quinta-feira, 19 de junho de 2025

AGU assinará acordo para indenizar família de Vladimir Herzog

 

AGU assinará acordo para indenizar família de Vladimir Herzog


 A Advocacia-Geral da União (AGU) informou nesta quarta-feira (18) que vai assinar um acordo judicial para o pagamento de indenização aos familiares do jornalista Vladimir Herzog, assassinado durante o período da ditadura militar no país.

O ato simbólico da assinatura do acordo será realizado no dia 26, em São Paulo. A família do jornalista deverá receber R$ 3 milhões em danos morais e valores retroativos da reparação econômica.

O acordo será feito no âmbito da ação judicial na qual a família processou a União em busca da reparação.

De acordo com o advogado-geral da União, Jorge Messias, a celebração do acordo demonstra o compromisso do órgão com a reparação das violações dos direitos humanos ocorridas durante a ditadura.

"Dirimir conflitos de maneira consensual e promover a justiça histórica, além de serem mandamentos da nossa Constituição, são compromissos éticos da AGU”, afirma Messias.

Vladimir Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura em outubro de 1975, quando foi procurado por militares na emissora e, um dia depois, compareceu espontaneamente à sede do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi/SP), na Vila Mariana, em São Paulo.

No DOI-Codi, foi torturado e assassinado. Os militares criaram uma falsa cena de suicídio. Na missa de sétimo dia, na Catedral da Sé, uma multidão com mais de 8 mil pessoas compareceu para o ato ecumênico. O episódio ficou marcado como um símbolo de luta contra a ditadura militar e pela volta da democracia.


terça-feira, 17 de junho de 2025

Martin Scorsese: «Um filme sobre Jesus. A ideia após um encontro com o Papa Francisco»

Martin Scorsese: «Um filme sobre Jesus. A ideia após um encontro com o Papa Francisco»

 


Durante uma entrevista, Scorsese compartilhou como esse encontro o motivou a explorar a figura de Cristo e sua mensagem em um novo projeto cinematográfico.

Orenomado diretor Martin Scorsese, conhecido por suas obras-primas no cinema, revelou recentemente sua intenção de dirigir um filme sobre Jesus Cristo, uma ideia que emergiu após um encontro inspirador com o Papa Francisco em 2023.

O encontro transformador

Scorsese teve a oportunidade de se reunir com o Papa Francisco em uma audiência privada, onde discutiram a influência da fé e da espiritualidade no cinema. O diretor, que já abordou temas religiosos em filmes como "A última tentação de Cristo" e "Silêncio", afirmou que o Papa o encorajou a continuar explorando essas questões profundas em sua obra.

“Foi um momento forte. O Papa expressou a importância da narrativa de Jesus e como ela pode ressoar nos tempos modernos”, contou Scorsese. A partir desse diálogo, o diretor sentiu uma forte chamada para revisitar a história de Jesus, não apenas como um personagem histórico, mas como uma figura de compaixão e esperança.

A visão de Scorsese

O cineasta planeja que o filme seja uma abordagem mais introspectiva sobre a vida de Jesus, explorando não apenas os milagres, mas também suas dúvidas e desafios. “Quero mostrar o lado humano de Jesus, suas lutas e medos, algo que muitas vezes é negligenciado”, disse Scorsese. Ele acredita que a humanidade de Cristo é o que mais pode tocar as pessoas, especialmente em tempos de crise e incerteza.

A notícia do novo projeto de Scorsese gerou uma onda de expectativa tanto na comunidade cinematográfica quanto entre os devotos. Críticos de cinema e instituições religiosas estão ansiosos para ver como ele traz sua visão singular para a história do Filho de Deus. O diretor tem uma longa amizade com a Igreja Católica, e sua filmografia frequentemente reflete elementos de fé e moralidade.

A recepção no Brasil

No Brasil, a recepção sobre a notícia foi calorosa. Veículos de mídia como O Globo e Folha de S.Paulo destacaram a importância de um filme sobre Jesus nos dias de hoje, especialmente em um país onde a fé é um aspecto central da vida de milhões de pessoas.

“A ideia de Scorsese é fascinante e necessária. Muitos anseiam por representações que ofereçam uma nova perspectiva sobre figuras históricas religiosas”, comentou um crítico de cinema brasileiro.

Enquanto Martin Scorsese se prepara para dar vida a mais uma obra cinematográfica memorável, o mundo aguarda ansiosamente por essa nova visão de Cristo. O encontro com o Papa Francisco não só inspirou o diretor, mas também reacendeu discussões sobre a pertinência da espiritualidade no cinema atual. A expectativa é que esse projeto não apenas entretenha, mas também provoque reflexão sobre questões de crença, compaixão e humanidade.

Cibele Battistini 


domingo, 15 de junho de 2025

UNAUÊ, O DENDÊ DOS DEUSES

 

UNAUÊ, O DENDÊ DOS DEUSES

O azeite de dendê Unauê recebeu esse nome em
homenagem ao município de Una, onde é produzido

Por Walmir Rosário*

Sempre acreditei piamente que Deus deixou as coisas boas do mundo para todos os seus filhos, indistintamente, embora alguns se deem ao luxo de esnobar algumas comidas e bebidas por algum motivo. Mas não cabe eu analisar o que eles pensam, o que gostam ou desgostam, nem os motivos que os levaram a abominar certos tipos de comes e bebes. Mas que acho estranho, isto é fato.

Na Bahia protegida por todos os santos, então, é uma infâmia desprezar as iguarias africanas, a exemplo do abará e do acarajé, que fazem sucesso e enchem a boca de água só em pensar. Bote sua cabeça para funcionar e se imagine comendo um acarajé com todo aquele recheio escorrendo pelos “cantos da boca”, com realce para o azeite de dendê! Comida dos orixás, dos deuses!

Se vosmicê se contenta com uma moqueca sem dendê, do jeito que é cozida em alguns estados, não sabe o que está perdendo. Mas ainda dá tempo de recuperar o atraso e conhecer o novo tipo de dendê que é produzido pela Ceplac, em Una, no Sul da Bahia. Portanto, ao chegar a um bom restaurante ou tabuleiro de baiana do acarajé, pergunte primeiro: Esse prato é feito com o azeite de dendê Unauê?

Caso a resposta seja positiva, sossegue, relaxe e se sinta um privilegiado. Vosmicê estará prestes a embarcar numa experiência gastronômica sem precedentes. Sinta-se no Olimpo e deixe que suas papilas gustativas viajem pelos sabores despertados pelos temperos, gostos e, sobretudo o umami, presente no dendê Unauê.

Como disse no início dessa crônica, tenho que compartilhar com vocês essa novo dendê, que acredito ser uma iguaria dos deuses. Numa de uma das minhas incursões por Una, encontrei com o colega ceplaqueanos José Inácio Lacerda Moura, engenheiro florestal da Ceplac, e responsável pela introdução do cultivar híbrido desse dendê na Bahia.

Era o ano de 2009 e o projeto previa a associação da alta produtividade do dendezeiro africano com a resistência ou tolerância a pragas e doenças, porte baixo e qualidade do óleo do caiaué. Esse trabalho contou com o apoio da Embrapa Amazônia Ocidental, e a intenção principal era evitar o debacle desse cultivo no Sul da Bahia.

Pesquisador José Inácio
José Inácio é Doutor em Entomologia Agrícola pela Unesp/Jaboticabal-SP; Especialista em Pragas das Palmeiras e Endoterapia Vegetal, também chefe da Estação Experimental Lemos Maia/Ceplac, em Una-BA, e que goza de conceito internacional. Ele explica que o declínio da dendeicultura baiana estava e ainda está calcado em vários fatores, tais como os cultivares existentes, o custo com a colheita em razão da altura, baixa produtividade, óleo com alta acidez em virtude do mau manejo, falta de assistência técnica e problemas fitossanitários.

O problema é agravado no pequeno agronegócio dendê na Bahia, constituído pelos chamados “roldões” que representam a grande maioria das unidades processadoras do óleo, localizadas na região conhecida como Baixo Sul, vem sofrendo sério revés econômico pela diminuição da matéria-prima, ou seja, cachos de dendezeiro. Esses “roldões” são responsáveis pela geração de cerca de 3 mil empregos diretos e de parcela considerável da renda regional.

A planta de baixo porte facilita o manejo
O cientista ressalta que no campo a cultivar HIE OxG  vem obtendo bons resultados, e no comércio o azeite Unauê inova pois tem menor quantidade de ácidos graxos livres do que o óleo do dendezeiro, por isso é um azeite com menor acidez e melhor qualidade. É também mais insaturado e com maior teor de vitamina “E” e carotenos que o óleo do dendezeiro.

