segunda-feira, 28 de julho de 2025

Itabuna celebra 115 anos de emancipação política com avanços

 alhos & bugalhos

Itabuna celebra 115 anos de emancipação política com avanços

 


A Tarde.-.Localizada no sul da Bahia, a cidade de Itabuna comemora 115 anos de emancipação política nesta segunda-feira, 28. Principal polo comercial e de serviços, saúde, educação, lazer e entretenimento, o município vive um momento de crescimento impulsionado por investimentos públicos e parcerias institucionais.


Em entrevista exclusiva ao A TARDE, o prefeito Augusto Castro (PSD) comentou a trajetória do município e detalhou os planos para o futuro. Na avaliação do prefeito, Itabuna tem um papel estratégico no cenário estadual, com grande capacidade de influência no desenvolvimento dos municípios vizinhos. Eventos como o ‘ItaPedro’ reforçam a imagem da cidade como destino turístico e centro cultural do interior baiano.


“Temos consolidado a cidade como um destino turístico e cultural importante, como demonstram eventos como o ItaPedro, que projetam Itabuna nacionalmente. Nosso desafio tem sido ampliar esse protagonismo com uma gestão moderna, transparente e voltada para resultados”, pontuou.

Sobre a atração de investimentos como eixo central da estratégia de desenvolvimento local, o chefe do poder executivo municipal destacou que a cidade vem promovendo investimentos históricos com foco no desenvolvimento urbano e econômico que garanta novos empreendimentos e, consequentemente, geração de emprego e renda.

“Nosso planejamento estratégico visa transformar Itabuna em um grande polo logístico e de serviços do sul da Bahia, em alinhamento com projetos estruturantes como o Porto Sul e a Fiol [Ferrovia de Integração Oeste-Leste]”, falou Augusto Castro.

“Além dos investimentos diretos da nossa gestão, como novas avenidas, requalificação de vias urbanas e melhorias na infraestrutura da cidade, destacamos também grandes obras em curso, viabilizadas por meio de parcerias com os governos estadual e federal, a exemplo da construção da nova BA-649, que ligará Itabuna a Ilhéus com mais agilidade e segurança, e a duplicação da BR-415 entre Nova Itabuna e Nova Ferradas”, acrescentou o prefeito.

 Estão em andamento ainda a urbanização do trecho entre o Posto Cachoeira e o Cidadelle, que será um novo vetor de crescimento urbano, e a requalificação de um novo trecho da orla, que se estende da Câmara de Vereadores, passando pela Rua do Prado e o Condomínio Real Ville, até o entroncamento da ponte 1 da nova BA- 649.

Entre os marcos da gestão, o prefeito de Itabuna destacou a entrega do novo Hospital de Base - fruto de uma parceria com o Governo da Bahia -, a ampliação no abastecimento de água com o programa ‘Mais Água’ para a Cidade, que já atende mais de 140 mil pessoas, e a requalificação de mais de 340 ruas através do programa Acelera Itabuna.

Outros avanços incluem a nova Orla da Beira-Rio, a renovação da frota de ônibus e a construção do Complexo Viário, o viaduto da Avenida Princesa Isabel e a nova ponte que liga a Avenida Amélia Amado à Rua João Teles, no bairro Conceição.

“Também estamos em fase de preparação para a implantação de novos parques lineares e da captação em tempo seco no Rio Cachoeira, contribuindo para a despoluição do nosso principal curso d’água. E, paralelamente a tudo isso, temos registrado grandes avanços na área social, com programas e ações voltadas a quem mais precisa, fortalecendo a rede de assistência, garantindo dignidade e ampliando o alcance das políticas públicas”, disse o prefeito.

Na educação, os avanços incluem a requalificação de mais de 40 escolas da rede municipal e a valorização de professores, com a nomeação de 500 novos docentes. A juventude também é prioridade, com projetos que integram educação, cultura e esporte.

“Um grande destaque é a Escola de Talentos, que já é reconhecida como um espaço de formação, criatividade e transformação social. Ali, muitos jovens têm descoberto seus potenciais e desenvolvido novas habilidades em linguagens como música, teatro, dança, artes visuais, audiovisual, entre outras. É um projeto que forma e abre caminhos para o futuro”, afirmou.

Reeleito após votação histórica, Augusto Castro reforça que o município seguirá avançando com planejamento, responsabilidade fiscal e atenção às demandas sociais.

