segunda-feira, 27 de outubro de 2025

PerolasdosCoxinhas

Perolas dos Coxinhas

 


Pensava que nada me faria quebrar o silêncio digital hoje, mas aí o senador Flávio Bolsonaro solta um chorume tão sem noção sobre a reunião Lula-Trump que meus dedinhos entraram em combustão espontânea. Preciso falar. kkkk

Vamos rir da realidade, porque é séria demais para não rir.

Primeiro, sobre a foto:

De um lado, Lula, tranquilasso, pernas cruzadas, recostado na poltrona como quem está na varanda de casa. Do outro, Trump, o "Cheetos Laranja", sentado na pontinha da cadeira, esfregando as mãos que nem um ansioso à espera de um resultado de exame.

Traduzindo: um é o anfitrião confiante. O outro é o visitante que tentou meter o bedelho na casa alheia, na nossa soberania, e agora não sabe se leva um abraço ou uma cadeirada. A linguagem corporal não mente, meus amigos.

Segundo, enquanto o Flávio finge que vive em 2020, quando Bolsonaro era submisso aos EUA e tinha um fã clube de seguidores que acreditavam em tudo aquilo que eles diziam, o PRÓPRIO SECRETÁRIO DE ESTADO DOS EUA, MARCO RUBIO, já caiu na real e declarou abertamente: os EUA querem que o Brasil volte a negociar com eles e SONHAM em ocupar o lugar da China nos acordos com o Brasil. Ou seja, o CHEFE DA DIPLOMACIA AMERICANA está correndo atrás do Brasil. Quem está na posição de força é o BRASIL. Quem está dando as cartas é o LULA.

Mas o Flávio, cujos propósitos financeiros a gente conhece bem, vem com o mimimi padrão: "ah, o PT mente, soberania é de traficante, aliado de ditaduras, terroristas, blá blá blá..." Tá com a cartilha engessada, amigo? O mundo girou. O seu pai fugiu para Miami depois de uma tentativa de golpe de Estado e está condenado e inelegível; O presidente Lula que vocês chamavam de "isolado" está recebendo pedidos de colaboração da maior potência do mundo.

E por último, mas não menos importante, O MIMIMI ESTRATÉGICO DO FLÁVIO (para distrair quem ainda acredita nessa papagaiada):

A cerejinha do bolo foi ele postar isso: "Infelizmente, vocês saíram de uma reunião com o maior líder democrata do mundo sem absolutamente nenhuma notícia boa para os brasileiros".

Tradução livre: "Estou DESESPERADO porque essa reunião mostrou que o projeto Bolsonaro FRACASSOU internacionalmente, e agora preciso gritar 'ditadura' e 'Hamas' para tentar esconder meu desespero."

Resumo da ópera: enquanto Lula joga xadrez geopolítico, a oposição brasileira brinca de jogo da velha com as mesmas peças quebradas. É patético.

🇧🇷COM LULA, O BRASIL É CAMPEÃO❗

#Política

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sábado, 18 de outubro de 2025

Trump largou o bolsonarismo ferido na estrada

Trump largou o bolsonarismo ferido na estrada

 


Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo tinham certeza que o governo dos EUA sequer receberia os brasileiros. Tiveram que engolir uma conversa que ignorou completamente Jair Bolsonaro.

 

Em julho, quando Donald Trump impôs um tarifaço sobre produtos brasileiros, Eduardo Bolsonaro se apresentou como um articulador junto ao governo americano e disse que seria “mais fácil um porta-aviões americano chegar ao Lago Paranoá” do que o vice-presidente Geraldo Alckmin ser recebido por autoridades americanas.

 

Flávio Bolsonaro foi além e trouxe para a mesa duas bombas atômicas: “Essa situação tem que ser encarada como uma negociação de guerra sim, em que nós não estamos em condições normais, de exigir nada do Trump. Ele vai fazer o que ele quiser, independente da nossa vontade. Cabe a nós termos a responsabilidade de evitar que caiam duas bombas atômicas aqui no Brasil para depois anunciarmos que vamos fazer anistia”.

 

Os bolsonaristas juraram que autoridades brasileiras não seriam recebidas pelo governo norte-americano. Pior que isso: disseram que os EUA poderiam atacar militarmente o Brasil caso Jair Bolsonaro fosse preso.