Estudos também demonstraram que o azeite Unauê tem potencial para o preparo de alimentos funcionais, rico em polifenóis, com propriedades antioxidantes e impacto favorável sobre os lipídios plasmáticos humanos relacionados com os fatores de risco cardiovascular. Devido a essas características, o uso do azeite Unauê, principalmente no caso de produtos da culinária tradicional que utilizam o óleo de dendezeiro não refinado, proporcionará produtos de melhor qualidade, sabor, propriedades nutracêuticas e/ou funcionais.

Em tom de brincadeira, José Inácio diz que as baianas de acarajé “odeiam” o HIE (ou Unauê) por ter pouca estearina (mais oleina). Devido a isso, só permite uma fritada – o que é bom para o consumidor. Já o dendezeiro – por ter muita estearina –, permite até 5 fritadas – o que é péssimo para o consumidor. Por fim, a cor amarela da estearina (ou borra) dá o dourado. Já quando feito com o Unauê, fica escuro, pois tem muita oleina. Contudo, o acarajé quando feito com Unauê é maravilhoso.

Azeite Unauê une sabores e 
 benefícios à saúde 
Domingo passado (1º de junho) realizamos uma experiência gastronômica em casa com o Unauê e fomos bem sucedidos. Fizemos uma moqueca de vermelho do olho amarelo usando todos os temperos habituais, inclusive gengibre e a banana da terra. A novidade foi o dendê Unauê, que proporcionou sabores incríveis. Garanto que vamos repetir a prato, acrescentando outros temperos como experiência e inovação.

*Radialista, jornalista e advogado. 

quarta-feira, 11 de junho de 2025

SÃO FRANCISCO, CALIFÓRNIA, NÃO É MAIS A MESMA. EM VEZ DE FLORES, SPRAY DE PIMENTA

 Por Luís Conceição

“Se você está indo para São Francisco/ Lembre-se de usar algumas flores em seus cabelos/ Se você está indo para São Francisco /Você encontrará muitas pessoas gentis lá”.

Os versos da canção “San Francisco (Be Sure To Wear Flowers In Your Hair)”, de Scott McKenzie, embalaram os jovens e amantes da boa música nos anos finais da década de 1960. Época da vergonhosa guerra do Vietnam.

Atualmente, se você

(época em que era muito, mas muito feliz!). quiser ir às cidades de Los Angeles (L.A.) ou São Francisco, na Califórnia (EUA), tenha muito cuidado.

O estado do oeste americano está com a Guarda Civil e fuzileiros navais nas ruas disparando spray de pimenta, gás lacrimogêneo e até balas de borracha contra pessoas, incluindo jornalistas que fazem o seu trabalho.

Tudo pela insanidade, arrogância e prepotência de um governo eleito para pôr fim ao sonho americano de democracia for export.

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A onda de indignação, iniciada com protestos em Los Angeles, na sexta-feira (6), se espalha na outra grande cidade da Califórnia, aquela das flores nos cabelos e de pessoas sempre gentis. O número total de detidos nas duas cidades gira em torno de 200 pessoas.

 

A sigla Taco, que significa que o Sr. Trump frequentemente “pipoca” ou “desiste” de medidas duras que anuncia, é expressão corrente nos mercados americanos, como dizem os “especialistas”. Menos para impor sua política antiimigração desumana.

Diz a mídia comercial americana e do resto do mundo que o Departamento de Polícia de São Francisco (C.A.) anunciou que 60 pessoas foram detidas na noite de domingo (8) em uma manifestação contra a política de imigração do atual governo.

A onda de indignação, iniciada com protestos em Los Angeles, na sexta-feira (6), se espalha na outra grande cidade da Califórnia, aquela das flores nos cabelos e de pessoas sempre gentis. O número total de detidos nas duas cidades gira em torno de 200 pessoas.

Que saudades dos tempos de Philip Wallach Blondheim, cantor e compositor estadunidense – Scott McKenzie – cuja carreira se iniciou em meados da década de 1950 e tornou-se mundialmente conhecido com a canção San Francisco. Foi escrita para ele por John Phillips, o líder do grupo The Mamas & the Papas.

“Para aqueles que vêm a São Francisco/ O verão será repleto de amor/ Nas ruas de São Francisco/ Pessoas gentis com flores em seus cabelos. Por toda a nação, como uma estranha vibração/ Pessoas em movimento/ Há toda uma geração com uma nova explicação/ As pessoas em movimento, as pessoas em movimento”, diz a canção.

