A GUERRA DO SEQUEIRO DO ESPINHO – José Pereira da Costa
A guerra do Sequeiro do Espinho
Os anos entre 1916 e 1920 foram para esta região quatro anos de fenômenos e
grandes acontecimentos, a começar pelo desenvolvimento principalmente na região
do Sequeiro do Espinho, onde o Cel. Misael estava comprando fazendas de cacau,
emprestando dinheiro a juros sob hipotecas e reconhecimento de débitos. Como
tudo indicava que ia de vento em popa, Misael, aproveitando seu prestígio
político, criou ali um distrito de Paz de Ilhéus, intitulado Ouro Preto, e
foram também as autoridades componentes daquele distrito membros da família
Badaró e seus apresentados.
Às folhas tantas, os negócios tomaram sentido diferente: política, despotismo e
mortes, em virtude das liquidações daquelas transações hipotecárias quitadas judicialmente,
se vendo seus auxiliares em polvorosa para conterem a ira popular, daí aqueles
liquidados procurarem justiça, vingança pessoal e até mesmo a intervenção de terceiros,
como aconteceu com a intervenção do Cel. Basílio de Oliveira em favor de alguns
prejudicados. Estes, com aquelas liquidações, formaram um número tão grande,
que o Cel. Basílio precisou facilitar terras de sua Fazenda Corcovado, para o
indivíduo começar sua vida, chegando a vez de Francisco Mendes. Chico Mendes se
dizendo prejudicado por Sinhô, subdelegado de Ouro Preto, tocalhou-o e
feriu-lhe a tiros de repetição. Sinhô, que andava em disparada, conseguiu
chegar a Ouro Preto ainda com vida, mandando uma escolta prender Francisco
Mendes, vivo ou morto, tendo aquela escolta o encontrado em frente à fazendo do
senhor Tomás Barra, embaixo de uma barcaça. Ali Chico Mendes resistiu à prisão,
fazendo fogo no grupo, ferindo ainda um dos seus perseguidores, quando acabou
sua munição, sendo então baleado, preso e levado amarrado à presença de Sinhô,
até a estação da Estrada de Ferro, onde Sinhô se encontrava, aguardando trem
especial para lhes conduzir a Ilhéus. Após a chegada daquele transporte
especial, Sinhô seguiu levando seu desafeto gravemente ferido, o qual faleceu
antes de chegar a Ilhéus, isto em 1º de dezembro de 1917.
Após este fato as coisas pioraram 90%, visto João Mendes ser conhecido de João
Vital, que era seu irmão e chefe supremo das Forças Armadas do Cel. Basílio de
Oliveira, tendo o mesmo jurado vingar a morte do irmão.
Começou então a luta armada e as funestas consequências
inacreditáveis. Certo dia foi invadida a loja do senhor Manuel Inácio, no lugar
Vinhático, onde aqueles invasores pertencentes ao grupo de Sinhô Badaró que,
além de levar o que quiseram, ainda depredaram aquele estabelecimento
comercial, espalhando pelo terreno baldio tudo quanto ali existia, inclusive
tecidos, travando-se luta armada.
Sinhô, apesar de ser autoridade policial e estar com a situação política, tinha
a minoria armada e também a opinião pública. Daí se registrar diariamente
vitórias e mais vitórias para o lado de Afonso Martins, Antônio Olímpio, Brás
Damásio e João Vital, generais e chefes das Forças Armadas do Cel. Basílio de
Oliveira, quando se aproximou o dia fatal da vitória. Naquele dia, foi lançado
todo o poderio de parte a parte. Ao lado do Sinhô estava Miguel Deiró, com 830
homens armados, e do Cel. Basílio 1.300, começando o fogo decisivo no lugar
Sequeiro Grande, registrando-se maiores perdas, a todo instante, das forças de
Miguel Deiró, quando pela retaguarda deste foi cortado o fornecimento de
munição. Deiró levanta bandeira branca, mesmo assim foi preso, e desarmado com
seus 360 homens restantes. Colocado sob o mourão de uma cancela, Deiró assistiu
ao impiedoso massacre de todos os seus homens. Logo após a chacina, Deiró foi
amarrado de cabeça para baixo e aberto em bandas, assistindo, ainda com vida,
seu fato cair.
Terminada aquela luta, em fins de 1919, Alberto Lopes, voltando, encontrou suas
forças e deu ordens expressas para a captura de Zenique*, vivo ou
morto. Perseguido dia e noite, este viajou com destino ignorado, até que Lopes
se retirasse da região.
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*Zenique – era
comprador de briga, valentão. Sempre envolvido em desordens.
(TERRA,
SUOR E SANGUE – HISTÓRIA DA REGIÃO CACAUEIRA, Cap. X)
José
Pereira da Costa
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