GUERRA E PAZ, A EMOÇÃO DO FUTEBOL
Comemoração de gol contra o Peñarol - foto Vitor Silva-Botafogo |
Por Walmir Rosário*
O futebol é um esporte que sempre mexeu com emoções. Da equipe de um simples time de várzea ao do selecionado de um país, torcedores dão a vida – se preciso – pela sua agremiação. Mesmo hoje, que o futebol é um esporte que mexe com bilhões, as torcidas seguem seus times, apesar dos ingressos com preços estratosféricos e a falta do amor à camisa, como dantes.
De há muito o futebol é um esporte apaixonante em praticamente todos os países deste mundo e, quem sabe, dia desses consegue ultrapassar o futebol americano, beisebol e o basquete, nos Estados Unidos, e o críquete, nos países de descendência e influência inglesa. Mesmo sendo um dos apaixonados pelo futebol, não sei a influência dele sobre nosso emocional.
Também pouco importa. O que quero mesmo é ver meu time ganhar, ser campeão. Sinto bastante quando minguam as vitórias, escapam as classificações, ficamos de fora da final de um campeonato. E vou avisando: não tolero ser vice, apesar de muitos elogiarem a segunda posição. E ainda por cima afirmarem que é o melhor depois do primeiro. Não concordo.
Pelo dito até agora, os que passaram os olhos por essas mal traçadas linhas já devem ter desconfiado que sou torcedor do Botafogo. Botafoguense com muito orgulho, persistente até não acabar mais. Não posso deixar de lado o bordão “tem coisas que só acontecem com Botafogo”, pois é verdade aqui e no Uruguai, mesmo sem termos culpa no cartório.
Imaginem o Brasil declarar guerra ao nosso vizinho do Sul, que já foi nosso, e sempre se rebela contra nós. Pelo tamanho do seu território não suportaria um confronto armado, mas que sempre provoca. Pelas minhas especulações, esses uruguaios acreditam que como ganharam de nós em 1950, ainda num Maracanã cheirando a tinta, teriam a obrigação de nos massacrar até hoje.
Tenho certeza que a culpa de tudo isso é do nosso ordeiro povo brasileiro, que não os repeliu com veemência naquela copa do mundo. Em 1950, os uruguaios venceram apenas uma copa, não uma guerra, mas queriam o “botim”, como nos bons tempos da Roma antiga, fazendo dos vencidos escravos, serviçais. Se estou certo nas minhas convicções estudaram a história de forma errada.
Gosto muito do Uruguai, dos seus vinhos, carnes maravilhosas preparadas nos braseiros, das cidades tranquilas, incluindo Montevidéu. Mas não gostei nada da guerra particular que tentaram empreender contra o Botafogo. Costumo ouvir dizer que os cisplatinos têm sangue quente, não toleram perder, ainda mais no futebol. E por 5X0, então, queimou o churrasco na Libertadores da América.
Não tenho certeza, mas ao que me parece, esses uruguaios são desinformados. Como não conhecer o poderio futebolístico do Botafogo? Ora, deveriam ter dado graças a Deus por não ter tomado uma goleada de nove, dez a zero, daquelas que o Botafogo aplicava contra o Flamengo. O pecado cometido pelos cisplatinos foi querer comparar o Botafogo com o Flamengo que eles despacharam.
Mas nada do que fizeram se justifica. Um papelão horrendo! Sabiam que não seriam punidos por ameaçar os brasileiros – torcedores do Botafogo – que como turistas costumam encher o Uruguai de dólares todos os anos. Confiavam no ombro amigo da Conmebol, onde choraram suas pitangas e ganharam amparo e afagos.
Como botafoguense não sou torcedor de reclamar de pouca coisa. Tenho o couro cascudo desde a velha rivalidade entre as seleções de Ilhéus e Itabuna, ainda nos tempos em que reclamávamos dos paus e pedras jogados contra nós quando passávamos em baixo do viaduto Catalão ou no estádio. Também íamos à busca da forra, dentro e fora de campo.
Não posso esquecer que no futebol também se faz amigos, e muitos. Um caso clássico é o que aconteceu na África, em 1969, quando o Congo e a República Democrática do Congo silenciaram as armas durante uma guerra, para que o Santos de Pelé pudesse cruzar o país para jogar nos dois lados da fronteira. E não foi só isso.
No mesmo ano, durante a guerra entre a Nigéria e a separatista Biafra, o Santos jogou em Benin. Para que isto acontecesse, os dois antagonistas decretaram feriado, bem como o cessar fogo, para que o Santos de Pelé se apresentasse. Acredito que os uruguaios faltaram essa aula de história das guerras africanas e deixaram o professor na sala falando sozinho.
Mas vamos ao que interessa, o Botafogo jogará nesta quarta-feira contra o Peñarol no estádio Centenário, apesar das ameaças. Eu não recomendo e nem apostaria um centavo na vitória do Peñarol. O Botafogo só precisa de muita calma nesta partida para não entrar nas provocações e sair de Montevidéu com outra vitória e se preparar para depenar o galo.
A melhor arma do futebol é fazer a bola entrar nas redes adversárias.
*Radialista, jornalista e advogado
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