Itajuípe – 1952 – 2022 – 70 anos de Emancipação Politica e Administrativa
Falando um pouco de “Pirangi”
*Adelindo Kfoury (+ 2012)
No passado essa região era habitada apenas por índios
selvagens, sendo que a partir de 1892 começaram aparecer os primeiros
exploradores civilizados, entre os quais Antonio José de Oliveira, Pedro
Portela, Joaquim e Miguel Pinheiro. Por volta de 1905, já estavam fixados
também outros desbravadores, como João Ferreira, Felix de Lyra, Manoel Baiano,
Antonio Ciríaco, Firmo Nascimento, Henrique Berbert, José Lourenço Rocha etc.
Especula-se que por ter construído em 1919 a primeira casa de
telhas no povoado, Juvenal Batista Soares seja considerado historicamente como
seu fundador. Entretanto, contam historiadores que já em 30 de janeiro de 1914,
Francisco Mendes de Moura inaugurou nos limites de sua fazenda um arruado de
casinhas franqueadas a chegantes. Sabe-se também que no mesmo ano de 1914,
Pompílio José Fernandes abriu um restaurante na porteira de sua fazenda,
batizando-o como Café Pirangy, nome copiado de famoso bar existente em
Salvador. Razão disso, quem passava por ali adotou o hábito de referir-se a
Pirangy e nãos mais Sequeiro de Espinhos. Até seus moradores começaram a ser
apelidados como Zé de Pirangy, Pompilio de Pirangy e assim a designação foi se
consolidando. Em tal época, naqueles ermos fazendas, floresta, todas as
referências de lugar via de regra subordinavam-se a episódio, como “Cinco
Porcos”, “Repartimento”, “Ribeirão da Pólvora”, “Fortaleza”, “Empata Viagem” (e
cito apenas um exemplo, desse “empata viagem” que nada mais era senão uma
birosca onde os tropeiros paravam para matar o bicho com a excelente cachaça
vendida, assim tendo suas viagens momentaneamente empatadas...).
Aquele aglomerado de casebres conhecido por Golfo, depois
Ouro Preto, por volta de 1919 foi palco de sangrentas batalhas entre as
famílias de Basílio de Oliveira e Sinhô Badaró, episódio que influiu até no
comércio de cacau, fazendo com que o Governo Federal mandasse um cruzador da
Marinha de Guerra fundear no porto de Ilhéus à disposição das autoridades para
intervenção militar caso aumentasse a conflagração, que durou cerca de cinco
meses e ao seu término deixou um trágico balanço de dezenas de pessoas mortas,
além de muitas fazendas invadidas, incendiadas, destruídas, Carlos Pereira
Filho em livro “Ilhéus, terra do cacau” afirmou que “correu mais ódio nos
corações dos adversários que água no rio do Sequeiro do Espinho. Os moradores
sobreviventes refugiaram-se cerca de quatro quilômetros adiante (atual cidade),
em frente a um sequeiro no riacho que vinha de dentro da mata e permitia
passagem de um lado para o outro andando com água abaixo do joelho, tendo
apenas o inconveniente de dolorosas espetadas, porque ali abundavam arbustos
cheios de espinhos conhecidos como “unha de gato”. Daí o lugar ficar conhecido
como “Sequeiro de Espinho”, nome consolidado em razão de quando foi construído
ramal da Estrada de Ferro Ilhéus a Conquista e a pequena estação de passageiros
tomar o nome de Ponto do Sequeiro de Espinho.
Quem conhece a história regional, sabe que essa gleba de
terras férteis se localizava dentro dos limites do município de Ilhéus, sendo,
portanto um seu distrito. Em 17 de dezembro de 1930, o decreto estadual nº
7.137 criou a Subprefeitura de Pirangi, ato confirmado pelo Decreto nº 7.489 em
9/7/931. Na divisão administrativa em 1933, Pirangi aparecia como distrito de
Ilhéus. Nessa quadra, homens idealistas como Manoel Soares, Basílio de Oliveira
e João Batista dos Santos começaram despertar a população visando a sua
emancipação política-administrativa, tanto que em 25 de agosto de 1934
aconteceu grande concentração popular, onde despontaram oradores como dr.
Diógenes Vinhais e Pedro Souza. Somente em 1º de julho de 1944, o Decreto
Estadual nº 12.978 consolidou seu topônimo para Itajuípe. Fins de 1952, uma
comissão constituída por Humberto Badaró, Antonio Fernandes da Silva, Clodoaldo
Cardoso, Antonio Gonçalves Queiroz, Davino Alves Silva e Francolino Neto,
visitou parlamentares estaduais e o próprio governador, pleiteando a sonhada
emancipação. Assim como aconteceu com nossa Itabuna, nos seus tempos de lutas
por idêntica finalidade, os lideres itajuipenses nunca descansaram. Muito
vigor, muitas ações, incontáveis postulações. Heróicos esforços. Então, mercê a
tenacidade de seus cidadãos, não obstante as legitimas-e perfeitamente
lógicas-ações judiciais impetradas por Ilhéus, foi criado o Município de
Itajuípe através da Lei Estadual nº 507 (publicada no Diário Oficial do estado
em 12 de Dezembro de 1952) assinada pelo governador Régis Pacheco na presença
de uma comitiva integrada por Francisco Bathomarco Jr., Clodoaldo Cardoso,
Montival Lucas, Humberto Badaró, Francolino Neto e João Deway Guimarães.
Este é um esforço de síntese para atender ao pedido do amigo
cujo nome determinou preservar. Por ser tão bonita a história dessa pujante
estrela da constelação de cidades da região cacaueira que é Itajuípe.
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