nas três dimensões: Baixo, médio e alto, visitando todos os bares, barbearias, alfaiatarias e lojas. Antes de entrar, em alto som se anunciava: “Pesos mortos”. Alguns o convidavam para tomar mais uma cachaça e ele prontamente aceitava e também se servia da cerveja, sem a menor cerimônia.


Nos carnavais todos se admiravam da sua resistência e muitos não sabiam se ele embebedava uma só vez e continuava, ou se a cada soneca recuperava o ânimo e começava tudo de novo. Devidamente fantasiado – muitas das vezes de roupas femininas – nem mesmo importava se toleravam seus beijos e abraços. O bom mesmo era comemorar, e no Beco do Fuxico.

Fora dos seus dias de festa, como já disse, vivia uma vida normal. Os que pouco ou não o conheciam ficavam em dúvida quais papeis ele representava, se o de Leléu ou de Claudionor Menezes de Andrade. Eram personagens completamente distintos e um não interferia no outro, o que o tornava uma figura folclórica, quando revestido Leléu, e um cidadão, trabalhador comum nos momentos de Claudionor.

Querido por todos, seu aniversário era comemorado no Alto Beco do Fuxico a cada fim de semana mais próximo dos dias 6 a 9 de outubro. No dia 6 o aniversariante era o proprietário do bar Artigos para Beber, José Eduardo Gomes; e no dia 9 o advogado Pedro Carlos Nunes de Almeida (Pepê) e o próprio Leléu. Mais tarde se juntaram o produtor de eventos Alex Alves (6) e o agrônomo Paulo Fernando Nunes da Cruz (Polenga), dia 19.

Ao fundar a desabusada Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopias, Etc., (Alambique), o jornalista Daniel Thame, nomeou Leléu para o cargo de Diretor para Assuntos Meiotísticos, com posse formal no Alto Beco do Fuxico. Certa data, ao sair de casa para participar de uma pretensa reunião da Academia – no Alto Beco do Fuxico – tentou atravessar o canal do Lava-pés em plena enchente e foi arrastado de uma ponte a outra, saindo das águas com a maior naturalidade do mundo.

Mas hoje Itabuna e o Beco do Fuxico estão de luto com a morte precoce de Claudionor Menezes de Andrade, que será sempre lembrado pelos amigos ou simples conhecidos, os que o viram crescer, jogar futebol amador, participar da vida ativa de Itabuna. Também não o esquecerão os que o viam chegar ao beco com suas estrambóticas fantasias, devidamente alegre e biritado, irradiando alegria, sempre gritando. “vai…pesos mortos!


Cronica de Walmir Rosário

 

AULAS NO ABC NA NOITE SÓ DEPOIS DAS ELEIÇÕES

Caboclo Alencar reformula o expediente

Por Walmir Rosário*

Do presidente da Academia de Letras, Artes, Música, Birita, Inutilidades, Quimeras, Utopias, Etc., (Alambique), o jornalista Daniel Thame, recebo a fatídica informação. Foi difícil acreditar, mas constatei que era verdade. Após a reabertura do ABC da Noite, recebida com festa em grandioso estilo, a diretoria resolveu dar mais um tempo e cerrar suas duas portas até passar as eleições de 2 de outubro.

A notícia pegou todos de surpresa, já que o professor Caboclo Alencar e sua inseparável companheira, dona Neusa, deliberaram, em sessão extraordinária, a suspensão da prestação dos serviços etílicos na sua sede, no Beco do Fuxico. Mas como não existe nada ruim que não possa piorar, como garante em sua tese o tal de Murphy, num conceito que se transformou em lei sem que fosse aprovada por parlamento algum.

Esse já é o segundo choque sentido pelos boêmios itabunenses, que ficaram órfãos das deliciosas batidas do Caboclo Alencar durante esses anos em que a pandemia resolveu assolar o Brasil e o mundo. A primeira decepção sentida foi a drástica redução nos dias de funcionamento, que caiu do tradicional segunda a sábado, em dois expedientes, e que passaria apenas aos sábados.

Pois bem, se não bastassem os torturantes 30 meses em que esteve fechado, o primeiro decreto editado pelo Caboclo Alencar e dona Neusa, restringiu a abertura, em desconformidade à placa de bronze afixada na parede proclama os horários de abertura e fechamento do régio expediente: De segunda a sexta-feira: das 11 às 12h30min e das 17 às 19 horas; aos sábados, das 11 às 12h30min; sem expediente aos domingos.

Agora, conforme acertado, o horário de sábado foi ampliado em duas horas, mas nada que compense os dois expedientes diários no decorrer das segundas às sextas-feiras, quando centenas de repetentes e aderentes se reuniram no ponto mais tradicional do Beco do Fuxico, em Itabuna. Nos dias removidos da tabela de funcionamento, que os alunos busquem novas escolas próximas para continuar os estudos etílicos.

