sexta-feira, 28 de outubro de 2022

acronicadewalmirrosariodiretodecanavieiras

O GURGEL DE TYRONE; A LENDA REAPARECE EM CANAVIEIRAS

 

Eliomar e Dione ao lado do Gurgel nos trinques

Por Walmir Rosário*

Eu nem acreditei no que vi! E olha que estava avisado que o sumido  velho Gurgel do saudoso jornalista desocupado Tyrone Perrucho estaria de volta. Naturalmente que fui convidado para a apresentação do tinhoso veículo pelos seus novos e felizes proprietários Eliomar Tesbita e sua esposa Dione. E na efeméride, muita cerveja e churrasco, próprios para receber os convidados na tarde de domingo (23-10).

Assim que chegamos próximo ao porto da rua da Prata, em Canavieiras, à sombra das frondosas amendoeiras e outras árvores, lá estava o velho Gurgel todo repaginado, vistoso nas novas cores, vermelho e preto. De cara, questionei Eliomar Tesbita, artista plástico de conceito internacional, o motivo de tão tresloucado gesto: E me responde que soube ter sido em vida Tyrone Perrucho um flamenguista enrustido, agora, assumido, além do mais que sua esposa Dione também é torcedora do time da Gávea.

E não foi mole chegar ao ponto em que chegou, todo nos trinques. Muita pajelança foi feita para deixá-lo, digamos, seminovo. De cara, uma decepção, o mestre Wilson, mecânico responsável pela penúltima pajelança do jipinho, não aceitou o convite de Tesbita – sabe-se lá qual o motivo – para ser o responsável pela empreitada em deixar o Gurgel como era há 30 bons anos.

E aí Eliomar Tesbita iniciou um planejamento administrativo – como fazia nos seus velhos tempos de Banespa – apropriado ao jipinho, iniciando como seria a pintura, contando com Luciano, para riscar as cores na cabine, pintada por Régis. Para cuidar da lataria, ou melhor, fibra de vidro, Jarbas foi escolhido a dedo. Na eletricidade, o mestre Dino partiu do zero e refez todos os chicotes e demais fiações.

Já as fechaduras e elevadores de vidros esteve a cargo do conceituado João Neto, e a tapeçaria ficou por conta de José Carlos e a mecânica foi entregue a Luiz Feitosa. Com essa plêiade de oficiais da funilaria, mecânica e pintura, tapeçaria, seria apenas dar início ao processo de restauração e partir para o abraço. Mas, ainda foram onde começaram a aparecer os problemas.

As conceituadas casa de peças das redondezas não mais se ocupam em oferecer os equipamentos e apetrechos para o velho Gurgel, o que rendeu mais trabalho diferenciado, sob os auspícios da internet. Uma simples pecinha responsável pelo movimento do limpador de para-brisa não existia no mercado e teve que ser feita numa fundição, criando, antes um molde nas mesmas dimensões da anterior.

Porém, o que mesmo preocupou o nosso artista plástico foi o veredito passado pelo mecânico de quatro costados, Luiz Feitosa, após revisar e recuperar toda a parte mecânica, incluindo, aí, motor, câmbio e suspensão. É que pelo olhar clínico de Eliomar Tesbita, acostumado aos traços e formas de suas telas, o velho, agora novo Gurgel, lhe parecia tombado para um lado. Por preocupante, para o lado esquerdo.

Após um novo exame do ressuscitado bólide urbano e rural, Luiz Feitosa reconheceu que não tinha os recursos necessários para deixá-lo aprumado como Tesbita queria, sem pender pra qualquer lado. E foi taxativo. “O problema é estrutural, terá que mexer no chassi, um trabalho difícil e especializado, nada fácil.” E o jeito foi deixá-lo do jeito que se encontra, como se ainda carregasse o peso do velho Tyrone ao volante.

Uma coisa é certa, daqui pra frente os profissionais que se ocuparam de colocar o velho Gurgel nos prumos saíram da empreitada com mais conhecimento do que antes. Se não de mecânica automotiva, de internet e até de fundição. Com celular à mão, qualquer um deles discute sobre telemática, logística, como no prazo de entregas e finanças, a exemplo das condições de pagamento e autenticidade das lojas.