Certamente, depois da repressão, a canção será uma doce saudade do passado.

Luiz Conceição é bacharel em Direito (1994), leitor de temas econômicos e jornalista, desde 1975


quarta-feira, 4 de junho de 2025

Dia Internacional da Prostituta

 

Dia Internacional da Prostituta

Prostitutas francesas são levadas para a Salpêtrière, a prisão para mendigosvagabundos e prostitutas
Pinel em Salpêtrière, por Tony Robert-Fleury. A pintura mostra prostitutas mal tratadas entre mendigos, vagabundos e doentes mentais, que foram imprisionados nessa prisão, até que as prostitutas foram liberadas pelo povo na Revolução Francesa.
Estátua de bronze Belle em Amsterdã, no distrito da prostituição De Wallen, em frente da Igreja Oude Kerk. Foi inaugurada em março de 2007 com a inscrição "Respeita as prostitutas no mundo inteiro"

Dia internacional da Prostituta é uma data comemorativa, que lembra a discriminação das prostitutas, as suas condições precárias de vida e de trabalho e a sua exploração. O ponto de partida para esse dia comemorativo foi o dia 2 de junho de 1975, no qual mais de 100 prostitutas ocuparam a Igreja Saint-Nizier em Lyon, a fim de chamar a atenção para a sua situação.[1] O Dia da Prostituta é celebrado anualmente desde 1976 no dia 2 de junho.

Contexto histórico

A partir dos anos 70, as agências policiais mantiveram as prostitutas em França sob crescente pressão. As represálias da polícia[1] forçaram as mulheres a trabalhar em segredo. Como resultado, a protecção relativa da observância pública acabou e as meninas se viram confrontadas com um aumento da violência contra elas por cafetõesclientes e policiais. Depois de dois assassinatos e falta de vontade do governo para melhorar a situação das prostitutas, estas ocuparam uma das igrejas locais em Lyon - Saint-Nizier, na rue de Brest - e entraram em greve. Depois de oito dias, a igreja foi liberada pela polícia.[2] O evento é considerado como o ponto de partida de um movimento de putas.[3]

Hoje

A situação actual das trabalhadoras do sexo não tem melhorado desde 1975 documentou uma leitura intitulada "Mulheres sem quartos", em 29 de Maio 2011, realizada em BochumAlemanha. A leitura foi dedicada aos profissionais do sexo da cidade vizinha Dortmund, na qual queriam suprimir as prostitutas da vida pública com meios semelhantes aos de 1975, em Lyon.[4]

Dias comemorativos parecidos

  • Dia 3 de março - Dia Internacional do direitos dos trabalhadores de sexo (Internacional Sex Workers’ Rights Day)[5]
  • Dia 17 de dezembro - Dia Internacional contra a violência contra prostitutas(International Day to End Violence Against Sex Workers)[6]

domingo, 1 de junho de 2025

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO PARA O LIX DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

 MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO

PARA O LIX DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16)

Queridos irmãos e irmãs!

Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores. Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.

Ao pensar no Jubileu que estamos a celebrar como um período de graça em tempos tão conturbados, com esta Mensagem gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança, começando pela renovação do vosso trabalho e missão segundo o espírito do Evangelho.

Desarmar a comunicação

Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública.

Há ainda um outro fenómeno preocupante: poderíamos designá-lo como a “dispersão programada da atenção” através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa perceção da realidade. Acontece portanto que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança. Como nos ensinou D. Tonino Bello, todos os conflitos «encontram a sua raiz no desvanecer dos rostos» [1]. Não podemos render-nos a esta lógica.

Na verdade, ter esperança não é de todo fácil. Georges Bernanos dizia que «só têm esperança aqueles que ousaram desesperar das ilusões e mentiras nas quais encontravam segurança e que falsamente confundiam com esperança. [...] A esperança é um risco que é preciso correr. É o risco dos riscos» [2]. A esperança é uma virtude escondida, pertinaz e paciente. No entanto, para os cristãos, a esperança não é uma escolha, mas uma condição imprescindível. Como recordava Bento XVI na Encíclica Spe salvi, a esperança não é um otimismo passivo, antes pelo contrário, é uma virtude “performativa”, capaz de mudar a vida: «Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova» (n. 2).

Dar com mansidão a razão da nossa esperança

Na Primeira Carta de São Pedro (cf. 3, 15-16), encontramos uma síntese admirável na qual se relacionam a esperança com o testemunho e a comunicação cristã: «no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; com mansidão e respeito». Gostaria de me deter em três mensagens que podemos extrair destas palavras.

