quinta-feira, 27 de março de 2025

A Cronica de Walmir Rosário - Direto de Caanavieiras

 

O CAATINGUEIRO ESNOBA E FALA FRANCÊS COM BIQUINHO

Dia de Campo sobre o manejo de caprinos e ovinos

 Por Walmir Rosário*

Não se assustem, mas é a mais pura verdade. Foi difícil acreditar até eu constatar que não estava a ver visões, quem sabe por culpa do forte sol da caatinga. Fiz questão de apurar tudo direitinho para não perder a credibilidade. Eu não esperava, mas podes crer, o caatingueiro, com sua vestimenta de couro, incluindo o chapéu, falando francês e fazendo biquinho, sem pedantismo.

E esse fato se deu em Campo Formoso, em meados deste março, onde fui visitar parentes e aproveitei para participar de um Dia de Campo promovido pelo Senar e a Prefeitura, por meio da Secretaria da Agricultura do Município. O tema era o “Manejo Sanitário na Caprinovinocultura”, apresentado pela zootecnista Angélica Sampaio, do Senar.

Cabras leiteiras escolhidas para o projeto

Até então, pensava eu que seria uma hora de conversa a respeito de como alimentar e tratar caprinos e ovinos, animais por demais conhecidos dos caatingueiros e que desde os anos 1500 fazem parte do cenário do semiárido. A minha surpresa foi o grau de sofisticação da criação desses animais, tratados a pão de ló, como se dizia antigamente.

Nada de soltar os animais em enormes áreas e deixá-los se virar em busca de comida e água. Nada disso, hoje eles são tratados com todos os mimos, desde a alimentação balanceada, água de qualidade, medicamentos dos melhores laboratórios. Comem a pasto e nos cochos, nestes, com suplementações balanceadas e nutrientes altamente escolhidas para suprir a falta de macros, micros e sais minerais. Um luxo!

E não é pra menos, estamos falando de caprinos das raças Saanen e Parda Alpina, e ovinos da raça Dorper, que terão a missão de produzir bastante leite para a população, especialmente os alunos da rede municipal da educação de Campo Formoso. Tudo pensado, planejado para oferecer aos alunos uma alimentação de qualidade, de baixa lactose em relação ao leite bovino.

Rangel Batista de Carvalho

E essa mudança conceitual está sendo implantada pelo técnico em agropecuária, biólogo, com mestrado em Botânica, Rangel Batista de Carvalho, atualmente secretário da Agricultura do Município de Campo Formoso. E para introduzir esse programa foi realizado um amplo diagnóstico pela Caravana de Sustentabilidade, que identificou todas as condições necessárias.

E não foi muito difícil formatar o projeto, pois os caprinos e ovinos fazem parte e são indivíduos importantes no meio ambiente da caatinga. Identificadas as condições de produção, produtividade, condições climáticas, a equipe partiu para oferecer uma nova alternativa de trabalho às famílias, iniciando com os cursos de administração e participação no programa.

Iracy, minha irmã, aderiu de pronto ao programa e adquiriu junto a Ailton – o anfitrião da fazenda na qual foi realizada o Dia de Campo –, quatro exemplares de cabras da raça Parda Alpina para presentear seu neto Kayran. Acreditem, não é um simples regalo, mas o início da atividade empreendedora de um jovem caatingueiro. Um bom exemplo.

Para Rangel, não basta dizer que o sertanejo é antes de tudo um forte, como alertou Euclides da Cunha no livro Os Sertões, no início do século passado, é preciso mantê-los em seu habitat, proporcionando condições de permanência favoráveis na economia e na educação. “Ninguém conhece as condições de vida que a caatinga oferece senão o caatingueiro”, ressalta o secretário.

E atualmente a ciência oferece novos conhecimentos ao homem do campo, permitindo que ele possa desempenhar atividades econômicas favoráveis com os cerca de 500 mm de precipitação, média da região. E Rangel dá o exemplo ao fabricar queijos tipo Valeçay, Borsin, Gorgonzola, tipo Edam Holandês. Não são mais novidades os queijos de leite de cabra frescal, meia cura, meia cura maturado no vinho, no café ou defumado. Nada mais chic!