Assim que a notícia sobre a reforma vazou, Raimundo Ribeiro, de lá do Belém do Pará, se assanhou em passar uma vistoria nas fotos, por conhecer o jipinho nas suas andanças em Canavieiras durante as visitas a Tyrone. Sem mais delongas, disse no Whatsapp: “Eu e a Sandra, minha coligada, pegamos muitas caronas no famoso Gurgel, cheio de histórias e estripulias”, exigiu com a reconhecida autoridade.

E não era de ontem que Eliomar Tesbita cobiçava o jipinho, estacionado desde a morte de Tyrone, verdadeiramente triste e acabrunhado com o sumiço repentino do seu inseparável companheiro. Após umas três rodadas de negociações do casal Eliomar e Dione com Edmo, batem o martelo e o jipinho passa para os novos proprietários. Antes, do padre Alfredo Niedermaier, Wallace Perrucho, Tyrone Perrucho e Edmo.

E o famosíssimo Gurgel, conhecido por estacionar próximos aos bares e congêneres, voltará a circular com desenvoltura por Canavieiras e, quem sabe, assim que o Detran mudar a cor nos documentos, fará uma breve viagem ao Pelourinho, em Salvador, no conceituado ateliê do artista plástico Eliomar Tesbita. Do jeito que se encontra, com certeza viajará lépido, sem qualquer perigo de amuar num bar qualquer das rodovias.

E o generoso gesto de Eliomar mostra no que é capaz um homem apaixonado, ao dar um presente tão simbólico à mulher amada. A lenda está de volta!

*Radialista, jornalista e advogado


Dione, Vilma, Walmir, Eliomar e Panela de Barro

 

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

POr Walmir Rosário - PIRES, AOS 81 ANOS, UM CRAQUE AINDA EM FORMA

 

PIRES, AOS 81 ANOS, UM CRAQUE AINDA EM FORMA

O Goleiro Pires campeão pelo Bahia B de Itajuípe

Por Walmir Rosário*

Craque do passado uma ova! Aos 81 anos ele continua jogando três babas por semana – às terças e quintas-feiras na AABB de Itabuna, aos domingos na AABB de Itajuípe – e aos sábados ainda treina no caiaque para fortalecer a musculatura. Essa façanha é fichinha para Antônio Pires, que ainda fuma, embora parou de beber, administra sua empresa de compra de cacau, não dispensa um bate-papo com amigos, inclusive sobre política, pois já exerceu o mandato de vereador e presidente da Câmara de Itajuípe.

Desde cedo Pires iniciou sua vida de peladeiro, no meio da rua Joana Angélica (hoje Montival Lucas), descalço e sobre o calçamento de pedras. Pela sua habilidade na lateral-esquerda foi convidado por Virgílio Gomes para integrar o Vasco da Gama de Itajuípe e aceitou sem pestanejar, já que era um vascaíno de primeira. Não deu outra, se destacou e passou a ser conhecido no meio futebolístico.

Não estranhe os senhores quando digo meio futebolístico, pois mesmo sendo Itajuípe uma cidade de pequeno porte, sobravam craques nos vários times da cidade, muitos deles “exportados” para as grandes equipes amadoras de Ilhéus, Itabuna e profissionais de Salvador. Somente o Bahia local mantinha dois times – o A e o B – em que eram páreos duríssimos entre eles durante os treinamentos, constantemente chamados de seleções.

Pires, aos 81 anos

E foi justamente um dos diretores desse incrível Bahia, o barbeiro José Marques, que descobriu Pires no Vasco da Gama, ainda menino crescido, na linguagem de antigamente. Como somente jogava com a perna esquerda, foi aconselhado por José Marques a tentar outra posição. E a escolhida foi a de goleiro, na qual gostava de se divertir nos treinos, por sair nas bolas com bastante segurança.

