PAPA FRANCISCO, DANTE
ALIGHIERI E A REGINA COELI
A
importância de A Divina Comédia, de Dante, ultrapassa os séculos porque reflete
a condição humana em todos os seus estágios, notadamente o ético e o
espiritual, além de encerrar tesouros estéticos de literatura e teologia, assim
reconhecidos por diversos pontífices.
Dante, profeta da esperança
Em mensagem enviada ao Senado da República Italiana, em maio passado,
quando das comemorações alusivas ao 750º aniversário de Dante, excelso e
imorredouro poeta universal, Sua Santidade lembrou, para o fascínio dos
admiradores e, principalmente, dos pesquisadores da monumental obra literária
dantesca, a representatividade atemporal da condição humana – em todos os
sentidos e situações - genuinamente traduzida em cada um dos versos da mais
apurada estética poética medieval, contidos na enciclopédia dos sentimentos
humanos, ‘A Divina Comédia’, enriquecendo a bibliografia do florentino ao
divulgar registros, quiçá por muitos desconhecidos ou pouco referenciados, de
haver sido integralmente dedicada a Dante, no sexto centenário de sua morte, em
abril de 1921, pelo Papa Bento XV, a Encíclica ‘In Praeclara summorum’, como
também, mais recentemente, a Carta Apostólica ‘Altissimi cantus’, subscrita por
Paulo VI, por ocasião do encerramento do Concílio Vaticano II, em dezembro de
1965.
Para Bento XV, valeria afirmar “a íntima união de Dante com a Cátedra de Pedro”, visto ter “extraído da fé divina um poderoso impulso de inspiração”; Paulo VI, de outra banda, pontuou o caráter humanístico, de cunho prático e transformador da Comédia, por não “ser só poeticamente bonita e moralmente boa, mas em grau elevado de mudar de maneira radical o homem e de o levar da desordem à sabedoria, do pecado à santidade, da miséria à felicidade, da contemplação terrificante do Inferno à beatificante do Paraíso (...) Dante é nosso! Da fé católica”.
Entende Francisco, o Papa da tolerância e das conciliações, após lembrar a mesma admiração por Dante representada nos escritos de seus antecessores mais próximos, são João Paulo II e Bento XVI, que a principal obra do Poeta pode ser lida e absorvida como um itinerário sem fim, uma peregrinação introspectiva, ou mesmo comunitária, eclesial; uma viagem de purificação e autenticidade em prol da humanidade, visando “alcançar uma nova condição, marcada pela harmonia, paz e felicidade: horizonte de todos os humanismos autênticos”.
Monumento à beleza, os versos da viagem dantesca – Inferno, Purgatório e Paraíso – reproduzem, em símbolos, alegorias e juízos valorativos extremamente elaborados (inclusive sobre personagens históricos), as sensações terrenas e espirituais não apenas do homem medieval, mas inatas a qualquer criatura humana que busca compreender a riqueza e mistério dos múltiplos estágios do existir, vivenciados ou imaginados, a partir do seu microcosmo e em direção à eternidade, ao infinito, ao absoluto, onde, em versos, honrou o Poeta a Virgem Maria, ideal do gênero humano por gerar o Cristo: “(...) por Ti se enobreceu tanto a natureza humana/ a tal ponto que o Criador, ao se encarnar,/ não desdenhou em tomar a forma de sua humana criatura./ Em teu seio aviventou-se o amor,/ que ardendo pela eternidade afora,/ fez germinar esta Flor e o Paraíso inteiro!/ No Céu, és a meridiana luz da caridade;/ na Terra, a fonte viva da esperança para a frágil humanidade!/ Senhora, és tão grande, tão poderosa,/ que pedir graças ao Céu, sem teu auxílio,/ é o mesmo que desejar voar sem dispor de asas!/ Tua benignidade não socorre unicamente a quem ora, pedindo;/ mas antes, vezes sem conta, antecipa o pedido e a prece!/ Em Ti misericórdia, piedade, magnificência/ estão somadas a tanta bondade quanto pode existir, junta, em todas as criaturas!” (Paraíso, Canto XXXIII, 1-7).
Com Dante, a exemplaridade da maternidade divina estaria acompanhada, naqueles cenários idílicos de intensos e circundantes sons, aromas e luzes celestiais, da comunhão dos Santos e de espetáculos eternos e paradisíacos de belezas e bem-aventuranças tão inexprimíveis pela fala humana, “que a memória não alcança sequer em reevocar tanta perfeição”. Maria, no Paraíso, é a Rosa Mística onde o Verbo Divino se fez carne, e em que “os lírios abriram-se, em suave odor, aos caminhos da Verdade”. Plena do mais puro amor, da paz eterna e rodeada de alegrias e de coros angélicos que entoavam o Regina Coeli ("Rainha do Céu, alegrai-vos! Aleluia! Porque quem merecestes trazer em vosso seio, ressuscitou, Aleluia!...") e a Ave, Maria, gratia plena!, Dante, por Ela, em sua jornada espiritual reproduzida no divino poema, finalmente contemplou a suprema e beatífica visão do Uno, do Lume Eterno, “pois o Bem, que é o objetivo da vontade humana, estava diante da minha vontade, sendo n’Ele tudo perfeito, e tudo imperfeito fora d’Ele”.