“Com muito trabalho, compromisso e perseverança, estamos colocando Itabuna em um lugar de destaque na Bahia. Vamos ampliar os serviços de saúde, fortalecer ainda mais a educação e continuar promovendo políticas sociais que combatam desigualdades. Itabuna tem um enorme potencial, e nossa missão é fazer com que ele se transforme em desenvolvimento para todos, com planejamento, responsabilidade e compromisso com as futuras gerações”.

Programação

A programação comemorativa pelos 115 anos de Itabuna teve início na sexta-feira, 25, com a assinatura de ordens de serviço pela Empresa Municipal de Águas e Saneamento (Emasa), entrega do Mural Artístico da Estação Elevatória de Esgoto e da revitalização da Instituição de Educação Infantil Lúcia Oliveira. No sábado, 26, foram entregues o Centro Pop, o Anexo Escola Luiz Viana Filho e a assinatura de Ordem de Serviço da Praça da Emasa.

Já no domingo, 27, a cidade recebeu a Corrida da Rota Transportes, a entrega da requalificação da 2ª etapa da Orla Beira-Rio e de viaturas da Secretaria de Transportes e Trânsito (Settran), além de um culto de gratidão pelos 115 anos de Itabuna, na Igreja Batista Teosópolis.

Nesta segunda-feira, 28, as comemorações seguem com:

  • 9h- Missa solene, na Catedral de São José;
  • 11h- Lançamento da Pedra Fundamental pela instalação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) Campus Itabuna;
  • 15h- Assinatura de Ordens de Serviço: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Construção do Posto de Saúde dos Condomínios Jubiabá/Gabriela, Autorização de Lançamento dos Editais de: revitalização da Av. Amélia Amado e do Parque Linear;
  • 16h- Entrega da Escola Municipal Humberto de Alencar Castelo Branco;
  • 19h30- Festa em comemoração ao aniversário da cidade com shows de Rian Girotto; Calcinha Preta; Pablo e Sambe Vipp, na Arena Zé Cachoeira.

Na terça-feira, 29, a partir das 13h, um seminário vai preparar a audiência pública para a instalação do IFBA no município.

Persona do Dia

Firmino Alves

Dia De

Pensamento do Dia


Casos e Causos

Personagens da história de Itabuna


são destaque neste 28 de julho, quando a cidade completa 115 anos de emancipação política. Muitos foram os homens e mulheres (principalmente sergipanos) que contribuíram com sua fundação e desenvolvimento.
      São muitas, por isso destacamos apenas alguns nomes nesta matéria especial: Felix Severino do Amor Divino, Manuel Constantino, José Almeida Alcântara, Aziz Maron, Oscar Marinho Falcão e Otaciana Pinto.
      Otaciana nasceu no Arraial do Galeão, em Valença, Bahia, em 14 de julho de 1883. Ela era formada em magistério e chegou a Itabuna em 1925. De acordo com os historiadores, por falta de escolas, ensinou no meio da rua. Otaciana Pinto atuou como parteira e exerceu mandatos como vereadora pelo PSD.
otaciana
      Ela teria trabalhado como parteira até os 74 anos e cada atendimento era anotado num caderno particular. Otaciana Pinto morreu em maio de 1987.
      O nome Felix Severino do Amor Divino é encontrado em todos os livros que narram a história de Itabuna. Nascido em Sergipe no dia 20 de novembro de 1826, ele chegou ao sul da Bahia em 1859.
      Inicialmente Felix Severino foi para a vila de Banco da Vitória, então seguiu para a Vila de Ferradas. "Depois de uma caminhada de vários dias, enfrentando feras, mosquitos, mata fechada e lagoas infestadas de jacarés, Felix Severino e o amigo Manuel Constantino deparam-se com uma pequena clareira à margem do rio".
      Quem conta é o historiador Adelindo Kfoury, em seu livro "Itabuna, tinha terra". Ele afirma que na região chovia torrencialmente quase todos os dias e as feras rondavam o acampamento montado por Felix e seu amigo.
      "Logo nos primeiros dias, os dois sergipanos começaram a exploração pelos arredores". Felix Severino batizou o lugar de Marimbêta e construiu seu primeiro casebre.
felix severino
      Adelindo acrescenta que no outro lado do rio Severino construiu várias casas, além de um barracão em que foi montado um ponto de comércio. Em 1867 foi buscar a família em Sergipe, deixando o amigo Manuel tomando conta dos negócios no sul da Bahia.
      Ele retornou à região em setembro do mesmo ano acompanhado de 25 pessoas, entre irmãos, filhos, esposas, sobrinho e amigos, que intensificaram a derrubada das matas para o plantio de cacau na Marimbêta, local onde hoje está a Câmara de Vereadores de Itabuna.