Aprovado, passou imediatamente para a titularidade do segundo quadro do Bahia de Itajuípe, no qual foi campeão em 1957 e passou a ser o substituto imediato de Tirson, um dos maiores goleiros da Bahia nas décadas de 1950 e 60. Assim que Tirson viajava – e fazia isso com frequência – lá estava Pires em baixo dos três paus do magnífico time do Bahia, que não era acostumado a perder para outras equipes.

Uma certa feita, a seleção de Ilhéus convidou o Madureira, do Rio de Janeiro, à época qualificado como o “demolidor de campeões” para jogar uma partida no estádio Mário Pessoa, e por motivos extras, não poderia entrar em campo. Os cartolas ilheenses não perderam tempo e convidaram o Bahia para representar a Seleção. Um jogo brilhante para os que presenciaram e viram o Madureira vencer o Bahia de Itajuípe pelo magro placar de 1X0, apesar do show dado pelo goleiro Tirson.

Em 1959, ao saber que Pires tinha assinado com o Bahia de Itabuna, é convencido pelo conterrâneo Hemetério Moreira a cancelar o contrato e fechar com o Janízaros. Ele não pensou duas vezes e aportou com seu colega Nocha numa das melhores equipes de Itabuna. Nem chegou a sentir a mudança, pois outros cinco itajuipenses já jogavam no Janízaros, a exemplo de Marujo, Hidelbrando, Abel, Edson e Sinval. Pois bem, Pires passou mais de dois anos e meio sendo o goleiro titular e nunca foi substituído num jogo.

Quem gosta e acompanha o futebol sabe a importância do goleiro numa equipe, principalmente pela segurança que transmite à equipe. E Pires, apesar do físico um pouco franzino, não tinha medo de chutes fortes, apesar da antiga bola oficial pesada e traiçoeira nos jogos em dias de chuva. Ele já defendeu pênaltis cobrados por Danielzão, dentre outros jogadores considerados fura redes, sem a menor preocupação.

Em 1960, a Liga de Itajuípe se filia à Federação Bahiana de Futebol e no ano seguinte Pires retorna à sua cidade natal. No retorno assume a titularidade do Bahia e da Seleção de Itajuípe. E uma das primeiras partidas que disputou foi justamente contra a seleção de Ilhéus. Superiores em campo, marcam um gol e terminam o primeiro tempo à frente no placar. Só que no segundo tempo o técnico ilheense faz algumas mudanças inesperadas.

Entre os que entraram no tempo final estava Armandinho, ainda desconhecido e que estraçalhou na partida. Logo o placar vira para 3X1, todos os três marcados por Armandinho. No final da partida, o conceituado comentarista Yedo Nogueira, numa atitude inusitada, desce da cabine, pede o microfone ao repórter de campo e faz uma longa entrevista com Armandinho e o goleiro Pires. Na semana seguinte o craque Armandinho estreava no Palmeiras de São Paulo.

Ao término do Campeonato Baiano, equipes como o Galícia e Leônico faziam excursões pelo interior do estado, a exemplo do Sul da Bahia. Jogavam contra times e seleções de várias cidades, como Ilhéus, Itabuna, Itajuípe, dentre outras. E aqui descobriam os bons atletas e convidavam para se transferir para Salvador. Nesses amistosos, muitas vezes esses jogadores eram emprestados e participavam das partidas pelas equipes da capital.

E em seguida vinham as propostas de contratações, nem sempre vantajosas para os atletas que já trabalhavam. Certa feita, tanto o Galícia quanto o Leônico ofereceram a Pires um salário-mínimo e alojamento em Salvador, além de promessas futuras. Pires, que ganhava três vezes mais como contínuo no Banco Econômico e ainda morava com a mãe, declinou do convite e seguiu jogando pelo Bahia e Seleção de Itajuípe.

Na década de 1980 Pires deixa oficialmente o futebol amador, mas não abandona a bola e continua jogando os babas. Nessa época se transfere para Eunápolis – ainda conhecido como 64, o maior povoado do mundo – e sente falta dos campinhos de bairros. Não conta conversa, pede autorização ao prefeito de Porto Seguro. Aí foi só comprar um fusquinha, colocá-lo numa rifa e construir o Itamarzão.