Um dos alunos repetentes do ABC da Noite, Daniel Thame, se deu por satisfeito e disse que felizmente, do males o menor, pois dessa vez é por pouco tempo. Além do mais, fez questão de ressaltar que o ABC da Noite volta a funcionar após as eleições, sempre aos sábados. A finalidade seria preservar o espaço mais democrático de Itabuna, onde o que deve prevalecer são os sabores das magistrais batidas que só Alencar sabe fazer.

Na qualidade de aluno repetente de anos e anos, que nem dá para contar nos dedos, eu já disse por aqui que senti bastante não ter participado da cerimônia de reabertura do ABC da Noite, oportunidade para rever o Caboclo Alencar, dona Neusa e o sem-número de colegas e amigos. E esse reencontro seria regado às maravilhosas batidas recém-saídas da linha de produção, com preferência para o sabor gengibre.

Ausente estava, como acabei de citar, portanto não presenciei a festa de reabertura, o que sei por ouvir dizer dos colegas presentes, embora como repórter deveria ter ido mais a fundo nas informações, checando o contraditório, o que não fiz. Só me resta penitenciar e faço questão de pedir a devida vênia e o costumeiro perdão, por não ter ido a fundo das questões temporãs e que devem prevalecer os princípios da democracia.

Com a sapiência do casal e a experiência do Caboclo Alencar nos 60 anos de funcionamento do ABC da Noite e os 91 anos de salutar existência, mesmo contrariado pelo fechamento, comemoro a decisão, por demais acertada. Sei, por convivência, e não por ouvir dizer, que o bar é uma extensão do lar (não ligue para a chula trova), ambiente onde todos discutem e mesmo que não cheguem a qualquer conclusão se abraçam na despedida.

Chocado fiquei pelo decreto do novo fechamento – temporário, como quer o confrade Daniel Thame –, por ter me deslocado de Canavieiras a Itabuna, para conhecer o ABC da Noite pós pandemia. Dei com a cara na porta, fechada, como reclamou anos passados o também saudoso aluno repetente Tyrone Perrucho, a aparecer num dia em que o Caboclo resolveu não dar expediente por 30 dias.

Irei me redimir da falta da Confraria d’O Berimbau, sábado passado no MC Vita, e prometerei comparecer noutra efeméride de reabertura assim que passar as eleições. Como sempre, prometo me comportar como um frequentador de botequim bom de debate, discutindo com os parceiros da mesma mesa e me intrometendo nas outras, como manda o manual de boas maneiras de um aluno repetente do ABC da Noite.

E sob as bênçãos do Caboclo e dona Neusa.


sexta-feira, 23 de setembro de 2022

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ERIVALDO DE SOUZA, O GENTLEMAN DA CEPLAC

Erivaldo atuando nas exposições da Ceplac

Por Walmir Rosário

Costumo dizer – constantemente – que as instituições somente sobreviverão se forem maiores do que os homens que a servem – ou dela se servem –, do contrário estão fadadas ao descrédito e ao fechamento. Por outro lado, tenho plena consciência da importância dos homens no desempenho das instituições, desde atue como motores ao impulsionar as ações. Ou sejam as instituições são as próprias pessoas.

Parece muito confuso e por demais burocrático esse pensamento, mas se torna simples desde que partamos do princípio que a instituição deve transcender aos indivíduos pela função social que exerce na sociedade. Como dizia Platão, a virtude de um objeto está no seu bom desempenho, portanto, os homens que fazem parte da instituição devem trabalhar pela razão direta da instituição, sua missão e objetivos.

Uma das instituições que tenho dedicado muita tinta e espaço é a Ceplac, que como tudo na vida tem o seu tempo de utilidade, principalmente as governamentais, sujeitas à ideologia e boa vontade dos governantes da época. Apesar das dificuldades inerentes à administração, dirigentes e funcionários de carreira podem – e até devem – fazer a diferença, como se criassem um ilha às avessas.

Na Ceplac chega a ser difícil nominar esses funcionários abnegados, que se destacam pela dedicação no ambiente de trabalho, mesmo com todas as dificuldades inerentes aos desempenho das atividades. E esse comportamento é próprio da índole de cada um. Existem os que se fingem de “mortos”, ignorando tudo que se passa ao redor; já outros conseguem superar todas as dificuldades para oferecer um trabalho de qualidade.