Não me sinto envergonhado de ter aportado no Dia de Campo pensando que não teria que esforçar a memória para lembrar o velho e surrado vocabulário francês dos tempos de ginásio e passar perrengue diante dos agropecuaristas caatingueiros. Deu-me saudades dos meus professores de Francês, Frei Félix de Pacatuba, Aderaldo (que prometia me ensinar 5 mil palavras num minuto), Helena Targino e Everaldo Cardozo. Ainda bem que nenhum estava presente.

Somente com o passar do tempo que consegui me ambientar e entender que Chèvre era cabra, Feta um tipo de queijo, Chavroux, outro tipo de queijo francês doce e suave, e que o queijo Pecorino também poderia ser fabricado com leite de cabras e não só de ovelhas. O conhecido Camembert é outro que pode ser feito com leite das cabras. Embaralhei-me todo que até esqueci que Fromage é a versão de queijo traduzida ao francês.

Até agora somente falamos sobre a cabra (chèvre). Mas não tem bode ou carneiro em Campo Formoso? Sim, e eles serão saboreados com o que tem de melhor na gastronomia internacional. Mas o que estará na moda, mesmo, é a francesa, portanto, aprenda alguns cortes (coupes de chèvre): Gigot d'agneau (Perna de cordeiro); Echine (ombro); Côtelette (costeleta); Jarret (canela); Selle d'agneau (sela); Carré d'agneau (costela de cordeiro).

Creio que tomarei algumas aulas de francês antes de retornar a Campo Formoso.


*Radialista, jornalista e advogado.

segunda-feira, 24 de março de 2025

5 poemas de Sosígenes Costa

 

5 poemas de Sosígenes Costa     


Sosígenes Marinho Costa, nasceu em Belmonte, Bahia, a 11 de novembro de 1901. Poeta, jornalista e professor, foi um nome de destaque do Modernismo baiano, participando da Academia dos Rebeldes, grupo literário liderado pelo jornalista e escritor Pinheiro Viégas e que tinha vários membros importantes, como, por exemplo, Jorge Amado. Seu primeiro livro foi Obra Poética publicado em 1959, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia, e o Prêmio Paula Brito, ambos em 1960.

Sosígenes Costa faleceu no dia 5 de novembro de 1968, no Rio de Janeiro.


JARDIM DE ENCANTOS
É O LILÁS DA NOITE

Jardim de rosas para mim é a noite
e o céu é um campo de abrasadas sarças,
quando o dragão vibra na luz o açoite
e foge o sol para o país das garças.

Lilás nas rosas, se aproxima a noite.
Que importa a trava se há o lilás nas sarças?
Antes que o grito nos jardins se amoite,
há mil roseiras pelos céus esparsas.

Dragão de plumas se aproxima: É a treva,
E eis que se queima nas ardentes sarças.
E foi-se a treva. Ainda há o dragão co’o açoite.

E antes que o grito a este rosal se afoite
(mar de delicias é o jardim sem treva)
todo me envolvo no lilás da noite.

NO JEQUITINHONHA

Desvaneceu-se a névoa. Ao sol a veia
do rio é prata. O pássaro procura,
tonto de luz, a sombra. Até clareia
o interior da brenha sempre escura.

Fulgor. Ar morno. Abelhas na espessura
a flor azul, do pólen de ouro cheia,
buscam rodando. A abóboda e tão pura!
O vento gira músico e meneia

as frondes. Cresce a luz. Aumenta a gala.
As bromélias desprendem cheiro brando,
brilhantes como fogos de Bengala.

E pelas ramas pêndulas, repletos
de fruta, orvalho e mel, vão orquestrando
clarins as aves, crótalo os insetos.

NO CAMINHO DO ARCANJO

A incompreensão dos corações risonhos e
o eterno anseio de uma vida bela
levam-te, arcanjo, ao reino da procela
e a essa amargura no jardim dos sonhos.

Irrealizado tudo o que é aquarela
em tua vida de vergéis tristonhos.
Aspirações frustradas na procela.
Mito, quimera, sofrimento e sonhos.

Numa estranha visão se te apresenta
no céu da aurora e entardecer marinho
essa tortura, a dor dessa tormenta:

monstros e feras cor de bronze e vinho.
E entre as quimeras que a procela ostenta
o ser estranho está no teu caminho.