O goleiro Antônio Pires ocupa lugar de destaque no hall dos grandes craques de Itajuípe, a exemplo de Zequinha Preto, Parrilha, Piaba, Francisquinho, Sinval, Gérson, Lourinho, Marujo, Caburé, Julinho, Hidelbrando e tantos outros. De logo, vou avisando: não tente marcar compromisso com Pires nos dias de reunião da Loja Maçônica Acácia do Sul, em que é membro há 55 anos; dos seus três babas semanais ou do treino no caiaque, muito menos nos jogos do Vasco da Gama.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Itabuna- A Lavagem do Beco do Fuxico Agora é Patrimônio Histórico e Cultural - nachapaquente

 

Itabuna- A Lavagem do Beco do Fuxico Agora é Patrimônio Histórico e Cultural


A partir de agora a tradicional Lavagem do Beco do Fuxico de Itabuna, passa à imortalidade. Por meio da sanção à Lei Municipal nº 2.606 publicada no Diário Oficial eletrônico desta terça-feira, dia 18, o prefeito Augusto Castro faz saber que a Câmara Municipal de Vereadores aprovou projeto da vereadora Wilmacy Oliveira. Por conta disso, a Lavagem do Beco do Fuxico fica declarada como patrimônio histórico e cultural, de natureza imaterial do Município de Itabuna, 

(Saiba Mais e Veja o TBT, Click no Ícone Abaixo)



devendo ser registrado, através da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania – FICC, em livro próprio. As despesas decorrentes da execução desta Lei ocorrerão por conta de dotações orçamentarias próprias, suplementadas se necessário. 



O empresário e carnavalesco Nérope Martinelli escreveu artigo em que relatou que no início da década de 1980, o  despachante e ex-jogador de futebol Abelardo Moreira, Bel,  no seu escritório na Travessa Adolfo Leite (Beco do Fuxico), recebeu a visita do amigo engenheiro Roberto Carlos Godygrover Bezerra (Malaca), morador de Salvador, que lhe relatou a lavagem do Beco Maria da Paz, o que evoluiu para a  criação da Lavagem do Beco do Fuxico.



Reduto da boemia itabunense, a Adolfo Leite concentra o ABC da Noite,  do lendário Caboclo Alencar, e outros bares que ao meio-dia e aos finais de tarde de segunda a sábado, se enchem de amigos e clientes para o papo, a cervejinha, a batida de sabores de frutas tropicais e claro, a resenha diária sobre variados assuntos, incluindo futebol e casos prosaicos da cidade.  



Para a realização inicial da Lavagem, com o fechamento do Beco, vassouras, carros-pipa e a cal para pichamento do pisos da travessa, foram decisivas as contribuições dos ex-secretários municipais Fernando Teixeira Barreto e Cláudio Macedo, Esportes e Turismo e Administração, respectivamente. 


Como conta Martinelli no texto publicado em fevereiro de 2019, um  encontro no bar do Batuta  reuniu Cambão, Dudu, Giru, Pinguim, Peru pintor, Claudir, Manoel Estia, Alemão, Geraldo Caçolinha (bloco Maria Rosa), Nilton Ramos (Jega  Preta) e ele próprio, ambos do bloco carnavalesco Casados I…Responsáveis. “A primeira rodada de cerveja foi paga por Nelito Carvalho e Caboclo Alencar que, além do apoio à ideia, contribuiu com um litro de batida”, escreveu.


O projeto  da vereadora Wilmaci Oliveira foi sugestão ao mandato do presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Itabuna (CMPCI), Egnaldo Ferreira França, tendo recebido apoio de comerciários, mestres capoeiristas, artistas, jornalistas, professores, intelectuais, advogados, médicos e outros profissionais que no dia a dia descarregam ansiedades, interagem com as pessoas e curtem o contato no ABC da Noite e barzinhos da artéria agora imortalizada.

