sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Pirangi/Itajuípe, 73 anos de história


Redescobrindo Itajuípe após 73 anos

 


Antes matas densas, chão calejado

Pelos pés dos jagunços, nome indígena

Ita: "pedra" 

Ju: "espinho" 

Y: "água" 

Pè:  "caminho”,

Frutos dourados, adubos

Feitos de sangues, terra prometida

Para alguns.

 

O Almada, clama, os paralelepípedos agora

Coberto pelo ouro negro não respiram,

As águas de dezembro avizinham-se, Deus

Queira que não.

 

Muitas memórias perdidas, o

Progresso não contemplam a todos,

As feridas ainda não cicatrizadas

Latejam, o sol também se levanta,

Protestando, não sei, a lua é uma

Boa mediadora, as estrelas antes

Encantadas, estão em silêncio.

 

O progresso está lento, não vejo

Cansaços na minha septuagenária

Itajuípe, antes Pirangi, a vejo com

Aquele vigor juvenil, jogando na

Antiga desportiva entre bolas de

Panos, hoje sintéticas.

 

Parabéns Itajuípe, hoje o seu nato

Filho te saúda e te presenteia com

Uma bola de cristal, afinal: o futuro

A Deus pertence.

 

Cláudio Luz

 

 

O município de Itajuípe celebra hoje (12), 73 anos de emancipação política e administrativa, através da Lei Estadual nº. 507, de 12 de dezembro de 1952 sancionada pelo então Governador Régis Pacheco, criando o município de Itajuípe, antes Pirangi.


Estação do Sequeiro de Espinho

O atual município de Itajuípe tem suas origens na região do Sequeiro do Espinho, que pertencia a Ilhéus e se estendia até o município de Iguaí. O povoamento do território iniciou-se no final do século XIX, com a chegada dos primeiros pioneiros, que iniciaram o desmatamento e a formação de fazendas de cacau. Por volta de 1918, outras famílias se estabeleceram à margem direita do Rio Almada, iniciando o povoado Pirangi.


Em 1930, instalou-se uma subprefeitura no arraial de Pirangi, subordinada ao município de Ilhéus. O nome foi alterado em 1943 para Itajuípe, vocábulo tupi que significa rio das pedras. O município foi desmembrado em 1962 para formar o a cidade de Barro Preto.

Formação Administrativa


Distrito criado com a denominação de Pirangi, pelo Decreto Estadual n.º 8678, de 13-10-1933, subordinado ao município de Ilhéus.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de Pirangi, figura no município de Ilhéus.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937.
Pelo Decreto-lei Estadual n.º 141, de 31-12-1943, confirmado pelo Decreto Estadual n.º 12978, de 01-06-1944, o distrito de Pirangi tomou a denominação de Itajuípe.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o distrito de Itajuípe (ex-Pirangi), figura no município de Ilhéus.
Elevado à categoria de município com a denominação de Itajuípe, pela Lei Estadual n.º 507, de 12-12-1952, desmembrado de Ilhéus. Sede no antigo distrito de Itajuípe. Constituído de 3 distritos: Itajuípe e Barro Preto, ambos desmembrados de Ilhéus.
Pela Lei Estadual n.º 628, de 30-12-1953, o município de Itajuípe adquiriu do município de Ilhéus o distrito de Bandeira do Almada (ex-União Queimada), alterado pela mesma lei acima citada.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o município é constituído de 3 distritos: Itajuípe, Bandeira do Almada e Barro Preto.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1960.
Pela Lei Estadual n.º 1678, de 17-04-1962, desmembra do município de Itajuípe o distrito de Barro Preto. Elevado à categoria de município.
Em divisão territorial datada de 31-XII-1963, o município é constituído de 2 distritos: Itajuípe e Bandeira do Almada.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2015.

