terça-feira, 19 de agosto de 2025

A Cronica de Walmir Rosário, MAIS UMA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DA CEPLAC É INVADIDA

 

MAIS UMA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DA CEPLAC É INVADIDA

Dendezeiros Unauê da Estação Lemos Maia

Por Walmir Rosário*

Instituição que representou um modelo de inovação na agricultura brasileira, desempenhando um papel na Extensão, Pesquisa e Educação, atualmente passa por inimagináveis percalços. Um deles é o envelhecimento do quadro de pessoal das áreas científica, administrativa e operacional, que a torna incapaz de gerenciar sua estrutura, haja vista o pequeno número de pessoal na ativa.

Com isso, a instituição antes motivo de orgulho estatal na cacauicultura nacional, hoje sofre invasões em suas estações experimentais, locais praticamente sem pessoal. A primeira a sofrer esse tipo de ação foi a Joaquim Baiana, em Itajuípe; a segunda foi a do Extremo Sul, localizada em Itabela; e a mais recente, a Lemos Maia, em Una.

Embora a direção da Ceplac tenha agido junto à Polícia Federal e ao Judiciário para retomar a posse, alguns prejuízos são causados pelos invasores, notadamente na execução das ações de pesquisa nelas desenvolvidas. Em todas elas – ainda ativas – pesquisadores desenvolvem projetos sobre cacauicultura, pecuária e café, em Itabela; e solos, cacau e dendê, na Lemos Maia, invadida na semana atrasada.

Mesmo contando com uma equipe reduzida, os técnicos ceplaqueanos vêm obtendo resultados positivos nas pesquisas em desenvolvimento, cujos riscos da permanência das invasões poderão causar prejuízos incalculáveis. A Estação Experimental Lemos Maia (Esmai) sedia pesquisas com o dendê, local onde está implantado o único banco de germoplasma do nordeste.

O receio é que as melhores mães Caiaué (Elaeis oleifera), que quando cruzadas com as plantas africanas, dá uma palmeira híbrida que produz o azeite batizado de Unauê. Esse azeite possui menor quantidade de ácidos graxos livres do que o óleo do dendezeiro, por isso é um azeite com menor acidez e melhor qualidade. É também mais insaturado e com maior teor de vitamina “E” e carotenos que o óleo do dendezeiro.

Essas ações promovidas por grupos ligados ao Movimento Sem-Terra e indígenas vêm se intensificando nos últimos anos no Brasil, e nas áreas da Ceplac podem ficar mais facilitadas pela burocracia estatal. Embora a invasão de terras públicas seja um crime previsto no ordenamento jurídico, esses grupos parecem não temer as consequências jurídicas.

Em diversas regiões do Brasil (não parece ser o caso em Una), geralmente as invasões são seguidas de destruição de material genético, o que causa prejuízos consideráveis em recursos financeiros de investimento e custeio, e o que é mais grave: a perda de dados e do material, inviabilizando anos de pesquisa. Perdem-se o capital público ou privado investido, além do conhecimento científico.

O dendezeiro, que é a segunda planta mais eficiente no sequestro de carbono (logo abaixo do eucalipto), também poderá perder sua importância comercial caso não seja protegida por políticas públicas. Todo o trabalho realizado com o dendê pela Ceplac na Esmai perderá significado por falta de ações governamentais da União e Estado da Bahia, pela simples falta de incentivo na substituição das plantas antigas pela Unauê.

Com a morte por inanição programada para a Ceplac, melhor seria repassar essas áreas para entidades governamentais afins, como a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc); Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); Embrapa, a grande responsável pela hibridação desse dendê; dentre outras instituições. Essa transferência seria mais do que viável, haja vista que parte das propriedades da União (Ceplac) passa por transferência de doação a prefeituras e demais órgãos governamentais.

Ainda é tempo que as lideranças regionais possam despertar para contribuir com ações focadas no desenvolvimento do Sul e Extremo Sul da Bahia, antes que seja conhecida como a terra do já teve. Quem sabe, dar tratamento igual aos particulares ou agricultores que são fiscalizados constantemente e multados por qualquer agressão ao meio ambiente também funcionaria.

Radialista, jornalista e advogado.

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