TBTs do Beco do Fuxico















sexta-feira, 14 de outubro de 2022

walmirrosario - A CHOCANTE MATÉRIA DAS URNAS FUNERÁRIAS DE ISOPOR

 

A CHOCANTE MATÉRIA DAS URNAS FUNERÁRIAS DE ISOPOR

Como seria a nova urna funerária de isopor

Por Walmir Rosário*

Estávamos em setembro de 1999. À época, entre outras atividades, eu exercia o cargo de assessor de comunicação da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Itabuna, uma instituição até hoje bastante ativa no setor econômico e social. Semanalmente, publicávamos um tabloide, de nome Momento Empresarial, com 12 páginas, encartado no jornal Agora, de bastante sucesso, e volta e meia nossa matéria de capa se tornava a principal manchete do Agora.

Na semana de 11 a 17 de setembro de 1999, a bendita capa apresentava a seguinte manchete: “Urnas funerárias fabricadas em isopor”. Celeuma é pouco para o fuzuê criado na cidade. E a confusão se iniciou ainda na elaboração da matéria, o que garantia o sucesso da publicação. Eu era o editor, redator, repórter, editorialista, articulista, produtor e mais que houvesse de necessidade na produção do jornal.

Imaginem, então o sufoco que passei desde a elaboração até a circulação do Momento Empresarial. E fiz tudo dentro da conformidade dos manuais da técnica e ética do jornalismo, com todos os detalhes. Um título decente, uma reportagem que ouviu todos os principais interessados, matéria principal equilibrada, secundária com sustentação científica e destaques. O grande problema era apresentar o simples isopor para substituir as tradicionais urnas de madeira.

O assunto chegou a meu conhecimento numas das concorridas reuniões de quintas-feiras da CDL, na qual o empresário Mauro Horta apresentou a novidade que prometia transformar Itabuna na primeira sede dessa inusitada indústria. Garantiu que com a tecnologia existente, a urna (caixão) de madeira seria substituída por outra, esta produzida a partir da espuma de poliestireno, conhecido popularmente como isopor.

Mauro Horta

O empresário revelou que a urna funerária de isopor estava patenteada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, e prometia revolucionar o mercado de "caixões", principalmente junto aos menos favorecidos economicamente. Porém ele alertava que seria preciso vencer o aspecto tradicional e religioso, por despertar a desconfiança das pessoas em acreditar ser o isopor frágil, que não suportaria transportar o mais simples mortal ao cemitério, o que era um engano.

E as engenhosas urnas de isopor seriam entregues, como manda a tradição de nossa última viagem num caixão funerário de madeira, acrescida dos mais diversos acessórios, a exemplo de forro de cetim branco acolchoado por dentro, cetim roxo por fora e outros motivos religiosos como a cruz. A vantagem seria o baixo custo do sepultamento, que seria reduzido dos atuais R$ 170,00 a R$ 5 mil, para módicos R$ 80,00, um alívio para os menos favorecidos economicamente.

Ainda defendia o empresário, que devido ao baixo custo, o uso inicial das urnas de isopor deverá ser mais intenso entre os indigentes e a população de baixa renda, que geralmente procura o serviço social das prefeituras para custear o enterro. O invento de Mauro Horta já tinha ganhado, segundo afirmou, o apoio do prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, e de secretários municipais. “Um caixão tem que ser simples, singelo e barato, e esse é o ideal”, defendeu com ardor.

A preservação do meio ambiente era outro carro-chefe da invenção, evitando que no processo de desencarne os líquidos contaminassem o solo e o lençol freático. Esse processo seria realizado em apenas 90 dias, ao contrário dos cinco anos de hoje. Com o aumento dos problemas urbanos, a nova urna funerária resolveria a questão do espaço nos cemitérios, que segundo os cálculos do empresário, a relação de espaço poderá ser reduzida em até 16 vezes.

E o projeto de Mauro Horta ia além da produção de urnas funerárias de isopor e pretendia colocar no mercado um serviço de seguro funerário, no qual as pessoas de baixo poder aquisitivo pagariam um valor mensal para adquirir o seu “caixão”, despreocupando a família no caso de sua morte, que não teria de arcar com despesas inesperadas. A intenção era aliar os custos à funcionalidade, no sentido de beneficiar a população.