 

Pirangi/Itajuípe


O saudoso Cloil "Doutorzinho"
Amambay de Oliveira


pirangiense

 
1. Indivíduo nascido ou que vive em Pirangi (Ba).

 

2. De Pirangi; típico dessa cidade ou de seu povo.

 

Itajuipense pirangiense

(Ita-ju-i-pense)

 

1. Indivíduo nascido ou que vive em Itajuípe (Ba).

 

2. De Itajuipe; típico dessa cidade ou de seu povo.

 

Itajuípe (Pirangi) é assim, e essa é a minha história.

Topônimo


Rio Almada

O topónimo Itajuípe é de origem indígena e significa "caminho das águas entre pedras e espinhos". A palavra é composta por: 

  • Ita: Significa "pedra" 
  • Ju: Significa "espinho" 
  • Y: Significa "água" 
  • Pè: Significa "caminho" 

O nome representa a região do rio Almada, que era cheia de pedras e espinhos e servia como caminho de saída da cidade. 

A história do município de Itajuípe é a seguinte: 

  • O povoado Sequeiro do Espinho, que pertencia a Ilhéus, foi estabelecido no final do século XIX 
  • Em 1918, o povoado Sequeiro do Espinho passou a ser chamado de Pirangi 
  • Em 1930, Ilhéus instalou uma subprefeitura em Pirangi 
  • Em 1943, o município passou a ser chamado de Itajuípe 
  • Em 1952, o município foi desmembrado de Ilhéus e emancipado politicamente e administrativamente 

·          

·         Cronologia do escritor Itajuipense Adonias Filho

 

·        



1915 - Nasce Adonias Filho em 27 de novembro, em Itajuípe, antigo Pirangi, vila que pertencia ao município de Ilhéus, no sul da Bahia. Filho de Adonias Aguiar e Rachel Bastos de Aguiar. 1934 - Conclui o curso secundário no Ginásio Ipiranga, em Salvador. 1936 - Muda-se para o Rio de Janeiro e inicia a carreira de jornalista no ano seguinte, colaborando no Correio da Manhã. 1938 - Assume a crítica literária de os Cadernos da Hora Presente, de São Paulo. Colabora em O Jornal, dos Diários Associados (Rio), e traduz O Pântano do Diabo, de George Sand, A Família Bronte, de Robert de Traz, e trabalha na tradução de três romances de Jacob Wassermann: Galovin, Gaspar Hauser e O Processo Maurizius, em colaboração com Otávio de Faria. 1944 - Exerce a crítica literária no jornal A Manhã e colabora no Jornal do Comércio, do Rio, e Estado de São Paulo e Folha da Manhã, de São Paulo. 8 1945 - Casa-se com Rosa Galeano. 1946 - Designado para dirigir a editora A Noite, onde permanece até 1950. Faz sua estreia como romancista com Os Servos da Morte, publicado pela José Olympio. 1948 - Nasce a filha Raquel. 1950 - Nasce o filho Adonias Neto. 1952 - As Edições O Cruzeiro publica Memórias de Lázaro, romance. 1954 - É nomeado diretor do Serviço Nacional do Teatro. 1955 - É designado para diretor substituto do Instituto Nacional do Livro. 1956 - Retorna em nova nomeação ao cargo de diretor do Serviço Nacional do Teatro. No mesmo ano pede demissão. 1957 - Faz crítica literária no Jornal de Letras, de Elysio Condé, e no Diário de Notícias, do Rio. 1961 - Nomeado como diretor geral da Biblioteca Nacional. 1962 - Publica pela Editora Civilização Brasileira seu terceiro romance, Corpo Vivo, sucesso de crítica, despertando os primeiros estudos sobre a sua obra. 1964 - É designado para, como diretor da Biblioteca Nacional, responder pelo expediente da Agência Nacional, do Ministério da Justiça. 1965 - Publica O Forte, romance. No dia 14 de janeiro é eleito para a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras. Agraciado com a Ordem do Mérito Militar, no grau de Comendador, no Corpo de Graduados Especiais. 1966 - Eleito vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa. 1967 - Participa do II Congresso das Comunidades de Cultura Portuguesa, em Moçambique, na África, como convidado do governo português. 9 Visita os Estados Unidos. A Universidade do Texas adquire os direitos autorais de Memórias de Lázaro, já traduzido por Fred Ellison. Curt Mayer Clason traduz e a editora alemã Econ-Claassen publica O Forte. A editora Europa-América, de Lisboa, adquire os direitos autorais para este mesmo romance. É designado como membro do Conselho Federal de Cultura. 1968 - Com Léguas da Promissão, novelas, recebe o Prêmio Paula Brito. Conquista o Golfinho de Ouro de Literatura, prêmio patrocinado pelo Museu da Imagem e do Som da Guanabara. 1969 - Conquista com Léguas da Promissão o prêmio da Fundação Educacional do Paraná. Publica O Romance Brasileiro, livro de ensaios. 1971 - Publica Luanda Beira Bahia, primeiro romance em nossas letras com o cenário caracterizado em três latitudes. 1973 - Publica Uma Nota de Cem, seu primeiro livro para crianças. 1975 - Lança As Velhas, considerado obra-prima pela crítica, e que lhe rende o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, São Paulo. 1976 - Publica o ensaio Sul da Bahia: Chão do Cacau. 1978 - A Civilização Brasileira edita Fora da Pista, novela para o público juvenil. 1981 - Publica o Auto dos Ilhéus, edição para comemorar o Centenário da Cidade sul baiana, e O Largo da Palma, contos e novelas. 1983 - Publica Noite sem Madrugada, romance policial, com cenas, situações e episódios que acontecem no Rio. Recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia. 1985 - Permanece residindo no Rio, mas visita mais vezes sua fazenda Aliança, perto de Itajuípe. Publica Um Coquinho de Dendê, destinado ao leitor infantil. 1987 - Publica O Homem de Branco, biografia romanceada de Jean-Henri Dumont, o suíço fundador da Cruz Vermelha. 1990 - Vende, em definitivo, os direitos autorais de Os Bonecos de Seu Pope, livro infantil, às Edições de Ouro, para custear a doença da esposa Rosa Galeano, que vem a falecer. Na sua fazenda Aliança falece, em 2 de agosto do mesmo ano. 1993 - A novela O Menino e o Cedro, juvenil, é publicada pela Editora FTD, em edição póstuma.

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·         Acontecimentos:

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·         Aqui na minha cidade aconteceram as locações dos filmes "Os Deuses e os Mortos, de Ruy Guerra,


Os Magníficos e A Coleção Invisível, do renomado cineasta francês, Bernard Attal.

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Tivemos no primeiro as presenças de Othon Bastos, Dina Sfat, Norma Benguell, Milton Nascimento entre outros. Na Coleção Invisível, tivemos como ator principal Wladimir Britcha,

·       e de Walmor Chagas e Paulo Cesar Pereio, em suas últimas aparições antes de falecer.

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·      Cláudio Luz

·          


No registro Cláudio Luz com o seu
saudoso pai Lafaiete Souza

·         Cláudio Marcelo da Luz Souza “Cláudio Luz, ou Luz do Almada”, é poeta, contista e historiador das coisas itajuipense.

·          


·        Obras Literárias:

·         Nostalgia do que se foi - (Poesias), lançado em 2025)

·         Futuros lançamentos no prelo:

·         Poesias do Almada - (Poesias),

·         Deixa que eu conto - (Casos e causos Pirangienses e Itajuipenses),

·         Logos Existo (Poesias)

·         Sinopse do meu amor por ti (Poesias).

 

·         Blogs:

·          

·         Publicações diárias nos meus blogs: apoesiadeclaudioluz.blogspot.com, que conta até presente data de hoje com 51.228 acessos.