 

Iniciou-se uma pressão, principalmente por parte da grande imprensa, para que Lula ligasse para Trump. Afinal de contas, uma republiqueta das bananas sofreria economicamente com o tarifaço da maior potência do mundo. O brasileiro não só não ligou, como continuou criticando a postura imperialista do americano.


 

O tempo passou e a economia brasileira não sofreu grandes impactos. Aliás, nossas exportações estão batendo recordes mesmo após o tarifaço. No fim das contas, quem mais sofreu foi o governo dos EUA, que passou a ser pressionado por empresários para revogar as tarifas contra o Brasil.

 

Lula não precisou ligar. Foi Trump quem ligou, não para ameaçar com porta-aviões ou com bombas atômicas, mas para dizer que os americanos estão sentindo a falta do café brasileiro. O americano não citou o nome de Bolsonaro ou condenou a “ditadura do judiciário". Nada disso. Trump chegou pisando fofo, só no sapatinho.

 

Três meses após as falas ameaçadoras dos filhos de Bolsonaro, o chanceler brasileiro Mauro Vieira foi recebido na Casa Branca pelo secretário de estado dos EUA Marco Rubio, designado por Trump para liderar as negociações com o Brasil.

 

Rubio também é um desses maluquinhos embriagados pela ideologia de extrema direita tal qual Eduardo Bolsonaro, mas antes de tudo é um soldado de Donald Trump. Dentro do surrealismo bolsonarista, a indicação de Rubio para a negociação foi um sinal inequívoco de que o governo americano iria jogar duro com o Brasil.

 

Os afagos de Trump seriam parte de uma estratégia de negociação para puxar o tapete do brasileiro.

 

Um dia antes da reunião com o chanceler brasileiro, integrantes do governo americano deram declarações acusando o judiciário brasileiro de perseguir até cidadãos americanos. O Representante Comercial dos EUA, Jameson Greer, afirmou que a maior parte da alíquota sobre o Brasil é explicada pela “imensa preocupação acerca do Estado de Direito, censura, e direitos humanos” no país.

 

A declaração acendeu um alerta no Itamaraty e deixou o bolsonarismo em festa. Os nepobabys do golpismo, Paulo Figueiredo e Eduardo Bolsonaro, comemoraram nas redes sociais. Esse seria um sinal claro de que o governo dos EUA iria tratar de pautas políticas nas conversas com o Brasil.

 

Bom, a reunião aconteceu e ambos os representantes dos governos saíram dela satisfeitos. A gritaria de Eduardo Bolsonaro e dos trumpistas mais obcecados ideologicamente não sentou à mesa com os adultos.

 

Mais uma vez, o nome de Bolsonaro não foi citado e os assuntos políticos internos do Brasil não foram objeto de discussão. O clima foi de cordialidade e não houve qualquer intimidação à soberania brasileira. Assim como o presidente dos EUA, Rubio teve que pisar fofo com o Brasil.

 

Confirma-se o que já se supunha: o bolsonarismo foi mesmo largado ferido na estrada por Trump. Mais do que um maluquinho de extrema direita, o americano é um homem de negócios. Se for do interesse dele, até química com líderes de regimes comunistas pode rolar. Amigos, amigos negócios à parte.

 

Não nos esqueçamos da excelente relação que Trump mantém com o ditador norte-coreano Kim Jong Un. Ali a química rolou forte. Em 2017, Pyongyang lançou uma série de testes de mísseis provocativos, aumentando a tensão com os EUA e motivando provocações de Trump a Kim no Twitter.

 

Depois dessa rusga inicial, os dois líderes passaram a trocar cartas respeitosas — classificadas por Trump como “cartas de amor” — e se encontraram três vezes. "Você e eu temos um estilo único e uma amizade especial". escreveu Trump em uma das cartas. Isso demonstra que, ao contrário dos delírios bolsonaristas, Donald Trump não tem grandes compromissos com ideologias.

 

Ambos os países classificaram o encontro como positivo e publicaram uma nota em conjunto — uma clara demonstração de que os dois países estão se entendendo. As conversas sobre tarifas ainda não aconteceram, ainda é um primeiro passo, mas já está definido que assuntos políticos não entrarão em pauta nas próximas rodadas de negociações.

 

Mauro Vieira declarou ao sair da reunião: “Prevaleceu uma atitude construtiva, com aspectos práticos para a retomada das negociações entre os dois países. Há boa química entre os governos, e o diálogo está aberto.”

