sábado, 28 de novembro de 2020

O OLHAR DE SECA PIMENTEIRA NA POLÍTICA

O OLHAR DE SECA PIMENTEIRA NA POLÍTICA

 

Fruta-pão

Por Walmir Rosário

Em 2006 os partidos se preparavam para lançar seus candidatos aos diversos cargos eletivos, dentre eles os de deputados federal e estadual. Em Ilhéus, o Partido dos Trabalhadores (PT) tinha como grande trunfo para a Assembleia Legislativa da Bahia, o nome do médico Rui Carvalho, que vinha de uma excepcional campanha a prefeito e era considerado “pule de dez” pelos petistas ilheenses.

Como sempre, nem tudo no PT são flores, concordâncias, o que levanta discussões inócuas e intermináveis debates que não resolverão absolutamente nada e só atrapalham. No meio dessa análise, as diversas correntes (ou facções) promovem longas e pachorrentas reuniões, que embora nada resolvam têm a finalidade de marcar um novo encontro, para, é claro, discutirem ainda mais.

E neste debate saia de tudo: de que Rui Carvalho seria apenas um neopetista, portanto deveria ficar de “quarentena” até que pudesse ser considerado um petista “sangue puro”, como se não já tivesse disputado eleição pelo partido, inclusive a prefeito. Mas isso é considerado normal dentro do partido e os petistas não abrem mão de mostrar que faz parte da democracia, embora se saiba que quem mandam mesmo são as elites partidárias.

E são elas – as elites – que começaram a conversar com o candidato a candidato a deputado estadual Rui Carvalho, ou simplesmente Dr. Rui. Essas conversas chegaram a mais de uma dezena e consumiram algumas semanas de bate-papo, algumas sabatinas e há quem afirme que, até mesmo, interrogatórios, a depender do representante das diversas facções.

E essas conversas, a depender do interlocutor, eram realizadas nos mais diferentes locais, desde a sede do diretório a um bar qualquer, pois também era conveniente – de acordo com as partes – que, de início, fossem quebradas algumas arestas. E nada melhor do que uma rodada de cerveja, após um aperitivo, para nivelar os ânimos. Etilicamente falando, nada mais providencial para dar início a um debate, principalmente os de cunho político-eleitoral.

Mas, a depender da liderança, essa conversa reservada pode acontecer num local mais aconchegante, notadamente se o interlocutor for considerado um dos “cardeais” do partido. Na casa do candidato, por exemplo, cercada de mimos e com direito a mordomais nunca antes dispensadas a outros simples mortais. Sim, isso faz parte do debate democrático, embora alguns prefiram dizer que é uma prática desigual, coisa inventada pelo capitalismo selvagem para enganar os incautos. Pura inveja.

Pois é, mas nesse dia Dr. Rui receberia nada mais nada menos do que o ex-prefeito de Itabuna, deputado estadual, federal e novamente candidato à Câmara Federal. Whisky do melhor (acima dos 18 anos, como convêm e determina o cerimonial), bons canapés e outros acepipes de entrada, dois a três pratos de resistência (geralmente um de peixe, um de lagosta e outro de carne), vinhos de boas e reconhecidas origens, licores finos. Nada melhor para impressionar.

E eis que na hora marcada toca a campainha e chega o ilustre convidado e adentra à mansão do Outeiro, com bela vista para o mar de Ilhéus, cercada de plantas, muitas delas produtoras de alimentos. Ciceroneado por Dr. Rui, Geraldo Simões se mostrava encantado a cada parte da casa visitada, elogiando o bom gosto do anfitrião, “homem simples, mas de bom gosto”, conforme ressaltava Simões.

Mas o que mais chamou a atenção do visitante foi um pé de fruta-pão, planta muito comum nos quintais de antigamente, mas raridade nos dias de hoje. Por ser técnico em agropecuária de formação, Geraldo Simões elogiou a planta e demonstrando conhecimento, declinando, inclusive, num arroubo de sabedoria, o nome científico da árvore: Artocarpus altilis. Claro que fazia de tudo para impressionar o dono da casa.