Entretanto, para a colocar fábrica de Itabuna em funcionamento, o empresário estava em busca de recursos para implantar o projeto, que poderá gerar cerca de 400 empregos, entre a fabricação de cinco mil urnas mensais e demais tipos de embalagens que serão produzidas. E se tivesse dificuldade em implantá-la na cidade, poderia levá-la para o Rio Grande do Sul, cujo governador já teria manifestado interesse no projeto.

Para os céticos, a urna funerária de isopor seria apenas uma brincadeira ou falta de respeito às tradições e religiões. Pouco importavam que a urna fosse moldada e injetada, com três pares de alça, revestimento interno em cetim, externo em pigmento roxo e visor de acrílico ou suportasse, com segurança, 220 quilos. Daí a desconfiança dos investidores e dos demais segmentos interessados, a exemplo das funerárias e parentes dos defuntos.

O maior problema da reportagem foi tentar convencer os donos de funerárias a tecerem comentários a respeito do ambicioso projeto do empresário Mauro Horta. Por telefone, mesmo me identificando como sendo o jornalista Walmir Rosário (conhecido de sobra), assessor de comunicação da CDL de Itabuna, não consegui nenhuma palavra a respeito do tema da reportagem que elaborava.

Pelo contrário, ouvi muitos xingamentos com palavras de baixo calão, impublicáveis nesta singela e familiar crônica, para o bem e o respeito que devo aos meus queridos e respeitáveis leitores. Como se não bastassem as palavras chulas, ofensivas e obscenas, fui ameaçado de morte matada, caso não calasse a boca e parasse de injuriar os inocentes mortos, decentemente enterrados de acordo com o ritual cristão.

Assim que o jornal Agora foi publicado, com manchete do caderno Momento Empresarial, a confusão foi grande e os debates se afloraram, divergindo desde o novo padrão de sepultamento até a matéria jornalística. Confesso que me resguardei por uns dois dias e ficou nisso mesmo. O certo é que o empresário Mauro Horta não conseguiu o financiamento para o seu projeto, nem em Itabuna ou nos pampas gaúcho.

E os mortos sequer puderam inaugurar uma nova tecnologia funerária.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Acronicadewalmirrosario - Diretodecanavieiras

 

TYRONE PERRUCHO E AS AVENTURAS DO SEU GURGEL

Gurgel é recolhido para a pajelança mecânica

Por Walmir Rosário

Em cada cidade existe alguma coisa ou alguém do conhecimento público, que pode ser uma pessoa, um veículo, um imóvel, um objeto qualquer. Basta o desinformado – quase sempre forasteiro, como chamam – pedir uma informação, que é atendido na hora. Às vezes se oferece até para levar o indivíduo ou local, a depender da disponibilidade ou da gentileza da pessoa, principalmente no interior.

Aqui em Canavieiras, a nossa referência era um jipinho Gurgel, de cor cinza, sempre visto estacionado nas proximidades de um bar, no centro ou nos mais variados bairros, ou ao lado do jornal Tabu. Era de propriedade do jornalista aposentado – ou desocupado, como gostava de dizer o próprio cujo – Tyrone Perrucho, que utilizava o carro apenas para circular, sem maiores cuidados, apesar de frágil pelo tempo de uso.

Grande parte dos que conheciam o dia a dia do conhecido Gurgel de Canavieiras, o identificavam pelo barulho do motor em funcionamento, quase sempre com o silencioso furado, que o tornava de fácil identificação. Quando dobrava a esquina da rua onde moro eu parava o que estava fazendo e já me encaminhava para abrir o portão e recebê-lo, pessoalmente, como merecia.