Como é impossível destacar essa legião de pessoas interessantes, tomo como representante o funcionário Erivaldo Souza (Erí), prestes a completar 44 anos de trabalho, com fôlego e disposição para outro tanto. Erí é um dos funcionários da linha de frente da Ceplac e exerce suas atividades na área de relações públicas na organização de feiras, eventos nacionais de internacionais, além do atendimento aos visitantes à sede na Bahia.

E não pode falhar no desempenho das suas atividades, já que representa a Ceplac, durante anos a maior instituição de pesquisa, extensão e ensino profissionalizante do sobre cacau no mundo. E Erivaldo soube aproveitar todas as oportunidades, desde a primeira, quando em 1978, foi classificado em primeiro lugar num concurso para office boy, exercendo o cargo com maestria.

Mas o cargo era muito pequeno para quem pretendia alçar voos mais altos e ganhar o mundo. Cinco anos se passaram e Erí, um exemplar servidor público, acreditou que era hora de se tornar um comissário de bordo da Varig, atendendo pessoas de todas as nacionalidades. Para tanto, estudou inglês com afinco e se sentia seguro do futuro projeto. Entretanto, seu pedido de demissão foi desconsiderado e uma nova oportunidade apresentada.

Do escritório de extensão de Ilhéus, foi transferido para a sede regional, que abrigava a direção da Bahia e Espírito Santo, e os profissionais que produziam – e ainda produzem – conhecimento científico. Seu conhecimento de inglês tomou novo impulso ao participar de um curso da língua de William Shakespeare, destinado às secretárias e pesquisadores. Por merecimento, se tornou o melhor aluno do curso.

Se brilhava nas atividades profissionais e correlatas, a alma continuava pedindo novos rumos, de preferência num avião da Varig cruzando os continentes. Mais uma vez foi convencido pelos superiores que seu lugar era na Ceplac. O diretor do Departamento de Extensão lhe fez nova proposta, para que escolhesse o local de sua preferência pelo tempo necessário. E Erí aceitou.

Só que agora não pleiteou uma capital, foi prestar serviço em Lajedão, uma pequena cidadezinha no extremo sul da Bahia, na divisa com Minas Gerais, também na área de comunicação. Era o responsável pela operação de rádio, onde eram transmitidos os memorandos e outros documentos entre a direção da Ceplac e o pequeno escritório. Oito meses depois sente a necessidade do aperfeiçoamento profissional e retorna à sede.

Imediatamente ingressa no curso de Letras (com ênfase em inglês) da antiga Fespi, hoje Uesc. Se a academia lhe dava os conhecimentos teóricos, sua nova atividade na Ceplac lhe deu, definitivamente, régua e compasso, com a oportunidade de trabalhar com pesquisadores da Indonésia, Tailândia, Sri Lanka, Índia, Japão, China, Camarões e Nigéria, que estudavam a doença “mal das folhas” da seringueira.

Irrequieto, como sempre, chega a hora de Erí conhecer parte do mundo e Erivaldo requer uma licença e vai conhecer a Suíça, Inglaterra, Itália, França e Israel, adquirindo experiência com a população do velho continente e o oriente médio. Em seguida, retorna ao Brasil, com bem mais conhecimento do idioma inglês, francês e até o hebraico, e passa a receber os visitantes nacionais e internacionais.

O brilhantismo do desempenho profissional de Erí junto às pessoas o credenciou a chefiar a área de relações públicas, planejando e organizando eventos sobre a cadeia produtiva do cacau, no âmbito nacional e internacional. Essa é parte da trajetória de um homem, um profissional, que não pensa em aposentadoria e soube pavimentar o seu caminho com dedicação inteligência e elegância no trato com as pessoas.

Um gentleman!

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Cronica de Walmir Rosário

 

DANIELZÃO, DUAS GERAÇÕES DEDICADAS AO FUTEBOL

Danielzão no Itabuna Esporte Clube

Por Walmir Rosário

Daniel Souza Neto, ou Danielzão, como era conhecido, não atuou nas 11, mas pode-se dizer que jogou nas duas posições mais visadas do futebol: goleiro e centroavante, além de ponta-direita. Nas duas, tinha objetivos completamente contraditórios – defender e fazer gols. Quem o conheceu atuando garante que desempenhou todas com competência, ou seja: conhecia do ofício de jogar bola.

Como amador, jogou nos dois Botafogos do bairro da Conceição – o de cores vermelha e branca, de Maninho, e no da camisa preta e branca com a estrela solitária –; o Grêmio, Bahia, Flamengo e Janízaros. No futebol profissional atuou no recém-formado time do Itabuna e no Leônico, de Salvador. Times amadores não era bem a expressão da verdade, já que de uma forma ou de outra, eram remunerados.