Barriga cheia, conversa feita, martelo batido, ponta do prego virada, enfim, foi sacramentada a garantia da aprovação do nome de Rui Carvalho como um dos candidatos a deputado estadual pelo PT. Pelas contas feitas no calor de fino vinho do porto, Dr. Rui seria o campeão de votos, sairia consagrado de Ilhéus e visitaria outros municípios muito mais para garantir votos para a legenda, pedir votos para os colegas, além de visitar os amigos botafoguenses.

Mas como nem tudo são flores, três dias após a visita de Geraldo Simões, o médico ilheense começou a sentir que seu pé de fruta-pão começou a definhar e Dr. Rui, resolveu fazer uma inspeção mais apurada na planta. Bastou chamar um engenheiro agrônomo amigo seu para analisar o pé de fruta-pão que o diagnóstico foi incisivo, por parte do ceplaqueano.

– Dr. Rui, o problema é mais grave do que pensávamos, seu pé de fruta-pão foi atacado pela vassoura de bruxa – sentenciou.

A partir dessa data Dr. Rui começou a ter um pressentimento de que havia no algo mais no ar do que os aviões de carreira. Veio a eleição e, infelizmente, os prognósticos não foram exatamente os esperados – os de urnas consagradoras, com votação maciça para o candidato e os companheiros de partido. Há quem afirme que a candidatura do Dr. Rui Carvalho tenha sido acometida por fungos e pragas da política.

*Radialista, jornalista e advogado

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Itajuípe: 7 vereadores são reconduzidos para a próxima legislatura

 alhos & bugalhos

ITAJUÍPE: MARCONE AMARAL É REELEITO PREFEITO

Marcone Amaral (PSD) foi reeleito prefeito de Itajuípe, ele suplantou


candidata Si Dantas (PP).

Após a finalização das apurações, os números ficaram assim definidos:

Marcone Amaral (PSD)             7.126 (56.84%)

Si Dantas (PP)                          5.119  (40,83%)

Paulo Martinho PDT)                   292 (  2,33%)

Itajuípe: 7 vereadores são reconduzidos para a próxima legislatura


No pleito realizado  no dia de ontem (15), foram reeleitos 7 vereadores da atual legislatura.

Após a apuração os números ficaram assim definidos:

Lusiane Maia (PSD)                     773 votos (reeleita)

Mateus Mattos (Pode)                754 votos (reeleito)

Roney  Adriel    ((Pode)               639 votos (reeleito)

Jó Marabá (PSD)                         613 votos (reeleito)

Raul Estrela (PSD)                        598 votos (eleito)

Gean Silva (Pode)                         591 votos (reeleito)

Célia de Van Baster (PCdoB)         489 votos (eleita)

Ivan Jr. (PP)                                464 votos (reeleito)

Fábio Almeida (PP)                       463 votos (reeleito)

Edmilson Borges (Pode)                452 votos (eleito), retorna ao legislativo.

Klisman (PCdoB)                           351 votos (eleito)

Os vereadores eleitos representam: O Centro da cidade 03, Bairros 07 (Sagrado Coração de Jesus, Alto da Liberdade, Pitangueiras e distritos 01.

 

As Bancadas ficaram assim definidas

 

PSD - 03 vereadores

Podemos - 03 vereadores

PCdoB - 03 vereadores

PP - 02 vereadores.

Os vereadores João Magalhães da Silva e José Antonio de Jesus, não tentaram a reeleição.

 

Augusto Castro é o prefeito. Veja os vereadores eleitos


Do jornalsportnews.blogspot.com - Augusto Castro (PSD) obteve 39,50% dos votos válidos na disputa pela Prefeitura de Itabuna e venceu o pleito impondo vantagem de 23.051 votos para o segundo colocado, o ex-prefeito Capitão Azevedo (PL). Augusto encerra a disputa com 40.868 votos, enquanto Azevedo ficou com 17.817. A totalização dos votos pelo Tribunal Superior Eleitoral foi encerrada por volta das 23 horas, mas a Rede Brasil de Notícias já projetava a vitória de Augusto desde às 18 horas. O prefeito e candidato à reeleição, Fernando Gomes (PTC), obteve 15.876 votos. No quarto lugar, Dr. Mangabeira (PDT), 10.508. Surpresa na eleição deste ano, o médico Dr. Isaac Nery (Avante) obteve 7.498 votos. O ex-prefeito Geraldo Simões (PT) ficou em sexto lugar, com 5.653 votos. Charliane Sousa (MDB) teve 3.276 votos (3,17%). Edmilton Carneiro (PSDB) atingiu 869 votos. Professor Max (PSOL) 736. Pedro Eliodório (UP) obteve 193 votos e Alfredo Melo (PV), 164. Apenas quatro dos 21 vereadores foram reeleitos: o presidente Ricardo Xavier (Cidadania), Pastor Francisco (Republicanos), Ronaldão (PL) e Alex da Oficina (PTC). Da atual legislatura, nomes como Charliane, Guinho – eleito vice-prefeito, Aldenes Meira e Júnior Brandão estão entre os nomes que não disputaram reeleição. E como na disputa anterior, apenas uma mulher foi eleita: Wilma. 

 


VEREADORES ELEITOS

Pancadinha (PMN) – 1.574 votos

Manoel Porfírio (PT) – 1.500 votos

Sivaldo Reis (PL) – 1.389 votos

Pastor Francisco (Republicanos) – 1.305 votos

Ricardo Xavier (Cidadania) – 1.290 votos

Cosme Resolve (PMN) – 1.278 votos

Francisco (PSD) – 1.203 votos

Ronaldão (PL) – 1.175 votos

Alex da Oficina (PTC) – 1.159 votos

Gilson da Oficina (PL) – 1.157 votos

Luiz Júnior da Saúde (DC) – 1.113 votos

Solon Pinheiro (Solidariedade) – 1.076 votos

Israel Cardoso (PTC) – 1.052 votos

Piçara (Solidariedade) – 1.024 votos

Danilo da Nova Itabuna (PSL) – 941 votos

Wilma (PCdoB) – 864 votos

Nem Bahia (PP) – 774 votos

Erasmo Ávila (PSD) – 743 votos

Dando Leone (PDT) – 719 votos

Adão Lima (PSB) – 687 votos

Kaiá da Saúde (Avante) – 569 votos

OUTRAS CIDADES Tonho de Anízio (PT) foi reeleito de Itacaré. O petista impôs uma frente superior a 4.081 votos. Nas urnas, o adversário foi Nego de Saronga (DEM). Juraci da Saúde (PP) foi eleito prefeito de Barro Preto. O prefeito de Buerarema, Vinícius Ibrann (DEM), garantiu a reeleição no município. Em Ubaitaba, o candidato Bêda, que já governou o município por 3 vezes, foi eleito para o seu 4º mandato. O prefeito de Coaraci, Jadson (PP) foi reeleito neste domingo. Ele disputou a eleição contra quatro candidatos e venceu com mais de mil votos de frente. O prefeito de Uruçuca, Moacyr Leite (DEM) foi reeleito com mais de 2 mil votos de frente. Ele disputou a eleição contra dois candidatos e a diferença foi muito grande. O Padre Agnaldo (PDT) foi eleito em Firmino Alves. Ele governou a cidade de 2005 a 2012 e retorna ao poder. O prefeito Antônio Valete, PSD, conseguiu se reeleger em Jussari. Ele teve mais de 2.700 votos contra pouco mais de 1000 de Erisvaldo Moraes, PT, seu único concorrente. O candidato Professor Maurício (PSDB) foi eleito prefeito de Santa Cruz da Vitória. Ele foi apoiado pelo prefeito Carlos André (PTC) e venceu com uma diferença de 39 votos. O atual prefeito de Almadina, Milton Cerqueira (Podemos) foi reeleito neste domingo (15). Em Arataca, Ferlú (PSD) derrotou a atual prefeita Katiana de Agenor (PP) com 106 votos de diferença. Monalisa Tavares (DEM), é a nova prefeita de Ibicaraí, numa disputa acirrada onde houve até detenção do atual prefeito, Lula Brandão por estar fazendo "Boca de Urna". Esta será a segunda vez que a médica Monalisa administrará o municipio. Em Ilhéus, ganhou Marão e, em Canavieiras, Dr. Almeida.