      A casa construída por Felix Severino existiu até o final da década de 50. Ele já era dono de roças de cacau, armazéns e controlava quase todo o comércio na localidade, e ficou ainda mais rico em 1879, com a morte de Manuel Constantino, que não tinha parentes aqui.

Jornal ARegião.com.br


Charge do Dia


Priskas Eras

Os políticos de Itabuna

Publicação simultânea: correioitajuipense.blogspot.com – academiaalcooldeitajuipe.blogspot.com e correioitajuipensedenoticias.blogspot.com (Tribuna do Almada é notícias).
 “Vou Afiar a Agulha e Bater o Martelo! Ponto final. *Redação o Bolso do Alfaiate”.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Chocolate renasce no sul da Bahia com nova geração de produtores de cacau fino

Chocolate renasce no sul da Bahia com nova geração de produtores de cacau fino


Diante de desafios históricos como a praga vassoura-de-bruxa e os preços defasados, produtores resgatam a atividade com foco em qualidade, rastreabilidade e chocolate de origem e posicionam a região como referência em produtos finos.

Na terra de Jorge Amado e de seus personagens eternizados como Gabriela, do romance Gabriela, Cravo e Canela, uma nova geração de produtores e empreendedores tem investido na produção de cacau artesanal, de olho em um consumidor atento à forma como o chocolate é produzido e também disposto a pagar mais por uma barra do produto.

A região do sul da Bahia já foi uma das maiores exportadoras de cacau, mas perdeu espaço no mercado global depois da chegada da vassoura-de-bruxa, praga que dizimou lavouras no final de 1980 e ainda hoje é uma das principais vilãs.

Costa do Marfim e Gana lideram atualmente a produção global, e o Brasil ocupa a sexta posição na produção mundial do fruto.

Cerca de três décadas depois, filhos e netos daquela geração de produtores buscam novos caminhos para se manter na atividade, com foco na produção de cacau fino, na qual a qualidade ganha relevância em detrimento da quantidade.

Se antes o destino do cacau baiano passava quase exclusivamente pelas tradings e por multinacionais como CargillBarry Callebaut e Nestlé, que ainda mantêm presença industrial na região, o foco tem mudado para a produção local de cacau fino, com rastreabilidade, fermentação controlada e identidade própria, voltado à fabricação de chocolates bean-to-bar (do grão à barra) e também orgânicos.

O fator dos preços da amêndoa também contribuiu para essa virada estratégica, já que a venda do cacau tem como base as cotações negociadas na bolsa de Nova York.

Os produtores percebiam havia anos que a qualidade do cacau da região era alta, mas os preços internacionais então relativamente baixos da commodity não acomodavam essas variações premium. A alta do cacau nos últimos dois anos e meio e a maior demanda pelo produto de maior qualidade mudaram o cenário.

Os futuros da commodity, que rondavam os US$ 2.300 por tonelada no fim de 2022, subiram para até US$ 12.600 em dezembro de 2024. Neste ano, o cacau tem flutuado e perdeu força nos últimos meses, mas era cotado a US$ 8.240 em 24 de julho, ainda bem acima do patamar anterior.

Hoje, a região já é referência na produção de chocolates finos, com diversos produtos premiados dentro e fora do Brasil.

Na edição deste mês do Chocolat Festival, que ocorreu no centro da cidade de Ilhéus, foi possível encontrar dos mais diferentes tipos e usos para o cacau baiano: geleias, cremes, cervejas, além, claro, de diversas variações de chocolate.

“O cacau aqui é mais do que produto: é história, floresta em pé, transformação social”, disse Maurício Galvão, secretário de Turismo de Ilhéus. Segundo ele, 70% da produção da região é feita por agricultura familiar.

A meta, explica, é integrar o setor com educação, cultura e turismo.

“O turista colhe cacau, aprende sobre o processo e entende por que aquele chocolate tem um sabor diferente.”