«No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor». A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado. A sua promessa de estar sempre connosco através do dom do Espírito Santo permite-nos esperar contra toda a esperança e ver, mesmo quando tudo parece perdido, as escondidas migalhas de bem.

A segunda mensagem pede-nos para estarmos dispostos a dar razão da nossa esperança. É interessante notar que o Apóstolo convida a dar conta da esperança «a todo aquele que vo-la peça». Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que “falam” de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa. É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta: porque é que viveis assim? Porque é que sois assim?

Por fim, na expressão de São Pedro encontramos uma terceira mensagem: a resposta a este pedido deve ser dada “com mansidão e respeito”. A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na peugada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras.

Por isso, sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança. Uma comunicação que seja capaz de falar ao coração, de suscitar não reações impetuosas de fechamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de apostar na beleza e na esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadas; de gerar empenho, empatia, interesse pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a «reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum» (Carta enc. Dilexit nos, 217).

Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança. Martin Luther King disse: «Se eu puder ajudar alguém enquanto caminho, se eu puder alegrar alguém com uma palavra ou uma canção... então a minha vida não terá sido vivida em vão» [3]. Para isso, precisamos de nos curar da “doença” do protagonismo e da autorreferencialidade, evitar o risco de falarmos de nós mesmos: o bom comunicador faz com que quem ouve, lê ou vê se torne participante, esteja próximo, possa encontrar o melhor de si e entrar com estas atitudes nas histórias contadas. Comunicar deste modo ajuda a tornarmo-nos “peregrinos de esperança”, como diz o lema do Jubileu.

Esperar juntos

A esperança é sempre um projeto comunitário. Pensemos, por um momento, na grandeza da mensagem deste ano de graça: estamos todos – realmente todos! – convidados a recomeçar, a deixar que Deus nos reerga, nos abrace e inunde de misericórdia. E entrelaçadas com tudo isto estão a dimensão pessoal e a dimensão comunitária. É em conjunto que nos pomos a caminho, peregrinamos com tantos irmãos e irmãs, e, juntos, atravessamos a Porta Santa.

O Jubileu tem muitas implicações sociais. Pensemos, por exemplo, na mensagem de misericórdia e esperança para quem vive nas prisões, ou no apelo à proximidade e à ternura para com os que sofrem e estão à margem. O Jubileu recorda-nos que todos os que se tornam construtores da paz «serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9). E, deste modo, abre-nos à esperança, aponta-nos a necessidade de uma comunicação atenta, amável, refletida, capaz de indicar caminhos de diálogo. Encorajo-vos, portanto, a descobrir e a contar tantas histórias de bem escondidas por detrás das notícias; a imitar aqueles exploradores de ouro que, incansavelmente, peneiram a areia em busca duma pequeníssima pepita. É importante encontrar estas sementes de esperança e dá-las a conhecer. Ajuda o mundo a ser um pouco menos surdo ao grito dos últimos, um pouco menos indiferente, um pouco menos fechado. Que saibais sempre encontrar as centelhas de bem que nos permitem ter esperança. Este tipo de comunicação pode ajudar a tecer a comunhão, a fazer-nos sentir menos sós, a redescobrir a importância de caminhar juntos.

Não esqueçais o coração

Queridos irmãos e irmãs, perante as vertiginosas conquistas da técnica, convido-vos a cuidar do coração, ou seja, da vossa vida interior. O que é que isto significa? Deixo-vos algumas pistas.

Sede mansos e nunca esqueçais o rosto do outro; falai ao coração das mulheres e dos homens ao serviço de quem desempenhais o vosso trabalho.

Não permitais que as reações instintivas guiem a vossa comunicação. Semeai sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.

Procurai praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.

Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.

Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.

Contai histórias imbuídas de esperança, tomando a peito o nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.

Tudo isto podeis e podemos fazê-lo com a graça de Deus, que o Jubileu nos ajuda a receber em abundância. Por isto, rezo por cada um de vós e pelo vosso trabalho, e vos abençoo.

Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2025.

Francisco

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[1] “La pace come ricerca del volto”, in Omelie e scritti quaresimali, Molfetta 1994, 317.

[2] Georges Bernanos, La liberté, pour quoi faire?, Paris 1995.

[3] Sermão“ The Drum Major Instinct”, 4 de fevereiro de 1968.