Priskas Era 


Pensamento do Dia



Charge do Dia



Por hoje é só... Vou guardar a linha, a agulha e o dedal. Vou bater o martelo: Ponto Final.

Publicação simultânea: correioitajuipense.blogspot.com – academiaalcooldeitajuipe.blogspot.com e correioitajuipensedenoticias.blogspot.com *Redação o Bolso do Alfaiate.

 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

 

O CRAQUE BORRACHUDO E A BRONCA DA MAMÃE

 

Os radialistas Ramiro Aquino e Geraldo Santos

Por Walmir Rosário

O futebol é pródigo em tudo! E por isso mesmo – acredito eu – a razão de tanto sucesso. No futebol, as coisas erradas acabam dando certo e nem mesmo o politicamente correto consegue sobreviver. Ainda bem! É o futebol que faz muitos jogadores famosos – alguns conceituados –, embora efêmeros, não importa, embora também seja perverso com outros tantos que vão do céu ao inferno em bem pouco tempo.

Se todo o jogador que se preze pudesse jogar como atacante, marcando gols, por certo estaria em alta constante com a torcida, endeusado pelos feitos, um drible desconcertante ali, um gol de placa para ganhar o jogo, quem sabe o campeonato. É a glória. Já outras posições, principalmente as defensivas, já não conseguem sempre conviver com esse clímax, que digam os goleiros.

Pra não ter que encompridar esse “nariz de cera”, vamos ao que interessa: os apelidos dos jogadores. Sejam eles oriundo da infância – de casa ou da rua – ou os recebidos nos campos de futebol. Não causa espanto que uma grande parte dos apelidos tenha sido dados pelos cronistas esportivos – notadamente os repórteres de campo e narradores de partidas inconformados com a pronúncia ou bizarria.

No nosso futebol paroquiano – seja Itabuna, Ilhéus ou Salvador – os jogadores conhecidos por apelidos não são poucos e muitos fizeram história sem se importar de como passaram a ser conhecidos. O importante era jogar bola, e bem, seja em que posição atuasse. Há também casos em que os nossos cronistas esportivos simplesmente não gostaram do apelido e passaram a chamá-lo pelo nome, o que nem sempre deu certo.

Alguns apelidos são inesquecíveis e se encaixam perfeitamente nas pessoas – no caso os jogadores em questão – e o exemplo mais límpido é o de Pelé (Edson Arantes do Nascimento soa estranho); Garrincha, Mané Garrincha, tanto faz; Didi, o Folha Seca, o Príncipe Etíope, o Senhor Futebol, todos conhecem, mas se perguntarmos por Waldir Pereira...dará um trabalho danado para sabermos de quem se trata.

O Furacão da Copa também atende por Jair Ventura Filho, ou Jairzinho, sem qualquer problema, já o também botafoguense Heleno de Freitas era chamado de Príncipe Maldito, o que, convenhamos, não pega bem. Artur Antunes Coimbra ainda é chamado de Zico, um diminutivo dado pela família, mas os narradores da época gostavam de chamá-lo pela alcunha de Galinho de Quintino, sem qualquer problema.

Agora imaginem a mãe de um jogador de futebol ter que aturar a crônica esportiva chamar o seu mimoso filhote de Leandro Banana, Flávio Caça-Rato, Pinga (o herói do Hexa da Seleção de Itabuna). Cláudio Caçapa? Melhor a morte! Pior, ainda, é Cascata, Ruy Cabeção (ex-Botafogo), Yago Pikachu, Boquita, Rafael Ratão, embora pouco importassem que nomes os chamassem e sim o que futebol que jogavam.