OS PÁSSAROS DE BRONZE

Bronze no ocaso e vinhos no horizonte.
E o mar de bronze e sobre o bronze os vinhos.
No rei das aves o poder de arconte
e o sangue azul nos rubros passarinhos.

No meu telhado eu vejo em vossa fronte,
meu cardeal, o rubro entre os arminhos.
Pintou Bronzino esse três reis da fonte:
bronze nas asas, no diadema os vinhos.

O bronze imperial lá está na ponte.
E o bronze voa e esses três reis sozinhos.
Bronzes ao longe e outros no mar defronte.

E o bronze abrasa os pássaros marinhos.
E o reis do ocaso, as aves de Belmonte,
cantando ostentam seus brasões e arminhos.

O RIO E O POETA

Despi o manto de bardo,
vesti a pele do rio.
Vou correndo e vou falando
encantado neste rio.
Vou passando nos lugares
atrasados deste rio.
Vou falando na pobreza
dos lugares deste rio.
Não me calo na viagem.
Falo pelos cotovelos.
Mas ponho calor na fala
para exprimir simpatia
pela causa dos pequenos
que são tantos neste rio.
Não é fala de poeta.
É prosa. Não é poesia.
Mas o povo não se importa
com a falta de melodia,
pois quem está assim falando
é a minha simpatia.
Vou falando, vou falando.
Não calo porque não posso
calar esta simpatia
e ao chegar ao mar, ainda
fala minha simpatia.
Acabando-me no mar,
desencanto-me em poeta.
E cessado todo o encanto,
calou-se a minha simpatia.
Falo agora como poeta.
Minha fala agora é canto
que se apaga e que se esfria,
para conservar calada
toda a minha simpatia
pela causa dos pequenos
que são tantos neste rio.
Procuro imitar o canto
da viola e da cotovia.
Imito o canto do povo,
mas calada a simpatia,
minha fala de poeta
perdeu toda a poesia.

*Poemas do livro “Coleção Melhores Poemas – Sosígenes Costa”, Global Editora, 2012.

sexta-feira, 21 de março de 2025

A SENTENÇA CONTRA O PREFEITO E O WHISKY DIÁRIO

 

A SENTENÇA CONTRA O PREFEITO E O WHISKY DIÁRIO

Dr. Érito Machado (o primeiro à esquerda acima)

Por Walmir Rosário*

Recentemente abordei numa crônica um nosso professor de Direito Civil, Érito Francisco Machado (juiz, desembargador e presidente do TRT-BA 5ª Região), e recebi de colegas pedidos de novas histórias sobre ele. Mesmo sem ser preciso, não deixo de falar sobre seus atributos intelectuais, sua formação humanista e a independência em suas decisões.

Antes de Itabuna, aonde veio assumir a Justiça do Trabalho, foi juiz de Direito na Comarca de Irecê (BA), no final da década de 1950. E o Dr. Érito comentava que a prestação da justiça nos processos ia além dos autos, pois dependia da realidade e situação das partes. “Não posso condenar uma pequena empresa a pagar sentença absurda, fechar as portas e deixar outros 10 pais de família desempregados”, dizia.

E o juiz Érito Machado adotava uma linha de conduta rígida, a começar pelo modo de vestir, sempre social, se permitindo a tirar o paletó e arregaçar as mangas da camisa apenas quando ia à praia. Não frequentava qualquer ambiente, tampouco recebia presentes e outros mimos, obedecendo, rigorosamente, a liturgia do cargo e a educação familiar.

E ele nos contava que antes de ingressar na Justiça do Trabalho era juiz de Direito na comarca de Irecê. Reunia-se diariamente – após o expediente forense – na residência do prefeito, para um bate-papo intelectual seleto, com o padre, o diretor do ginásio, um pastor protestante, além do próprio alcaide e esporádicos convidados.

Certa feita julgou uma ação judicial que envolvia a propriedade de uma grande extensão de terras, cuja sentença foi contra os interesses do então prefeito, anfitrião diário dos encontros vespertinos. Agiu como o magistrado que era, e ao sair do fórum cumpriu seu ritual diário, para a tertúlia cotidiana com os amigos, justamente na casa da parte derrotada na ação.

Para o magistrado, nada fora da normalidade, agiu como deveria, dando o direito a quem deveria, sem o envolvimento inerente de quem detém o poder ou por causa da amizade. Chegou, abriu o portão, chegou à varanda cumprimentou os presentes e se sentou, como todos os dias, na sua cadeira favorita, conforme o ritual diário.

Todos os saudaram efusivamente, como de hábito, seguindo as costumeiras perguntas sobre o dia a dia, a exceção do anfitrião, que respondeu ao seu cumprimento com um muxoxo e sequer abriu os lábios para responder com a cordialidade de sempre. E nosso personagem cumpriu a rotina de sempre: falou sobre os assuntos mais importantes do dia e não foi respondido com a afabilidade de sempre.

De pronto, o Dr. Érito Machado desconfiou da distração do ora dissimulado anfitrião e continuou agindo como nada daquilo lhe dizia respeito. Se dirigiu à mesa, colocou gelo no copo, abriu o litro de whisky e se serviu generosamente, como costumeiramente fazia. Voltou a ocupar sua cadeira e retomou aos assuntos corriqueiros com os outros convidados.

Embora o bate-papo continuasse rolando, o clima não foi dos melhores, por parte do anfitrião, que assistia a tudo e não participava das conversas, como era do seu feitio. Não teceu críticas à falta de repasses de recursos pelos governos estadual e federal, não contou seus planos para o desenvolvimento da cidade, sua querida Irecê, como tratava.

Por volta das 19h30min, seguiram o rito mantido há anos, se despediram e prometeram retomar a discussão dos assuntos na tarde seguinte. Diante do clima de velório visível na figura do prefeito, os convivas se dirigiram às suas residências sem tocar no assunto. Nem precisavam, pois a sentença lavrada pelo juiz de Direito ganhara os quatro cantos de Irecê.

Para o prefeito a retumbante vitória na ação que se arrastava há anos, agora resolvida, seriam favas contadas. E foi o próprio alcaide quem sugeriu ao juiz que desse uma atenção especial ao processo que dormitava nos arquivos do cartório. Com toda a dedicação, o juiz Érito Machado examinou o processo e fez a justiça conforme demonstravam os fatos nos autos do processo.

Ao terminar de contar a história, o nosso professor Érito Machado dava uma verdadeira lição aos seus alunos e amigos. “O direito é pra ser concedido a quem o possui, não pode ser dado por amizade ou vendido a troco de dinheiro ou benesses. No dia seguinte, voltei à casa do prefeito, que já parecia refeito do trauma, conversamos como sempre e bebemos o nosso whisky à vontade”, finalizou a história.

*Radialista, jornalista e advogado.


quinta-feira, 20 de março de 2025

 Sagrado Coração de Jesus, Uma Devoção Centenária

Desde 1925





Hoje, dia 20 de Março, a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus completa 100 anos de sua implantação no município de Itajuípe, sob a responsabilidade de Frei Bento de Souza, primeiro pároco em conjunto com o também Frei Francisco Xavier Costa.







Com a freguesia instalada, no dia 3 de abril, foi plantada a pedra fundamental da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, e teve como principais colaboradores o Coronel Manoel Misael da Silva Tavares, com a doação do terreno onde seria erigido o templo, João Deway Guimarães, Dr. Alencar Mota, Firmino Caldas, Alexandre Pereira de Souza, D. Maria Assis, Jayme Gomes Ribeiro, Laurindo Eustáquio de Jesus, Ciriaco José da Anunciação (Doador do Altar Mor), Collatino Berbert, Antonio Queiroz de Araújo e Gabriel Benevides (doador de um dos altares instalados nas laterais do altar mor).


Nestes cem anos de existência em favor da espiritualidade católica, foram instaladas as seguintes capelas: São Sebastião, na Pintangueiras, São José Operário, no distrito de Bandeira do Almada, Santa Rita de Cássia, no bairro do mesmo nome, Divino Espirito Santo, distrito do Sequeiro Grande, Santo Antônio, no bairro do mesmo nome, São Cristovão, na Ruinha de São Cristóvão, Nossa Senhora Aparecida, no Bairro do Alto da Liberdade e São Francisco, no Bairro Acácio Almeida, em construção.


Fazendo parte da Diocese de Ilhéus desde a sua instalação, conta com diversos Grupos, Pastorais e Movimentos que contribuem com o apostolado e evangelização das comunidades com orações e eventos realizados nas datas festivas da cristandade, na Igreja Matriz.

A Paróquia conta dede a sua instalação com o Apostolado da Oração, Ordem de São Francisco, Legião de Maria, Renovação Carismática Católica (RCC), Terço dos Homens, Pastoral da Saúde, Juventude Católica, entre outros.


 Frei Hermano Schwartbech


Padre Lau



De 1925 a 1982 a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus teve como párocos Frades da Ordem dos Franciscanos Menores (OFM), iniciando com Frei Bento de Souza, Frei Luciano Gundwig, Frei Lúcio, Frei Victor Hiniz, Frei Rufino Wendes, Freu FulgêncioWidenhames, Frei Mário, Frei Hermano José Adams, Frei Sigberto Herberhold, irmão de Dom. Eduardo Herberhold, na época Bispo da Diocese de Ilhéus, Frei Cecilio, Frei Anacleto, Frei Fulgêncio Rolim, Frei Venâncio Willeke, Frei Agostinho Tepe, irmão do também Bispo da Diocese de Ilhéus, Dom. Valfredo Tepe.

Nas décadas de 60 até a de 80, ocuparam a função de pároco os Frei’s Agnelo Bonfim, Bento, Reginaldo, Francisco, José Reinaldo, Frei Henrique Woltering (faleceu num acidente de carro durante a sua gestão como pároco no ano de 1971, Frei Hermano Schwartbech, que substituiu Frei Henrique Woltering, Frei Moisés, Frei Adauto, Frei Eduardo, Frei Raul Selback, Frei Bernardo.

Dando seguimento assumiram a função de Párocos os Padres, Valdir, João Borges, Alberto Kruschewsky, Laudelino, Edson Hagge, entre outros.


Atualmente está à frente da paróquia do Sagrado Coração de Jesus o Padre José Nilton (foto), que tomou posse em 10 de fevereiro de 2023.

Quebra de tabu

Frei Raul Selback

Após a celebração de um matrimônio de um casal que tinha laços familiares maçônicos, um dos membros da Loja Maçônica, por educação ou para pôr em prova, convidou Frei Raul para comparecer a recepção aos noivos e que seria realizada nas dependências da loja.

Até aí tudo bem, convite feito e dúvidas se o convidado iria comparecer ou não?

Transcorrendo a recepção eis que surge Frei Raul com batina e tudo para surpresa ou espantos dos presentes, que o receberam efusivamente na esperança de aquele ato espontâneo do frei fosse um sinal de paz entre a Igreja e a Maçonaria.

Reflexo

Anos depois o Cardeal Primaz do Brasil Arcebispo Dom Avelar Brandão visitou à Loja

 Liberdade nº 1 e à Grande Loja da Bahia, precisamente no dia 11 de junho de 1976, onde o Cardeal abençoou o estandarte da Loja Liberdade e recebeu o Diploma de Benfeitor da Maçonaria.

Não se sabe até hoje se Dom Avelar Vilela, seguiu o gesto de Frei Raul.

Que venham mais Cent'anni"


Padre João Borges (Dão)



Padre Edson Hagge


Frei Hermano numa solenidade de Formatura da Turma de Contabilidade da Escola de Comércio


Frei Agnelo

quinta-feira, 13 de março de 2025

A Cronica de Wamir Rosário - Direto de Canavieiras

 

MENOS LERO E MAIS CIÊNCIA NA CACAUICULTURA

A cacauicultura ultrapassa fronteiras inimagináveis

Por Walmir Rosário*

Não existe qualquer ser vivente que registre hoje um só político visitando a Ceplac e as fazendas de cacau do Sul da Bahia. Faz muito tempo que a cacauicultura baiana começou a ser desprezada por alguns setores da sociedade. E quem inaugurou essa virada foi o segmento bancário, fechando as torneiras para os financiamentos de custeio e investimento.

E esse caso de desamor data do final da década de 1980, com a infestação dos pés de cacau com a vassoura de bruxa, doença que dizimou os cacaueiros e quase mata sem dó nem piedade a principal matriz econômica do Sul da Bahia. Sem recursos para honrar seus compromissos com os trabalhadores, o manejo das roças e, sequer, comprar alimentos para a sua sobrevivência, o cacauicultor foi banido do mundo produtivo, comercial.

Nesta data era comum o desembarque de um monte de políticos no Sul da Bahia, para cumprir um extenso roteiro, a começar pelas instalações da Ceplac, fazendas (principalmente as mais infestadas) e redações de jornais, rádios e TVs. Com o cenho franzido, analisavam a situação de penúria do setor cacaueiro e prometiam reverter a terrível situação junto ao governo federal.

Os políticos de situação semeavam esperança ao garantir as ações salvadoras e os oposicionistas culpavam o governo pela imobilidade que resultou no maior crime de lesa pátria contra a região cacaueira. Como sempre, se autointitulavam representantes da lavoura e cobravam uma votação expressiva para eles (claro), pois assim teriam força para eliminar a crise.

E os deputados cobravam a presença dos presidentes da República, que teriam que examinar – in loco – o debacle da antes rica região cacaueira da Bahia. À custa de muita lábia, finalmente apareceu um deles, que por desconhecimento total do assunto parecia perdido nas areias do deserto do Saara. Mesmo assim, experimentou o cacau in natura, na forma de chocolate e o famoso mel afrodisíaco. E fez mais promessas.

Na realidade, mais promessas não cumpridas, ou solucionadas em parte, sempre com notícias alvissareiras. Fora da mídia, os ministérios ou instituições que deveriam alocar os recursos sussurravam que não seria legítimo colocar dinheiro bom no cacau, um negócio ruim. Apesar da situação de miséria os cientistas da Ceplac começaram dar a volta por cima e apresentaram novos materiais genéticos de qualidade.

Com os novos clones disponíveis – alguns deles prospectados nas fazendas da região –, o entrave continuava pela atávica falta de recursos disponíveis para a implantação dos novos materiais. Os cacauicultores que possuíam negócios diversificados conseguiam renovar as plantações com os clones tolerantes à vassoura de bruxa e de alta produtividade.

Aos poucos as fazendas de cacau foram mudando de donos; os pequenos produtores também passaram a renovar suas plantações. Na mesma proporção em que a cacauicultura ressurgia, a Ceplac era desmontada e o silêncio dos políticos ensurdecia. Enfrentando as adversidades, o cacauicultor conseguiu dar a volta por cima e hoje não ouve mais o lero-lero enganador.

Se no Brasil a cacauicultura conseguiu ser renovada, o mesmo não aconteceu na Ásia e África, acometida por uma série de doenças e adversidades climáticas, o que elevou o preço do cacau no mercado internacional. E esses compradores passaram a enxergar o produto brasileiro com bons olhos, devido à qualidade superior entregue pelos novos cacauicultores brasileiros.

O aumento do consumo e, por conseguinte, dos preços, elegeu o cacau como a commodity queridinha da vez, derrubando mitos, e a cacauicultura passou a ser implantada em todo o Brasil, inclusive a pleno sol, pelos grandes representantes do agronegócio do Oeste baiano. E como um negócio democrático os cacaueiros têm se adaptado à caatinga com plantações, inclusive, em diversas regiões de Sergipe.

O silêncio dos políticos na cacauicultura deve ter sido benéfico para o produtor rural, que se ateve mais às questões científicas, em detrimento das promessas não cumpridas de Brasília. A análise não se prende apenas a essas questões e são por demais complexas. Mais uma coisa é certa, os políticos já resolveram problemas da cacauicultura, isso na segunda metade da década de 1950.

Nessa época, o governo federal criou a Ceplac, de início a do financiamento da cacauicultura. Com o visionário José Haroldo, vieram novas fases da Ceplac: a da extensão rural, da pesquisa, ensino e do desenvolvimento. Com isso, atualmente, o sergipano não precisará deixar sua terra natal para trabalhar com o cacau nas inóspitas terras grapiúna de antigamente, pois agora o cacau chegou a ele.


*Radialista, jornalista e advogado.

Aristarcho Guilherme Weyll: Linhagem Histórica e Influência em Itajuípe (Bahia)

Aristarcho Guilherme Weyll: Linhagem Histórica e Influência em Itajuípe (Bahia)



Origem Familiar e Ascendência Aristarcho Guilherme Weyll pertencia a uma família de 

origem europeia com longa atuação no sul da Bahia, especialmente ligada à cultura do 

cacau. O sobrenome Weyll remonta aos primórdios do século XIX na região de Ilhéus. Em 

1814, registros indicam a presença do arquiteto holandês Peter Weyll, que juntamente 

com o sócio alemão Adolf Saueracker adquiriu terras no sul da Bahia (engenho Almada) e 

introduziu plantações de madeira, açúcar, café e cacau. Ao longo do século XIX, membros 

da família Weyll continuaram envolvidos na lavoura cacaueira; um documento histórico 

cita um Weyll explorando cana, café e cacau em Ilhéus, cuja propriedade foi vendida em 

1854 à família Cerqueira Lima. Esses fatos sugerem que Aristarcho Weyll descende 

desses pioneiros estrangeiros que se fixaram na região cacaueira baiana. Além da 

ascendência europeia, há indícios de ligação de Aristarcho à família Guimarães, 

tradicional família luso-brasileira de Ilhéus. Seu nome completo aparece em fontes 

jurídicas como Aristarco Weyll Guimarães, sugerindo que “Guimarães” compunha seu nome 

de família. Os Guimarães eram influentes desde o século XIX – por exemplo, João Dias 

Pereira Guimarães foi um destacado imigrante português proprietário de engenhos em 

Ilhéus. Essa combinação de sobrenomes indica que Aristarcho poderia ser fruto da união 

de ramos familiares distintos (Weyll e Guimarães), unindo heranças alemãs/holandesas e 

portuguesas no seu sangue. É possível que um de seus pais fosse da linhagem Weyll e o 

outro da linhagem Guimarães, integrando duas tradições familiares influentes na região 

cacaueira. Trajetória em Itajuípe e Influência Regional Aristarcho Weyll ficou conhecido 

por sua atuação política e agropecuária em Itajuípe, cidade do sul da Bahia. Ele foi 

produtor de cacau no então distrito de Pirangi (posteriormente renomeado Itajuípe) e 

testemunhou de perto o processo de emancipação municipal. No início da década de 1950, 

Itajuípe era distrito de Ilhéus, mas lutava pela autonomia. Em 1952, durante a campanha 

emancipacionista, Aristarcho teve papel de liderança: foi nomeado administrador distrital 

de Itajuípe pelo prefeito de Ilhéus, Pedro Catalão, para governar temporariamente o 

distrito . Essa nomeação ocorreu num contexto conturbado – Catalão escolheu 

Aristarcho por ele estar “equidistante” das disputas locais, já que no período eleitoral 

encontrava-se fora de Itajuípe . Aristarcho Guilherme Weyll tomou posse como 

administrador em 21 de agosto de 1952 , exatamente no dia em que a Assembleia 

Legislativa aprovou a criação do novo município. Ou seja, ele foi a figura que representou 

o poder local na transição de distrito para município. Após a sanção da Lei Estadual nº 

507/1952, que criou oficialmente o município de Itajuípe (promulgada em 12 de dezembro 

de 1952), foram organizadas as primeiras estruturas de governo municipal. Aristarcho 

integrou a primeira Câmara Municipal de Itajuípe, eleita em 1954 e empossada em abril 

de 1955. Por ser um dos membros mais experientes (mais velho) daquela Câmara, ocupou a 

posição de 1º Secretário da Mesa Diretora na sessão inaugural. Nesse primeiro governo 

municipal, Firmo Bernardino dos Santos foi escolhido prefeito pela Câmara, enquanto 

Aristarcho Weyll atuou na Mesa Diretora ajudando a conduzir os trabalhos legislativos. 