·         Ainda publico notícias gerais nos blogs de minha responsabilidade

·         correioitajuipense.blogspot.com, 636.684 acessos

·         Academiaalcooldeitajuipe.blogspot.com, com 136.479 acessos

·         correioitajuipensedenoticias.blogspot.com, com 63.972 acessos


Reconhecimentos:




Fonte: IBGE/Arquivo de Cláudio Luz

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Sonho americano


Sonho americano

 


"A TRAGÉDIA OCULTA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: TERRA DE MENDIGOS, FAMINTOS E DOENTES DESESPERADOS

Em uma rápida conversa de supermercado, hoje, ouvi que "lá nos Estados Unidos não tem pobreza, e todos podem pagar por serviços privados".

Sim, eu discordei e retorqui, mas não havia tempo nem instrumento para aprofundar minha argumentação.

O relógio contínua a me apressar, nesta quinta-feira de muito trabalho. Mas quero expor, por aqui, alguns dados da tragédia norte-americana.

Serve para que as amigas e amigos possam contestar a apologia do regime estadunidense, especialmente aquela constituída pela extrema-direita nacional.

Vamos lá, com dados oficiais. Segundo o U.S. Department of Housing and Urban Development (HUD), na contagem “point-in-time” de janeiro de 2024, cerca de 771.480 pessoas estavam vivendo em situação de “homelessness”.

Em outras palavras, eram sem-teto.

Detalhe importante: no ano anterior, eram 653.104. Ou seja, o número de marginalizados está crescendo, dia após dia.

Este é o piso estatístico. Mas há muita subnotificação. Muita gente vive de favor na casa de um parente ou amigo. Outros estão em prédios abandonados.

E lá é comum que as pessoas vivam dentro de seus carros. Assista ao filme "Nomadland", com Frances McDormand.

Para conhecimento geral: há muitos brasileiros imigrantes vivendo em veículos por lá.

Vamos nos aprofundar nessa tragédia humanitária. Estudos da National Alliance to End Homelessness, da USC e da UCLA mostram que entre 900 mil e 1,3 milhão de pessoas não têm moradia estável.

Não estão nas ruas diariamente, mas pulam de abrigo em abrigo, refugiam-se em fábricas desativadas, dividem um canto num ônibus velho ou dormem em uma estação rodoviária.

As chamadas pesquisas longitudinais indicam que, ao longo de 12 meses, o número de americanos que experimentam situação de rua, mesmo que não contínua, é de assombrosos 3,5 milhões de pessoas.

Isso tudo na capital do Império ocidental, onde estão as famílias mais ricas e esbanjadoras do mundo.

Mas não é somente esta a catástrofe norte-americana. O dado a seguir tem como fonte relatórios oficiais do United States Department of Agriculture (USDA), contextualizados por ONGs e organizações de combate à fome, sobretudo a Feeding America.

Hoje, 47,4 milhões de pessoas nos EUA acordam pela manhã e não sabem se terão o que comer.

Ou seja, na terra dos mais impressionantes banquetes dos magnatas do capital, boa parte da população obtém comida na lata de lixo.

Desses 47,4 milhões de desnutridos, 19,3 milhões são pessoas brancas não hispânicas.

Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em 2024, cerca de 27,2 milhões de pessoas não tinham qualquer cobertura médica.

Assim, precisavam se virar em casa quando tinham uma pneumonia, perdiam um dedo ou enfrentavam uma intoxicação.

Segundo Health Justice Monitor, pode-se acreditar que, anualmente, até 200 mil pessoas morram nos Estados Unidos em razão da falta de tratamento médico básico.

Os EUA não têm SUS, vale sempre lembrar.

Na Science Daily, há um estudo deste ano afirmando que a mortalidade evitável continua crescendo no país, ao contrário do que ocorre em muitas nações ricas.

São pessoas velhas ou mesmo jovens que descem à tumba vítimas de causas tratáveis ou preveníveis, como acidentes, infecções e doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.

E por qual motivo esse é, hoje, um país tão ruim para se viver?

Primeiramente, pela desigualdade extrema. A riqueza é enorme, mas criminosamente concentrada.

Não adianta ter PIB alto se o dinheiro fica, em grande parte, nas mãos dos tubarões capitalistas.