Em certos casos os nomes de batismo e registro civil não pegam bem para um jogador de futebol. Imagine o narrador ter falar com rapidez que Parmênides passou a pela para Ariclenes, que driblou Pelópidas Guimarães. Esses nomes não deram certo nem no cinema e televisão, tanto que Ariclenes se transformou em Lima Duarte e Pelópidas passou a ser conhecido e chamado por Paulo Gracindo.

E assim é por esse mundo afora. Não foi diferente com um lateral-esquerdo do meu Botafogo do bairro Conceição, conhecido por Borrachudo. Para não perder a embocadura, nesta época o Botafogo de Rodrigo tinha o jovem Iaiá como um promissor goleiro e mecânico da empresa de ônibus Sulba. Ao ser convocado para Seleção de Itabuna não quis saber do apelido e só aceitava ser chamado por Aderlando, conforme lembra outro não menos famoso goleiro Raul Vilas Boas, também conhecido no futebol por Marcial (goleiro do Flamengo) pelas pontes que cometia para pegar as bolas altas.

Como sempre, a mídia acredita que sempre sabe das coisas e o grande narrador da época, Geraldo Santos (hoje Borges), e o repórter e comentarista Ramiro Aquino resolveram dar uma forcinha para Borrachudo. Apesar de experientes, a dupla nunca tinha visto um apelido desse, e logo no jovem reserva do Botafogo que assumiria a titularidade o apelido poderia ser um fator negativo.

Tudo combinado na emissora e no dia seguinte começa o jogo no velho campo da desportiva entre o Botafogo e Fluminense. E o nosso lateral-esquerdo fez valer sua ascensão e foi um dos destaques do jogo. Só que em vez de Borrachudo, os radialistas Geraldo Santos e Ramiro Aquino se esmeraram em chamar o jovem pelo seu nome de batismo: José Carlos, como tinham prometido.

No dia seguinte, ao chegarem à emissora para apresentarem a resenha esportiva, o jovem Borrachudo, destaque no jogo, esperava os radialistas para que consertassem um mal-entendido que lhe causou dissabores em casa. É que a senhora mãe de Borrachudo – agora José Carlos – passou-lhe o maior sabão por ele ter dito que jogaria naquela tarde e seu nome sequer apareceu no rádio. Ela não tinha ouvido uma vez sequer na transmissão.

Desse dia em diante a dupla Geraldo Santos e Ramiro Aquino desistiu do intento de mudar os nomes dos jogadores, se esmerando para tornar as transmissões mais humanizadas. José Carlos voltou a ser chamado de Borrachudo e o seu colega goleiro Aderlando, que não teve grande êxito na seleção itabunense, voltou a ser chamado pela crônica esportiva de Iaiá. Sem traumas!


quarta-feira, 4 de novembro de 2020

O DELEGADO QUERIA INDICIAR A TADINHA DA FLORISBELA em novembro

 

O DELEGADO QUERIA INDICIAR A TADINHA DA FLORISBELA

 

Florisbela seria levada a júri

Por Walmir Rosário

No final dos anos 80 do século passado (1980 e tantos) ainda predominavam nas cidades de pequeno porte os delegados sem formação jurídica, os chamados “delegados calça curta”. E um desses delegados atuava na cidade de Itapé, no sul da Bahia. Diligente, nada escapava que não fosse transformado em inquérito, desde um pequeno bate-boca sem chegar às vias de fato, até a ocorrência de um homicídio.

Até para manter a fama de mau com a simples finalidade de manter a ordem a qualquer custo, o delegado fazia valer a sua nomeação para o cargo de autoridade policial sempre cuidando do cumprimento da lei. Não importava o crime ou contravenção penal, o transgressor era obrigado a se explicar na delegacia, em flagrante, ou prestar depoimento para o competente ser instaurado.

Com isso, o promotor de justiça que atuava numa das Varas do Crime da Comarca de Itabuna (que abrangia Itapé) tinham um trabalho redobrado para analisar esses inquéritos e verificar as possibilidades de transformá-los em processo, oferecendo denúncia. E não era fácil, tendo em vista que, por mais que o escrivão e delegado se esforçassem, o trabalho não era considerado um “primor jurídico”, mas nada ficava sem a devida apreciação do Ministério Público.

Um desses inquéritos chamou a atenção do promotor público, ex-militante da advocacia, professor de Direito Penal e Processo Penal, tribuno dos mais eloquentes, daqueles que empolgam tanto a plateia como os jurados, convencendo-os da imputação do crime. E no inquérito que recebeu, por mais que o nosso promotor se esforçasse, não conseguia acreditar no que estava lendo.

E não foi por falta da devida atenção, pois assim que o inquérito lhe chegou às mãos, o promotor examinou com toda a atenção, para tentar se convencer sobre as imputações feitas pelo escrivão, claro que obedecendo às ordens do delegado. Por mais que apurasse sua atenção, não conseguia vislumbrar a tipificação penal ali descrita e a capacidade da ré, nominada Florisbela.

Zeloso com seu trabalho recorreu às emendas constitucionais votadas pelo Congresso Nacional, mais nada se encaixava, pior ainda, os congressistas não tinham legislado sobre Direito Penal, seja ele substantivo ou adjetivo. E o professor lia e relia o inquérito até que resolveu chamar um colega para passar o inquérito a limpo: ele simplesmente não acreditava no que estava escrito.

Afinal, todo esse esforço intelectual não teria sentido, pois uma simples análise perfunctória demonstraria ter sido desnecessária a utilização de tanto palavreado. Conforme se verificava no inquérito, ao comparecer para cumprir seu ofício no curral da fazenda onde trabalhava, o vaqueiro foi surpreendido por uma chifrada da vaca Florisbela, desequilibrando-se. Ao cair, bateu a cabeça numa pedra e foi a óbito.

Pra começo de conversa, apesar de ser conhecida por Florisbela, o que pode ter levado o delegado a erro, uma vaca é inimputável (quando não há a possibilidade de se estabelecer o nexo entre a ação e seu agente, pois só o homem possui a capacidade para delinquir); não tem capacidade penal (que ocorre nos casos em que não há qualidade de pessoa humana viva e quando a lei penal não se aplique a determinada classe de pessoas, imagine a bovinos).

Também observou o objeto do delito (aquilo contra que se dirige a conduta humana que o constitui; para que seja determinado, é necessário que se verifique o que o comportamento humano visa; o objeto jurídico do crime e o bem ou interesse que a norma penal tutela). No máximo, o delegado poderia ter cumprido o seu mister em registrar a ocorrência para evidenciar a responsabilidade civil do proprietário de Florisbela.

Apos se dar conta da peça inócua que tinha em mãos, o zeloso promotor público pediu o arquivamento do inquérito, pelo simples motivo de que a vaca Florisbela não poderia ser sujeitada a aos rigores da lei. Sem dúvida alguma, foi a chifrada da Florisbela que ocasionou a queda do desavisado vaqueiro, acostumado à lida diária de tirar o leite da vaca pela manhã.

Naquele dia, não se sabe ao certo, quais os verdadeiros motivos da possível zanga da vaca Florisbela com seu vaqueiro, que a tratava com o devido cuidado e respeito ao bezerro, para que conseguisse tirar mais leite. A fatalidade matou o vaqueiro, e pelo que consta, a vaca não premeditou o crime, pois não tem juízo para agir como os humanos violadores da lei.

Inquérito, arquivado, extinto, o promotor não conseguia acreditar a razão que teria o delegado em enquadrar uma simples vaca aos rigores da lei, submetendo-a ao júri popular, sem qualquer precedente na história da humanidade. Pelo visto, nunca neste país um delegado “calça curta” causou tanto problema para o Ministério Público e a Justiça, sem sofrer qualquer penalidade.