Esses fatos demonstram a influência política de Aristarcho na fundação da cidade – ele 

esteve entre os “pais” de Itajuípe, liderando o distrito rumo à emancipação e 

estabelecendo as bases administrativas locais. A influência da família de Aristarcho 

também se refletiu em outras partes da região cacaueira. Parentes próximos 

participaram da vida pública em municípios vizinhos. Por exemplo, Henrique Weyll Cardoso 

e Silva (possivelmente membro do mesmo clã familiar) foi prefeito de Ilhéus de 1959 a 

1963. Além disso, registros históricos citam Astrogildo Guilherme Weyll, provavelmente 

parente contemporâneo de Aristarcho, envolvido em invenções técnicas – há referência a 

um “Medidor Weyll”, aparelho mecânico-elétrico criado no início do século XX . Esses 

exemplos ilustram que os Weyll estavam presentes não apenas na economia agrícola, mas 

também na política e até em empreendimentos tecnológicos regionais. Descendência e 

Legado Familiar Aristarcho Weyll constituiu família na Bahia, dando continuidade à 

linhagem. Embora informações detalhadas sobre todos os seus descendentes sejam 

escassas em documentos públicos, sabe-se que ele teve pelo menos um filho, nascido e 

criado em Itajuípe. A escritora Paloma Weyll, neta de Aristarcho, relembra que “meu avô 

Aristarcho Weyll… teve um filho que deu muito trabalho” (referência carinhosa ao pai 

dela). Paloma conta que não chegou a conhecer o avô pessoalmente, mas ouviu histórias 

sobre ele e até se inspirou em sua figura para um personagem de romance ambientado em 

Itajuípe. Isso evidencia que a memória de Aristarcho foi transmitida aos netos, mantendo 

vivo o legado familiar. Os herdeiros de Aristarcho Guilherme Weyll continuaram presentes na região de Itajuípe após sua morte. Documentos recentes de cartório 

mostram que, já no século XXI, terras que pertenceram à família ainda são identificadas 

em nome de seus sucessores. Por exemplo, um laudo de avaliação fundiária de 2021 menciona “os imóveis de […] herdeiros de Simplício José da Ressurreição e Aristarco 

Guilherme Weyll” como confrontantes de uma fazenda no distrito de Bandeira do Almada, 

Itajuípe . Ou seja, propriedades rurais ligadas a Aristarcho foram transmitidas a seus descendentes, que mantiveram vínculos com a atividade cacaueira local. Em resumo, 

Aristarcho Weyll descende de pioneiros estrangeiros do ciclo do cacau na Bahia e uniu em 

sua genealogia famílias influentes da região (Weyll e Guimarães). Como líder político, foi 

peça-chave na emancipação de Itajuípe, atuando como prefeito (administrador) distrital 

nomeado e, posteriormente, como vereador na instalação do novo município. Seus 

descendentes diretos – filhos e netos – perpetuaram o sobrenome e a presença familiar 

em Itajuípe, seja na memória cultural (através de relatos e obras literárias) ou na 

manutenção de propriedades e negócios. Essa linhagem histórica evidencia a forte ligação 

da família Weyll com o desenvolvimento socioeconômico do sul da Bahia, especialmente no 

apogeu da era do cacau. Fontes consultadas: documentos históricos e jurídicos, blogs 

regionais e relatos familiares. Destacam-se referências do Blog do Facó sobre a 

emancipação de Itajuípe e menções da escritora Paloma Weyll sobre seu avô, além de 

registros do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia sobre os pioneiros do cacau. As 

citações fornecidas corroboram as informações apresentadas, garantindo base 

documental confiável: • Blog Ilhéus… com amor! – Maria Luiza Heine, sobre Henrique 

“Henriquinho” Cardoso (prefeito de Ilhéus). • Blog MUNICÍPIO DE ITAJUÍPE – BAHIA – 

L.C. Facó, detalhando a luta emancipacionista e o papel de Aristarcho Weyll . • Post 

“Resgatando o passado” – Paloma Weyll, com memória pessoal referente a Aristarcho 

Weyll. • Família, Poder e Mito: o município de S. Jorge de Ilhéus (1880-1912) – 

dissertação de D. Laport, que cita a presença de Peter Weyll em 1814 e outras 

informações históricas sobre famílias colonizadoras. • Laudo de avaliação judicial 

(Itajuípe, 2021) – citando herdeiros de Aristarco G. Weyll em propriedade rural

Todas essas fontes reforçam a reconstrução da genealogia e trajetória de Aristarcho 

Weyll, mostrando sua ascendência europeia, atuação política local e descendência 

presente na história de Itajuípe e região.


 



Paloma Weyll