O modelo de proteção social dos Estados Unidos é precário, resultado da convenção social determinista protestante-capitalista de que dar-se bem na vida é a prova de que o indivíduo foi um dos escolhidos de Deus.

Em comparação com países europeus ocidentais e mesmo com o Brasil, o imenso feudo de Donald Trump tem menos políticas universais de bem-estar, menos seguro-desemprego abrangente, quase nenhuma saúde pública e menos programas de renda garantida.

O Supplemental Nutrition Assistance Program (SNAP), uma espécie de “vale-alimentação” americano, tem valor baixo e cobertura é limitada.

Ao mesmo tempo, com o avanço das políticas privadas de maximização de lucro, a moradia, a saúde e a alimentação são cada vez mais caras.

Trump acabou com várias das regulações que protegiam os consumidores-cidadãos, de modo a incrementar o faturamento das grandes corporações.

Na era da digitalização forçada, operada pelas Big Techs, todas elas alinhadas com o governo republicano, o trabalho está se precarizando rapidamente.

Os empregos remanescentes têm salários baixos, poucos benefícios e jornadas extremas de trabalho, como o agora popular 996. São seis dias de trabalho, com início às 9h00 e finalização às 21h00.

Há também um forte estigma cultural contra programas sociais, e muitos estados dificultam acesso por meio de regras extremamente restritivas.

Pessoas em áreas rurais, migrantes, idosos, mães solo e minorias raciais enfrentam obstáculos extras. Sem redes de apoio e com políticas insuficientes, tornam-se os primeiros a perder o teto, a desnutrir-se e a adoecer.

Nos EUA, vale dizer, prevalece a matriz de pensamento individualista e o “self-reliance”.

Assim, pedir auxílio alimentar é visto como preguiça. Receber o SNAP equivale a mostrar publicamente incompetência, indolência e aceitação do fracasso. Usar os food banks, os bancos de alimentos, é motivo de vergonha.

Documentos de ONGs mostram que pessoas caminham quilômetros para pegar comida em cidades onde ninguém as conhece, para evitar o estigma.

Viu-se a entrevista de uma mulher no Alabama que esperou a noite para ir ao banco de alimentos “a fim de não ser vista pelos vizinhos”.

Mas tudo ainda é pior. Vários estados, especialmente os governados por republicanos, impõem regras que dificultam o acesso ao socorro público.

É o caso da obrigatoriedade de comprovar 20 horas semanais de trabalho para adultos sem dependentes.

É o caso da revisão compulsória de documentos. Qualquer erro na papelada e o benefício é suspenso.

No Arkansas, milhares de pessoas perderam o SNAP porque não conseguiram comprovar horas de trabalho. E não foi porque não trabalhavam.

Mas porque, na era da precariedade laboral, seus empregos tinham horários irregulares. Eram pessoas que, por exemplo, ganhavam a vida em supermercados, motéis e fast foods.

Os serviços são feitos para não funcionar. Em estados como Texas e Arizona, filas telefônicas para pedir ou renovar o SNAP chegam a duas ou três horas.

Um relatório da Urban Institute descreve uma idosa texana que ficou três meses sem SNAP porque seu atestado médico de incapacidade foi recebido com atraso pelo sistema digital do estado.

Já gravemente afetada pela fome, brutalmente enfraquecida, só voltou a receber o benefício após a intervenção de assistentes sociais.

Migrantes, mesmo documentados, muitas vezes evitam pedir benefícios por medo de serem vistos como “pesados” para o governo. Na vigência do “public charge”, muita gente parou de pedir SNAP por receio de comprometer os processos de imigração.

Hoje, a situação é desesperadora, com as tropas de Trump perseguindo imigrantes nas ruas, invadindo casas, igrejas e instituições beneficentes.

Organizações na Califórnia relatam que famílias de origem latino-americana deixaram de pedir comida para seus filhos norte-americanos (os nascidos lá têm esse direito adquirido) porque temem ser deportadas.