 

O bolsonarismo balançou o rabinho, fez festinha para Trump e até ganhou alguns biscroks dele ao conseguir que autoridades sofressem sanções com a Lei Magnitsky. Mas nada além disso. A realidade dos fatos se impôs e as fantasias bolsonaristas foram barradas das negociações.

 

Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo continuarão vivendo de migalhas que alimentam suas narrativas delirantes. Mas agora a conversa será entre os adultos, as crianças birrentas e suas demandas ficam de fora. Dá pra dizer com tranquilidade que hoje é mais fácil o Eduardo Bolsonaro ser deportado do que um porta-aviões aparecer no Lago Paranoá.


quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A Cronica de Walmir Rosário, Direto de Canavieiras

 

AS PERIPÉCIAS DOS ESCOTEIROS CANAVIEIRENSES

Waldir de Roxinho e à direita o colega de viagem Trajano
no Mac Vita, no autógrafo do livro d'O Berimbau

Por Walmir Rosário*

Em 1958 Canavieiras pouco tinha a oferecer aos seus moradores, do ponto de vista exterior. Embora o cinema mostrasse o desenvolvimento ao redor do mundo, suas novidades, por aqui a vida girava em torno da economia cacaueira, das chegadas e partidas dos aviões de carreira, do movimento de navios nos portos, o futebol, a vida nas boates e bares.

De Canavieiras era possível, sim, “enxergar” o mundo através das emissoras de rádio do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, jornais, revistas, e pelo testemunho dos canavieirenses mais abastados que estudavam fora. Em 1958 a grande atração era a participação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, a ser disputada na Suécia, e a remota chance de ser campeã.

Em dia de sábado na Confraria d'O Berimbau
Mas o sonho de conhecer outras terras, a exemplo do Rio de Janeiro, não saía da cabeça dos mais jovens, a maioria sem condições financeiras para realizar um passeio dessa magnitude. Flanar por Copacabana, assistir aos jogos dos seus times no Maracanã, frequentar a capital federal do Brasil representava a glória para qualquer ser vivente.

Em abril de 1958 um grupo de 10 escoteiros resolveu transformar esse sonho em realidade. Nenhum deles possuía experiência em uma viagem dessa magnitude, mas não faltavam a coragem e a convicção do aprendizado de anos no Escotismo. E assim os garotos de 16 a 18 anos iniciaram o planejamento da viagem, com a aquiescência dos pais. Entretanto, um deles não voltaria.

Com o dinheiro curto, os pupilos de Robert Baden-Power embarcaram num avião da Cruzeiro do Sul na pequena viagem entre Canavieiras e Belmonte. Daí pra frente seria o que Deus quiser, sempre focados nos ensinamentos do Escotismo. E enfrentar a segunda parte da viagem não seria moleza para eles, pois o percurso de Belmonte a Vitória, no Espírito Santo, custou 21 dias de viagem, cumpridos em jornadas a pé.

E o grupo formado por Walter e Trajano Barbosa, Coló Melo, Raimundo Oliveira (depois tenente Raimundo), Orleans da Hora, Dinael Santos, Edson Dedo, Waldyr de Roxinho, Everaldino Piloto e José Araújo empreenderam o trajeto, sob o comando de Henrique Ciência. Nesse segundo trecho eles conheceram, de verdade, o valor do slogan do escotismo: “Sempre alerta”.

No percurso, privilegiaram a caminhada nos trechos de praias, superando as dificuldades que surgiam com frequência, atravessando a pé ou a nado os ribeirões e bocas de barras. Também tiveram que usar de artifícios para caminhar no meio de florestas, evitando as armadilhas naturais e os animais, principalmente as cobras.

Waldir e Bené no autógrafo do livro sobre
Tyrone Perrucho, e Valdemar Broxinha

Quando encontravam um sítio conversavam com os moradores sobre o melhor caminho que deveriam tomar e eram avisados sobre em que trechos poderiam parar para descansar e dormir. Num desses locais em que passaram a noite, como sempre, armaram e tocaram fogo numa grande fogueira para espantar as onças, cujas pegadas e os esturros foram vistas e escutados bem próximas.

Em um costado do mar foram obrigados a acelerar o passo para conseguir vencer o percurso enquanto a maré estava em baixa, do contrário poderiam ser tragados pelas grandes ondas. Cansados, já sem quase nenhum recurso financeiro e víveres, finalmente chegaram a Vitória, no Espírito Santo, e tiveram a ideia de se apresentarem ao prefeito.

A aventura dos escoteiros canavieirenses emocionou o prefeito, que os ajudou com alimentação e passagens de trem para o Rio de Janeiro. Na Guanabara se apresentaram na sede dos Escoteiros do Mar, foram recepcionados pelo General canavieirense Asclepíades Santos, participaram de uma feijoada, e no Maracanã assistiram ao jogo Brasil e Portugal, com a presença de Pelé e Garrincha, dois novatos na Seleção Brasileira.

Missão cumprida, 21 dias após embarcam no navio Comandante Capela com destino a Ilhéus, numa viagem de seis dias. Em seguida, viajaram na carroceria de um caminhão até Camacan, e a partir daí uma picape os levou a Canavieiras. Entretanto, dos 10 que empreenderam a viagem de ao Rio de Janeiro, um deles não voltou, continuou na Guanabara. Na bagagem, nem uma foto, selfie, ou vídeo, só as lembranças contadas.

É que Waldir Souza, o Waldir de Roxinho, resolveu se engajar na Marinha do Brasil, com a permissão de seu pai. Músico, saxofonista, foi incorporado à Banda dos Fuzileiros Navais, agora como clarinetista, conforme as recomendações do maestro regente. E Waldir faz carreira como militar e músico, viajando, conhecendo o mundo, até sua baixa como oficial.

No Rio de Janeiro constitui família, criou os filhos, depois formados e com carreiras pós-tituladas, prontos para enfrentarem a vida. Reformado na vida militar, eis que Waldir retorna a Canavieiras, onde retoma a vida civil, suas obrigações familiares. Nas horas de folga, se encontra com os amigos no Bar Laranjeiras, no qual possui cadeira cativa, e em sábados pretéritos, quando ainda existia a Confraria d’O Berimbau, como confrade batia o ponto.

Waldir na reabertura d'O Berimbau
Esse é o feito de quem determinou e direcionou sua vida no propósito de seguir carreira, transitar na sociedade com distinção, fazer amigos por onde passou e cuidar bem de suas obrigações. E nesta quarta-feira – 15 de outubro de 2025 – Waldir de Roxinho alcança os 89 anos de vida, sempre rodeado pelos amigos: os que aqui deixou em 1958, e os que construiu ao longos desses anos.

Parabéns, Waldir!


*Radialista, jornalista e advogado


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Os 37 anos da Constituição de 1988 e a retomada da cidadania

Os 37 anos da Constituição de 1988 e a retomada da cidadania

 

Com toda razão, Ulisses Guimarães referiu-se à Constituição promulgada em 05 de outubro de 1988 (que ora completa 37 anos), como a Constituição Cidadã, que veio para proteger o povo pobre e sofrido do Brasil, massacrado, humilhado e maltratado desde o início da colonização portuguesa.

Como dito por seu relator geral, Bernardo Cabral, os constituintes de 1987/1988 tiveram o cuidado de colocar na parte inicial da Carta Política os princípios fundamentais da República e da garantia dos direitos do homem, inseridos nos artigos 1º, 3º, 5º, 6º e 7º, em respeito ao povo brasileiro, anteriormente sempre colocado na parte final das Constituições.

A Constituição redigida por Ulisses Guimarães, Bernardo Cabral, Luiz Inácio Lula da Silva, Benedita da Silva, Florestan Fernandes, entre tantos outros constituintes, é aquela que veio para reparar o autoritarismo; e, mais do que isto, para dar cidadania a quem jamais a teve, aos que sempre lutaram para sobreviver com um mínimo de dignidade.

É a Constituição de 1988, que, desde o seu preâmbulo, manifesta preocupação em assegurar “o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social”. Nossa Carta Política também estabelece como princípios fundamentais da República a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (artigo 1º), constando entre seus objetivos (artigo 3º) “construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos”.O texto constitucional é tão avançado e preocupado com a existência digna do ser humano, que fez questão de ressaltar, no seu artigo 170, que a ordem econômica é fundada na “valorização do trabalho humano e na livre iniciativa”; significa dizer que, de acordo com nossa carta política, o trabalho antecede o capital e está erigido como um valor a ser defendido diante de qualquer outra força econômica.Trata-se de uma constituição avançadíssima para seu tempo (ainda que mutilada por mais de centro e trinta emendas; muitas, a meu sentir, inconstitucionais), que ainda se mantém de pé com seus princípios e direitos fundamentais. Mas é, também, uma Constituição frequentemente sabotada pela classe dominante brasileira, que, antes mesmo de sua promulgação, procurou esvaziá-la, como aconteceu no dia 27 de julho de 1988, quando o ex-presidente José Sarney, com certo tom de ameaça, dirigiu-se aos constituintes, em cadeia nacional de rádio e televisão, para afirmar, ao longo de vinte e oito minutos, que o texto constitucional que estava para ser aprovado “deixaria o país ingovernável”.