Em 1950, Danielzão – o goleiro – veio da Fazenda São José, no município de Ilhéus, para jogar no Botafogo vermelho e branco. Na verdade, ele não gostava de ficar parado embaixo dos “três paus” e sua vontade era correr lá na frente, trombar com os zagueiros e balançar a galera com os gols marcados. Em 1951 foi trabalhar em São Paulo, voltando para Itabuna no ano seguinte, 1952, disposto a mudar de posição.

E agora no outro Botafogo, dirigido por Rodrigo Antônio Figueiredo, o Rodrigo Bocão, e Sílvio Sepúlveda. Numa das partidas foi reconhecido por um torcedor – Ferrugem –, que o indicou a Sílvio Sepúlveda como um grande goleiro. Proposta feita e imediatamente recusada. Como Sílvio não desistia facilmente, fez uma nova proposta, desta vez acrescentada de Cr$ 100,00 (cem cruzeiros) por semana, e imediatamente aceita.

Do Botafogo mudou para o Grêmio, onde foi vice-campeão de 1955 e 1956, depois para o Bahia, ainda no gol, até voltar para o Botafogo, em 1960, como centroavante. Em 1964 se transferiu para o Leônico, como ponta-direita, e na estreia marcou dois dos quatro gols da vitória contra o Galícia. Em seguida recusa uma proposta do Bahia, com um grande salário, pois foi indicado a João Guimarães pelo amigo Fernando Barreto.

Convidado pelo CSA de Alagoas e pelo Sergipe, preferiu voltar a Itabuna, jogando pelo Flamengo. Convocado várias vezes para a Seleção de Itabuna, em 1967 foi para o Itabuna Esporte Clube, profissional, onde encerrou a carreira. Danielzão aponta as diferenças do futebol jogado antes e agora e diz que foram introduzidas muitas mudanças na forma de jogar, além do preparo físico, hoje científico.

Lembra Danielzão, que o primeiro técnico completo que conheceu foi Ivo Hoffmann, do Itabuna, nos fins dos anos 60. Ele diz que naquela época acordavam às 5 horas para fazer física e logo em seguida iam para o trabalho. Dentro de campo, pegavam a bola e olhavam para quem passar, e agora, quando se recebe uma bola, já têm três ou quatro marcadores em cima.

Para Danielzão, Itabuna sempre foi uma “fábrica” de craques, mas ele cita Léo Briglia, Santinho e Gerson Sodré como os maiores itabunenses que viu jogar. Ele credita a alguns dirigentes despreparados a escassez de jogadores formados em Itabuna, pois, sob o pretexto de armar um grande time, preferem trazê-los do Rio de Janeiro e São Paulo.

Na visão do centroavante, enquanto os atletas locais jogavam por amor à camisa, os de fora vinham apenas em busca do dinheiro. E cita como exemplo o início do Itabuna, quando existiam craques regionais como Ronaldo, Santinho, Bel, Déri, Fernando Riela, ele mesmo, e o time foi campeão do interior. Danielzão cita que quando o Itabuna tinha o melhor ataque, com Élcio, Santa Cruz e Milano, o time ganhava dos grandes, quando tudo ia bem, e perdia para os pequenos quando não tinha dinheiro.

Apesar de não ter ganhado dinheiro com o futebol, Danielzão ressalta que fez grandes amigos, e que poderia ter uma carreira bem-sucedida, pois tinha preparo físico para correr os 90 minutos, marcava os zagueiros e ainda fazia muitos gols. Aos que iniciavam, aconselhava cuidado com a saúde e resguardo na bebida, não fumar e não perder noite.

Uma família de craques

Como diz o ditado: “filho de peixe peixinho é”, os três filhos de Danielzão seguiram a mesma carreira do pai. Claro que não faltou incentivo, levando os filhos para o estádio, e um empurrãozinho na carreira. Todos eles aprenderam bem a lição, tanto que foram bem-sucedidos na vida profissional.

O primeiro deles foi Danielzinho, ponta-direita que iniciou a carreira no Itabuna Esporte Clube, de onde saiu para alçar novos voos no Bragantino, de São Paulo, e no Goiânia.

Roberto, o Beto, quarto zagueiro, foi o segundo a se profissionalizar – também pelo Itabuna – e ainda jogou no Bonsucesso e Friburguense, do Rio de Janeiro; Leônico e Atlético e Alagoinhas, na Bahia. Como técnico, atuou no Grapiúna. Itabuna, Colo-Colo, e coleciona títulos pelas seleções amadoras que treinou.

Guiovaldo, o Gui, ponta de lança e lateral, é o terceiro da família Souza Neto. Também passou pelo Ávila, de Portugal, Bonsucesso, Americano de Campos, Juventus de Minas, Grapiúna. Retornou ao Itabuna e o Colo-Colo, de Ilhéus.