Palavras do Papa Francisco: “Dante, profeta da esperança do sentido perdido ou ofuscado do percurso humano”.
Lucas Santos Jatobá
Pós-graduado em Direito Penal
Diretor jurídico na Pres. do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Recife-PE
e-mail: ljatoba@elogica.com.br
Para Bento XV, valeria afirmar “a íntima união de Dante com a Cátedra de Pedro”, visto ter “extraído da fé divina um poderoso impulso de inspiração”; Paulo VI, de outra banda, pontuou o caráter humanístico, de cunho prático e transformador da Comédia, por não “ser só poeticamente bonita e moralmente boa, mas em grau elevado de mudar de maneira radical o homem e de o levar da desordem à sabedoria, do pecado à santidade, da miséria à felicidade, da contemplação terrificante do Inferno à beatificante do Paraíso (...) Dante é nosso! Da fé católica”.
Entende Francisco, o Papa da tolerância e das conciliações, após lembrar a mesma admiração por Dante representada nos escritos de seus antecessores mais próximos, são João Paulo II e Bento XVI, que a principal obra do Poeta pode ser lida e absorvida como um itinerário sem fim, uma peregrinação introspectiva, ou mesmo comunitária, eclesial; uma viagem de purificação e autenticidade em prol da humanidade, visando “alcançar uma nova condição, marcada pela harmonia, paz e felicidade: horizonte de todos os humanismos autênticos”.
Monumento à beleza, os versos da viagem dantesca – Inferno, Purgatório e Paraíso – reproduzem, em símbolos, alegorias e juízos valorativos extremamente elaborados (inclusive sobre personagens históricos), as sensações terrenas e espirituais não apenas do homem medieval, mas inatas a qualquer criatura humana que busca compreender a riqueza e mistério dos múltiplos estágios do existir, vivenciados ou imaginados, a partir do seu microcosmo e em direção à eternidade, ao infinito, ao absoluto, onde, em versos, honrou o Poeta a Virgem Maria, ideal do gênero humano por gerar o Cristo: “(...) por Ti se enobreceu tanto a natureza humana/ a tal ponto que o Criador, ao se encarnar,/ não desdenhou em tomar a forma de sua humana criatura./ Em teu seio aviventou-se o amor,/ que ardendo pela eternidade afora,/ fez germinar esta Flor e o Paraíso inteiro!/ No Céu, és a meridiana luz da caridade;/ na Terra, a fonte viva da esperança para a frágil humanidade!/ Senhora, és tão grande, tão poderosa,/ que pedir graças ao Céu, sem teu auxílio,/ é o mesmo que desejar voar sem dispor de asas!/ Tua benignidade não socorre unicamente a quem ora, pedindo;/ mas antes, vezes sem conta, antecipa o pedido e a prece!/ Em Ti misericórdia, piedade, magnificência/ estão somadas a tanta bondade quanto pode existir, junta, em todas as criaturas!” (Paraíso, Canto XXXIII, 1-7).
Com Dante, a exemplaridade da maternidade divina estaria acompanhada, naqueles cenários idílicos de intensos e circundantes sons, aromas e luzes celestiais, da comunhão dos Santos e de espetáculos eternos e paradisíacos de belezas e bem-aventuranças tão inexprimíveis pela fala humana, “que a memória não alcança sequer em reevocar tanta perfeição”. Maria, no Paraíso, é a Rosa Mística onde o Verbo Divino se fez carne, e em que “os lírios abriram-se, em suave odor, aos caminhos da Verdade”. Plena do mais puro amor, da paz eterna e rodeada de alegrias e de coros angélicos que entoavam o Regina Coeli ("Rainha do Céu, alegrai-vos! Aleluia! Porque quem merecestes trazer em vosso seio, ressuscitou, Aleluia!...") e a Ave, Maria, gratia plena!, Dante, por Ela, em sua jornada espiritual reproduzida no divino poema, finalmente contemplou a suprema e beatífica visão do Uno, do Lume Eterno, “pois o Bem, que é o objetivo da vontade humana, estava diante da minha vontade, sendo n’Ele tudo perfeito, e tudo imperfeito fora d’Ele”.
Palavras do Papa Francisco: “Dante, profeta da esperança do sentido perdido ou ofuscado do percurso humano”.
Lucas Santos Jatobá
Pós-graduado em Direito Penal
Diretor jurídico na Pres. do Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Recife-PE
e-mail: ljatoba@elogica.com.br
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