Soljenítsin, um escritor
russo esquecido dezesseis anos após sua morte
Alexander Soljenítsin, um dos mais célebres escritores do século XX e símbolo da oposição ao regime soviético, parece um pouco esquecido pelos jovens russos, dezesseis anos após sua morte.
"Soljenítsin é um dissidente, alguém que se opôs ao regime soviético, e um grande escritor", resume Sania Poliakovski, de 23 anos, estudante de Relações Internacionais em Moscou, reconhecendo, porém, nunca ter lido nada do autor, falecido em 3 de agosto de 2008.
"Falaram
um pouco dele no colégio, no curso de Literatura e no curso de História, mas eu
não me lembro muito", completou o jovem.
Dando
a entender que os professores não se atêm muito sobre a obra de Soljenítsin,
Sania comenta: "foi minha mãe que me explicou que se trata de um dos
maiores escritores do século XX".
A
diferença de interesse entre as gerações é flagrante. Sua mãe, Elena, lembra-se
com emoção de ter descoberto um livro de Soljenítsin escondido na biblioteca de
casa na época soviética.
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Fruto proibido -
"Eu
era adolescente, e meus pais me explicaram que não podia dizer para ninguém que
tínhamos esse livro em casa. Isso tinha o gosto do fruto proibido! Tudo isso
foi um outro tempo, que meu filho nem consegue imaginar", conta ela.
Sania é um exemplo típico de uma jovem geração na
Rússia que não sabe muito sobre o período soviético e ignora quase tudo de
Soljenítsin, grande figura da dissidência na então URSS, Prêmio Nobel de
Literatura em 1970 por seus romances e escritor de renome mundial após o
lançamento de "O arquipélago Gulag" em 1973, uma obra monumental
sobre os campos stalinistas.
"Em
uma turma de 30 alunos, no máximo dois, ou três, leram um livro de Soljenítsin.
A maioria não sabe nada dele", lamenta Alexandre Altunian, professor na
Faculdade de Jornalismo da Universidade Internacional de Moscou.
Obras
do escritor aparecem em programas de aulas nas escolas, mas cada professor
decide quanto tempo dedicará ao autor e, na falta de tempo, seu estudo é, com
frequência, limitado ao mínimo, reconhecem vários docentes do Ensino Médio.
Já
aqueles que insistem nos escritos de Soljenítsin o fazem, em geral, por
questões morais e políticas.
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'Necessidade' de Soljenítsin -
"Precisamos
muito ler Soljenítsin hoje, no momento em que se multiplicam as tentativas de
negar as repressões stalinistas, no momento em que alguns afirmam que nada de
terrível aconteceu naquela época", defende Olga Maïevskaïa, professora de
Russo e de Literatura Russa.
Olga dedica várias aulas a obras literárias de Soljenítsin, como "A
casa de Matriona", e a outras que tratam da temática dos campos e das
repressões, como um "Um dia na vida de Ivan Denissovitch" e "O
arquipélago Gulag".
"Eu cito para meus alunos as passagens mais fortes do 'Arquipélago
Gulag'. O que é inacreditável, o que não contamos para eles nos cursos de
História. É a História do nosso país! É preciso que eles a conheçam para que
ela não se repita mais", alega Maïevskaïa.
Os esforços dessa professora vão na contracorrente da tendência
dominante que vê na Rússia uma reabilitação crescente de Stalin e de todo
período soviético, em paralelo a uma vontade de não insistir nas sangrentas
repressões da época comunista, ou mesmo de ignorá-las.
No ano passado, uma pesquisa do instituto VTsIom sobre os "ídolos
russos do século XX" colocava Alexander Soljenítsin em quinto lugar, atrás
do ator e cantor Vladimir Vyssotski, do primeiro cosmonauta Yuri Gagarin, do
marechal Gueorgui Jukov, herói da Segunda Guerra Mundial, e de Stalin.
O ano de 2024, dezesseis anos de aniversário de sua morte e do centenário de seu
nascimento, será marcado pela organização de várias exposições e pela
inauguração de uma estátua do escritor na rua que leva seu nome em Moscou.
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