Às vezes esse merecimento e a atenção dispensada ao inusitado colega, merecia outros cuidados, como o de parar em frente a nossa casa e encher a caixa de correspondência com revistas e jornais religiosos ou de outros países, sempre velhos. Desde os tempos em que trabalhávamos na Ceplac, ele costumava enviar esses pacotes esdrúxulos pelos Correios, muitas das vezes com simples inutilidade, apenas por simples galhofa.

Assim que seu nome é publicado como inativo do Ministério da Agricultura, volta a Canavieiras para se dedicar exclusivamente ao jornal Tabu – que circulou por 50 anos –, e as amenidades. Sempre na condução do surrado Gurgel, que há anos não passava perto de um lava jato – para a limpeza de veículos, que fique bem entendido –, chamava a atenção pelo barulho e popularidade de seu dono.

Nas muitas vezes que o indigitado Gurgel era visto nas primeiras horas da manhã estacionado numa rua qualquer, não mais chamava a atenção, pois todos sabiam que enguiçara na sua circulação noturna pelos botequins. Para começo de conversa, apenas o vidro de uma janela funcionava e poderia ser aberto sem a preocupação de uma chave, bastando apenas a simples manipulação das portas e janelas.

Certa feita, ao combinar a troca de uns livros para nossas leituras, me dirigi ao local combinado, em frente a casa de Alberto Fiscal, sede de uma pequena farra. Buzino meu carro, toco a campainha e nada. Tento me comunicar pelo celular, não funcionava. Tinha acabado a energia elétrica e nada funcionava em Canavieiras. Não contei conversa, peguei os livros, não deixei os meus e aguardei notícias. No fim da farra, já com energia, me liga preocupado dizendo que os livros tinham sumido. Só mais tarde contei o ocorrido.

Mas como a situação não estava boa pra ninguém, nem mesmo o surrado Gurgel (fora de linha), à época com 27 anos de uso, se encontrava livre dos olhos grandes do amigo do alheio. O veículo, de conhecimento público em Canavieiras e vizinhança, sofre uma ameça de furto. Logo ele que aguardava apenas a apresentação e aprovação um projeto de lei na Câmara para se tornar patrimônio material e imaterial de Canavieiras.

O dito cujo Gurgel se encontrava estacionado na área da praça Maçônica e teria sido objeto de desejo do amigo do alheio, que utilizou de todas as artimanhas para levá-lo, sem qualquer autorização do proprietário. Abriu a porta, adentou ao veículo e tentou fazer uma ligação direta, retirando todos os fios da ignição. Após várias tentativas malsucedidas, o larápio foi obrigado a desistir do seu intento, deixando o jipinho Gurgel à disposição do seu dono.

No dia seguinte, Tyrone Perrucho foi obrigado a contratar uma junta de mecânicos e eletricistas para deixar seu potente Gurgel com condições de transitar em toda a Canavieiras, desde a Atalaia à Ilha do Gado, com incursões ao Jardim Burundanga, Birindiba e outros endereços. E Talmão e mestre Wilson diagnosticaram que a malsucedida tentativa de furto, teria esbarrado nas manhas e artimanhas do jipinho, acostumado a empacar sem prévio aviso, mesmo com o conhecido proprietário à direção.

Após as explicações de praxe, Tyrone relatou que teria deixado o Gurgel na praça Maçônica, sob os cuidados divinos, por atender aos reclames da Lei Seca, pegando uma carona para casa, uma atitude mais do que louvável. Já os maledicentes, juravam que o Gurgel, adquirido zero quilômetro pelo Padre Alfredo Niedermaier, para celebrar as missas no interior, tem o poder (rezado) de apenas obedecer aos seus legítimos donos.

Pelo sim, pelo não, Mestre Wilson recolheu o Gurgel à oficina para ser submetido a uma pajelança eletromecânica. O amigo Gilbertão Mineiro, que gosta dos fatos bem esclarecidos resolveu “puxar” a vida pregressa do Gurgel. Para tanto, utilizou-se do conhecimento de Tolé, que entregou: “Esse carro é mal-assombrado, pois depois do padre passou pelas mãos de Wallace Perrucho, ateu e excomungado, e de seu filho Tyrone, conhecido agnóstico”.

Tá explicado.