A situação de muitos idosos também é aflitiva. Um estudo de Boston mostrou que 1 em cada 5 idosos atendidos por “Meals on Wheels” relatava ter ficado sem comida ao menos um dia por semana.

As mães solo estão as principais vítimas da insegurança alimentar. Faltam creches públicas. Sem creche, elas não conseguem trabalhar; sem trabalhar, perdem benefícios; sem benefícios, não têm como comprar comida.

Em Detroit, ONGs registram que essas mulheres esperam até quatro meses pela aprovação de auxílio, e nesse período dependem exclusivamente de doações comunitárias.

Nas reservas indígenas, a situação também é gravíssima. A cesta básica do supermercado tributarizado pode custar o dobro do preço cobrado em cidades próximas. E o SNAP muitas vezes não oferece valor suficiente para a compra de alimentos frescos.

Detalhe, o benefício do SNAP não é entregue em dinheiro. Ele vem em um cartão chamado EBT (Electronic Benefit Transfer), que funciona como um cartão de débito.

Em 2022, segundo o National Institute of Mental Health (NIMH), cerca de 59,3 milhões de adultos, ou seja, 23,1% da população adulta dos EUA apresentavam algum tipo de transtorno mental (“Any Mental Illness”, AMI).

Entre os jovens adultos, de 18 a 25 anos, essa taxa já era de 36,2%. De acordo com o relatório de 2024 da Mental Health America (MHA), uma parcela expressiva da juventude já relatou pensamentos suicidas sérios.

O suicídio é uma das faces mais trágicas da profunda crise estadunidense. Em 2022, os EUA registraram cerca de 49.449 mortes por suicídio, o número mais alto já medido, segundo dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC).

Além das mortes, a ideação suicida atinge milhões: segundo relatório de 2024 da Mental Health America, cerca de 5,5% dos adultos relatam pensamentos suicidas sérios. Significa que 14 milhões de pessoas cogita de tirar a própria vida.

Apesar do sofrimento psicológico coletivo, grande parte das pessoas não tem acesso a qualquer tipo de tratamento. O recurso imediato e insatisfatório, muitas vezes, é consumo de álcool e drogas.

Está é, pois, a realidade, nua, crua e documentada dos Estados Unidos da América, a capital do neoliberalismo e, hoje, o centro de disseminação do neofascismo.

Que continuemos a fazer nosso próprio caminho.

BIBLIOGRAFIA

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Suicide deaths in the United States, 2022. Atlanta: CDC, 2023. Disponível em: https://www.cdc.gov

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CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Health insurance coverage: early release of estimates from the National Health Interview Survey, 2024. Atlanta: CDC, 2024. Disponível em: https://www.cdc.gov

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FEEDING AMERICA. Hunger in America: national report. Chicago: Feeding America, 2023. Disponível em: https://www.feedingamerica.org

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HEALTH JUSTICE MONITOR. Avoidable deaths and health care inequity in the United States. Washington (DC): HJM, 2024. Disponível em: https://healthjusticemonitor.org

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MENTAL HEALTH AMERICA (MHA). The State of Mental Health in America – 2024 Report. Alexandria (VA): MHA, 2024. Disponível em: https://mhanational.org

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MENTAL HEALTH AMERICA (MHA). The State of Mental Health in America – 2025 Report. Alexandria (VA): MHA, 2025. Disponível em: https://mhanational.org

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SCIENCE DAILY. Avoidable mortality rising in the United States, study finds. Rockville (MD): Science Daily, 2024. Disponível em: https://www.sciencedaily.com

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UNIVERSITY OF SOUTHERN CALIFORNIA (USC). Homelessness Analysis and Longitudinal Tracking Reports. Los Angeles: USC, 2024. Disponível em: https://www.usc.edu

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URBAN INSTITUTE. SNAP access barriers and administrative burdens: a national analysis. Washington (DC): Urban Institute, 2023. Disponível em: https://www.urban.org".

Do Jornalista Walter Falceta