Quarta geração da família

Marcela Tavares Monteiro, da Cacau do Céu, é uma das que apostaram na produção de cacau para chocolate fino e colheu os frutos com premiações em competições brasileiras e no exterior.

Ela conta que no final de 2008 viajou para o Canadá para estudar sobre a fabricação de chocolate, e, três anos depois, fundou a marca Cacau do Céu junto com a sua irmã, Manuela.

Da quarta geração de uma família tradicional do cacau, Monteiro diz que começou a trabalhar na produção bean-to-bar (do grão à barra) na região de Ilhéus, em 2009, antes mesmo de o termo se popularizar no Brasil.

“A crise agora dos preços não é uma crise para quem é daqui. É um preço justo, porque passamos tempo demais sendo mal remunerados”, disse Monteiro.

A crise mencionada por Monteiro é sobre o aumento dos preços da amêndoa na bolsa de Nova York, que nos últimos anos gerou pressão sobre a grande indústria de chocolate.

Hoje, a sua marca tem duas unidades produtivas no país: uma em Ilhéus, com produção de 500 quilos ao mês, e outra em Santa Rita do Sapucaí (MG), que produz 1,5 tonelada ao mês, mas conta com capacidade para 6 toneladas mensais.

“Antes da vassoura-de-bruxa, o cacau baiano era respeitado. Depois, perdemos qualidade e produtividade. Agora, com o cacau fino, estamos recuperando isso.”

Tavares investiu R$ 5 milhões para expandir sua fábrica em Minas Gerais para abastecer o Sudeste, hoje seu principal mercado consumidor. Em São Paulo, é possível encontrar o seu produto na Casa Santa Luzia.

O carro-chefe da marca são os produtos liofilizados com frutas naturais, como morango e maracujá.

“O desafio não é fazer chocolate. É vender chocolate”, disse.

A matéria-prima de Monteiro tem origem em sua própria fazenda e na de um produtor parceiro, João Tavares, da Fazenda Leolinda, cujas amêndoas dispostas em 340 hectares de terra foram reconhecidas em prêmios internacionais.

Depois de décadas produzindo para a indústria tradicional, ele conta que apostou na fermentação controlada, rastreabilidade e genética diferenciada das amêndoas para se diferenciar na produção de cacau.

Hoje, cerca de 70% da sua produção é considerada cacau fino.

“Com a vassoura-de-bruxa, ou a gente agregava valor ou quebrava. Foi uma questão de sobrevivência”, disse João Tavares.

Tavares explica que ainda não produz chocolates, mas está nos seus planos no futuro próximo.

Segundo ele, o principal desafio é a sucessão dos negócios — algo que foi reiterado por cacauicultores.

“Meus filhos foram para outras áreas, traumatizados pela crise que vivemos. E também há o desafio da monilíase. E o clima, que empurrou a safra para setembro.”

Da árvore à barra

A idealizadora da marca Modaka, Patrícia Viana Lima, é a quarta geração de uma família envolvida com a cacauicultura no sul da Bahia.

Ela comanda a produção de chocolates orgânicos a partir das amêndoas cultivadas na própria fazenda da família, no município de Barro Preto.

A marca, criada em 2012, é fruto de um movimento que começou em 2008, quando seus pais passaram a buscar formas de agregar valor à matéria-prima, que até então era vendida apenas como cacau in natura.

“Somos tree-to-bar mesmo. Tudo começa na lavoura, com cacau da nossa própria origem. E tudo é orgânico, certificado desde os anos 2000”, disse Lima. A fábrica da marca funciona dentro da fazenda.

Com uma média de 1,5 tonelada de amêndoas processadas por ano, e capacidade produtiva de 3 toneladas em anos mais produtivos, a Modaka trabalha com diferentes linhas de chocolate, todas orgânicas, além de produtos sazonais feitos com frutas como acerola, cacau e cupuaçu.

O carro-chefe inicial foram os amêndoas crocantes, mas aos poucos outras modalidades, como a barra e o nibs também ganharam espaço no portfólio.

“Temos uma variedade de tabletes que agrada diferentes perfis”, disse.

A gestão da Modaka hoje envolve cerca de oito pessoas que trabalham sob o sistema de parceria rural, popularmente conhecido na região como meieros.

Nessa modalidade, os meeiros trabalham em um sistema de parceria agrícola, no qual o trabalhador cultiva e colhe o cacau em uma terra que não é sua e, em troca, divide a produção com o proprietário da terra.

Além das parcerias, Lima tem dois funcionários contratados sob o regime CLT na fazenda e uma equipe enxuta na fábrica. “Temos o apoio de instituições como Sebrae e Fieb, que ajudam com projetos voltados à cadeia do cacau e do chocolate”, afirma.

Entre os principais desafios, Patrícia cita a baixa produtividade por conta de doenças como vassoura-de-bruxa e podridão parda, o clima instável, a mão de obra escassa e o dilema da sucessão familiar.

“Ainda sou eu à frente do negócio. Meu pai costuma dizer que a região não trabalhou a sucessão. Mas vejo que agora há um movimento em torno do cacau e do chocolate que está atraindo filhos, netos e bisnetos de volta para perto. A nova geração é mais digital, menos campo. É preciso equilíbrio para garantir continuidade.”

Cabruca, rastreabilidade e chocolate de origem

Na Fazenda Riachuelo, da Mendoá Chocolates, a meta é ampliar a produção própria e manter o foco em qualidade.

Com 2 mil hectares, dos quais 1.800 são dedicados à produção de cacau no sistema agroflorestal cabruca, que integra o cultivo à vegetação nativa da Mata Atlântica, a principal fazenda do grupo localizada em Ilhéus produz chocolate fino com rastreabilidade de ponta a ponta.

“Brincamos que fizemos uma sociedade com a vassoura-de-bruxa. Ela fica com 70% e nos deixa 30%”, disse Riane Brito de Costa, coordenadora de qualidade da Mendoá.

Desde 2023, toda a produção de cacau orgânico da fazenda é destinada exclusivamente à fábrica própria.

O cacau convencional ou que apresenta algum grau de defeito é colhido e comercializado como commodity para as tradings, após ser classificado conforme o grau de qualidade.

A fábrica tem potencial para processar até 3 toneladas de chocolate por mês, mas atualmente opera com uma média de 1 tonelada, sendo que atualmente processa 179 kg por dia no período de entressafra, abaixo do pico anterior de 300 kg/dia.

“A manteiga de cacau subiu entre 20% e 25% este ano. Mesmo assim, seguimos com rastreabilidade total”, afirmou Costa. A maior parte da produção da Mendoá vai para São Paulo, mas os produtos também abastecem o mercado baiano e outras regiões.

A fazenda tem cerca de 100 funcionários na colheita e 26 na fábrica, todos contratados sob regime CLT, explica a coordenadora de qualidade do grupo.

Além do cacau, a Mendoá cultiva frutas como cupuaçu e cajá. A sibira do fruto, que prende as sementes à casca, são vendidas para empresas que produzem ração de peixe, enquanto que a casca do cacau é revertido em adubo.

No terreno da fazenda, há ainda a Escola Lava-Pés, mantida dentro da propriedade para atender os filhos dos trabalhadores. As aulas oferecidas são até o sexto ano.

Aproximadamente 20 famílias vivem na Fazenda Riachuelo, que existe desde 1855 e hoje é administrada com base em um projeto idealizado pelo pesquisador Raimundo Moroó, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e com investimentos dos irmãos Geraldo e Leandro Almeida.

Para manter a qualidade do produto final, a separação entre o cacau para chocolate e o que vai para o mercado convencional começa na colheita: apenas os frutos no ponto ideal de maturação são fermentados e secos para uso próprio.

“Temos padrões que precisam ser seguidos, inclusive no ponto da colheita. O cacau que não utilizamos é destinado ao mercado de commodity.”

Mesmo com as dificuldades climáticas recentes, agravadas por fenômenos como El Niño e La Niña, que afetam os ciclos de chuvas e de safra e entressafra desde 2022, a expectativa é de retomada gradual da produção.

Segundo Costa, o cacau é uma planta sensível, que reage a variações de temperatura e umidade.

“É um fruto mágico, que se adapta às condições, mas sofre com o frio e a chuva excessiva”.

Um novo olhar sobre a terra

Em Itacaré, a cerca de 75 quilômetros de Ilhéus, a Fazenda Vila Rosa aposta em outro modelo de negócio, que mescla a aposta no cacau com o turismo rural para manter o local preservado.

O americano Alan Slesinger trocou a vida de paisagista em Nova York por um projeto multifuncional que mistura turismo, história, arquitetura e chocolate artesanal.

“Meu foco nunca foi produzir toneladas de cacau, mas mostrar o processo. Chocolate é poesia. Ele fala de amor, de amizade. O chocolate é só o meio”, disse.

Alan conta que vendeu seus imóveis no East Village, em Nova York, em 2006, no auge do mercado e investiu na fazenda na Bahia.

“Eu comprei aqui como quem entra faminto num restaurante e pede duas travessas cheias. Era um sonho”, lembra.

Hoje, a fazenda recebe milhares de visitantes por ano e está próxima do breakeven, conta. Só em janeiro, segundo ele, passaram mais de mil pessoas por ali.

O tour completo com todas as etapas de produção do cacau e a história do casarão da fazenda custa R$ 100 por pessoa.

O cacau cultivado ali vem de árvores antigas, e pouco produtivas. “Minha floresta é fantasma. Árvores velhas, alongadas. Não plantei para alta produtividade”, disse.

Além disso, produzir em larga escala, segundo ele, seria inviável. “Só o salário de um funcionário básico é R$ 30 mil por ano. Para isso, você precisa de muito cacau e minha fazenda é velha.”

Dois terços da receita da Fazenda Vila Rosa vêm do turismo rural de experiência: visitas guiadas, degustações, arquitetura e jardins.

O restante vem da venda de chocolates finos, feitos com o cacau local e comercializados também em uma loja própria no centro de Ilhéus.

O espaço virou referência regional, especialmente em dias nublados, quando se torna uma das principais opções fora das praias.

O projeto envolve entre 16 e 25 funcionários, conta.

“Eu vejo a fazenda como um organismo vivo. Um jardim que sempre está crescendo, amadurecendo, envelhecendo e renascendo”, disse. Aos 59 anos, ele se divide entre surf, criação artística e a gestão do espaço.

“Não sou arquiteto, mas aqui eu posso brincar. Tenho liberdade para criar. E isso, para mim, vale mais do que qualquer planilha de lucro.”

Fonte: Bloomberg

terça-feira, 22 de julho de 2025

O Evangelho Segundo Maria Madalena

 O Evangelho Segundo Maria Madalena


Salvador disse: "Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça."

Pedro lhe disse: "Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado do mundo?" Jesus disse: "Não há pecado ; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado 'pecado'. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la a sua origem."

Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis [...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça."

Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: "A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para ninguém vos afaste do caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', Pois o Filho do Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas." Após dizer tudo isto partiu.

Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam: "Como vamos pregar aos gentios o Evangelho ao Reino do Filho do Homem? Se eles não o pouparam, vão poupar a nós?" Maria Madalena se levantou, cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens." Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as palavras do Salvador.

Pedro disse a Maria:"Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos."

Maria Madalena respondeu dizendo: "Esclarecerei a vós o que está oculto." E ela começou a falar essas palavras: "Eu", disse ela, "eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje numa visão'. Ele respondeu e me disse: 'Bem aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde está a mente há um tesouro'. Eu lhe disse: 'Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou como espírito?' Jesus respondeu e disse: "Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos - assim é que tem a visão [...]."

E o desejo disse à alma: 'Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences a mim?' A alma respondeu e disse:'Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste.' Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. "De novo alcançou a terceira potência , chamada ignorância. A potência, inquiriu a alma dizendo: 'Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues!' E a alma disse: ' Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais.' "Quando a alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas,; a segunda , desejo; a terceira, ignorância,; a quarta, é a comoção da morte; a quinta, é o reino da carne; a sexta, é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira. Elas perguntaram à alma: ´De onde vens, devoradoras de homens, ou onde vais, conquistadora do espaço?' A alma respondeu dizendo: ' O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno'."

Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos irmãos:"Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas". Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador:"Será que ele realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?" Levi respondeu a Pedro: "Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou."

Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.

Referências

·         KING, Karen. The Gospel of Mary of Magdala: Jesus and the First Woman Apostle. Polebridge Press. Santa Rosa, Ca: 2003 (O Evangelho de Maria de Magdala: Jesus e a Primeira Apóstola).

·         RIJCKENBORGH, J. VAN. (2007). MISTERIOS GNOSTICOS DA PISTIS SOPHIA. [S.l.]: Rosacruz (atual Pentagrama Publicações)

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Mafalda me salvou na ditadura (com a ajuda de uma banca de revistas)

Mafalda me salvou na ditadura (com a ajuda de uma banca de revistas)



Perder-se ao longo das grandes avenidas do centro de uma megalópole é fácil. Difícil é encontrar sensação de segurança em meio a tantos passos apressados e comprometidos com o espaço-sem-tempo. Caminho claudicante entre as pegadas alheias, encontro esteio num velho porto seguro: uma banca de revistas. Artigo de luxo em qualquer outra cidade, as bancas preservam um acordo tácito com o passado, as primeiras leituras e a infância.

Na década de setenta, a disposição das revistas, jornais e almanaques comunicavam uma certa hierarquia de saberes. E os sabores também eram localizados em lugares estratégicos. O pirulito do zorro, o caramelo de leite, ficavam muito próximos aos quadrinhos infantis. Já a goma de mascar em tabletes, os cigarros e as pastilhas de menta habitavam uma outra região. Os adultos se entretinham naquele aglomerado, falando em códigos e fazendo muitas mímicas. Seu Zé, o dono da banca coordenava o atendimento. Parecia ser ele quem decidia quem tinha idade para consumir revistas com ilustrações peculiares, quem podia comprar cigarros, refrigerantes de cola e os jornais. Até então, eu só tinha idade para consumir gulodices. Seu Zé, no entanto, enxergou em mim uma fome pelo saber.

Havia um conjunto de revistas que sempre me chamaram a atenção pela capa. Pela disposição na prateleira, não era possível folhear. Havia uma figura exótica, desdentada e caricata que me intrigava. Seu Zé fingia que não me via correndo os dedos gordinhos pela sessão de almanaques. O dono da banca fazia pactos secretos com as pessoas. Tudo no tempo da ditadura parecia estar meio velado. Senti que fui adquirindo patentes quando os doces foram mudando de textura. De repente, seu Zé me ofereceu uma balinha crocante, que começava azeda e terminava explodindo na boca com agradável sabor de surpresa. Bigbol era, na verdade, uma bala transformer. Virava chiclé.

Numa tarde qualquer, vi meu irmão com um exemplar da tal revista, conversando alto, numa ciranda de meninos que tinham o dobro da minha idade. Ainda estava me alfabetizando. O nome daquela revista não fazia nenhum sentido para mim. M A D. Na roda dos escarnecedores (os amigos de meu irmão eram impossíveis), havia uma satisfação enorme em esconder o teor da revista e, ao mesmo tempo, mostrar que eles podiam acessar o código secreto dos adultos. Num momento de vacilo, roubei a revista e, longe da vista de todos, conferi o inteiro teor da publicação. Era crítica social em código morse. Nada entendi. Achei os desenhos estranhos, a tipografia esquisita. Naquela mesma época, descobri os quadrinhos no jornal. Encontrei o amigo da onça. Também passei batido. O mundo era cifrado demais para mim.

Esperei pelo sábado, lavei os tapetes do carro do meu pai, e ganhei uns trocados para comprar doces na banca de seu Zé. Perguntei a ele se havia alguma revista de quadrinhos que eu pudesse entender, mesmo sem dominar a leitura. O seu Zé era um homem muito ocupado, mas diante da minha demanda, ele se inclinou gentilmente e ofereceu um exemplar de Luluzinha. Ele era mesmo vanguardista. Disse, em tom de segredo, que todo mês havia uma nova remessa e que, por sorte, tinha recebido uns exemplares de uma revista com tirinhas de um cartunista argentino.

Aqui na Bahia, quando alguém entende muito de alguma matéria, a gente diz que a pessoa tem os paranauê. Seu Zé tinha o segredo das publicações em suas mãos. Ele me apresentou às telenovelas e, também, a publicação mais marcante da minha infância. A revista Patota tinha tirinhas da Mafalda. Essa menina curiosa e insubordinada ainda se destaca e é recomendada não apenas na sua cidade, mas em toda a América Latina.

— Querida Mafalda, obrigada por encher meus dias de alegria e semear gotículas de rebeldia e descontentamento a minha caligrafia.

O bilhete foi escrito mentalmente e entregue em devaneios ao maior articulador político que conheci. Gosto de pensar que seu Zé, com sua discrição e simpatia, quebrou as pernas da ditadura. Por Antonia Damásio*/A Tarde.com.br