CONFRARIA D’O BERIMBAU AINDA COM JEITÃO DE PADARIA
A cada visita
técnica realizada pelos confrades é constatada a lentidão na reforma da nova
sede da Confraria d’O Berimbau, creditada à pandemia que assola a comunidade
internacional, mas com reflexos nem tão negativos em Canavieiras. Para não
faltar com a verdade, o prazo máximo dado pelo presidente Zé do Gás para o
funcionamento seria o fatídico 31 de março, o que não aconteceu por conta de
forças estranhas e ocultas.
Desde 13 de
dezembro de 2014, data em que voltou a funcionar em terceira edição, os
confrades já foram despejados duas vezes para novos ambientes – no mesmo imóvel
– e ainda não podem encomendar os convites da reinauguração por falta de uma
data garantida. Culpa das obras, dizem uns, enquanto outros reclamam da
letargia do presidente Zé do Gás.
Nos tempos em
que era gerido por Neném de Argemiro a Confraria d’O Berimbau gozava de
prestígio e tinha um bar inteiro com seus anexos para chamar de seu. Mas como
Neném resolveu partir desta pra melhor (?), a vetusta Confraria é obrigada a
disputar espaço com uma padaria, que embora do mesmo nome, desfruta de grande
influência junto ao proprietário do imóvel. E perdeu para a área industrial da
padaria! Um sacrilégio!
Essa
notoriedade concedida à atividade panificadora despertou os ciúmes no
Secretário Plenipotenciário Gilbertão Mineiro, autor de uma carta aberta aos
boêmios canavieirenses repudiando a predominância da padaria sobre refinada
instituição etílica. No teor do documento, com toda a propriedade, Gilbertão
exortou os confrades à análise da importância de um bar e uma padaria.
Antes mesmo
que alguém pedisse a palavra, o portentoso chefe exaltou as propriedades de
convivência entre as duas atividades, concluindo que ninguém conhece, mesmo por
ouvir dizer, que alguém tivesse feito amizade no ato de comprar pão, biscoitos
e bolos. E arrematou uma retórica digna de um sofista de mesa de bar: “Em
nossas reuniões sabáticas temos toda uma ritualística, como saudar os confrades
com o toque de sino, um ágape de fazer inveja a um monge e degustação de
cachaças e cervejas para os cachaceiros que se prezam”.
Dentre as
lamentações, Gilbertão alertou os confrades sobre o simples encargo dado a uma
padaria, coisa de somenos importância, onde os clientes não fazem
"piseiro" e apenas aparecem para comprar pão e outros assessórios.
Portanto, no seu entender seria por demais despropositado figurar em local
privilegiado. Mas, celeumas à parte, bar e padaria vão ter que conviver com
harmonia e independência, como figura na constituição.
Sem querer
botar mais lenha na fogueira – que é coisa pra padaria – apenas fiz questão de
ressaltar a ostentação histórica da Confraria d’O Berimbau na sociedade
etílica, por ser o criador da “Galeota de Ouro”, evento etílico e gastronômico
fundado por um grupo de confrades. Até hoje é lembrada a fineza do serviço all
inclusive, com variedade de cachaças, cervejas em lata bem gelada e o
melhor “churrasquinho de gato” que se tem notícia.
Mas como
discursos não levantam paredes, os confrades continuam sem um lugar digno para
suas reuniões semanais e o que é pior: sem autorização para funcionar até que a
pandemia do Covid-19 resolva deixar os confrades em paz. Enquanto isso, minha
recomendação é que até lá ninguém adoeça para que possamos festejar a nova sede
com todas as honras e glórias.
Mesmo sem a
tão preciosa data de reinauguração, por vias das dúvidas Gilbertão Mineiro já
mandou o departamento de marketing criar o convite para submetê-lo à aprovação
dos confrades, mesmo sem data impressa. Pouco importa, o que vale mesmo é o
fausto cardápio, com torresmos e passarinhas assadas de entrada, uma panela de
feijoada e outra de mocofato.
Mesmo sem o
estilo de antes, os pratos de sustança – elaborados por um confrade
nutricionista – serão mais que suficientes para os confrades se molharem por
dentro com os aperitivos quentes e cervejas geladas o quanto bastem para
esquecer a rival padaria ao lado.

*Radialista, jornalista e advogado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário