quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Seis décadas atrás, Little Richard mudou o mundo com um “Awopbopaloomopalopbombom!”


Há 60 anos, Little Richard deu ao mundo a canção que se tornou o “marco zero” daquilo que veio a ser conhecido até hoje como “rock and roll”.
Sim, eu sei que há vários estudiosos que tem outras teorias a respeito do nascimento do gênero, de como o hillbilly e o blues pariram este “monstro” – e eu concordo plenamente com eles -, da mesma maneira que jamais deixarei de reconhecer a importância de um Chuck Berry para o nascimento da coisa toda. Só que, para mim, a partir do momento em que aquele mulato com cabelo tão empastelado de laquê e gumex - que poderia facilmente gerar uma combustão espontânea - gritou pela primeira vez em um disco as palavras mágicas “Awopbopaloomopalopbombom!”, o planeta em que vivemos nunca mais foi o mesmo.
Muita gente desconhece que a “Tutti-Frutti” traz uma disfarçadíssima sacanagem de Richard a respeito de sua própria bissexualidade. Ele até já cantava uma versão bruta da canção muito antes de gravá-la em estúdio, nas espeluncas e pardieiros que serviam de locais para suas apresentações afetadíssimas. Tinha uma letra mais “casca grossa” que falava abertamente a respeito de sexo anal, não necessariamente heterossexual – “Tutti Frutti, good booty / If it don’t fit, don’t force it / You can grease it, make it easy”, algo como "Tutti Frutti, buraco gostoso / se não cabe, não força a barra / dá uma lubrificada para dar uma relaxada”. Sutil, não? A pedido do produtor Bumps Blackwell, a letra foi reescrita pela compositora Dorothy LaBostrie para atender aos padrões moralistas daquela época, mas a ambiguidade sexual de Richard permaneceu em código no refrão da canção: “Tutti-Frutti, aw rooty”.

Quando foi lançada, a canção se tornou um hit instantâneo nas rádios americanas, o que fez com que os chefões de outras gravadoras lançassem suas próprias versões de “Tutti-Frutti” com jovens cantores brancos. Um deles era um bom moço, professor carola de uma escolinha de Nashville, chamado Pat Boone. O outro tinha sido um jovem motorista de caminhão e que então se aventurava pelo mundo da música. Seu nome era Elvis Presley. Os dois venderam milhares de discos. Richard não viu sequer a cor da grana de direitos autorais por conta de um péssimo contrato assinado com o selo Specialty. Mesmo assim, é a gravação de Richard que passou para a História e mudou o mundo. Literalmente.

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