Na verdade, a fala de José Sarney, na ocasião, reproduzia os interesses mais atrasados da classe dominante brasileira, que achava que o reconhecimento dos amplos direitos sociais inseridos na Constituição brasileira de 1988 teria um impacto significativo sobre o orçamento geral da União, desde sempre controlado para satisfazer apenas os interesses dos muito ricos e deixando os pobres entregues à própria sorte. É importante lembrar, por exemplo, que, antes da Constituição de 1988 não existia o sistema único de saúde com atendimento universal para todos os brasileiros.

E o presidente Sarney, com o velho e surrado argumento, afirmava que o novo texto constitucional representaria um desencorajamento à produção, induziria o país ao “ócio à produtividade” e “o governo não teria dinheiro para pagar os benefícios sociais aprovados pelo congresso constituinte”; ou seja, a mesma conversa fiada empregada até hoje contra a classe trabalhadora, para justificar o desvio dos recursos arrecadados por meio dos tributos (que recaem sobre o povo) e transferi-los para os muito ricos, que, além de não pagarem efetivamente impostos, vivem da renda proporcionada por taxas de juros exorbitantes, que ampliam cada vez mais o endividamento público.

Naquela oportunidade, Luís Inácio Lula da Silva, então deputado constituinte e líder do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Constituinte, assim se manifestou: “A fala do presidente causou três espantos: 1) ver um presidente assustar a nação com o fantasma da ingovernabilidade usando informações imprecisas; 2) ver um presidente reclamar contra liberalidades da constituinte, quando seus líderes não ficaram calados, como votaram a favor dos dispositivos citados; 3) ver um presidente da República, supostamente guardião da independência e da economia do país, ocultar em seu pronunciamento que está forçando a eliminação da propriedade da União sobre o subsolo, a volta concreta do contrato de risco e a preferência à empresa nacional ao Estado” (Folha de São Paulo, 27/07/1988, p. A6).

Infelizmente, a Constituição promulgada em 05/10/1988 não pôde, até os dias de hoje, ser executada na sua plenitude, pois para isso era necessária a eleição imediata de um presidente comprometido com seus ideais avançados, o que, infelizmente, não ocorreu na eleição presidencial de 1989, quando, em decorrência das manipulações típicas da atrasada classe dominante, controladora do país desde a sua fundação, o eleito foi Collor de Mello.

Posteriormente, a mesma classe dominante manobrou para eleger FHC, que retribuiu o favor submetendo incondicionalmente o país à cartilha do neoliberalismo e enfraquecendo o conceito de soberania nacional, por meio de suas emendas constitucionais, aprovadas a partir de 1995, que decretaram o fim do conceito de empresa nacional, acabaram com a proteção da navegação por cabotagem de bandeira nacional, extinguiram o monopólio das telecomunicações e do petróleo (até então detido exclusivamente pela Petrobras) e intensificaram as privatizações do patrimônio público, que extinguiram incontáveis postos de trabalho.

A Constituição de 1988 merecia a eleição de Luís Inácio Lula da Silva em 1989, não apenas para consolidar a redemocratização mas também para levar adiante a implementação dos seus objetivos fundamentais de “construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Por isso, mais do nunca, é necessário que o presidente Lula seja reeleito em 2026, preferencialmente no primeiro turno. Pois assim, com sua imensa experiência política e crescente maturidade, ele terá a legitimidade para promover os enfrentamentos com a classe dominante do país e retomar os ideais originários da Constituição de 1988. Deste modo, teremos uma base sólida para promover os referendos (conforme previsto no artigo 14 da Constituição) para revogação de todas as mudanças equivocadas impostas ao país, principalmente depois do golpe de 2016, e dar início, finalmente, ao processo da justa distribuição da riqueza produzida por toda a sociedade, como pretendiam os constituintes de 1987/1988, a fim de construir um país efetivamente soberano e desenvolvido para todos os brasileiros.

FONTE: https://www.brasil247.com/blog/os-37-anos-da-constituicao-de-1988-e-a-retomada-da-cidadania

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